Tema: Turismo
Por Lucia Aquino Queiroz Professora Associada da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia). Doutora em Planificação Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona. Pós-doutora pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais

O FLORESCER DO TURISMO NA TERRA MATER DO BRASIL

O turismo, uma das principais atividades econômicas da atualidade, floresceu na Bahia, Terra Mater do Brasil, de forma pouco estruturada, aproveitando-se da diversidade dos seus atrativos. Margeada pelo Oceano Atlântico, com 1.110 quilômetros de litoral, o maior do país, sítios históricoscoloniais, amplas belezas naturais e ricos bens culturais, a Bahia, antes mesmos de contar com algum aparato institucional de promoção do turismo, recebia visitantes regionais e também oriundos das mais diversas partes do mundo.

Até os anos 1950, em que pese a iniciativa da Prefeitura Municipal do Salvador de implantar a pioneira Secção de Turismo da Diretoria do Arquivo e Divulgação, organismo de pequeno porte, direcionado ao apoio a eventos significativos do calendário de festas populares e fornecimento de informações sobre a cidade às poucas agências de viagem existentes (Rego, 2001, apud Queiroz, 2002, p. 17), o turismo desenvolvido no estado pode ser caracterizado como eventual, pois recebia fluxos esporádicos. Entre os visitantes destacavam-se os frequentadores das estâncias hidrominerais existentes na Bahia – Itaparica, Olivença, Águas de Cipó e Caldas do Jorro –, em geral procedentes do entorno regional, sendo também identificados estrangeiros em visita à capital, ainda que de forma não habitual. Estes últimos chegavam em cruzeiros marítimos realizados em grandes transatlânticos norte-americanos, europeus e sul-americanos, como o New Amsterdam (terceiro maior navio do mundo no período, que atracou pela primeira vez na Bahia em 1948, com 830 visitantes), o Rotterdam, navio holandês de turismo, o Alcântara, sul-americano, e o Provence, francês (Queiroz, 2002, p. 23).

O hoje denominado turismo doméstico era praticamente desconhecido naquela década. Embora a Bahia – e, mais especificamente, Salvador – contasse à época com algum suporte privado mais estruturado para a atividade, como o Hotel Chile, edificado em princípios do século XX, que se vangloriava de ter a preferência de Ruy Barbosa, e o Palace Hotel, primeiro hotel de luxo da cidade, construído em 1934, o receptivo local, assim como o próprio turismo, apresentava um caráter amadorístico. Os navios que aportavam em Salvador traziam visitantes de  países longínquos, como a Rússia, e personalidades ilustres, como o cineasta norte-americano Orson Wells e atores de Hollywood, os quais eram atendidos por um pequeno grupo de moradores da cidade, que, possuindo algum conhecimento do idioma inglês, mas, sobretudo, da história local, os esperavam no cais do porto e os guiavam por um tour histórico na cidade, com visitas ao Pelourinho, igrejas de São Francisco e do Bonfim, dentre outros pontos atrativos. Esse grupo era composto de alguns intelectuais baianos, como Cid Teixeira, Carlos Vasconcelos Maia e José da Mota e Silva (Teixeira, 2001, apud Queiroz, 2002, p. 24).

Gradualmente, o receptivo baiano inicia sua estruturação com o objetivo de atender ao fluxo eventual de turistas. As primeiras atividades receptivas no estado foram desenvolvidas pela Bahia Turismo, empresa criada em fins da década de 1940, (provavelmente em 1948) e sediada no Centro Histórico de Salvador, na Rua do Taboão. Embora de propriedade dos Tarquínio, família baiana tradicional, a gestão da Bahia Turismo ficou a cargo de Vera Wissing Andersen, dinamarquesa que chegara à Bahia procedente de Belém do Pará, durante a Segunda Guerra Mundial, acompanhando o seu marido, o engenheiro Niels Borge Wissing, contratado pela Panair para construir o aeroporto de Salvador. Dentre seus feitos, Vera Andersen conquistou o mercado norte-americano, passando a deter a representação da American Express, à época uma importante transportadora de passageiros dos Estados Unidos para a Bahia, por via marítima; recebeu um representante da Thomas Cook – maior agência de viagem em escala mundial no período –, demonstrando-lhe a capacidade local de oferecer atrativos que poderiam justificar a inserção de Salvador nos roteiros dos navios da companhia e recepcionou o maior navio do mundo à época, o Colônia, com 1.500 passageiros, que então fazia a sua primeira viagem à capital baiana (Queiroz, 2002, p. 24-26).

Nesse período surgem os primeiros registros do turismo na Bahia, onde, apesar das iniciativas referidas, o caráter amadorístico permanece. A Secção de Turismo tinha um âmbito de atuação muito restrito. Inexistiam guias de turismo qualificados para a função de recepção; esta atividade quando não realizada por estudantes era exercida por senhoras da sociedade baiana, que dominavam idiomas estrangeiros, como a própria Vera Andersen, Lise Lima, sua filha, ou Petrolina Aragão, que se transforma, posteriormente, em importante referência no segmento do receptivo baiano. A hotelaria era pouco expressiva e o acesso à capital baiana dava-se, principalmente, por via marítima e, em menor escala, por aviões, e através das conexões da navegação flúvio-marítima (a vapor e a vela) com as ferrovias, que beneficiavam, sobretudo, as atividades comerciais (Queiroz, 2002, p. 24-26). No turismo interno, o Touring Clube do Brasil, fundado em 1924, tendo como missão “Revelar o Brasil aos brasileiros”, através, dentre outras ações, do desenvolvimento do turismo interestadual, desde a década de 1930 passa a realizar cruzeiros turísticos entre as principais cidades brasileiras, observando, porém, a inadequação do cais do porto de Salvador para a atracação de transatlânticos (A Cidade, 1934, apud Kelsch, 2018, p. 27).

A falta de estrutura do turismo, entretanto, era de certa forma compensada pela atratividade da Bahia e, especialmente, de sua capital, frente ao restrito fluxo de visitantes, sobretudo o segmento internacional. Como relata Stefan Zweig, escritor, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco de origem judaica em sua visita ao Nordeste brasileiro em 1940, o verdadeiro encanto da Bahia residia no seu caráter genuíno, na convivência do “velho e novo, presente e passado, luxuoso e primitivo... emoldurando uma das mais tranquilas e aprazíveis paisagens do mundo” (Zweig, 2001, apud Kelsch, 2018, p. 8).

A Bahia de então era a dos jovens Dorival Caymmi e Jorge Amado, Pierre Verger e Carybé. A Bahia pitoresca que estava à espera de visitantes para a festa cotidiana; uma tipificação da tradicional Bahia, encarnada na cidade do Salvador, com seus candomblés, saveiros, “magros e feios arranha-céus modernos”, a feira de Água de Meninos, gastronomia típica, mistérios, folguedos populares, mas, também, pobreza e fome. A Bahia e sua capital que Jorge Amado apresenta e se oferece para ciceronear em seu livro Bahia de Todos os Santos: guia das ruas e dos mistérios da cidade do Salvador (Amado, 1945, apud Kelsch, 2018, p. 188-189). A Bahia que encantou intelectuais e artistas que a adotaram como tema de suas obras, a exemplo do próprio Amado, com seus romances Jubiabá, Mar morto e Capitães de areia; de Dorival Caymmi, já então consagrado com a música O que é que a baiana tem? (1939), na voz de Carmen Miranda, trilha sonora do filme Banana da terra, produção do norte-americano Wallace Downey e direção de Ruy Costa; de Ruth Landes, dos citados Zweig, Verger e Carybé, de Waldo Frank, Gilberto Freyre e outros (Kelsch, 2018, p. 214-215, Moura, 2006, p. 115).

 

PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS DE PLANEJAMENTO DO TURISMO EM SALVADOR E NA BAHIA

Até fins dos anos 1940, o turismo em Salvador não havia sido contemplado com qualquer tentativa de planejamento; a capital baiana, fundada pelos portugueses, vivência, ao longo de sua história, uma série de intervenções descontínuas no seu espaço urbano. Apenas entre 1880 e 1930 Salvador atravessa três surtos de intervenções pontuais, influenciados pela ideia da “salubridade, fluidez e estética”, que objetivam transforma-la em uma “cidade mundial, civilizada”. Já nos dois períodos do governo Vargas (1930-45 e  1951-54), sob a influência das ideias vigentes nos países centrais desde o final do século XIX, foi instituído e atuou na capital baiana o Escritório de Planejamento Urbano da Cidade de Salvador (Epucs), que se propôs a corrigir os defeitos da cidade; porém, devido à falta de recursos do governo municipal no enfrentamento de problemas complexos, não conseguiu levar a cabo as transformações urbanas propostas e limitou-se, basicamente, a tratar da malha viária (Mac-Allister, 1997, apud Queiroz, 2005, p. 50).

As ações de planejamento urbano em Salvador até os anos 1940, que, em essência, foram implementadas apenas parcialmente, não contemplavam efetivamente o turismo. O Epucs, entretanto, foi atento à importância das áreas verdes e da recreação, e projetou novos sistemas de fornecimento de água e esgotamento sanitário, vias pavimentadas e secundárias, dentre outros melhoramentos (Sampaio, 1999, apud Queiroz, 2005, p. 51), que, se implementados, poderiam favorecer o turismo, ainda que este fosse incipiente na cidade.

Nos anos 1950 cuidou-se de dar efetividade e eficácia às ações do organismo gestor do turismo de Salvador, ao tempo em que se procurou fomentar a indústria hoteleira, também ainda incipiente. Foram assim criados a Taxa de Turismo, em 1951, e, em 1953, o Conselho Municipal de Turismo e a Diretoria Municipal de Turismo, tendo-se instituído uma lei de isenção de impostos municipais a estabelecimentos de hospedagem (Rego, 2001, apud Queiroz, 2007, p. 151). No ano seguinte, Salvador tornou-se a primeira cidade do Brasil a formular um Plano Diretor de Turismo.

A preocupação com a falta de informações e com a qualificação da mão de obra resultou na confecção do primeiro mapa turístico da cidade e na realização do primeiro curso de Tradição e História da Bahia (Sampaio, 2001, apud Queiroz, 2007, p. 151). Liderava essas ações um pequeno grupo de pessoas que mantinham algum vínculo com o organismo gestor do turismo municipal, como Albano Marinho de Oliveira, Valdemar Angelin e João Dórea. Mas pouco se conseguiu para dinamizar a gestão da atividade. O Plano de Turismo não chegou a ser implementado. Continuou problemático o acesso rodoviário a Salvador único destino turístico da Bahia, previsto nas diretrizes de desenvolvimento urbano e na legislação turística e notória a carência de mão de obra especializada nos serviços em geral e não apenas o de hotelaria, este de oferta bem inexpressiva. Ainda não se tinha a percepção do turismo como uma atividade econômica rentável. 

No final da década de 1950 o turismo passou a ser incluído no planejamento estadual, estando presente nos capítulos do Programa de Recuperação Econômica da Bahia e no Plano de Desenvolvimento da Bahia (Plandeb). Foi quando se criou, na Fundação Centro de Pesquisas e Estudos (CPE), uma subcomissão para tratar dessa atividade. Entretanto, nesse período, a gestão do turismo baiano pelo governo estadual não prosperou. Conquanto a atividade turística já estivesse contemplada no Plandeb, no qual também estava prevista a implantação dos grandes parques industriais baianos – Centro Industrial de Aratu (CIA) e Complexo Petroquímico de Camaçari (Copec) – ambos no entorno metropolitano, a fim de preservar a capital para o turismo, as atenções voltadas para a indústria nascente terminaram por inibir o avanço dessa atividade.

Verificou-se que os novos movimentos especializados da economia industrial, ao promover o processo de “desconcentração-concentrada” do espaço urbano de Salvador, contribuíram para o aprofundamento da exclusão social de grande parcela de sua população, intensificando a ocupação do espaço ampliado da cidade por habitações faveladas, invasões etc. As ações de planejamento urbano desse período e, em especial, após 1964, objetivam a implantação de vias, descortinando a estrutura urbana para o mercado imobiliário e propiciando investimentos maciços na infraestrutura viária concebida pelo Epucs (Sampaio, 1999, apud Queiroz, 2005, p. 51). A concepção original do Epucs, que previa, inclusive, desapropriações para projetos de interesse social, dentre os quais figuravam programas de lazer e recreação, não foi implementada. O desenvolvimento urbano-regional passa a ser capitaneado pelo governo estadual e direcionado para os interesses do “capital-industrial”.

Concomitantemente à tentativa de institucionalização da atividade turística pelo governo estadual, que a incluiu no Plandeb, a Prefeitura Municipal de Salvador implantou, na estrutura da Secretaria de Educação e Cultura, o Departamento de Turismo e Diversões Públicas (DTDP). Dirigido por Carlos Vasconcelos Maia, gestor empreendedor e visionário, o DTDP inaugurou uma nova forma de gerenciamento do turismo, com ampla participação de intelectuais e artistas locais. Defrontando-se com sérias restrições orçamentárias, mas tendo o apoio da imprensa, do trade turístico e de diversos segmentos sociais, o organismo gestor do turismo municipal passou a assumir a responsabilidade pelo marketing e pela qualificação da mão de obra turística, fornecendo suporte técnico a diversos empreendimentos. Ao DTDP pode também ser atribuído o mérito pela instalação do Conselho de Turismo – criado no início da década, mas até aquele momento sem funcionalidade –, pela ampliação dos incentivos municipais à hotelaria e pela expressividade que a Bahia alcançou no cenário do turismo nacional àquela época. Esse órgão passou inclusive a servir de modelo, fornecendo consultoria para diversos outros, de funções similares, no país (Dumêt, 2001, apud Queiroz, 2005).

Vasconcelos Maia contava, a seu favor, com diferenciais que o auxiliaram na elaboração e, em alguns casos, na execução de projetos turísticos, apesar das restrições financeiras. Dentre esses diferenciais, destacava-se a sua experiência adquirida no trato das questões do turismo. Como foi assinalado, exerceu a função de guia nos primórdios dessa atividade em Salvador, o que lhe possibilitou conhecer as necessidades dos visitantes, bem como as carências e as potencialidades locais. Como escritor, já havia retratado, em diversas oportunidades, muitos aspectos da realidade local, presentes, por exemplo, na coletânea Contos da Bahia e no livro Feira de Água de Meninos, ambos de 1951. Com uma visão arrojada para o período, Vasconcelos Maia foi o primeiro mentor do hoje denominado turismo cultural, quando o turismo e a cultura eram vistos como fenômenos estanques, sem articulações expressivas que justificassem um tratamento em conjunto (Dumêt, 2001, apud Queiroz, 2005, p. 61).

Os anos 1950 marcam um momento de grande efervescência cultural na Bahia e, mais especificamente, em Salvador. O autor de Bahia de Todos os Santos alcança notoriedade e seu livro-guia vai aos poucos “se convertendo numa espécie de enciclopédia da vida baiana”, conforme o próprio Jorge Amado (1987, apud Queiroz, V., 2019, p. 58), no qual o leitor era atraído pelo fascínio dos candomblés da cidade, das pretas mercantes, dos ateliês de arte, das baianas, pela boemia da velha Salvador. É também o momento em que as canções de Caymmi, sejam as praieiras, ambientadas em Itapuã, ou as mais intimistas, que recriam cenas típicas baianas, tendo por cenário as vielas, sacadas e sobrados do Pelourinho e do Carmo (Queiroz, V., 2019, p. 68) ganham popularidade nacional. A imagem da Bahia – com sua cultura lastreada pelas matrizes indígena, africana e portuguesa, com suas festas populares, o carnaval de rua, com o afoxé Filhos de Gandhy, formado em 1949 por estivadores do porto de Salvador, e o trio elétrico, ainda uma novidade, artistas, religiosidade, capoeira, gastronomia – expande-se, sendo divulgada, entre outros veículos, em feiras de turismo frequentadas pelo DTDP, no país e até no exterior. Salvador, que já contava com um aeroporto e a interligação viária entre Amaralina e Itapuã, bairros da orla marítima, atrai visitantes, mantendo a pequena escala. O próprio Vasconcelos Maia, em inúmeras oportunidades, fazia questão de guiá-los, apresentando-os às peculiaridades da terra (Dumêt, 2001, apud Queiroz, 2005, p. 61).

Apesar desses avanços, em face do pouco interesse despertado pelo turismo no Brasil – e não exclusivamente por parte dos poderes públicos estadual e municipal – e das complexidades desse negócio, que requer, para o seu bom funcionamento, a existência de um amplo suporte infraestrutural e superestrutural, a atividade permaneceu, até o fim dos anos 1950, apresentando carências e problemas semelhantes aos observados no início da década: baixa qualidade dos serviços hoteleiros, apesar da existência de hotéis como o Palace ou o Grande Hotel da Bahia, inaugurado em 1952; concentração das ações na capital, mesmo considerando as iniciativas de Vasconcelos Maia de trabalhar em parceria com alguns municípios do entorno metropolitano; restrita disponibilidade de mão de obra qualificada e baixo desempenho econômico.

 

DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NA BAHIA

Na primeira metade dos anos 1960, com a inauguração da BR-116, a Rio-Bahia, o segmento do turismo doméstico é impulsionado com o incremento do fluxo de turistas nacionais por via rodoviária. Daí até 1971, o turismo baiano passou por transformações expressivas, sobretudo no que se refere à gestão pública da atividade. Na esfera municipal, extinguiu-se o DTDP em 1964, substituído pela Superintendência de Turismo da Cidade do Salvador (Sutursa), que buscou repetir algumas das ações implementadas pela antiga equipe de Vasconcelos Maia, mas não conseguiu manter o espírito de vanguarda. No âmbito estadual, como decorrência da instituição da Política Nacional de Turismo, reorientando a atividade como indústria e resultando na criação do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) e do Conselho Nacional de Turismo (CNTur), foi desencadeado o processo de gestão contínua do turismo, tendo por marco a implantação, em 1966, do Departamento de Turismo um organismo com atribuições muitas vezes superpostas às da Sutursa – e, em 1968, da Hotéis da Bahia S/A,  uma entidade de fomento ao setor hoteleiro, vinculada à Secretaria de Assuntos Municipais e Serviços Urbanos (Queiroz, 2007, p. 152-153).

Embora a Bahiatursa, principal organismo de fomento ao turismo estadual nos anos 1960, tivesse por missão o incremento da indústria hoteleira, essa década, em plena ditadura militar, é marcada, na área da cultura, pelo surgimento do tropicalismo, movimento mais fortemente centrado na área musical, mas também presente nas mais diversas manifestações artísticas. O amplo envolvimento de baianos com esse movimento, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Gal Costa, na música, Glauber Rocha, no cinema, dentre outros, evidencia, mais uma vez, a riqueza cultural da Bahia. Entretanto, pelo seu próprio caráter de oposição ao regime político então vigente no país, o movimento não chega a estabelecer laços com o aparato público de suporte ao turismo. Seus integrantes, junto a outros considerados pós-tropicalistas, como os Novos Baianos, foram, gradualmente, ocupando espaço de relevo no cenário artístico e mantendo-se, assim como Jorge Amado, Caymmi, Carybé, Verger e outros, como parte da imagem simbólica da Bahia no Brasil e exterior.

Em fins dos anos 1970, o modelo de desenvolvimento do turismo na Bahia começou a sofrer alterações, apresentando-se dependente em grande parte do capital externo à região, que passou a migrar para este estado em busca de rentabilidade. Os investimentos concentraram-se, sobretudo, na implantação de equipamentos de hospedagem. A consolidação desse modelo, entretanto, foi efetivada gradualmente entre os anos 1970 e 1990, quando se torna significativo, de fato, o número de empreendedores atraídos para a atividade turística estadual.

Ao longo das duas décadas que compreenderam o período iniciado nos anos 1970, de incremento da ação institucional do turismo baiano, a gestão desta atividade passou a ter notoriedade. O governo do estado reestruturou o Sistema Estadual de Turismo, com a criação, no âmbito da Secretaria da Indústria e Comércio (SIC), do Conselho Estadual de Turismo (Cetur) e da Coordenação de Fomento ao Turismo (CFT). Enquanto a CFT encarregou-se do planejamento, a Bahiatursa, que era então vinculada à SIC, permaneceu como órgão executivo, tendo, entretanto, ampliado as suas funções e assumido, além do fomento à hotelaria, a qualificação dos recursos humanos e dos serviços. Para atender às recomendações do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), foi elaborado o Plano de Turismo do Recôncavo, que, apesar de não ter sido implantado integralmente, conforme Castro (2001, apud Queiroz, 2007, p. 154), subsidiou as ações da Bahiatursa durante a sua gestão (1971 a 1975).

Em 1973, a Hotéis da Bahia S/A passou a denominar-se Empresa de Turismo da Bahia (Bahiatursa). Suas atribuições foram mais uma vez ampliadas, incorporando ações que privilegiaram o patrimônio cultural, o marketing voltado prioritariamente para os mercados do Sul e Sudeste do país e à produção de estudos socioeconômicos e informações estatísticas. Iniciou-se então, de forma pioneira, o trabalho de classificação da hotelaria. O setor hoteleiro expandiu-se, podendo-se registrar a construção de grandes hotéis na orla de Salvador e no interior (Salvador Praia Hotel, Ondina Praia Hotel, na capital, e Hotel Vela Branca, em Porto Seguro, em 1972; Bahia Othon Palace Hotel, em 1974, Hotel Meridien Bahia, em 1975, dentre outros). Ainda em 1973 a Sutursa foi extinta, encerrando, temporariamente, a gestão municipal do turismo em Salvador.

Na segunda metade do decênio de 1970, a fim de descentralizar a atividade turística, fortalecendo outras áreas externas à capital, ampliar o tempo de permanência do visitante na Bahia e incrementar o segmento de negócios, reduzindo a sazonalidade turística em Salvador, o governo estadual criou duas subsidiárias da Bahiatursa: a Empreendimentos Turísticos da Bahia S.A (Emtur), responsável pela construção de hotéis e equipamentos turísticos no interior, e a Bahia Convenções S/A (Conbahia), destinada a gerenciar o Centro de Convenções, implantado em 1979.

Ainda no último ano da década de 1970 unificaram-se as empresas estaduais de turismo – Bahiatursa, Emtur e Conbahia –, sob a presidência de Paulo Gaudenzi, ao tempo em que o Cetur e a CFT foram extintos. A Bahiatursa assumiu as funções de planejamento e implantou um plano mercadológico, denominado Caminhos da Bahia, também orientado para a promoção do turismo no interior do estado (Quinto, 2001, apud Queiroz, 2007, p. 155). Com o poder público estadual responsabilizando-se pelas ações necessárias ao incremento do fluxo turístico – marketing interno e externo, captação de investimentos, consecução de voos internacionais, qualificação da mão de obra e dos serviços – a atividade turística expandiu-se preponderantemente na capital e em municípios do interior baiano. Essa expansão levou Salvador a ser contemplada com a primeira faculdade de turismo da Bahia (1984) e com o retorno da gestão municipal, o que se deu com a criação da Empresa Municipal de Turismo Salvador (Emtursa), quando a Bahiatursa já alcançava projeção nacional e até internacional.

A década em que a Bahiatursa passa a responder, individualmente, pelo comando das ações do governo estadual no turismo da Bahia é quando o principal evento do calendário de festas populares de Salvador, o carnaval, sofre inovações responsáveis por mudanças expressivas na sua conformação. Em 1975, o bloco carnavalesco Os Internacionais contrata, pela primeira vez, um trio elétrico para incorporá-lo em seu desfile, dando início a um processo de organização empresarial e também elitista, dos blocos de embalo (Moura, 2006, p. 117). Em 1974 é formado o primeiro bloco denominado afro, o Ilê Aiyê, e, em 1979, o Grupo Cultural Olodum, que, junto aos afoxés, marcam, não sem dificuldades, a presença do negro na programação do carnaval de rua da capital baiana. O crescimento do interesse pelo evento conduz a que, em 1983, seja criado o Grupo Executivo do Carnaval, ligado à Coordenação de Desenvolvimento Cultural da Prefeitura de Salvador.

Ainda nos anos 1980 e, mais precisamente, em 1987, com o grande sucesso da canção Faraó e do primeiro LP da banda, Vulcões africanos do Pelô, o Olodum torna-se uma referência, não apenas em termos de musicalidade, mas, também, no tocante ao vestuário, danças coreográficas, sendo convidado a realizar shows e eventos dentro e fora do país. Outras bandas afro surgem naquele ano, fazendo com que o ritmo chegue com força às mídias. No ano seguinte, Desmond Tutu e Paul Simon visitam o Pelourinho e através da gravação do disco Graceland, de Simon, Salvador penetra no circuito mundial de produção e consumo da denominada música étnica. O Centro Histórico de Salvador, onde se situa preferencialmente esse movimento musical, apesar da degradação de seu conjunto arquitetônico colonial, torna-se também mais visível, o que reforça a necessidade de sua recuperação (Moura, 2006, p. 120-121; Queiroz, 2005, p. 201).

Ainda que decadente, o Centro Histórico de Salvador consagra-se como o palco da música afro, mas, também de outros gêneros, e sua confluência, como a salsa, o merengue, o ijexá e o reggae, promovida pelo cantor Gerônimo, à época uma forte presença na mídia com o disco Eu sou negão. A Cidade Alta, em Salvador, torna-se o local eleito pelas agremiações carnavalescas direcionadas a outros estilos, sobretudo ao axé music, fenômeno musical que, a partir de cantores e compositores como Luiz Caldas, Sarajane, Márcia Short, Netinho, Margareth Menezes, Daniela Mercury e, posteriormente, Ivete Sangalo, Cláudia Leitte e outros, passa a dominar o mercado brasileiro de música, até a primeira década dos anos 2000. Os blocos e trios elétricos, sobretudo os utilizados pelas bandas de axé music, desvinculam a sua imagem do Centro Histórico, passando a desfilar em outros locais da Cidade Alta, desde 1987, por ordem de fundação, o que valoriza os mais antigos, como Os Internacionais e Coruja, possibilitando a sua associação às bandas de sucesso, como Asa de Águia, Crocodilo, Camaleão, Eva, e o seu direcionamento à elite (Moura, 2006, p. 119-122). Os blocos carnavalescos, sobretudo os de maior reconhecimento, passam a ser comercializados em todo o Brasil e exterior, contribuindo para a atração de um público significativo para o evento, com ampla representatividade de turistas. Salvador mantém-se enquanto principal destino estadual, respondendo em 1986 por cerca de 65% do fluxo turístico global para a Bahia, embora outras áreas tenham sido contempladas, entre os anos 1970 e 1980, com investimentos de grande porte, como Porto Seguro, Ilhéus,  Ilha de Itaparica e outras (Queiroz, 2006, p. 82).

Depois da fase expansionista, a conjuntura adversa – crise do petróleo, crise fiscal, elevação dos juros internacionais, crescimento da dívida externa etc. – vivida pelo país desde o início dos anos 1980, agudizando-se, na Bahia na segunda metade da década, quando a indústria petroquímica também entrou em crise, obrigou o governo estadual a priorizar outras atividades em detrimento do turismo, que, com a sensível redução da demanda e dos investimentos, entra em declínio. Nesse ínterim, tendo a Bahiatursa permanecido vinculada à Secretaria da Indústria e Comércio, que passou a  denominar-se Secretaria da Indústria, Comércio e Turismo (SICT), foram publicados dois estudos – um, pela Fundação CPE, e outro, resultante de uma parceria entre a SICT e a Universidade Federal da Bahia (UFBA) – contendo uma série de diretrizes para o turismo, que objetivavam subsidiar as ações da próxima gestão estadual (Queiroz, 2007, p. 154-155).

A década de 1990 inaugurou um novo período, cuja estratégia central era a retomada do crescimento econômico. Utilizando-se das indicações do Programa de Desenvolvimento do Turismo da Bahia (Prodetur-Ba), criado em 1992, e dos estudos institucionais produzidos pela Fundação CPE e pela SICT e UFBA, o governo estadual,  antes mesmo da liberação dos recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), agente financiador do programa, começou a investir maciçamente na atividade turística baiana, o que atraiu um amplo leque de empreendedores nacionais e estrangeiros. Sob a presidência de Paulo Gaudenzi, a Bahiatursa, ainda vinculada à estrutura da SICT, manteve a sua tradicional forma de intervenção na atividade, definindo como âncoras para a sua ação a qualificação dos serviços e dos recursos humanos, a captação de novas inversões e o trabalho de marketing. Para facilitar a implantação das estratégias programadas para o estado e, ao mesmo tempo, permitir o incremento da ação promocional, a Bahia foi segmentada em zonas turísticas (Figura 1), as quais foram recortadas em subespaços diferenciados.

De modo a facilitar o acesso e a atração de investimentos turísticos e visitantes a essas áreas, foram implantados troncos viários que permitiram maior fluxo de capitais e pessoas. Dentre esses, a BA-099, Linha Verde, conectando os estados da Bahia e de Sergipe pelo litoral, e a BA-001, uma rodovia radial, que percorre o litoral do estado, ao sul de Salvador, formada por trechos não conectados, com interrupções principalmente nos estuários dos rios que deságuam no Oceano Atlântico. Em reforço à nova acessibilidade, investiu-se na ampliação do aeroporto internacional de Salvador e na implantação de aeroportos no interior da Bahia, como o de Lençóis, na Chapada Diamantina, e o de Porto Seguro, na Costa do Descobrimento.

 

Figura 1 - Zonas Turísticas da Bahia
Fonte: Guia de Turismo e Viagens de Salvador, Bahia e Nordeste, 2012.

 

Em face das demandas institucionais do Prodetur e da necessidade de fortalecer o Sistema Institucional Público do turismo baiano para a sua retomada, em meados da década de 1990 o governo da Bahia implantou a Secretaria de Cultura e Turismo (SCT). Com o novo organismo, o Sistema Estadual de Turismo manteve-se na função de provedor quase único do turismo baiano, posição gradualmente assumida desde a criação da Bahiatursa. Em 1995, ano de implantação da SCT, o BID começou a liberar os recursos para as obras previstas na primeira etapa do Prodetur-Ne, que totalizaram US$ 215.011 mil, incluindo financiamento e contrapartida local (Brasil, BNB, 2020), recursos concentrados, sobremaneira, na Bahia (35% do recebido pela região Nordeste) e, nesta, na Costa do Descobrimento (Figura 2).

 

Figura 2 - Regiões Beneficiadas pelo Prodetur-Ne I
Fonte: Queiroz, R., 2016

 

A opção prioritária do Prodetur-Ne I pela Costa do Descobrimento (57% do montante investido nesta etapa do programa) deve-se à reação do BID contra uma possível pulverização dos recursos públicos a serem aplicados no turismo; à existência de um fluxo turístico já significativo nessa zona, com elevados índices de crescimento, e de carências e problemas infraestruturais que comprometiam a sustentabilidade do seu valioso patrimônio natural e à proximidade das comemorações dos 500 anos do Descobrimento, com possibilidades de repercussão na mídia nacional e internacional e de fomento ao segmento histórico-cultural. Essa opção, entretanto, não foi impeditiva para que o governo da Bahia realizasse investimentos em outras áreas, seja com recursos do BID, do Tesouro Estadual, do Banco Mundial, do Kreditanstalt Für Wiederaufban (KFW), do BNDES ou do Fundo Geral de Turismo (Queiroz, 2005. p. 154).

No conjunto das inversões no turismo baiano iniciadas na primeira metade dos anos 1990, cabe ressaltar o projeto de recuperação do Centro Histórico de Salvador. Tendo começado em 1994, esse projeto, estruturado em sete etapas, já a partir da conclusão das obras da primeira etapa possibilitou um incremento em torno de 40% no fluxo global para a capital, se comparado ao primeiro ano daquela década. Residentes nessa área e turistas, nacionais e estrangeiros, mostravam-se entusiasmados com o “novo” Centro Histórico. A gravação no Pelourinho do clipe They don’t care about us, de Michael Jackson, com a banda Olodum, em 1997, sob a direção de Spike Lee, veiculada globalmente, foi uma contribuição importante para ampliar a atratividades dessa área no período.

No entanto, os primeiros sinais de problemas no modelo proposto para o Centro Histórico de Salvador foram evidenciados com o arrefecer do impacto da intervenção e dos processos e este associados, de ampla divulgação de seu espaço na mídia local e nacional (Queiroz, 2006, p, 85). Ainda nos anos 1990, alguns dos segmentos econômicos implantados nessa área apresentam sinais de dificuldades, principalmente o do comércio de roupas e objetos e o de lazer e entretenimento. A concorrência com os espaços climatizados, planos, com segurança e dotados de estacionamento, gratuitos à época, dos shoppings centers, e uma certa incompatibilidade entre o público de mais baixo poder aquisitivo, que outrora frequentava esse espaço e que manteve sua assiduidade, sobretudo, nas terças da bênção, terminou por afastar as classes média e média alta do espaço restaurado. O perfil empresarial atraído na primeira etapa, que seguiu determinações mais políticas do que econômicas, foi mais um aspecto fundamental a ameaçar a pretendida sustentabilidade da área em transformação. Por fim, o Plano Real, ao valorizar a moeda brasileira impactando negativamente o segmento do turismo internacional do Brasil, especialmente no que concerne aos visitantes oriundos da área de abrangência do Mercosul, contribuiu para a contração da demanda por viagens internas (Queiroz, 2006, p. 88-90). O governo estadual buscou rever as próximas etapas do projeto, mas problemas de gestão do espaço e de continuidade nos investimentos, a fim de garantir a sua manutenção, tenderam a permanecer, inclusive após as propostas de reabilitação participativa da área, realizadas em 2010 e 2014.

É fato que, ao longo do período iniciado em 1995, os avanços na economia do turismo estadual foram significativos, mas alguns problemas continuavam dificultando o alcance de maior competitividade. Apesar da expansão da atividade para o interior, a cidade do Salvador permanecia concentrando grande parte da economia turística estadual, seguida, com proximidade, por Porto Seguro. Os segmentos e produtos ofertados eram ainda pouco diversificados, dificultando a atração de visitantes de maior poder aquisitivo. No meio empresarial baiano observava-se baixa rentabilidade, adoção de estratégias individuais e isoladas, baixo índice de capitalização, visão limitada e imediatista. No setor público, a atuação permanecia, de certa forma, bastante protagonista e paternalista, e, nas relações entre os setores público e privado, podia-se falar de uma falta de confiança mútua (Queiroz, 2005. p. 321).

Diante das necessidades de mudança impostas pela nova ordem econômica mundial, que exigiam um outro papel do poder público e competitividade mais ampla para os espaços turísticos que almejam mais projeção na economia turística global, em meados dos anos 2000 o governo baiano procurou modificar sua forma de atuação na atividade turística. Esse processo foi impulsionado tanto pelas demandas diretas ou indiretas da segunda fase do Prodetur-Ne – programa com duração de 20 anos, que passou a dispensar, por parte do financiador internacional, maior atenção à melhoria efetiva da qualidade de vida da população, a fim de que o turismo passasse a ser visto à luz desse fator nas comunidades envolvidas – quanto  pelas propostas do Plano Nacional de Turismo 2003-2007, lançado pelo governo federal, que visavam, dentre outros objetivos, a promover a descentralização turística no país e também por causa dos limites à atuação do governo estadual diante da escassez de recursos.

Essas mudanças puderam ser evidenciadas, por exemplo, nas articulações da SCT com outros organismos estaduais, requisitadas pelo próprio Prodetur; nas tentativas de descentralização da gestão turística, com a constituição dos Conselhos de Turismo dos polos turísticos baianos (regionalização redefinida pelo Prodetur-Ne – Figura 3), formados por representantes dos setores público e privado e terceiro setor, responsáveis, entre outras ações, pela validação do Plano de Desenvolvimento Integrado Sustentável do Turismo (PDITS), requisito imprescindível à aprovação de projetos na segunda fase do Programa de Desenvolvimento Turístico, e, em consequência, na implantação do Plano Nacional de Turismo, do programa de regionalização Roteiros do Brasil, por este concebido, do Fórum Estadual e das Câmaras Setoriais de Turismo; na tentativa de articulação local entre o Prodetur-Ne II (US$ 112.400,00 mil investidos na Bahia, incluindo contrapartida dos governos estadual e federal – Bahia, PDITS, 2012), com  a proposta federal para o turismo; na ênfase concedida às ações infraestruturais e de marketing institucional; na implantação de um programa de qualidade dos serviços turísticos em parceria com a iniciativa privada – o Bahia Qualitur –, e na definição de uma nova estratégia de planejamento, o denominado Cluster de Entretenimento da Bahia.

 

Figura 3 – Polos Turísticos da Bahia no Prodetur-Ne II
Fonte: Queiroz, 2007, p. 123.

 

EVOLUÇÃO RECENTE DO TURISMO NA BAHIA

Com o Prodetur-Ne II ainda em vigência, em dezembro de 2009, a Bahia passa a figurar entre os estados a serem contemplados com recursos do Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur Nacional), cujas negociações haviam sido iniciadas no ano anterior (Brandão, 2015, apud Queiroz, 2015). Esse programa do Ministério do Turismo, com financiamento do BID e da Comissão Andina de Fomento (CAF), objetivava, inicialmente, gerar condições para a consecução das metas do Plano Nacional de Turismo 2007-2010, estendido, posteriormente, ao Plano 2011-2014, contribuindo para aumentar a capacidade de competição dos destinos turísticos brasileiros e para fortalecer a Política Nacional de Turismo. Pretendia-se alinhar os investimentos regionais, estaduais e municipais a um modelo de desenvolvimento turístico nacional, por meio de gestão pública descentralizada, participativa e em cooperação com os diferentes níveis da administração pública.

Com um raio de abrangência mais amplo que o Prodetur-Ne em temos territoriais, o Prodetur Nacional abrange os estados brasileiros, o Distrito Federal, as capitais e municípios com mais de um milhão de habitantes. O planejamento e a execução do programa são realizados com recursos do BID e da contrapartida local dos governos estaduais ou municipais. Como requisito para aderir ao programa, o estado ou município deve selecionar as áreas turísticas prioritárias para recebimento dos investimentos, com base no PDITS, avalizado pelo Conselho de Turismo. No estado da Bahia, o Prodetur Nacional foi direcionado para a Zona Turística Baía de Todos os Santos (BTS). Objetiva-se a geração de emprego e renda para as populações situadas nos municípios que compõem a zona e o incremento do gasto turístico, através de investimentos totais de US$ 84 milhões, direcionados a 13 intervenções náuticas e uma cultural, esta última compreendendo obras de requalificação do Museu Wanderley Pinho, em Candeias, cuja ordem de serviço foi assinada em janeiro de 2020 (Bahia, 2020, Prodetur Nacional).

A área de abrangência do programa beneficia 17 municípios turísticos da BTS, além de Simões Filho, que, embora não seja considerado um município turístico, foi incluído no Prodetur Nacional-Bahia por sua vocação especial para as atividades náuticas. Para melhor operacionalização do programa, esses 18 municípios foram divididos em quatro áreas geográficas e classificados de acordo com o potencial turístico náutico e cultural (Figura 4).

Figura 4 - Áreas selecionadas pelo Prodetur Nacional-Bahia
Fonte: Bahia, Setur, 2015.

 

Além dos projetos definidos pelo governo estadual, o município de Salvador também deverá ser contemplado com uma contratação específica realizada no âmbito do Prodetur Nacional. Salvador, Fortaleza e Manaus são as capitais designadas a receber recursos diretos do BID via Prodetur Nacional, junto com os estados da Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, Pernambuco e Sergipe. Para a recepção de investimentos negociados da ordem de US$ 105 milhões, o município, através da Secretaria de Cultura e Turismo, atualizou em 2014 o seu PDITS – cuja primeira versão é de 2011. Entre os projetos já realizados pelo Prodetur Nacional Salvador incluem-se a recuperação e valorização dos espaços e atrativos histórico-culturais dos fortes de Santa Maria e de São Diogo e a requalificação da orla marítima do Rio Vermelho. E, no conjunto dos que se encontram em andamento, destacam-se as obras de requalificação da Avenida Sete de Setembro e da Praça Castro Alves e a estruturação e a elaboração de um Plano de Ação que visa a implantar produtos e experiências para o Turismo Étnico-Afro-Brasileiro em Salvador (Bahia, Prodetur Nacional Salvador, 2020).

Em síntese, desde fins dos anos 1990 a Bahia vem recebendo recursos expressivos direcionados à requalificação da atividade turística. Entretanto, é também significativa a falta de manutenção desses investimentos e de realização de programas e ações complementares que possibilitem maior dinamismo ao turismo no estado. Esses problemas decorrem, entre outros aspectos, de mudanças políticas que ocasionam a descontinuidade de parte das ações estaduais, da existência de gestões municipais que não priorizam a qualificação dos espaços urbanos, do desaquecimento da economia nacional, dos reflexos, para o país, das crises da economia mundial, do surgimento e/ou fortalecimento de destinos concorrentes. Assim, em que pese a relevância dos programas de fomento ao turismo baiano, com a participação de agências multilaterais, visando ao suporte a capitais privados, à geração de emprego e renda, muitas vezes criticados, dentre outras razões, pela elevação da dívida pública nacional, são ainda significativos os desafios para que esta atividade venha a alcançar melhores resultados. E, na atualidade, ao conjunto de problemas existentes cumpre ainda acrescentar os desafios ocasionados pela pandemia de Covid-19.

É certo que o turismo deverá ser uma das últimas atividades econômicas a se recuperar da crise sanitária. Sua dinâmica requer deslocamento, em alguns casos, aglomeração, sobretudo no segmento do turismo de massa, que está sendo evitado e, até mesmo, não recomendado, no presente momento. Mas é certo também que a Bahia possui um capital histórico-cultural e natural de grande apelo no mercado do turismo. Apesar das carências existentes no estado, sobretudo no que se refere a seu quadro social, a Bahia é hoje composta de subespaços turísticos diferenciados, que, ainda que de forma bastante heterogênea, poderão responder às novas demandas do mercado turístico no pós-pandemia.

Desde a formatação das zonas e, posteriormente, dos polos, a regionalização do turismo baiano foi estabelecida de acordo com o perfil dos atrativos dos distintos territórios segmentados. Essa estratégia permitiu o fortalecimento do marketing turístico do estado e da capacidade de atração de fluxos de pessoas e capitais, com a mais ampla divulgação da diversidade de atrativos existentes, possibilitando que essas áreas descortinem para o mercado do turismo as suas características diferenciadas.

 

OS POLOS TURÍSTICOS DA BAHIA E SEUS DIFERENCIAIS

No conjunto dos subespaços turísticos da Bahia, a região litorânea mantém como traço central a sua atratividade para o lazer de “sol e praia”; entretanto, no Litoral Norte, área que, junto à Baía de Todos os Santos, compõe o Polo Salvador e Entorno, destacam-se: o mar de águas calmas, quentes e quase sempre cercadas de quebra-mar natural das praias da Estrada do Coco; a presença de lagoas, rios e paisagens fascinantes; as belezas naturais da região, com os rios Jacuípe, Pojuca e Joanes, sendo este último um excelente local para prática de esportes náuticos. As vilas de Praia do Forte, Imbassaí, Costa do Sauípe, Baixio, Massarandupió onde está localizado o único recanto de naturismo no litoral da Bahia Mangue Seco, Arembepe; o Projeto Tamar, criado em 1980 e reconhecido internacionalmente como uma das mais bem-sucedidas experiências de conservação marinha; o Projeto Baleia Jubarte de Praia do Forte; a Casa da Torre de Garcia d’Ávila, um castelo, primeira construção portuguesa no Brasil com arquitetura residencial militar, cuja obra foi iniciada em 1551 e concluída em 1624 por seu neto Francisco Dias d’Ávila; a Reserva Ecológica da Sapiranga, ideal para os adeptos do ecoturismo e do turismo de aventura; além dos hotéis de lazer em estilo resort, da gastronomia, dos eventos programados etc. (Bahia Turismo, 2020).

Na Baía de Todos os Santos a atratividade resulta da multiplicidade cultural que deu origem a uma das mais fascinantes metrópoles do mundo: Salvador, capital da Bahia, dotada de vasto patrimônio arquitetônico, o que a qualificou para receber o título de Cidade Patrimônio da Humanidade, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 1985, e também de um amplo legado cultural de origem africana, que a tornou peculiar em termos de musicalidade, gastronomia, religiosidade. Sem dúvida, o patrimônio histórico-cultural de Salvador, fruto das influências das culturas indígenas, portuguesa e africana, além das de outros povos imigrantes, bem como das condições climáticas amenas — temperatura média  de 25º C — e físicas do seu espaço urbano, que dispõe de aproximadamente 50 quilômetros  de praias, correspondentes a 1/3 da costa da Baía de Todos os Santos, conformam hoje uma cidade miscigenada, dotada de amplas e variadas belezas naturais e características próprias, que a diferenciam de outras urbes do país e do mundo, singularizando-a e tornando-a atrativa para o turismo (Queiroz, 2016).

Principal destino e portão de entrada para o turismo da Bahia, Salvador é a “Cidade da Música”, do carnaval, maior festa de rua do planeta; da Terça da Benção e de diversos eventos musicais abertos ao público no Centro Histórico; das inúmeras festas populares e religiosas, como a Procissão do Senhor dos Navegantes, as lavagens das igrejas de Nossa Senhora da Conceição e de Nosso Senhor do Bonfim, a festa de Iemanjá, considerada a maior manifestação pública do candomblé no país; de Irmã Dulce, primeira mulher comprovadamente nascida no Brasil a ser canonizada, tendo recebido o título de Santa Dulce dos Pobres; dos candomblés de Mãe Menininha do Gantois, de Mãe Stella de Oxóssi, de Olga do Alaketu, entre outras ialorixás; da capoeira, patrimônio cultural imaterial da humanidade, reconhecida pela Unesco; das baianas de acarajé, patrimônio imaterial da Bahia; das esculturas de orixás flutuando no espelho d’água do Dique do Tororó, criadas pelo artista plástico Tatti Moreno; dos parques de São Bartolomeu, Pituaçu e da Cidade; da área de preservação ambiental da Lagoa do Abaeté; dos bairros boêmios do Santo Antônio Além do Carmo e do Rio Vermelho; da gastronomia rica em frutos do mar e dendê. No seu entorno, compondo a área metropolitana, as ilhas de Maré e dos Frades. A primeira, com as praias de Itamoabo, das Neves, Praia Grande, de Santana e do Botelho ou Oratório de Maré. A dos Frades, considerada reserva ecológica, em forma de estrela de quinze pontas, com praias como a do Saco, de Loreto, da Costa, Ponta de Nossa Senhora de Guadalupe — praia que recebeu selo Bandeira Azul de sustentabilidade — Tobá, Tobazinho e Paramana, além de montanhas, coqueirais, cachoeiras e mata nativa, inclusive pau-brasil. Essas ilhas, com fortes tradições gastronômicas, com destaque para o doce de banana e a moqueca de frutos do mar, recebem fluxo turístico, embora disponham de restritos equipamentos de suporte ao visitante.

Mas, além de Salvador, a zona turística Baía de Todos os Santos, com a maior baía tropical do mundo, 56 ilhas e 16 municípios que compõem o Recôncavo Baiano, é permeada de história e cultura. Cachoeira, a maior expressão do Barroco do Recôncavo, com seu estilo colonial, presente nas praças, ruas, becos, ladeiras, e os exemplares da arquitetura dos séculos XVII, XVIII e do Brasil Império, que a credenciaram para obter o título de Cidade Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; com a religiosidade, os saberes e fazeres de seu povo, seus recursos naturais e seu potencial náutico, é, sem dúvida, um valioso atrativo para o turismo. Outras cidades dessa zona também guardam muitas relíquias históricas, como São Félix e Itaparica, cujos conjuntos arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos são tombados pelo Iphan; Maragogipe, com seu carnaval tradicional, patrimônio imaterial da Bahia, inspirado nas festas similares que ocorriam na Europa no século XIX, onde há uma forte predominância de fantasias de figuras folclóricas, entre outras.

Logo abaixo da Baía de Todos os Santos, no sentido norte-sul, tem-se o Polo Litoral Sul, com as zonas turísticas da Costa do Dendê e da Costa do Cacau. Na primeira dessas áreas, está localizada a APA Baía de Camamu que abrange os municípios de Camamu, Maraú e Itacaré – este último, já na Costa do Cacau. A Baía de Camamu, terceira maior baía brasileira, muito considerada por sua beleza cênica e importância ecológica, abrange a lagoa do Cassange, que se estende por 8 quilômetros, permeada em parte por restinga ainda preservada; extensos manguezais, resquícios de Mata Atlântica em bom estado de regeneração; abundantes dendezeiros, de cujo fruto, o dendê, faz-se o azeite que dá o gosto peculiar da culinária baiana; cachoeiras e praias com enseadas e piscinas naturais (Brasil, Inema, 2020). Sua área, com praias intocadas de águas claras e quentes, formações variadas de recifes de coral e emolduradas por vastos coqueirais; com cachoeiras propícias à prática de esportes radicais, culinária variada, à base de frutos do mar, possui alguns dos hotéis e pousadas mais procurados do Brasil (Bahia Turismo, 2020).

Na Costa do Cacau os destaques são também expressivos. Jorge Amado, filho da região, com seus romances, especialmente Cacau e Gabriela, cravo e canela, muito contribuiu para propagar as tradições, belezas e riquezas culturais dessa costa para os mais diversos pontos do planeta. A Ilhéus de Gabriela, do Bar Vesúvio, do Bataclan (cabaré inaugurado em 1920), do casario colonial dos séculos XVIII e XIX, com ruas calçadas de pedras, igrejas e casarões antigos, remonta ao período em que a produção e exportação de cacau eram uma das principais economias do país (Bahia Turismo, 2020). Fazendas de cacau da região hoje se dedicam ao turismo sustentável. A produção de chocolate caseiro é também um traço regional. E tudo isso junto a uma natureza exuberante, com rios margeados por cacaueiros, cachoeiras, praias muito aprazíveis,  com vastos coqueirais e densos manguezais, convidativas ao banho e à prática de esportes, como o surfe, a exemplo das de Uruçuca, Itacaré, Canavieiras, Una, Ilhéus.

Canavieira, com o preservado casario dos séculos XIX e XX de sua área central, é também um excelente ponto para os adeptos da pesca oceânica. Serra Grande, em Uruçuca, com seus mirantes, praias de areia fina e uma vila acolhedora, é ideal para famílias e para os que procuram descanso. Itacaré, frequentada por surfistas desde os anos 1980, atrai hoje um público diversificado, como artistas, empresários, jogadores de futebol, esportistas e outros, que se hospedam nos seus luxuosos resorts ou nas pousadas existentes, frequentam os seus bares e restaurantes e podem ter acesso a um amplo leque de produtos e serviços e a uma agitada vida noturna. Nessa região, onde foi implantada a primeira estrada-parque da Bahia, a Ilhéus-Itacaré, também está situada a APA Itacaré-Serra Grande.

O polo litorâneo mais ao sul do estado – Polo Costa do Descobrimento –compreende as zonas turísticas Costa do Descobrimento e Costa das Baleias. A Costa do Descobrimento, local de acesso dos portugueses ao Brasil, encanta por sua história, por seus diversos atrativos naturais, como praias, baías, recifes de coral, manguezais, rios navegáveis e condições propícias para a prática do turismo de aventura e do ecoturismo. Em Porto Seguro, o conjunto arquitetônico e paisagístico da Cidade Alta foi tombado pelo Iphan, em 1968, e no município, especialmente o Monte Pascoal, foi erigido a Monumento Nacional em 1973. Em 2000 o Iphan procedeu a novo tombamento, abrangendo, aproximadamente, 800 imóveis. Na atualidade, todo o sítio histórico encontra-se tombado, inclusive as áreas de expansão mais recentes, além de loteamentos turísticos, que se encontram na faixa de três quilômetros de largura ao longo da costa (Brasil, Iphan, 2020).

A Costa do Descobrimento é também Patrimônio Natural Mundial reconhecido pela Unesco (1999) devido ao excepcional valor da reserva de Mata Atlântica (Brasil, Iphan, 2020). Em Santa Cruz Cabrália, o conjunto paisagístico, especialmente o Ilhéu da Coroa Vermelha, a orla marítima e o conjunto arquitetônico e paisagístico da Cidade Alta foram tombados pelo Iphan, entre 1979 e 1981 (Brasil, Iphan, 2020). E, junto aos patrimônios histórico e natural e ao lazer marítimo, intensamente explorado nessa região, principalmente em Arraial d’Ajuda, Caraíva e Trancoso, distritos de Porto Seguro, o lazer noturno é mais um ponto atrativo, com grande concentração na Passarela do Álcool, assim como nas festas e luaus (folguedos de origem havaiana) nas barracas de praia. Trancoso, antiga vila de pescadores, com a autenticidade do seu centro histórico, com pequenas casas e igreja distribuídas no conhecido e agitado Quadrado, com suas praias onde são ofertados serviços exclusivos, suas badaladas festas, mistura simplicidade e luxo, sendo um point frequentado por famosos e celebridades nacionais e internacionais. Toda essa região, de elevada procura por turistas em visita à Bahia, é dotada dos mais diversos equipamentos de hospedagem, assim como de bares, restaurantes, serviços de agenciamento e outros direcionados ao turismo.

No extremo sul do estado está situada a Costa das Baleias, região litorânea entre os municípios de Prado e Mucuri, com praias cercadas de falésias, ecossistemas intocados, berçário para as baleias jubarte, que, entre os meses de julho e novembro, vêm em busca de local propício para a procriação. Esse subespaço, com rios, cachoeiras, praias de águas doces e salgadas, ilhas, mangues e coqueirais, ideal para o mergulho em águas mornas e tranquilas, é também o reduto do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, maior e mais diversificado conjunto de recifes de coral do Atlântico Sul. Constituído por cinco ilhas, três delas – Redonda, Guarita e Sueste – situadas em áreas inatingíveis, cujo desembarque está proibido, Abrolhos recebe turistas exclusivamente nas ilhas Siriba e Santa Bárbara. As visitas são realizadas de forma totalmente programada, monitorada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e supervisionada pela Marinha do Brasil, que protege a Ilha de Santa Bárbara, a única habitada do arquipélago. São também referências da oferta turística local as construções coloniais do Centro Histórico de Alcobaça, as festas religiosas de Caravelas, as praias semidesertas de Prado, onde os habitantes ainda praticam a pesca artesanal. O acesso a essa área é normalmente realizado pela BA-001 ou pelo aeroporto nacional de Caravelas (Guia do Turismo Brasil, 2020).

A Chapada Diamantina, situada na região central da Bahia, foi outrora um grande centro produtor de diamantes. Essa atividade econômica possibilitou a constituição de um conjunto de cidades, hoje consideradas patrimônio histórico nacional, como Lençóis, Igatu, Mucugê e Rio de Contas, sendo também base para a  formatação de dois circuitos turísticos regionais – o Circuito do Diamante, que compreende as cidades de Andaraí, Ibicoara, Iraquara, Itaetê, Lençóis, Mucugê, Barra da Estiva, Boninal, Iramaia, Itaberaba, Ituaçú, Nova Redenção, Palmeiras e Seabra; e o Circuito do Ouro, formado pelas cidades de Abaíra, Jussiape, Paramirim, Piatã, Dom Basílio e Rio de Contas.

No conjunto regional, Lençóis, com seus casarões de meados do século XIX, é a principal cidade de acesso ao Parque Nacional da Chapada Diamantina, unidade de conservação com 152.000 hectares, administrada pelo ICMBio. Com grande diversidade ecológica e ambiental em seu território, abrangendo os biomas da Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga, o Parque estende-se pelos municípios de Lençóis, Andaraí, Itaetê, Mucugê, Ibicoara e Palmeiras. É uma excelente opção para caminhadas, montain bike, banhos de rio, escalada e canoagem. Com quase 300 quilômetros de trilhas que percorrem campos rupestres, cerrado e mata atlântica, o parque possui 33 cachoeiras, entre elas a da Fumaça, com 390 metros de altura, duas cavernas, dez locais de escalada, sítios históricos e os marimbus, área alagada conhecida como Pantanal da Chapada Diamantina (Brasil, ICMBio, 2020, Guia do Turismo Brasil, 2020).

No Polo Chapada Diamantina estão situadas as maiores altitudes do Nordeste do Brasil, como o Pico do Barbado, com 2033 metros, Pico do Itobira e o Pico das Almas. Toda a sua zona é muito propícia para os adeptos do ecoturismo e do turismo de aventura. É também de grande apelo aos admiradores dos festivais de música, que ocorrem na cidade de Lençóis e no Vale do Capão, das celebrações religiosas, das festas populares, de uma gastronomia típica, de ações de preservação ambiental, como pode ser visto no Projeto Sempre Viva, de conservação de ecossistemas de domínio rupestre, abrigado no Parque Municipal de Mucugê, distrito de Palmeiras. Outra atratividade de expressão nesta área são os roteiros das Trilhas Griô, como o realizado através da parceria entre a ONG Grãos de Luz e Griô, mediante a agência de turismo solidária Trilhas Griô, e as associações de moradores de comunidades locais, como a da Vila do Remanso, no entorno de Lençóis (Garupa, 2020).

O Polo Caminhos do Oeste é formado pelos municípios de Barreiras, Bom Jesus da Lapa, Correntina, Santana, Santa Rita de Cássia, Santa Maria da Vitória, São Félix do Coribe e São Desidério. Por causa do potencial regional para o agronegócio, como polo produtor principal de grãos do Norte e Nordeste do Brasil, tem sua oferta dirigida, sobretudo, ao segmento do turismo de negócio, embora não exclusivamente. Os municípios de Barreiras e São Desidério, dentre outros, apresentam potencial para o ecoturismo, turismo de aventura e esportes aquáticos, como o rafting, caminhadas, atividades com caiaque e outros. No conjunto dos atrativos dessa região destacam-se a Cachoeira do Acaba Vida, a Gruta das Pedras Brilhantes, o Sumidouro da Serpente, a Gruta do Catão, o Rio de Ondas, o Rio Grande, a Cachoeira do Redondo, a Lagoa Azul, a Cachoeira do Rio do Ouro, o Sumidouro do Inferno e a Gruta da Palmeira (Bahia, Setur, 1998). Já em Bom Jesus da Lapa, município conhecido como capital baiana da fé, as romarias realizadas anualmente, com mais de 300 anos de tradição, atraem um número expressivo de visitantes. Os adeptos das experiências de fé movimentam a hotelaria, bares, restaurantes e o comércio local, sendo uma significativa fonte de recursos para o município.

No Polo São Francisco, região de vinhos finos que dão sabor especial à culinária sertaneja, o enoturismo tende a ser uma forte marca. Em sua área, considerada o segundo centro de produção de vinhos no Brasil, os roteiros enoturísticos compreendem passeios pelos vinhedos, aprendizado sobre a coleta de uvas e potencial dessa atividade econômica, visita a adegas de barris de madeira, conhecimento do preparo do vinho e degustação. Na região do São Francisco, onde a cultura sertaneja convive com a primeira usina hidrelétrica do Nordeste, a de Angiquinho, construída em 1913 pelo empresário alagoano Delmiro Gouveia, é possível realizar passeios no maior cânion navegável do mundo; praticar os mais variados esportes radicais, como os pulos de bungie jump do alto de pontes; frequentar barzinhos e restaurantes para assistir ao belo espetáculo do pôr do sol (Guia de Turismo e Viagem de Salvador, Bahia e Nordeste, 2012).

 

Referências

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Imagem de capa:

Trancoso, Bahia (Leonardo Quintino/flickr)

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