CULTURA NA BAHIA¹
A Bahia tem a personalidade de um país, e o Dois de Julho é o seu principal mito de origem.
João Reis (1989)
...Assumo a cultura como sendo essas teias de significado e sua análise, portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura de significado.
Clifford Geertz (1970)
Mas a verdade é que a famosa Bahia com “H” que tanto cantamos em prosa e verso, cheia de enobrecedoras cores arcaicas e racialmente telúricas, procede de uma fixação identitária relativamente recente — não passando do produto (e do proveito) de um imaginário nacional que só se constitui depois da Independência do Brasil,
Roberto Albergaria (2002)
(...) a possibilidade de “descolonizar” a cultura dependente, propondo substituir o sentido da indigência, da precariedade do que é segundo e derivado, por uma postura afirmativa capaz de autoreconhecer-se como valor diferencial.
Eneida Leal Cunha comentando Silviano Santiago (2006)
Ebofin, Eruda
Ditado Yorubá
- AJAIÔ: ABRE ALAS
Afoxé Filhos de Gandhy. Campo Grande. Salvador Bahia. Carnaval de 2017. Foto: Fábio Marconi. Fonte site Salvador da Bahia Acessar: https://www.salvadordabahia.com/ https://www.salvadordabahia.com/experiencias/afoxe-filhos-de-gandhy-2/ |
1.
Como usina de sentidos, a cultura na Bahia só pode ser minimamente entendida a partir dos processos que a engendram, e não a partir de simples transposição de categorias analíticas, ou seja, a partir das circunstâncias históricas que moldaram essa cena tão diferenciada de criação e de trocas incessantes, de fricções e antagonismos, mas também de pronunciada flexibilização de fronteiras entre heranças distintas — europeia, africana e indígena —, num processo que toma a Baía de Todos os Santos e seu entorno como berçário, e que, ao longo dos séculos amadurece, apesar de tanta desigualdade de destinos e violências seculares que nos marcam como sociedade, e sempre seguindo as pegadas dos processos de interiorização, se espalha pelos quatro cantos do Estado, onde novos ciclos de interação se estabelecem. Tudo isso tem gerado configurações complexas, e tem produzido, ao longo das décadas recentes, ondas sucessivas de inovação e reverberação, permanecendo nos dias de hoje como manancial de energia criativa e como desafio interpretativo a pedir atenção e investimento. A cultura baiana tem personalidade marcante e se afirmou como polo irradiador reconhecido na cena brasileira.
2.
O que caracteriza um Mestre é ética, é saber quem ele é, ter filosofia (...) porque a capoeira é uma filosofia, a capoeira ela é arte, dança, malícia, coreografia, teatro, sagacidade, religião, cultura, ela só pode ser perigosa na hora da dor.
Mestre Curió (2008)
Num sentido mais antigo e amarrado ao peso referencial da Cidade da Bahia, primeira capital do Brasil e centro das decisões políticas da Colônia até 1763, a expressão ‘cultura baiana’ tem sido usada como descritivo da cena em Salvador e cidades do entorno, especialmente as do Recôncavo Baiano. De forma mais ampla e concreta, a expressão designa a diversidade dos territórios culturais que compõem a vasta malha geo-sócio-político-cultural que se abriga no Estado da Bahia. Para falar de cultura na Bahia é preciso dar atenção diferenciada a cada uma dessas perspectivas, mas, desde logo, reconhecendo que não são autônomas, se entrelaçam de muitas maneiras. Por exemplo, vale o registro de que o crescimento vertiginoso da cidade de Salvador nas últimas décadas, deve-se, em grande medida, a processos de migração do interior para a capital, tornando-a um enorme caldeirão de perspectivas culturais2. Tradicionalmente o estado da Bahia é divido geograficamente em sete mesorregiões:
De forma mais recente, a partir da adoção do conceito de territórios de identidade (2007), foi adotada uma forma de segmentação mais apropriada para pensar a cultura. Essa divisão leva em conta dimensões identitárias, ambientais, econômicas e também culturais. Atualmente, reconhece-se 27 territórios de identidade no Estado da Bahia:
3.
Após longos anos de perpetuação da tese do desaparecimento dos índios e da ideia de povos sem história, uma nova história indígena começou a ser escrita no Brasil no final da década de 1970.
Maria Hilda Baqueiro Paraíso (2014)
Buscamos, neste verbete, a construção de um relato sobre o largo horizonte da cultura na Bahia, deixando vislumbrar as últimas décadas, mas enfatizando as perspectivas formadoras desse todo complexo e desafiador. Há toda uma amplitude que se descortina a partir da noção de cultura, como algo que vai muito além do ofício de criadores-artistas, este, em si, já um universo de tamanho considerável (da pintura ao grafite, do cordel à produção sinfônica, do teatro à canção popular), na direção de todos os envolvidos como uma série de processos: as manifestações culturais (das ancestralidades indígenas e africanas e seus desdobramentos até o Carnaval), os diversos circuitos de recepção (das rádios às salas de cinema e bibliotecas comunitárias),a construção-manutenção histórica e cotidiana da língua, do imaginário coletivo e dos modos de vida (da moda e gírias à gastronomia), e mais, os esforços de reflexão e entendimento sobre todos esses campos (da produção acadêmica aos saberes tradicionais), além do desafio da construção de memória3.Permeando tudo isso, os processos de formação próprios a cada contexto. Essa visão de cultura pulsa na direção da diversidade, e, nesse sentido, reverbera o próprio tecido sociocultural da Bahia, lugar de uma dinâmica experiencial própria.4 É importante reconhecer a abrangência daquilo que aqui nos reúne, embora devamos admitir a necessidade de estratégias de síntese e de focalização.
4.
As grandes lendas do São Francisco são quase todas elas conhecidas dos tuxá(...) A mãe-d’água, ou sereia, é vista com frequência no rio, formosa e benfazeja (...) Falamos do Romãozinho (ou caipora) (...) e soube-se que também em Rodelas fez as suas diabruras (...)O nêgo-d’agua lá está também, assim como o boi Sirigá (...) boi enorme, que surge no capinzal de uma hora para outra, agitando as suas grandes “pontas”, e logo desaparece, encantado que é.
Nelson de Araújo (1986 - visita à Aldeia dos Tuxá de Rodelas, no São Francisco)
Para além de fatos, feitos, personagens e reverberações, um verbete é sustentado pelo olhar interpretativo que cultiva, e que nem sempre expõe ou discute. É o que nos coloca diante do desafio de escolher, explicitar e discutir possíveis eixos interpretativos para a apresentação do horizonte da produção cultural na Bahia.5 Mais adiante, passaremos a palavra a relatos de natureza mais específica, capazes de nomear feitos e processos em campos e linguagens diversos. As dificuldades aqui envolvidas remetem à constatação de que, sendo tão vasto, esse horizonte reúne uma multiplicidade de comunidades que dedicam as boas energias de suas vidas aos objetos e questões de seus afazeres e artes, e muito menos à apreensão sintética do todo que constituem coletivamente: uma ceramista que trabalha nas margens do Paraguaçu, com técnicas herdadas da cultura indígena, vive um mundo muito diferente do de um poeta lutando pela publicação de sua obra, de um pesquisador da área de Humanas ou de um Alabê de um tradicional terreiro de candomblé, de um ator de sucesso nos palcos, de uma celebridade do Carnaval, de alguém que dedicou a vida a Ternos de Reis, a ensinar dança ou a contar estórias... Essa ciranda poderia ser multiplicada inúmeras vezes. Como escolher perspectivas interpretativas que acolham tantos fios? Abrindo-se as portas da cultura na Bahia ficamos diante de verdadeira maré de letrados — em todos os campos das letras e das artes —, de criadores gerados pelos saberes da ancestralidade, artistas que se construíram através da indústria cultural, através da mídia, e a multidão de agentes de todos os vetores citados acima, seja no ambiente urbano ou rural.
5.
Hibridação e resistência
Para que Gregório de Mattos existisse, foi preciso que antes existissem tupinambás, que portugueses e africanos tivessem feito a travessia atlântica e que a estética barroca (cosmopolita, nucleada nas penínsulas Ibérica e Itálica) chegasse e logo se imiscuísse em nossos trópicos. Por isso mesmo é que Araripe Júnior pôde escrever que Gregório “foi a floração da mais híbrida sociedade que tem havido no mundo”.
Antonio Risério (2004)
... As diferenças que separam o português falado no Brasil e em Portugal são, a priori, o resultado de um longo, progressivo e ininterrupto movimento explícito de aportuguesamento dos africanismos e, em sentido inverso, de africanização do português sobre uma base indígena preexistente no Brasil
Yeda Pessoa de Castro (2005)
Há, sem dúvida, certas noções nucleares que atravessam boa parte dessa produção tão diversa de sentidos, e que podem nos ajudar como visão de síntese. De saída, a noção de hibridação, pois, se o processo mais abrangente que nos caracteriza como lugar cultural é a fricção e comércio entre heranças distintas — e esse processo inclui a tensão permanente entre discurso colonizador e iniciativas de construção de autonomia —, do ponto de vista da criação, a sua contraparte ativa no campo de escolhas de cada obra, gênero, período ou estilo é a hibridação, marca de nascença ou condição ontológica de quase tudo que por aqui emerge. Não que isso aponte para purezas diversas que estivessem na raiz do nosso processo, pois, como sabemos, a pureza é uma ficção, todavia, trata-se de um marcador especial que responde à nossa condição de entrelugar, e que aponta para a especial natureza dialógica das criações culturais baianas — tal como aponta Risério (2004), via Araripe Junior, com relação a Gregório de Mattos: “foi a floração da mais híbrida sociedade que tem havido no mundo”, e isso ainda no início de nossa formação cultural. O estudo dos falares africanos na Bahia, feito por Yeda Pessoa de Castro, descreve esse processo de interpenetração das línguas em nosso território, ilustrando, dessa forma, o mais abrangente processo de hibridação que nos constituiu.
Gregório de Mattos Fonte: Wikipedia Acessar: https://pt.wikipedia.org/wiki/Greg%C3%B3rio_de_Matos |
Parece útil então a imagem do entrelaçamento de três galáxias: europeia, africana e indígena; e a emergência gradual de algo distinto, resultante de empuxos gravitacionais heterodoxos — El Rei, Xangô e Caboclos disputando espaços de força simbólica. Ora, isso nos leva à questão do poder. Uma das galáxias tinha o poder, era o poder, e isso vai definir muita coisa. Todo o discurso de empoderamento individual, de atribuição de prestígio, de valoração cultural, vai estar, ao longo dos séculos, impregnado das marcas do espetáculo europeu. A história de nossa cultura “letrada” tem profusão de exemplos. Mas, por outro lado, todas as iniciativas de representação do coletivo — da construção de pertencimento no âmbito dessa sociedade — vão, necessariamente, esbarrar com as outras duas galáxias, e, de forma especial, tendo em vista a proximidade exigida pelo sistema escravocrata, com a herança africana, seu imaginário e suas construções simbólicas. Somos a diáspora de muitas áfricas.
Mas, não custa observar, que aquilo que em geral é considerado como a protocena da identidade histórica e cultural brasileira, a missa descrita na carta de Caminha, é também a protocena da cultura na Bahia, e certamente, o gesto originário de hibridação a se multiplicar pelos séculos seguintes: como relata Caminha, em torno de 50 ou 60 habitantes nativos (ainda não havia um nome em português para eles), participaram do evento e se puseram de joelhos. “assim como nós (...) que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco e alçaram as mãos”6. A cena pode ser interpretada como uma estampa original da dependência, um fundo sobre o qual permanece o desafio de construção de uma identidade brasileira — e as representações plásticas da mesma, construídas no Século XIX, enfatizam a presença de indígenas pacíficos que praticamente se convertem de forma instantânea, algo que difere da Carta de Caminha, que os representa irrequietos e trocando conversas, certamente buscando interpretar espetáculo tão inusitado —, ou pode-se imaginar aí apenas o início de uma série que seja capaz de substituir “o sentido da indigência, da precariedade do que é segundo e derivado, por uma postura afirmativa capaz de autoreconhecer-se como valor diferencial”7.
Ora, também me parece plausível, considerar como protocena da hibridação na Bahia o gesto “dissonante” do africano escravizado que talhou as figuras de alguns anjos na Igreja de São Francisco, no Terreiro de Jesus, em Salvador, provavelmente no início do Século XVIII, como crianças sexuadas, no caso, do sexo feminino. O gesto parece simbolizar o choque entre as mentalidades africana e europeia, e certamente demonstra como a simples transposição de categorias culturais, barroco que seja, deixa de levar em conta a energia dos agentes locais que colocaram a mão na massa, e assim suas formas de pensar. As construções culturais na Bahia, marcadas pelo traço da hibridação, também se aproximam da vivência de processos de resistência.
As comunidades indígenas que vivem na Bahia, apesar de todo o processo de imposição cultural desencadeada pelos colonizadores a partir do século XVI, deixaram suas marcas nas várias instâncias culturais baianas e têm reativado suas expressões específicas como forma de resistência e reafirmação de sua identidade. Essas marcas e as expressões atuais devem ser pensadas a partir de fatores que variam desde suas especificidades socioculturais no momento do contato até as trajetórias históricas e opções estratégicas estabelecidas pelos grupos a partir do momento do contato. Em termos culturais, podemos indicar a forte influência na culinária, lazer e objetos de uso comum na nossa sociedade.
Pelas vias da hibridação e da resistência também podemos construir interpretações sobre a obra de Castro Alves, com sua ética que liga a senzala ao ambiente acadêmico (não esquecendo que foi um ativo estudante de Direito) e busca um outro destino coletivo; a obra de Jorge Amado (na trilha de Xavier Marques), com seu diálogo que reestrutura a imagem da Bahia entre as ruas, os terreiros e os casarões; o povo brasileiro de João Ubaldo que surge (e se insurge) em plena trama das perspectivas de construção da atualidade. Mas, também, as narrativas tecidas pelos terreiros de candomblé da Bahia, usinas, eles próprios, de memória e de invenção — tendo sido necessário muitas vezes reconstruir o legado cultural a partir das condições possíveis por aqui, para poder preservá-lo—, sendo o culto aos caboclos, que data pelo menos do Século XIX, um dos paradigmas da hibridação.
Aliás, ninguém precisaria explicar o que é hibridação para pessoas que já tenham participado dos festejos ao Dois de Julho, data magna da Bahia, cujos símbolos maiores, os carros do Caboclo e da Cabocla, não apenas retratam esses personagens heroicos da guerra da independência, mas também os floreiam com cocares, armadura medieval, anjos barrocos, bandeiras, lança e dragão — onde o civismo é relido a cada ano a partir de perspectivas que vão da interação direta entre representados e representantes até o misticismo mais pungente, traduzido em bilhetes endereçados aos Caboclos. E isso, sem mencionar a outra cena do cortejo, o retorno dos carros à Lapinha, a volta da Cabocla, com seus batuques, correrias e brincadeiragens, completando a complexa paleta desse civismo heterodoxo.
Para além do Dois de Julho, há processos de hibridação nos quatro cantos da vida cultural baiana. Basta pensar no Afoxé Filhos de Gandhy — adotando a figura do pacifista indiano como elemento aglutinador da presença negra no Carnaval da Bahia, conferindo significados múltiplos para a cor branca —, ou nos sambas juninos, que fazem do Engenho Velho de Brotas sua melhor morada, ou na cena do Hip Hop baiano, relido a partir de corpos que bem poderiam estar na capoeira ou no candomblé, e se quisermos um exemplo candente e hilário, a relação lógica e intimista que une pela mesma estratégia rítmico-melódica coisas tão díspares como um dos mais famosos pagodes aqui produzidos e o “tchan” da 5ª Sinfonia de Beethoven. O fio interpretativo da hibridação permite seguir inúmeros criadores e criações em praticamente todos os campos do fazer artístico.
A tradicional cerimônia indígena da Corrida do Mastro, que tem em Olivença um excelente exemplo, com a presença da tradicional cultura Kamakã, busca definir a capacidade de um homem se casar — carregar uma tora de árvore retirada da mata próxima e carregá-la até o centro da aldeia. Essa atividade foi apropriada pelos jesuítas e o mastro passou a ser depositado na entrada, na porta, da Igreja de São Sebastião. Hoje essa cerimônia foi incorporada aos festejos pré-carnavalescos pela Prefeitura de Ilhéus e conta com a participação intensa dos não índios — mais um exemplo de hibridação em processo.
No Tomo II dos Pequenos Mundos, Nelson de Araújo registra sua visita a Rodelas em 1986, na beira do São Francisco:
Ontem, sábado, dia de nossa chegada a Rodelas, tivemos com os chefes tuxá o nosso primeiro encontro. A entrevista foi na sala do posto da FUNAI. Do posto é diretor Anacleto Antônio da Silva, também tuxá, de larga experiência entre os indígenas do Brasil Central. Anacleto mora na própria Aldeia. Enquanto havia a entrevista — era 27 de setembro — nos céus de Rodelas, cuja população negra (os “morenos”, segundo os tuxá) é pequena, espocavam os foguetes do caruru de Cosme e Damião, dado não desprezível para entender o ponto de fusão, que é a cidade.
Nas últimas décadas, em todo o Estado da Bahia, as aldeias indígenas têm desenvolvido trabalhos de resgate das línguas tradicionais, o ensino desta língua nas escolas indígenas, o resgate e a recriação de práticas cerimoniais religiosas (como a dança do Toré), cantos e manifestações de lazer e de atividades esportivas, inclusive, a organização das Olimpíadas Indígenas. Também têm criado Casas de Cultura e recuperação de áreas degradadas para recompor o meio ambiente e receber visitantes para conhecerem réplicas dos modelos tradicionais de suas aldeias. Para além da preservação de suas expressões culturais, o que esses povos buscam é dar visibilidade a sua especificidade e reafirmar sua identidade através da interação com os não indígenas que os visitam e formar os jovens que, simultaneamente, valorizem a tradição do seu povo e se insiram na sociedade baiana, inclusive, estudando em universidades em vários pontos da Bahia.
6.
Festa, Comunalidade, Corpo e Espetáculo
Há uma passagem bonita no Livro da sabedoria que diz: “A sabedoria gosta de conversar com os filhos dos homens”. Conversar é mais do que trocar um papo, é conviver. Conversar quer dizer: ‘se virar com’. (É praticar a dança da vida, diz o entrevistador) — Exatamente; é rebolar-se. Bonito isso!
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- Timóteo Amoroso Anastácio (1990) – Abade do Mosteiro de São Bento
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Da raiz ibérica herdamos o modelo de festa que se manifesta caracteristicamente através de procissões e cortejos pelas vias seculares do Centro da Cidade da Bahia. Ora, a dinâmica dessas festas religiosas, o ritual urbano que as caracteriza, vai acabar sendo a base para muitas festas de rua, migrando inclusive, por incrível que pareça, para o Carnaval, seja através da antiga prática do corso — tradicional desfile em carros abertos pelas ruas da cidade na primeira metade do Século XX—, seja através da atuação de afoxés e cordões carnavalescos. A dinâmica urbana envolve a formação de um grupo e a caminhada pelas ruas estreitas da cidade, oferecendo-se como objeto de atenção dos que ficam pelas janelas e calçadas. Na verdade, tudo isso se configura como um poderoso experimento de hibridação, que, através de carros alegóricos e posteriormente trios elétricos (os quais foram subindo vertiginosamente de altura ao longo das décadas) se aproveita dessa tradição. O fato é que, olha-se para cima, tanto para santos em procissão como para cantores de trio8, são referências para os que caminham. E assim, percebemos que a hibridação permite transitar com facilidade para essas outras noções nucleares — a vocação para a festa, o sentido de comunalidade, a vivência do corpo, e a consciência de espetáculo, que aqui são tão importantes. Na base de tudo isso, dois traços marcantes da nossa cultura: a oralidade, e a concepção espacial de proximidade entre os membros de nossa sociedade, onde é muito natural falar tocando o seu interlocutor.
O principal modelo herdado da tradição africana remete à centralidade dos batuques, e tem um papel fundamental no processo de resistência da população transplantada ao Brasil. Esse caráter de resistência fica claro na reação da elite dominante sobre a presença afro no Carnaval da Bahia, tal como vemos em textos recolhidos de jornais por Nina Rodrigues9:
...que será o carnaval de 1902, se a polícia não providenciar para que as nossas ruas não apresentem o aspecto desses terreiros onde o fetichismo impera, com seu cortejo de ogans e sua orquestra de canzás e pandeiros?
Ora, a história do Carnaval da Bahia pode ser contada a partir de ciclos de africanização que a modulam, e isso desde a rebeldia do afoxé Embaixada Africana, criada em 1895 por Marcos Carpinteiro, que em 1905 decidiu subir a ladeira da Praça, invadindo o espaço destinado aos clubes tradicionais da elite10. Em termos históricos, há relatos de movimentos rebeldes de escravos que colocaram como uma das condições inegociáveis para o final das hostilidades a liberdade de fazer festas e batuques sem interferências dos senhores. O espaço da festa ganha assim um sentido diferenciado, incidindo diretamente sobre a construção de identidade, a alegria sendo associada à afirmação de autonomia. Ao revisar a biografia de Gregório de Mattos e Guerra (GMG), Fernando Peres registra:
O fato é que GMG, mais de uma vez, peticiona, em versos, ao Governador Câmara Coutinho, uma delas em nome de um amigo, solicitando a ‘mercê’, outra em nome dos pretos de N. S. do Rosário, para saírem mascarados, em festa denominada ‘alarde’...
A um General Capitão
Suplica a Irmandade preta,
Que não irão de careta,
Mas descarados irão:
Todo o negregado Irmão
Desta Irmandade bendita
Pede, que se lhe permita
Ir ao alarde enfrascados
Não de pólvora atacados,
Calcados de jeritiba
Esse episódio ilustra, ainda antes do Século XVIII, a vocação para a festa e a tradicional (ou seja, bastante atual) negociação com o poder instituído para realizá-la. Na verdade, cada uma dessas noções — festa, comunalidade, corpo e espetáculo — remete a um conjunto amplo de atividades e de reflexões sobre as mesmas, e, embora herdadas pelas vias das três principais vertentes que nos constituíram, ganham cores especiais a partir da presença africana, notadamente, a partir da temporalidade diferenciada (não linear) que essa presença institui e projeta, dando centralidade ao corpo em movimento e exigindo assim tanto uma maturidade rítmica diferenciada como uma consciência corporal ativa, e isso muito além de sua aplicação e ingerência no campo das músicas e das danças, ou seja, a partir de um sentimento do mundo que nasce desse núcleo e que afeta toda a experiência — os modos de falar, a literatura, o universo visual, as sociabilidades, o imaginário em geral.
A rítmica africana, tal como preservada a partir dos rituais sagrados de grupos étnicos distintos, talvez seja um dos maiores legados culturais da África para o mundo da atualidade, multiplicando-se em diáspora e em soluções fantásticas que vão do jazz ao chorinho. Os padrões rítmicos que constituem esse legado foram construídos a partir de uma lógica cognitiva cuja maturidade coloca a África como grande laboratório experimental do mundo nesse aspecto. Quando se observa um padrão rítmico como o Alujá de Xangô, percebe-se que ele abriga tanto proporções que dividem o todo em partes simétricas (12 pulsações divididas em grupos de 6, por exemplo), como proporções que dividem o todo em partes assimétricas (5 + 7). Ora, a fricção entre essas duas possibilidades estaria na base da convocação do corpo ao movimento, na base do rebolado, para sermos mais diretos.
A rigor, não haveria música popular brasileira, tal como a conhecemos, sem o influxo dessa estética do ritmo, e a Bahia teve um papel importantíssimo, sendo o cenário de maturação dessas hibridações. Cabe aqui, certamente, mencionar o samba de roda, como contexto que exerceu o papel de um verdadeiro laboratório para o entrelaçamento dos ritmos com a língua portuguesa. Nos versos seguintes, um exemplo da festa, da comunalidade cúmplice diante de um regime de opressão e da centralidade do corpo:
Samba Nêgo sinhá não vem cá
Sinhá tá doente, tomou laruá, Oi!
A ideia de que quem não samba está doente vai reaparecer na famosa canção de Caymmi:
Quem não gosta de samba /Bom sujeito não é
É ruim da cabeça / Ou doente do pé.
Se entendermos a Bahia como um laboratório especial para isso que denominamos de uma comunalidade cúmplice, então já estamos diante dos mecanismos da construção do espetáculo entre nós. O público que está implícito já nos poemas de Gregório de Mattos, especialmente os mais escrachados, é participante ativo das estratégias expressivas por ele utilizadas, ou seja, estamos diante de marcas da existência de espetáculo. A noção de espetáculo na Bahia se entrelaça com as noções de comunalidade e festa, andam juntas e isso acaba migrando, de alguma forma, para muitas manifestações artísticas e culturais. Talvez um bom exemplo de síntese seja a manifestação cultural do Negro Fugido, que tem no município de Abrantes seu principal ponto de referência.
Mas sempre vale ponderar sobre a amplificação de toda essa vocação para a festa, ponderar sobre a potencialização de clichês, como alerta Maria Brandão (1998):
Que baianidade é essa que nega direitos a uma parcela importante da própria sociedade e, ao mesmo tempo (...) insiste no prazer da cor local, na cultura popular apenas como festa, na preguiça atribuída ao povo, numa harmonia com o negro “em seu lugar momesco” e na naturalidade da pobreza?
7.
Eixos interpretativos e lógicas de construção cultural
A cidade tem vários atores: a população, o capital, o poder público local, e, finalmente, os atores extra locais. Tudo isso envolto num ambiente simbólico e normativo, historicamente produzido, muitas vezes mistificador, autoritário, legitimador de privilégios, frequentemente explorado ideologicamente, que se chama cultura.
Maria de Azevedo Brandão (2002)
Além das noções nucleares, também podemos falar de eixos interpretativos que organizam e articulam a produção cultural baiana, tanto do ponto de vista dos processos de criação como do ponto de vista da construção da imagem. A partir da premissa da hibridação e sempre imaginando a Bahia como lugar de uma tensão considerável entre tradição e inovação, será possível falar em rupturas, releituras e permanências.
Rupturas, releituras e permanências não devem ser pensadas como coisas estanques, mas sim como vetores capazes de mesclar, interagir, recombinar. Mas, apesar disso, há um núcleo de significação em cada um deles: a ruptura envolve uma negação declarada de determinado status quo no âmbito da criação, pode trazer em si traços de rebeldia iconoclasta, estranhamento, esculhambação declarada, non sequitur, pureza radical, entre outros. Já a releitura implica operar simultaneamente com pelo menos duas lógicas distintas (prima e seconda prática, organicidade e relativização etc.), nada impede que também se envolva em rompimentos com estados anteriores; mas, se faz isso, faz absorvendo o objeto no interior da crítica ou da nova perspectiva, favorecendo a utilização de ambiguidade, sutileza, apego, ironia, paradoxo, entre outros. Já a permanência seria o bordão, o horizonte sobre o qual as mudanças ocorrem. Também não custa lembrar que a construção de objetos culturais, pela via da imaginação, vai lidar com invenção de mundos, com a mudança de perspectiva que essa invenção acarreta gerando novos caminhos interpretativos e de criticidade (afinal, criar é interpretar) e, na medida em que a invenção de mundos e de perspectivas interpretativas inscreve nos criadores os traços de suas criações (reciprocidade), deságua na fabulação de identidades.
Impossível, por exemplo, negar o caráter de ruptura à produção glauberiana, mas é necessário admitir o quanto revive e relê contextos culturais existentes. O mesmo pode ser dito dos instrumentos criados por Walter Smetak, ruptura, sem dúvida, na direção de mundos sonoros os mais distintos, mas o que dizer da presença tão frequente das cabaças, e isso sem falar do jeitão medieval de vários deles? Já no campo da permanência, não podemos deixar de mencionar a tradição rítmica afro-baiana que está sempre ali estabelecendo um horizonte de referência, e mesmo o cancioneiro de Dorival Caymmi, que, inclusive, faz parecer sempre ter existido.
Por outro ângulo, focalizando a lógica disponível para as escolhas compositivas, há algo que marca de forma pronunciada as criações baianas e que tem a ver com a convivência de elementos e materiais diversos numa mesma obra, resultantes da condição híbrida. Tratando disso, com relação ao tropicalismo, Wisnik usou uma expressão de sabor inconfundível paulista, “maximalizarão da simultaneidade de gêneros”, ao tratar da Tropicália. Ora, não existiria uma expressão nativa que apontasse nessa direção? Disso que é tão familiar na Bahia, que habitava as festas de largo através da estética de suas barracas (antes que tudo fosse modernizado e homogeneizado por iniciativa governamental), os saveiros, o presente de Yemanjá, os carros do Caboclo e da Cabocla, o próprio modo tão colorido de falar e contar casos? Algumas vezes se fala em barroquismo para designar a convivência de elementos díspares, mas, ainda assim, é uma expressão transplantada11.
Certa feita, um técnico alemão que fugiu da guerra e ficou uns dez anos na Bahia vivendo com poucos recursos, voltou para sua terra natal e acabou fazendo fortuna. Ao encontrar um baiano que fora seu chefe em Salvador e estava em visita à Alemanha, sentado confortavelmente no seu Mercedes novo, só falava e fazia perguntas sobre a Bahia. O ex-chefe acabou manifestando surpresa: “você está tão bem aqui, você ficou rico, por que só fica perguntando pela Bahia?”. E ele: “Ah! eu tenho uma saudade enorme daquela esculhambaçon”. Creio que esse alemão anônimo coloca em jogo duas palavras importantíssimas para nossa vida cultural — a esculhambação e a saudade.
Por incrível que pareça, coube ao psicanalista francês, Charles Melman, discípulo de Lacan, um curioso diagnóstico sobre a instabilidade, a debilidade da relação dos brasileiros com a função simbólica paterna. Para ele, a multiplicidade de referências simbólicas (hibridação, outra vez) afetaria os percursos de construção de identidade. Ora, a distância dos centros de referência, das matrizes que nos constituíram12, deve sim ter contribuído para o nosso gosto por construções anárquico-iconoclastas13, na direção do valor cultural da esculhambação— a facilidade com que nos sentimos atraídos por rir juntos, dos outros e de nós mesmos, a necessidade de denunciar os furos dos discursos oficiais, disciplinadores, heráldicos. Poderíamos lembrar mais uma vez a obra de Gregório de Mattos, paradigma de construções anárquico-iconoclastas que irradiam energia criativa para todos os lados desde o Século XVII,
Nesse mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:
Com sua língua ao nobre o vil decepa:
O Velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa:
Quem menos falar pode mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
E faz isso denunciando e desmontando, de uma só vez, uma série de castelos ideológicos— e olha que o capitalismo de antanho era tão incipiente! Mas também não estaríamos errados em lembrar o calibre disruptivo da obra de Machado de Assis, feita a partir de estratégias distintas, onde a aparente compostura comporta desmontes de mesmo quilate. Se a interpretação se aplica ao Brasil como um todo, vale certamente para a Bahia, seu umbigo. Nesse sentido, lembramos o verso do poeta baiano Antônio Brasileiro — “A verdade é uma só: são muitas” — na medida em que traz para o verso e para a crise de concisão que instala como experiência expressiva, a própria vivência da contradição que nos constitui — podendo significar outras tantas coisas, claro, esse sendo o espírito. Mas quem na Bahia já tomou um Ferry-Boat sabe dessa multiplicidade de verdades flutuando num mesmo barco, e saberá assim, que daí para o grito e convocação tropicalistas, apenas um passo.
O gosto pelo discurso anárquico-iconoclasta, que vai desaguar no carnaval e nos processos de carnavalização, também comporta uma tendência à rejeição de falsos intelectualismos — não que não tenham ocorrido, em toda a América Latina há sempre núcleos de artistas e intelectuais oriundos da elite e investindo muita energia em imitações deslavadas das últimas modas na Europa e adjacências, na média, mal-ajeitadas14. Em geral, a proteção contra essa tendência vem dos processos e materiais herdados diretamente das matrizes, plasmados no âmbito das práticas seculares e comunais.
Numa outra direção, para além de nossa natureza vibrante e motórica, merece registro um lado contrastante, o da saudade. Ora, saudade de quê? —, de tudo que se perde vivendo a condição de entrelugar, as origens — a Europa, a África e o passado indígena —, vindo essa dimensão à luz numa série de manifestações que vão do fado ao arrocha dos nossos dias, passando pela modinha. E para tornar tudo mais complexo, em dissonância com relação à faceta iconoclasta, um gosto pela tradição e um apego à sua permanência.
8.
Essencialismo versus descontrucionismo
Em princípio, estamos contra todo e qualquer princípio declarado
Manifesto de uma linha do Grupo de Compositores da Bahia (1966)
O mesmo fervor anárquico denunciativo que anima a criação artística baiana também pode animar a construção teórica sobre a cultura na Bahia, aliás, cultura não, que é uma noção por demais elástica, onde cabe tudo, melhor falar em ser-de-grupo, para fazer referência específica à natureza do fenômeno, as consequências de estarmos juntos por aqui. E assim, o antropólogo Roberto Albergaria (2002) propôs três eixos que se entrelaçam e se realimentam continuamente: i) de baixo para cima (do povo para as elites) e de cima para baixo; ii) de dentro para fora (daqui para o mundo) e de fora para dentro; iii) de frente para trás (recuando do hoje para o ontem como faz a historiografia) e de trás para frente (recriando o passado como ausência reconstruída representacionalmente). Trata-se de uma proposta de eixo interpretativo.
São escolhas lógicas que se constituem a partir da diferença entre perspectivas de natureza social (povo e elite em função da desigualdade extrema), de natureza espacial (dentro e fora) e temporal (hoje e ontem). Ao fazer isso, opõe uma maneira desconstrucionista de entender a Bahia (sempre a segunda opção em cada eixo), a uma maneira tradicional e essencialista.
Concepção essencialista (em versões mais ou menos etnicistas, culturalistas, comunitaristas-populistas etc.) na qual essa compacta Bahia aparece como uma envolvente ‘bela totalidade’ ao mesmo tempo social, étnica e cultural... Uma Bahia comunitariamente única e total, presente em todos os níveis da vida de todos os idênticos baianícolas: nova multidão de autóctones autocentrados (e auto-satisfeitíssimos), uniformemente baiano sem corpo e alma, intimamente os mesmos — eternamente filheiros, amigueiros, furdunceiros, conversadeiros...
De cima para baixo: na medida em que são as nossas elites culturais que produzem e distribuem essa Imagem-padrão-da-Bahia (a partir da Escola, da Mídia, da Propaganda, do Espetáculo etc.). Uma imagem interessada, promovida a partir de um foco bem direcionado (...)Representação estetizante de um alegre “povo baiano” (...) Bahia-comunidade romanceada por Jorge Amado, pintada por Carybé, fotografada por Verger, cantada por Caymmi, neo-folclorizada por Carlinhos Brown, vendida por Nizan Guanaes (...) na ‘baianidade nagô’ dos trios-elétricos...; de fora para dentro: partindo-se do pressuposto de que toda a autoestima se origina da avaliação de outrem, de que não há identidade sem alteridade (...) os inveterados locais/provinciais que somos permanecemos sempre tributários das mais avançadas metrópoles globais/imperiais — tanto no que fazemos quanto no que sentimos e no que pensamos (inclusive sobre nós mesmos); de trás para a frente: São os vivos que enterram os mortos... Todas nossas tradições estão sendo reinventadas, ciclicamente (...) Enfim, uma longa, poderosa e palavrosa campanha de conformação identitária em escalas diversas.
Algumas formas de contextualizar as categorias apresentadas: a figura de Gandhi não podia ser mais externa, porém, por meio do afoxé que o homenageia, traduz algo que é muito nosso (de fora pra dentro); o modelo das cordas, que já foi peça indispensável do negócio (de cima para baixo); o papel do Faraó e corte celeste do Egito em diversas letras de músicas carnavalescas (de trás para a frente), e por aí vai...
Esse festival de desconstrucionismo atinge todas as áreas do fazer cultural e celebra a liberdade da crítica. Mas será que ao considerar que todos e todas estão presos (e presas) aos mesmos circuitos, não estaria proclamando uma neutralidade, pela negação, que deixaria de lado diferenças de significado político entre gestos aparentemente similares, gestos que aparentemente reforçariam uma mesma tendência? Por exemplo, para além da idealização de uma Bahia feita de baixo para cima, haveria sim, gestos nessa direção, inquestionavelmente libertadores? Se a blacktude baiana bebe do movimento americano (a partir dos anos 70) e se reinventa a partir dos blocos Afro, trata-se de uma transformação de fora para dentro que, inquestionavelmente, se ressignifica como de dentro para fora em tantas viagens internacionais desses mesmos blocos, ou seja, os dois vetores se complementam.
- Grandes ciclos iniciados no Século XX
9.
Modernismo e pós: Edgard Santos, vanguardas e tropicalismo
Periodizando o modernismo baiano [na literatura], (Joca) Teixeira Gomes identifica quatro fases: uma primeira, que se inicia em 1928; a segunda, começada em 1948 à volta dos Cadernos da Bahia; a terceira, representada pela geração Mapa, de 1957 (geração de Joca e cujo nome de proa é o de Glauber Rocha); e a última, que encerra o ciclo modernista na Bahia, entre 1965, quando surge a Revista da Bahia, e 1978, ano em que é publicado o nono e último número da revista de poesia intitulada Serial.
Paulo Miguez (2002)
A guerra que as novas gerações devem abrir contra a província deve ser imediata: a ação cultural da Universidade e do Museu de Arte Moderna são dois tanques de choque (...) Contra o doutorismo, a oratória, a mitologia de praça pública, contra a gravata e o bigode (...) está sendo derrotada na província a própria província: derrotada na sua linguagem convencional, no seu tabu contra a liberdade de amar, na sua conveniência do traje, nas suas leis contra a revolução
Glauber Rocha (década de 60)
Imagine o que éramos quando aqui não havia Universidade alguma! Essa é a dimensão da transformação ocorrida a partir de 1946, em plena reconstrução democrática do País, quando Edgard Santos, médico e Professor da Faculdade de Medicina (fundada em 1808 com a chegada de D. João VI), liderou o movimento de criação da Universidade da Bahia, mudando, de forma definitiva, o ambiente cultural da cidade e do Estado.
Reitor Edgard Santos Fonte: Site da UFBA |
Ao longo dos séculos, a comunidade local (através da Câmara Municipal e dos inacianos) havia se mobilizado por diversas vezes para criar uma instituição de ensino superior em Salvador, sem sucesso, e isso não apenas no período colonial, que sufocava qualquer busca de autonomia, mas também, já após a independência, com Pedro II. Desde a fundação da Cidade de Salvador (1549), a presença dos jesuítas foi fundamental nesse contexto, criando o Real Colégio da Bahia, mais conhecido como Colégio do Terreiro de Jesus, que contava com doze professores “capazes de ensinar Teologia, Artes e Humanidades em qualquer parte do mundo”, de acordo com um cronista da época (virada do Século XVII), e segundo relato de 1649, com a maior biblioteca do Brasil, com cerca de três mil livros. Como negar a condição de nível superior a uma Instituição que, justamente por volta desse período, formaria alunos do nível do Pe. Antônio Vieira, e do poeta Gregório de Mattos?
Ora, é justamente essa energia acumulada, essa demanda secular que irá galvanizar a década dos anos 1950 em Salvador, logo após a criação da Universidade da Bahia, permitindo satisfazer o anseio de desprovincialização, essa verdadeira palavra de ordem que mobilizou a todos naquele período. Mas, o que significa realmente desprovincializar? Ora, significa desmontar as estruturas que garantiam o tempo de província, o pouco diálogo com os centros mundiais de inovação, o apego a estilos um tanto passadistas, o pouco entrelaçamento com as demandas do capitalismo moderno, e uma retórica condizente com tudo isso... Como se o Século XX, e sua crítica ferrenha dos relatos herdados do passado, inclusive a crítica da representação que caracteriza a arte modernista, chegasse de uma vez por todas na Bahia.
Aquilo que podemos denominar como o sonho de Edgard Santos envolvia a aventura de constituir uma universidade em sua inteireza — contemplando a multiplicidade das áreas de conhecimento, plasmando ensino, pesquisa e extensão, enfatizando o intercâmbio internacional e a inovação, e dando atenção constante ao estudante (da residência ao acompanhamento de saúde). Ganha ênfase especial nesse espectro a criação das escolas de arte — Música (1954), Teatro (1956) e Dança (1956) —, para as quais se escolheu cuidadosamente lideranças ligadas ao movimento da vanguarda artística, e que, juntamente com a Escola de Belas Artes (criada no final do Século XIX e anexada em 1947), deram um novo rumo a tais fazeres culturais na Bahia.
Não mais do que de repente, seria possível dizer, a cidade passou a respirar referências culturais distintas. A presença cotidiana de uma Orquestra Sinfônica e Madrigal, montagens de peças teatrais antológicas, espetáculos de dança, exposições, um museu de Artes Sacras, um núcleo editorial universitário. Os mais antenados puderam se envolver com a produção mais inovadora — Stravinsky, Schoenberg, Stockhausen, Brecht, Cage, Isadora Duncan, entre muitos outros —, já que todas essas escolas se enfronharam em formação de profissionais, mas também num intenso processo de difusão cultural.
Tudo isso também foi dinamizado pela criação de Institutos de Extensão Cultural que permitiam o diálogo intenso com aportes da cultura francesa (Casa da França), alemã (Goethe Institut) e espanhola (Instituto de Cultura Hispânica). E mais, de forma absolutamente inovadora, a criação do Centro de Estudos Afro-Orientais, a partir da presença entre nós de Agostinho da Silva, exigindo uma reconcepção do tradicional fluxo de informações (Norte/Sul) e permitindo que o intercâmbio com a África passasse a ser uma das prioridades da jovem universidade. Nesse mesmo período, o geógrafo Milton Santos lidera o laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais, focalizando a cidade como objeto e o linguista Nelson Rossi inaugura o Laboratório de Linguística que, de forma pioneira no Brasil, publica o Atlas dos Falares Baianos.
Como avalia Risério (1995),
derrotar a província na própria província parece ter sido, de fato, a palavra-de-ordem geral, atravessando gerações. (...) Numa fórmula concisa, a província se pensou planetária: informações de — e para — todos os lugares. Este é o tempo em que a vida baiana está marcada pelas ideias e pela ação de Koellreutter, Lina Bo Bardi, YankaRudzka, Ernst Widmer, Martim Gonçalves, Carybé, Agostinho da Silva, Mário Cravo, Nelson Rossi, Machado Neto, Milton Santos, Walter da Silveira, Pierre Verger, ClarivalValladares, Diógenes Rebouças, Vivaldo da Costa Lima, Anton Walter Smetak...
Os jornais da época registram o impacto de toda essa produção, algumas vezes referida como ‘época de ouro’, outras como ‘Renascença baiana’. E, claro, todas essas transformações fazem parte de um ciclo de modernização democratizante, que certamente só pôde acontecer em função das quase duas décadas de democracia vividas pelo País (1945-1964). Sendo assim, a Salvador do início dos anos 60, uma cidade com pouco mais de 500.000 habitantes, apresenta um clima de maturidade diferenciado, um ambiente de formação que vai dar origem a importantes movimentos em áreas distintas — apesar da imposição do autoritarismo a partir de 64. O arco de iniciativas que podem ser ligadas a esse clima de efervescência cultural é bem abrangente, como já demonstra a lista de nomes elencada acima.
A análise dos caminhos do Tropicalismo, e, de forma especial, através do disco Panis et Circensis15, vai exemplificar sobejamente essa tendência registrada por Miguel Wisnik de uma maximalização da simultaneidade de gêneros. Ora, trata-se daquela vocação para a diversidade registrada anteriormente, a estética do ferry boat, a pluralidade de verdades que urde o tecido cultural baiano, os experimentos seculares que valorizam a antropofagia como digestão múltipla de tudo e de todos. Olhando por esse viés — bem poderíamos formular o paradoxo que nos define — fomos pós-modernos antes do modernismo, daí nossa resistência ao ascetismo da crítica da representação. Será?
Isso que acontece com o Tropicalismo também vai acontecer com outros movimentos artísticos e culturais da Bahia. No campo das Artes Plásticas houve a formação de uma primeira geração de modernistas bem representada pelos nomes de Carlos Bastos, Genaro de Carvalho e Mario Cravo Júnior, aos quais vem se somar os nomes do argentino mais baiano que se tem notícia, Héctor Julio Páride Bernabó ou Carybé, e do francês mais afro-baiano que já habitou por aqui, Pierre Verger. Esse ambiente, e a força institucional da Universidade, à qual a EBA havia sido anexada pouco depois de sua criação, em 1946, facilitou a concepção e realização das duas Bienais baianas, de 1966 e 1968, lideradas por Juarez Paraíso, Chico Liberato e Riolan Coutinho, eventos de grande repercussão nacional, tendo a segunda delas sido interrompida, no dia de sua estreia, pela censura da Ditadura militar de 64.
Coube a Juarez Paraíso a liderança de uma grande transformação no âmbito da formação dos artistas, transitando da tradicional concepção de imitação e cópia de modelos para o aprendizado por invenção de projetos. Esse é um salto considerável de liberdade e de ressonância com relação às ideias inovadoras que circulavam pelo mundo, que dialoga, por exemplo, com o contexto da criação musical. No campo da música, o desafio enfrentado por Koellreutter, e em seguida por Ernst Widmer é o de se afastar do modelo tradicional de ensino nos conservatórios.
O artista plástico Juarez Paraíso Fonte: Site da UFBA Acessar: http://www.dicionario.belasartes.ufba.br/wp/verbete/juarez-paraiso/ |
Nesse caso, a ideia de projeto se aproxima da ideia de sistema — cabendo ao compositor a invenção de sistemas tal como reza a tradição do modernismo. Mais do que isso ainda, a década de 50, com o aparecimento da música concreta e da música eletrônica, vai exigir a consciência da importância do som, a centralidade da acústica, levando ao que depois se convencionou chamar de choque entre o ‘paradigma da nota’ versus o ‘paradigma do som’; e isso esteve presente nos Seminários de Música desde sua criação, graças a Koellreutter — e reverbera de maneira potente através do legado de vários compositores, especialmente Milton Gomes e Walter Smetak (colegas de Eubiose). Os Seminários de Música na década de 50 prepararam o caminho para a erupção de um movimento de Composição musical que eclodiria no início dos anos 60, sendo 1966 o ano de referência, através da criação do Grupo de Compositores da Bahia, projetando novos compositores como Lindembergue Cardoso, Fernando Cerqueira, Jamary Oliveira, Agnaldo Ribeiro, Paulo Costa Lima (este escriba), Wellington Gomes, Ângelo Castro, Fred Dantas, Tuzé de Abreu, além de muitos outros, em várias gerações, até os nossos dias. Processos semelhantes vão ocorrer na área de teatro e de dança, com Martin Gonçalves e Yanka Rudzka, respectivamente (mobilizando gente como João Augusto, Carlos Petrovich, Nilda Spencer em teatro; e Lia Robatto, Dulce Aquino e Rolf Gelewsky em dança); e em Letras a atuação memorável de Judith Grossman, pioneira do ensino de criação literária.
Walter Smetak ao lado da máquina em que escrevia seus textos (Acervo Pessoal) |
Hans-Joachim Koellreutter, criador dos Seminários de Música da UFBA Fonte: Blog Música Brasilis Acesse: https://musicabrasilis.org.br/compositores/hans-joachim-koellreutter |
Yanka Rudzka, criadora da Escola de Dança da UFBA Fonte: Site Dança Moderna Acesse: http://dancamoderna.com.br/wp-content/uploads/2016/08/yanka-4.jpg |
Martim Gonçalves, criador da Escola de teatro da UFBA Fonte: Site Correio 24 horas |
Outras iniciativas fundamentais são: a criação do Centro de Estudos Afro-Orientais, o CEAO, e do Museu de Arte Sacra da Bahia, ambos em 1959, com impacto enorme em suas respectivas áreas e sobre as quais vários volumes poderiam ser escritos — aparentemente nada segurava esse Reitor visionário.
É muito importante observar que o sucesso palpável de todo esse investimento federal na área de cultura transforma o próprio ideal de gestão, e passam a surgir investimentos consideráveis em cultura liderados pelo Estado da Bahia. O Teatro Castro Alves foi construído para ser inaugurado em 1958, pelo governador Antônio Balbino (1955-1959) — devido a um incêndio só abriu as portas em 1967, no governo Lomanto Júnior (1963-1967). O Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) foi inaugurado em 1960, no governo Juracy Magalhães, sendo um lugar de referência para toda a agitação cultural promovida a seguir por Lina Bo Bardi, um dos capítulos preciosos da cultura entre nós. Data de 1967, governo Luís Vianna Filho, a criação do Conselho Estadual de Cultura, de 1969 a criação do Instituto de Radiodifusão da Bahia – IRDEB, e de 1974 a da Fundação Cultural do Estado da Bahia. Tudo isso tem um efeito transformador sobre a paisagem da gestão cultural na Bahia.
Todavia, a essa altura, a fase de transformação radical denominada de ‘renascença baiana’ já havia sido ultrapassada, principalmente por dois processos abrangentes. Em primeiro lugar, a ditadura civil-militar de 1964, cujo autoritarismo vai se aprofundando gradualmente até a promulgação do AI-5 no final de 1968 — levando a uma visão mais tecnicista do conhecimento e da universidade e vigiando sua produção simbólica através de censura (um bom exemplo dessa mentalidade: as escolas de música, teatro e dança foram aglomeradas em uma só estrutura, com poucos recursos para sobreviverem, portanto, longe da pujança anterior — na verdade, escreveram outro capítulo precioso da nossa cultura, contrariando isso). Em segundo lugar, a instauração de um processo social de comunicação através de novas mídias (a televisão de forma especial), e a vinculação da atividade cultural ao andamento dessa máquina midiática capitalista, centralizada alhures, e, nesse período, em estreita associação com a própria ditadura.
10.
Carnaval e revolução de costumes: da fubica aos blocos Afro
“Para, para, que o carro quebrou” — gritou Osmar para o motorista. E o entusiasmado motorista respondeu: “Está quebrado desde lá de trás; o povo é que está empurrando...”
Narrativa emblemática da criação do Trio Elétrico— Anísio Félix e Moacir Nery.
O povo ficava na Barroquinha e na Baixa dos Sapateiros em cordões e afoxés. Em décadas anteriores até ópera italiana era usada no carnaval dos mais ricos. Portanto, a presença da fubica, tocando frevo, era uma subversão enorme. E o cerne da subversão era que o frevo também colocava como centro das atenções o próprio povo dançando. Quem já assistiu à passagem de um trio elétrico trazendo em torno de si todo o repertório humano de um bairro popular saberá do que estou falando: encantamento total na junção entre música e dança. O calor e a euforia são tão grandes que alguns tiram a camisa para rodar por cima da cabeça, como se fosse um adereço. Tem casais abraçados, crianças montadas no pescoço dos pais, gente de meia-idade, mulheres em grupos, vendedores ambulantes vendendo e dançando, disputa pra ver quem faz a melhor pirueta, e aquele tradicional empurrão no meio do bolo.
Paulo Costa Lima, Ensaio do Trio (2012).
De repente, a juventude Black-baiana coloriu as ruas de Salvador com suas batas, búzios, panos e tranças. Tempos atrás, isso só acontecia no carnaval. Mas eis que rapidamente a moda pega, a onda se espalha, a transa se firma e o novo visual jovem ganha direito a uma existência diária, cotidiana, extra carnavalesca.
Antonio Risério, Carnaval Ijexá (1981)
Foto de Dodô e Osmar, criadores do Trio Elétrico, com sua fóbica na década de 50 Fonte: site Carna Axé |
Impossível deixar de registrar a natureza de invenção que perpassa o Carnaval da Bahia. Trata-se de um grande feito composicional, levado adiante por um coletivo de criadores, ao longo de mais de um século, formatado pela sociedade baiana, mas também, formatando-a. Quando analisamos a invenção do trio elétrico, precipitada pela passagem do bloco pernambucano Vassourinhas em 1951, percebemos que o espaço público foi ocupado de forma radicalmente diferente das práticas vigentes, e bem mais democrática.
Inventa-se, nesse episódio, uma nova dinâmica de carnaval, uma reterritorialização, borrando as fronteiras entre o que então estava demarcado como espaços de elite e populares. Surge um outro mundo, para além dos desfiles luxuosos carros alegóricos dos clubes Fantoches, Cruz Vermelha e Inocentes em Progresso, ou seja, do modelo de corsos e cadeiras na avenida, uma outra perspectiva, envolvendo milhares de personagens ao longo das décadas. Esse episódio vai nos marcar profundamente como invenção de identidade, a partir de elementos que lá estavam em potencial, por exemplo, a dinâmica do cortejo com seu andor, transformando-se no palco móvel do trio16.
Daí em diante, a cidade assiste entusiasmada ao processo vertiginoso de montagem de estruturas em caminhões com potência cada vez maior, até os verdadeiros castelos de som dos dias de hoje. Se Dodô e Osmar foram os criadores da ideia que nasceu na fubica (o terceiro componente do trio era o motorista!), coube a Orlando Campos de Souza, mais conhecido como Orlando Tapajós, a liderança do processo dessa reengenharia, através do Trio Tapajós.
Ao longo dos anos, o processo de transformação do trio elétrico era uma linha de desenvolvimento relativamente independente do resto do Carnaval. O Trio era um evento em si mesmo. Até a década de 70 havia muitos blocos sem a presença de trio — Lá Vem Elas, As Muquiranas, Os Corujas, Jacu, Bafo do Jegue, Os Peninsulares, Os Lords, Filhos de Filó e Sofia, Os Nobres da Graça, Apaches do Tororó, Comanches, Tamoios (estes últimos, os famosos blocos de índios) entre muitos17.
Ora, a partir do final da década de 70, na virada para a de 80, a linha de desenvolvimento do trio se encontra com a linha dos blocos, dando origem aos atuais blocos de trio — Camaleão (1978), Cheiro de Amor, Eva, logo depois, Pinel (1981), Tiete Vip’s (1982), Beijo e Mel (ambos em 1983) e assim por diante. Pensados como empresas lutando pela sobrevivência nesse mercado em expansão, essas iniciativas acabaram suplantando as soluções antigas, e os blocos tradicionais tenderam a desaparecer.
Mas, nada disso conseguiria a repercussão e visibilidade necessárias se não houvesse a energia de um movimento sustentando cada etapa desse processo. E esse movimento passa por uma nova forma de olhar para a Bahia, uma renovação da imagem e do sentido de Bahia a partir das cores, dos modos e danças, e especialmente dos batuques, tudo isso articulado com o surgimento dos blocos Afro — Ilê Ayê (1974), Badauê (1978), Olodum (1979), Ara Ketu (1980), Muzenza (1981) e a retomada dos Filhos de Gandhy na segunda metade dos 70, tendo Gilberto Gil como padrinho, que fez toda a diferença para o fortalecimento do movimento em geral.
Foto do Bloco Ilê Ayê Fonte Correio 24 horas |
Fonte do manancial de gestos que vai sustentar e animar a imagem do Carnaval da Bahia a partir do início dos anos 80, os blocos Afro precisaram lutar bastante para garantir a visibilidade e sustentação de seus ideais e propósitos. Não resta dúvida de que o seu surgimento, a partir dos 70, transformou os costumes da cidade — reverberando no País e no mundo —, e embalou um movimento de conscientização e resistência que permanece necessário até os dias de hoje.
11.
Invertendo o fluxo de atenção: invenção e permanência da Axé Music
Quem estivesse perambulando em Salvador lá pelos idos de 1979, nas bandas do Engenho Velho de Brotas (depois de alguns anos fora do País), se assustaria com a animação de todos com a passagem de um bloco local cantando o grande sucesso global de Miriam Makeba, Pata (1967). A conclusão seria lógica: há um público enorme, em Salvador, e, potencialmente em todas as outras cidades, ávido pela sensação de pertencimento ao Carnaval (que geralmente é intermediada pela música), e também sensível à matriz africana, precisando recorrer a sucessos internacionais. Ora, o que aconteceria se houvesse uma oferta local para esse tipo de demanda?
Creio que foi em resposta a essa demanda que a Bahia conseguiu fazer nascer e deixar vingar sua indústria de música para o Carnaval, caldeirão de vários gêneros que iria receber o nome de Axé Music, a partir de uma tirada irônica do jornalista Hagamenon Brito. Olhando com mais perspectiva, fica claro que todo o processo se inicia com a invenção da fubica, o processo de reterritorialização democratizante que ampliou a festa para a escala que iria ter nas décadas seguintes. Também em perspectiva, fica claro que a energia que impulsiona o movimento, sua principal marca distintiva, é a celebração da identidade afro-baiana (O canto dessa cidade, sou eu...), e que o surgimento dos blocos Afro foi uma pré-condição para a ignição dessa empreitada.
Ou seja, a consciência de uma relação distintiva entre o coletivo e a herança cultural africana — algo que tendia a ser reprimido nas décadas anteriores — passa a ser o centro do processo de comunicação. Sem a solução musical-comunicativa de uma tal batida que passa a ser chamada de samba-reggae, certamente envolvendo muitas mãos, mas tantas vezes associada à figura de Neguinho do Samba, não haveria espaço para a captação da atenção necessária ao empreendimento. Todos os jovens da cidade foram meio que hipnotizados pela força dessa batida, pelo sentido coletivo que irradiava.
O resto já é história, a partir do protagonismo da gravadora WR e do envolvimento de artistas como Luis Caldas, Gerônimo, Sarajane, Margareth Menezes e Daniela Mercury, entre vários outros, tudo isso se entrelaçando com a energia emanada dos blocos Afro, como já observado, e se articulando com o mercado do Carnaval, em plena efervescência do crescimento do modelo dos blocos de trio. Pela primeira vez na história da indústria cultural brasileira, o meio cultural da Bahia foi capaz de projetar diretamente as suas estrelas, ou seja, de construir celebridades a partir da energia local. Para que isso acontecesse no passado — com Caymmi, Gil, Caetano, Maria Bethania, Gal, Novos Baianos, entre outros — tudo dependia da máquina de comunicação instalada no Rio de Janeiro e São Paulo. A partir do movimento da Axé Music, e em vários casos, é a Bahia que pauta a mídia nacional. Também contribuiu para isso o investimento em um modelo de Carnaval que pudesse ser exportado, sempre a partir da dinâmica do Trio Elétrico.
Turismo e Cultura: o estado da arte no final do Século XX
Durante as décadas de 70 e 80 houve crescimento significativo do investimento em cultura por parte do Estado da Bahia. Data de 1981 a criação do Balé do Teatro Castro Alves, e de 1982, a da Orquestra Sinfônica da Bahia, no final do governo de Antônio Carlos Magalhães — dois conjuntos estáveis que passam a ser referência em suas áreas. Logo a seguir, já no Governo de João Durval Carneiro, a construção de sete equipamentos culturais (como parte de uma rede de teatros) no interior do Estado, visando promover a circulação da produção cultural, um importante gesto de descentralização do eixo em Salvador. Em 1986, com Waldir Pires, a criação da Fundação Pedro Calmon – FPC, em articulação com o Arquivo Público do Estado, e, também neste ano, o tombamento do primeiro terreiro de candomblé, Ilê Axé Iyá Nassô Oká, ou terreiro da Casa Branca. No âmbito do município de Salvador, 1986 marca a criação da Fundação Gregório de Mattos, órgão cultural do município, sendo prefeito Mário Kertesz, e seu primeiro presidente, Gilberto Gil. A Fundação investiu profundamente nas relações culturais com a África, realizando visitas históricas a países africanos e criando a Casa do Benin, no Pelourinho. A questão da identidade cultural baiana ocupa o maior espaço de investimento tanto no nível estadual como municipal.
Na década de 90, depois de um breve período de autonomia como Secretaria de Cultura (governo Waldir Pires), a pasta retorna a fazer parte da Secretaria de Educação. Todavia, o que estava em curso, de forma mais ampla, era um processo de modernização econômica que buscava manter a configuração política o mais estável possível, em torno do grupo dominante. Para atender a esse desenho, nada mais adequado do que vincular a Cultura ao Turismo, e é o que vai acontecer a partir de 1995, ficando a Fundação Cultural como braço especificamente voltado para as atividades culturais — sem, no entanto, conseguir a força política para projetar a área nas direções que já vinham se concretizando em outros lugares do Brasil, no que tange a concepções mais abrangentes de diversidade e de políticas públicas, trabalhadas a partir de sistemas potencializadores.
Todavia, o modelo proposto reuniu uma série de realizações, por exemplo, revitalizando o Pelourinho e transformando-o numa grande vitrine capaz de potencializar os processos de comunicação da imagem da Bahia — tal como desenhada pela gestão. Também nessa década, a partir de 1996, a criação do Programa FazCultura, em ressonância com a tendência nacional de criação de leis de incentivo fiscal, ou seja, parcerias com o setor privado através da dispensa de recolhimento de impostos. Dentre muitas atividades realizadas, merece destaque o Programa Cultural liderado pela Copene (posteriormente Braskem), liderado por José Cerqueira e Marco Antônio Queiroz, que deixou produtos relevantes em praticamente todas as áreas culturais. O financiamento da cultura através de um Fundo, criado especificamente para isso, só vai acontecer a partir de 2005.
A Orquestra Sinfônica da Bahia realizou importantes avanços nesse período, sob a direção artística do violinista Salomão Rabinovitz, a exemplo dos Concursos Jovens Instrumentistas, da turnê pelo Brasil com a solista de renome internacional Montserrat Caballé, da apresentação em Salvador reunindo Luciano Pavarotti, Maria Bethânia e Gal Costa, entre outros eventos de grande porte. Enquanto isso, no IRDEB, a partir da concepção de Paulo Marconi, surgia o Programa “Bahia, Singular e Plural”, com participação importante de Josias Pires (cineasta) e de Fred Dantas (etnomusicólogo e compositor), gravando e lançando vídeos e CDs com manifestações culturais dos quatro cantos do Estado. Esse foi um marco, na direção da consciência da necessidade de processos de interiorização da gestão cultural, algo que só vai se firmar mais adiante. Também merece menção os Salões Regionais de Artes Plásticas, por essa mesma razão, eventos que envolviam mais de uma centena de artistas oriundos de inúmeros municípios baianos.
III. Perspectivas do Século XXI
Rumo à atualidade: alguns processos e categorias
Trata-se, agora, de arredondar o verbete com uma visão de síntese de tempos mais recentes. A perspectiva interpretativa já está montada, e talvez isso ajude diante desse desafio de proporções avantajadas. O passado aceita as sínteses com mais facilidade, o que está mais próximo resiste, afinal, são tantos atores e autores na seara da cultura baiana que o exercício de escrever verbetes pode parecer uma temeridade. Devemos então traçar linhas temáticas que consigam representar processos marcantes das últimas décadas, refletindo com maior densidade sobre algumas delas.
Por exemplo, para início de conversa, o desafio da construção de políticas públicas de cultura — um veio estruturante dos caminhos recentes. Ou então, aliás, de forma geralmente pouco comentada, a ampliação da capacidade instalada de pesquisa na área da cultura, um processo lento que tem se consolidado nas últimas décadas — e até poderia ser interpretado como um desenvolvimento notável do sonho de Edgard Santos ao fundar a primeira Universidade pública da Bahia —, sendo que hoje extrapola suas fronteiras. Desse ponto de vista, o da pesquisa, a época de ouro da cultura baiana não está lá atrás e sim ali na frente. E se registramos a importância da capacidade de pesquisar em cultura, devemos logo esclarecer que a própria produção artística baiana, com toda a sua exuberância, também configura um esforço notável de produção de conhecimento, e, nesse sentido, a consolidação dos mecanismos da indústria cultural no campo da cultura, algo que tem início na parte final do século passado, como analisa Paulo Miguez:
(...) à renascença baiana dos anos 1950 não correspondeu a constituição, em pleno, de um mercado da cultura na Bahia (..) O êxodo de intelectuais e artistas em direção ao eixo Rio-São Paulo foi um dos fatores que contribuíram para o esvaziamento do campo cultural que se instala a partir dos anos 1960, e, ao lado de razões de ordem política, se deveu, também, à necessidade evidente de buscar mercado para sua produção. Com efeito, na Bahia, a emergência de um mercado capaz de suprir necessidades desse tipo, é algo que só vai acontecer a partir dos anos 1980, figurando a sua consolidação como obra do último decênio do século passado.
Ora, o esforço de construção de políticas públicas caminha em paralelo a uma série de outros processos, que vão da ênfase em projetos culturais de cunho social ao reconhecimento da importância da diversidade, e assim, busca também combater a invisibilidade de comunidades tradicionais — indígenas, terreiros de candomblé e quilombolas —, e se associa ao crescimento das culturas identitárias. Por outro lado, exige um olhar abrangente sobre a Bahia, dando origem à visão de territórios de identidade cultural. Atravessando todos os processos e transformando-os de forma imprevisível, o impacto da cultura digital, um fenômeno de natureza global.
Creio que aí estão algumas das linhas temáticas que caracterizam as últimas décadas e que darão sustentação a essa parte conclusiva do verbete. De forma abrangente, perpassando tudo isso, não apenas como veio temático, mas talvez como o maior e mais tradicional problema da área: a questão da memória (e do patrimônio). Memória da produção cultural baiana — em todos os seus meandros e configurações: dos monumentos históricos e acervos à produção audiovisual distribuída em rede — a ser tratada em verbete próprio.. Não custa observar, que esse recorte temático se afasta da pretensão de completude, deixa de lado o relato de períodos que se sucedem para concentrar nos processos mencionados.
14.
O desafio da construção de políticas públicas em cultura
O fato é que, olhando para os primeiros anos deste Século, parece bem claro que a sociedade brasileira já não se contentava com o tradicional enquadramento da questão cultural pelos modelos de gestão praticados até então. Parece plausível argumentar que os quinze anos anteriores, envolvendo embates pela redemocratização e a própria reconstrução da dinâmica democrática, deram origem a uma sociedade mais ativa — percebia-se um aumento exponencial do número de associações e organizações que buscavam representar os seus temas e/ou contextos (a referência de pesquisa nessa direção era Elenaldo Teixeira da FFCH-UFBA), inclusive no diálogo com os poderes públicos, e isso convivendo com a orientação claramente neoliberal implementada na década de 90. A Bahia vivia essa mesma situação — talvez até de forma mais intensa, diante da sensação de imobilidade causada pela permanência no poder de um mesmo grupo político por várias décadas, na verdade, desde a época da Ditadura, com breves interrupções.
Um ótimo exemplo, que representa uma espécie de erupção desse novo processo de mobilização foi a série de Mercados Culturais realizados pela Via Magia sob a liderança de Ruy César, levando à realização do Fórum Cultural Mundial, cuja culminância aconteceu em junho de 2004, na cidade de São Paulo. O que se colocava como palavra de ordem, como costura fina de parceiros diversificados estava no conceito de “evento convocante”, ou seja, um evento que transcende sua natureza efêmera, na direção do encontro de múltiplos desejos e trajetórias, na tecelagem de uma outra dinâmica. Outros eventos também caminharam nessa direção, investindo de forma especial na ideia de diversidade cultural e mesmo na proximidade entre cultura e meio ambiente (diversidade biológica), a exemplo do Fórum Mundial de Paz, Turismo e Desenvolvimento Sustentável (Salvador, 2004), articulado pelo Instituto de Hospitalidade da Odebrecht (Sergio Fogel), ou mesmo a SBPC Cultural realizada no campus da UFBA em 2001 com seu inesquecível dragão da diversidade, que cada dia comparecia diante do público com uma cara diferente.
Pois então, o Mercado Cultural é apenas um caso numa malha de projetos e acontecimentos que convergem para essa direção, a exemplo dos assim chamados projetos sociais e educativos: Projeto Axé (Cesare La Rocca, Lia Robatto, Fernando Cerqueira, Ângelo Castro, entre outros), o Liceu de Artes e Ofícios (Nelson Issa, Luiz Marfuz e o “Cuida bem de mim”, Beth Rangel, Sergio Souto), o CRIA-Centro de Referência Integrado de Adolescentes (Maria Eugênia Milet), com sua metodologia em teia e suas “rodas de conversa”, e isso para ficar apenas com a cena de Salvador.
Numa outra vertente, fermenta na Universidade a desconstrução da ideia de que o conhecimento é atributo que se cultiva atrás de muros. Cresce a consciência de que a produção de conhecimento é algo que se espalha pela sociedade de formas diversas, cabendo às universidades a missão do diálogo. Essa ideia prenuncia a reconcepção da natureza e função da cultura, e vê em cada líder comunitário, em cada mestre de saberes tradicionais um ponto de articulação. Embora a ideia atravesse vários setores da Universidade, é na Extensão que ganhará uma maior visibilidade. Todas as universidades baianas avançaram nesse sentido durante a década de 90, e vale mencionar o Projeto UFBA em Campo (1996-2002) e seu desdobramento nas Atividades Curriculares em Comunidade — ACC, que introduzia na própria graduação essa preocupação, marcando toda uma geração de futuros profissionais a partir desses valores. É também nessa década que a UFBA cria o seu Curso de Produção Cultural, passando a formar profissionais imprescindíveis para as transformações que se avizinham. Em outra perspectiva, há o processo de ampliação da capacidade instalada de pesquisa, algo que nos ocupará adiante.
Qual, então, a natureza da demanda inerente a esse amplo processo mobilizado pelo desejo de renovação? Ora, dito da forma mais breve possível, tratava-se de uma demanda por políticas públicas para a cultura. Hoje, esse é um caminho relativamente conhecido, sobre o qual já se pode inclusive tecer críticas e buscar aperfeiçoamentos e novos horizontes. Na época, era apenas um discurso — amparado por experiências virtuosas aqui e ali — mas, ainda assim, um afã de transformação que acabava incidindo sobre algo muito maior, tal como revela a declaração de Gilberto Gil, Ministro da Cultura, na abertura do Fórum Cultural Mundial (2004, p. 5):
Queremos ver o fenômeno cultural, o fenômeno social e produtivo, como uma grande totalidade, constituída por múltiplas sinapses, como se fosse um grande cérebro enfrentando o desafio de produzir uma consciência da vida moderna, da vida contemporânea. Precisamos recolocar a questão cultural e a dimensão cultural brasileira em plena exposição ao sol da vida republicana, e esse trabalho imenso é uma prioridade que envolve profundamente os brasileiros...
Mais adiante, no mesmo programa onde aparece o discurso de Gil, temos um detalhamento maior da questão — FCM (2004, p. 28):
De que forma as políticas públicas devem atuar para garantir a criação, a livre circulação de ideias e obras, a difusão de bens e serviços diversificados e o acesso a eles, condições fundamentais para o pleno exercício da cidadania, para a coesão social e a vitalidade da sociedade? Como fazer para que as pessoas tenham acesso, e mais: participem do fazer cultural? Como deixar que mais pessoas falem, e não apenas mais pessoas ouçam? Precisamos de mais vozes, mais olhares, mais silêncios, mais ouvidos, mais mãos: precisamos de mais sentidos.
Estou assim apontando a organicidade da questão das políticas públicas em cultura — no sentido de que nascem de um movimento coletivo na sociedade, respaldado por iniciativas diversas, ganhando concretude como demandas de transformação da gestão.
E, sendo assim, surge como um dos marcos da cultura baiana no início do Século XXI, a materialização na esfera federal dessa nova forma de pensar a cultura, a partir de uma raiz baiana, com a liderança de Gilberto Gil e Juca Ferreira, e a presença de Roberto Pinho, Antonio Risério, Paulo Miguez, Ubiratan Castro, Zulu Araújo, Ângela Andrade, Póla Ribeiro, para citar apenas alguns nomes. A cultura na Bahia acontece, nesse caso, a partir de Brasília, e se espalha por todo o País, através dessa visão transformadora, cuja expressão mais representativa talvez seja a imagem do Do-In Antropológico, que almejava estimular os mais diversos pontos do corpo cultural brasileiro, e que, posteriormente foi consolidada através do Programa Cultura Viva. Há, nesse movimento, uma parte de material genético que vem lá da Tropicália e mesmo da vanguarda baiana — com seu investimento na diversidade como resistência, ecoando o próprio tecido da sociedade baiana, tal como dissemos acima. É que gestão e espetáculo se cruzam de diversas formas.
A reconcepção da natureza e função da área cultural através do desafio de construção de políticas públicas (republicanas) emerge de uma visão de sociedade democrática em processo de superação de suas travas de desigualdade. Não é pouca coisa — e vai dar origem a inúmeras frentes de trabalho, até porque tudo isso implica uma revisão radical dos arranjos de gestão, aumento exponencial das verbas para a cultura e uma atribuição de poder completamente diferenciada. Surge também no horizonte a necessidade de revisar a tradicional relação com os setores e cadeias produtivas das artes, na medida em que a cultura passa a ser entendida como assunto de todos os cidadãos e não apenas como domínio profissional dos artistas. Além disso, nada dessas iniciativas irá longe sem a mobilização de lideranças culturais, inclusive de origem popular, comprometidas com essas mudanças, e uma revisão radical dos tradicionais mecanismos legais de distribuição de verba, novos formatos de editais e chamadas, novas possibilidades de parceria — como apoiar uma comunidade quilombola que vive afastada da malha urbana? Tudo isso, convergindo para o objetivo maior da transformação das estruturas educacionais e para uma reformatação das mídias — transformações que, na esfera federal, infelizmente, avançaram menos que o necessário para assegurar a permanência do modelo.
Um outro ângulo de apresentar essa questão surge da minha própria vivência como gestor de cultura no âmbito municipal (Fundação Gregório de Mattos, Salvador, 2005-2008). A gestão é sempre um mergulho, uma luta, um esforço enorme para conseguir transformar em ação desejos coletivos, livrando-se dos empuxos que atrapalham, que aliás, surgem de tudo quanto é lugar. Uma arte. E vejam: não é uma situação ideal essa de comentar algo que envolve diretamente sua própria atuação. Mas, avalio, que a alternativa de silenciar seja pior ainda. Tudo isso exige um esforço adicional para conseguir alguma neutralidade nesses próximos parágrafos.
Em termos de concepção e modus operandi, essa experiência de gestão se alinhava da forma mais estreita possível com a caminhada inovadora realizada no âmbito federal. E, sendo assim, traçou desde 2005 as seguintes prioridades, Lima (2008, p. 7):
Desafios não faltam com relação à construção de políticas públicas culturais para Salvador. Um olhar de síntese estabelece pelo menos cinco grandes avenidas de trabalho, que aí estão a exigir respostas criativas, financiamento e avanços concretos:
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- Participação Popular – (...) A cultura pode ser uma importante ferramenta de distribuição de poder. Salvador é um laboratório a céu aberto. Tem cultura e saberes por todos os lados. Como mobilizar essa energia a favor da cidade e de seus habitantes? Como desenvolver um modelo de interação entre educação e cultura?
- Cotidiano das Artes – Os artistas, grupos artísticos, produtores, centros culturais da cidade, ou seja, todos os que já participam ativamente do ‘ecossistema’ cultural precisam de atenção e de políticas de fomento...
- Valorização da Memória – Memória é coisa séria. Nossa sociedade tem um débito enorme com relação à preservação das memórias culturais...
- Intercâmbio cultural – É preciso colocar o intercâmbio cultural como ferramenta indispensável do entendimento de nossa própria cultura
- Fórum permanente – diálogo com a sociedade sobre objetivos da gestão e políticas culturais.
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Da série de atividades realizadas merece destaque o Programa Mestres Populares da Cultura, que, até onde sei, foi o primeiro edital na Bahia (Salvador) voltado especificamente para comunidades, exaltando a excelência do conhecimento de lideranças populares como Mestre Cacau do Pandeiro, Mestre João Pequeno de Pastinha, Mestre Curió, Mestra Detinha de Xangô, entre muitos outros. Foi muito bonito ver lideranças de trinta localidades se esforçando para pensar e escrever um projeto. No final, quinze foram premiados. A dinâmica proposta pelo edital envolvia uma mobilização da comunidade (especialmente a juventude) em torno da figura do Mestre.
Como parte do imenso desafio que a cidade de Salvador representa em termos de políticas públicas (criação e memória), vale mencionar ainda: a criação e implementação da Lei de Incentivo à Cultura (Viva Cultura – lei municipal aprovada em 26.08.2005 e regulamentada em 28.12.2005); a realização de duas Conferências Municipais de Cultura (2005 e 2007), com ampla participação da sociedade; Projeto Capoeira Viva (122 projetos aprovados); criação do Conselho Municipal de Cultura como órgão colegiado que define as políticas culturais para o município(lei 7.315/2007); a concepção do Aniversário da Cidade (Viva Salvador) e dos festejos do 2 de Julho como grandes eventos convocantes nas direções prioritárias da gestão; a experimentação com novas metodologias de interação ampla através da arte (Exposições a Céu Aberto), além de uma série de outros experimentos e atividades.
Apesar da intensidade da atuação e das transformações conseguidas, registradas amplamente pela imprensa, os objetivos traçados precisariam de investimentos muito maiores do que a consciência e vontade política dos atores envolvidos autorizava. Classifico como frágil a permanência (e mesmo a memória) daquilo que foi atingido a duras penas.
Assim como teve incidência sobre a gestão municipal, o movimento de reconcepção da cultura no plano federal também foi o principal fator de mudanças a partir de 2007, no âmbito estadual. Justamente a partir dessa data vai acontecer a separação entre as pastas do Turismo e da Cultura, exigindo-se, assim, todo um trabalho de criação das bases para essa autonomia recém conquistada. O principal processo que vai ocupar os anos seguintes é aquele que vai dar origem ao ‘Sistema Estadual de Cultura’, tal como estabelecido pelo marco legal da Lei Orgânica da Cultura, n. 12.365, aprovada em 30 de novembro de 2011, na gestão de Albino Rubim (consolidando um trabalho realizado por vários anos).
A Lei define cultura como “um conjunto de traços distintivos, materiais e imateriais, intelectuais e afetivos, e as representações simbólicas”, compreendendo três grandes dimensões: a simbólica (o conjunto de expressões, textos e objetos, as expressões espontâneas, os discursos especializados e os sistemas de valores e crenças); a dimensão cidadã (relativa à garantia dos direitos culturais à identidade e diversidade); a dimensão econômica (relativa ao desenvolvimento sustentado e inclusivo de todos os elos das cadeias produtivas). Logo adiante, nomeia tudo o que pode ser objeto de atenção na área da cultura — que vai da cosmologia aos jogos eletrônicos (embora, estranhamente, esqueça as manifestações no espectro do grafite/hip-hop) —, mostrando como a reconcepção dessa área impacta o todo da gestão, e exige mudanças na própria estrutura do orçamento:
acervos de interesse público |
desenho industrial |
linguagem |
periódicos especializados |
antiquários |
design |
línguas |
pesquisa em cultura |
arquitetura e urbanismo |
economia criativa |
livrarias |
políticas culturais |
arquivos |
economia da cultura |
livro |
produção cultural |
arte digital |
educação cultural |
literatura |
produção de conteúdo (rádio, TV e mídias) |
arte-educação |
ensino da cultura |
manifestações culturais de gênero |
Publicidade |
arte pública |
ensino das artes |
manifestações culturais de orientação sexual |
redes culturais
|
artes artesanais |
equipamentos culturais |
manifestações culturais de etárias |
redes sociais |
artes cênicas |
espaços culturais |
manifestações étnico culturais |
Restauração |
artes gráficas |
espaços preservados |
manifestações populares |
Revistas |
artes plásticas |
estudos da cultura |
memória |
Ritos |
artes visuais |
falares |
memória artística |
saberes |
- artesanato |
feiras |
memória cultural |
salas de cinema |
associações culturais |
festas populares |
memória histórica |
salas de teatro |
audiovisual |
formação artística |
memoriais |
sebos |
bens culturais |
formação cultural |
mídias colaborativas |
serviços criativos |
bibliotecas |
formação de públicos culturais |
mídias interativas |
sistemas culturais
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capacitação cultural |
formação de usuários de bens culturais |
mitos |
sistemas de informação culturais |
capoeira |
fotografia |
moda |
sítios arqueológicos |
centros culturais |
gastronomia |
mostras culturais |
teatro |
cibercultura |
gestão cultural |
museus |
técnicas |
cinema |
impressos |
música |
tecnologias culturais |
circo |
indústrias culturais |
ópera |
tradições |
cooperação cultural |
indústrias criativas |
paisagens naturais |
vídeo |
cosmologia |
intercâmbio cultural |
paisagens tradicionais |
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culturas digitais |
jogos eletrônicos |
patrimônio imaterial |
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culturas urbanas |
jornais |
patrimônio material |
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dança |
leitura |
patrimônio natural |
Através da Lei Orgânica chegamos assim à necessidade de apresentar uma visão de síntese do Sistema de Cultura:
O Sistema Estadual de Cultura da Bahia é o conjunto articulado e integrado de normas, instituições, mecanismos e instrumentos de planejamento, fomento, financiamento, informação, formação, participação e controle social, que tem como finalidade a garantia da gestão democrática e permanente da Política Estadual de Cultura, de acordo com a Lei Orgânica da Cultura. O Sistema Estadual de Cultura é composto por organismos de gestão cultural, mecanismos de gestão cultural e instâncias de consulta, participação e controle social. São eles:
Organismos de gestão cultural: o Conselho Estadual de Cultura, a Secretaria de Cultura, seus órgãos e entidades, os sistemas setoriais de cultura do Estado, os sistemas municipais de cultura ou órgãos municipais de cultura, as instituições de cooperação intermunicipal e as instituições de cooperação interestadual, nacional e internacional.
Mecanismos de gestão cultural: Plano Estadual de Cultura, planos de desenvolvimento territorial e setoriais de cultura, Sistema de Fomento e Financiamento à Cultura, Sistema de Informações e Indicadores Culturais e Sistema de Formação Cultural.
Instâncias de consulta, participação e controle social: Conferência Estadual de Cultura, Colegiados setoriais, temáticos ou territoriais de cultura, Fórum de Dirigentes Municipais de Cultura, Ouvidoria do Sistema Estadual de Cultura e outras formas organizativas, inclusive fóruns e coletivos específicos da área cultural de iniciativa da sociedade.
Acesse http://www.cultura.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=97 |
Ora, toda essa arquitetura de letras precisa corresponder a processos e estruturas construídos pela sociedade, e envolve o desafio da prática democrática de gestão da cultura. O Fundo de Cultura, criado ainda nos último ano da gestão Paulo Gaudenzi (2003-2006, Turismo e Cultura), foi de grande importância para todo esse processo, embasando uma política de editais para a área. E, como sabemos, essa é uma construção lenta, que pode envolver avanços e recuos. Ao longo dos anos houve o estabelecimento dessa política de editais — mas houve também paradeiros nos financiamentos em função das sucessivas crises econômicas dos últimos anos. Logo adiante, comentaremos o processo de articulação envolvendo os territórios de identidade cultural da Bahia, uma das transformações mais importantes iniciadas nos últimos anos, que vem enfrentando, infelizmente, uma diminuição de atenção e investimento. Até 2014, estavam em operação na Bahia quatro modalidades de financiamento estatal: o Fundo de Cultura da Bahia (FCBA), o Calendário das Artes, o programa de incentivo cultural Fazcultura e o microcrédito cultural. Também merece registro a criação do Programa Ouro Negro, em 2008, articulando a produção de todo esse contexto no Carnaval da Bahia.
15.
A capacidade instalada de pesquisa
O sonho de Edgard Santos (criador da Universidade Federal da Bahia) não apontava apenas para a culminância estabelecida pela chamada ‘época de ouro’ da cultura na Bahia, nos anos 50 e 60. Na verdade, o sonho de Edgard Santos apontava na direção da maturação da sociedade baiana como produtora de conhecimento relevante e inovador em todas as áreas, e, de forma especial, na área da Cultura. Há, nos dias de hoje, uma verdadeira rede de núcleos produtores de conhecimento relativo a essa grande área, e, sendo assim, uma quantidade (antes impensável) de temas e questões vai ganhando profundidade a partir desse esforço coletivo.
Se alguém quiser aprofundar uma reflexão, digamos, sobre — Diógenes Rebouças e o traçado da arquitetura moderna na Bahia a partir do EPUCS, sobre a obra dos compositores Lindembergue Cardoso e Fernando Cerqueira, o modus operandi da crítica teatral em Salvador, a viola nos sambas do Recôncavo baiano, o Toré como construção mística e musical do povo Kariri-Xocó, a situação do ensino de teatro na rede pública estadual em Salvador, a produção do espaço urbano numa favela de Salvador, a criação e uso de máscaras cênicas na Bahia, a ressignificação de objetos e lugares por meio de intervenções fotográficas, além de centenas de outros temas e questões —, basta visitar os repositórios de teses e dissertações produzidas pelas universidades baianas nas últimas décadas. E, como demonstram essas breves pinceladas um tanto aleatórias, houve uma verdadeira revolução no que tange à capacidade de produzir conhecimento sobre arte e cultura em nosso meio. Nas tabelas abaixo, encontramos uma listagem de núcleos de pós-graduação em pesquisa nas mais diversas áreas das Artes e Humanidades. Isso significa que, através dos mecanismos formais de reconhecimento da produção de conhecimento, avançamos de forma quase que inacreditável em poucas décadas.
Núcleos de Pós-Graduação e Pesquisa em Artes, Humanidades e Letras na Bahia
Teia de núcleos de pesquisa e pós-graduação na área de Cultura na Bahia
UFBA – Stricto sensu |
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Mestrado e Doutorado em Artes Cênicas |
Mestrado e Doutorado em Educação http://www.pgedu.faced.ufba.br/ |
Mestrado e Doutorado em Artes Visuais |
Mestrado e Doutorado em Estudos Étnicos e Africanos |
Mestrado e Doutorado em Dança |
Mestrado e Doutorado em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo |
Mestrado e Doutorado em Música |
Mestrado e Doutorado em Filosofia https://ppgf.ufba.br/ |
Mestrado Profissional em Dança |
Mestrado e Doutorado em História https://ppgh.ufba.br/ |
Mestrado Profissional em Músicahttps://ppgprom.ufba.br/ |
Mestrado e Doutorado em Psicologia https://pospsi.ufba.br/ |
Mestrado e Doutorado em Língua e Culturahttp://www.ppglinc.letras.ufba.br/ |
Mestrado e Doutorado em Economia https://ppgeconomia.ufba.br/ |
Mestrado e Doutorado em Literatura e Culturahttp://www.ppglitcult.ufba.br/ |
Mestrado em Estudos Interdisciplinares sobre a Universidade |
Mestrado e Doutorado em Arquiteturahttps://ppgau.ufba.br/ |
Mestrado em Museologia http://www.ppgmuseu.ffch.ufba.br/ |
Mestrado e Doutorado em Administraçãohttps://ppgau.ufba.br/ |
Mestrado em Relações Internacionaishttp://www.ihac.ufba.br/pos-graduacao/ppgri/ |
Mestrado e Doutorado em Antropologia |
Mestrado em Serviço Social |
Mestrado e Doutorado em Ciência da Informaçãohttps://ppgci.ufba.br/ |
Mestrado Profissional em Administraçãohttps://ppgau.ufba.br/ |
Mestrado e Doutorado em Ciências Sociaishttps://ppgcs.ufba.br/ |
Mestrado Profissional em Desenvolvimento e Gestão Social |
Mestrado e Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporâneas |
Mestrado Profissional em Educaçãohttp://www.mpe.faced.ufba.br/ |
Mestrado e Doutorado em Cultura e Sociedade https://poscultura.ufba.br/ |
Mestrado Profissional em Psicologia da Saúde Vitória da Conquista |
Mestrado e Doutorado em Direito https://ppgd.ufba.br/ |
Mestrado Profissional em Segurança Pública, Justiça e Cidadania |
UFRB – Stricto sensu |
Lato sensu |
Mestrado em Arqueologia e Patrimônio CulturalCachoeira |
Especialização em Políticas e Gestão Cultural Santo Amaro |
Mestrado em Ciências Sociais Cachoeira |
Especialização em Cidadania e Ambientes CulturaisSanto Amaro |
Mestrado em Comunicação Cachoeira |
Especialização em Educação, Cultura e DiversidadeSanto Amaro |
Mestrado em Política Social e TerritóriosCachoeira |
Especialização em Educação e InterdisciplinaridadeAmargosa |
Mestrado Profissional em Gestão de Políticas Públicas e Segurança Social Cruz das Almas |
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Mestrado Profissional em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas Cachoeira |
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Mestrado Profissional em Educação do CampoAmargosahttps://www1.ufrb.edu.br/ppgeducampo/ |
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Mestrado Profissional em Educação Científica, Inclusão e Diversidade Feira de Santanahttps://www.ufrb.edu.br/ppgecid/ |
UFSB – Stricto sensu |
Lato sensu |
Mestrado e Doutorado em Estado e Sociedade Porto Seguro |
Especialização em Dramaturgias Expandidas do Corpo e dos Saberes Populares Porto Seguro |
Mestrado Profissional em Ensino e RelaçõesÉtnicas Porto Seguro |
Especialização em Pedagogias das Artes Itabuna, Porto Seguro e Teixeira de Freitas https://www.ufsb.edu.br/cfartes/pos-graduacao/especializacao-pedagogia-das-artes |
UNEB – Stricto sensu |
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Mestrado e Doutorado em Crítica Cultural Alagoinhas |
Mestrado em História Alagoinhas |
Mestrado e Doutorado em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental Juazeiro |
Mestrado em História Regional e Local Santo Antônio de Jesus |
estrado e Doutorado em Educação e Contemporaneidade Salvador |
Mestrado Profissional em Educação de Jovens e Adultos Salvador |
Mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos Juazeiro |
Profissional em Educação e Diversidade Jacobina e Conceição do Coité |
Mestrado em Estudo de Linguagens Salvador |
Mestrado Profissional em Ensino, Linguagem e Sociedade Caetité |
Mestrado em Estudos Africanos, Povos Indígenas e Culturas Negras Salvador |
Mestrado Profissional em Gestão e Tecnologia Aplicadas à Educação Salvador |
Mestrado em Estudos Territoriais Salvador |
Mestrado Profissional em Intervenção Educativa e Social Serrinha |
UEFS – Stricto sensu |
Lato sensu |
Mestrado em Desenho, Cultura e Interatividade |
Especialização em História da Bahia |
Mestrado em Educação |
Especialização em Gestão Universitária |
Mestrado em Estudos Literários |
Especialização em Filosofia |
Mestrado em Estudos Linguísticos |
Especialização em Desenho |
Mestrado em História |
Especialização em Estudos Literários |
Mestrado Profissional em Planejamento Territorial |
Especialização em Linguística e Ensino-Aprendizagem de Língua Portuguesahttps://linguisticaeensino.wordpress.com/ |
UESB – Stricto sensu |
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Mestrado e Doutorado em Linguística Vitória da Conquistahttp://www2.uesb.br/ppg/ppglin/ |
Mestrado em Ensino Vitória da Conquista |
Mestrado e Doutorado em Memória: Linguagem e Sociedade Vitória da Conquista |
Mestrado em Geografia Vitória da Conquistahttp://www2.uesb.br/ppg/ppgeo/ |
Mestrado em Educação Científica e Formação de Professores Jequié |
Mestrado em Letras: Cultura, Educação e Linguagens Vitória da Conquistahttp://www2.uesb.br/ppg/ppgcel/ |
Mestrado em Educação Vitória da Conquista |
Mestrado em Relações Étnicas e Contemporaneidade Jequié |
UFOB – Lato sensu |
Especialização em Artes e Ação Cultural https://propgp.ufob.edu.br/index.php/lato-sensu/especializacao-em-artes |
IFBA – Lato sensu |
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Especialização em Educação e Interculturalidade Porto Seguro |
Especialização em Estudos Étnicos e Raciais Identidades e Representação Salvador |
Especialização em Educação Profissional, Científica e Tecnológica Salvador |
Especialização em Formação Docente e Práticas Pedagógicas Jequié |
Especialização em Educação, Cultura e Linguagens Eunápolis |
Especialização em Gestão e Educação Ambiental Jequié |
Iniciativas em rede / interinstitucionais |
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Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para Inovação Na Bahia: IFBA, UESC, UFBA, UFOB, UFRB, UNIVASF |
Mestrado em Educação Física (UESB/UESC) |
Mestrado Profissional em Artes Na Bahia: UFBA |
Mestrado e Doutorado em Ensino, Filosofia e História das Ciências (UFBA/UEFS) |
Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica IFBA, IFBaiano |
Mestrado e Doutorado em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial Na Bahia: UNIVASF, UNEB |
Mestrado Profissional em Letras Na Bahia: UFBA, UEFS, UESC, UESB, UNEB |
Doutorado Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento UFBA, UNEB, IFBA, UEFS, LNCC, SENAI-CIMATEC |
Mestrado Profissional em História Na Bahia: UNEB, UESB |
Essa é uma lista que impressiona, tanto pela abrangência de temas e de territórios, como, por outro lado, pelo fato de ter sido estruturada nas últimas décadas, representando um esforço significativo de avanço na produção de conhecimento contextualizado. Merece atenção ainda, pela pouca divulgação que recebe — a maioria dos baianos não está ciente que conta com essa rede de produção de conhecimento.
Os últimos anos têm sido marcados no Brasil — e na Bahia — pela luta em defesa da Universidade Pública Brasileira, que vem sendo ameaçada em sua autonomia e em sua existência através de cortes orçamentários radicais e até mesmo por campanhas que tentam esvaziar a Instituição de sua tradicional aura e papel estratégico como lugar de conhecimento, liberdade e emancipação. A Bahia vem sendo um lugar de destaque nesse processo de resistência, através do posicionamento de suas instituições de ensino, e também pela atuação lúcida de lideranças como João Carlos Salles (Reitor da UFBA a partir de 2014 e Presidente da ANDIFES entre 2019-2020). Do resultado desse processo de resistência depende a saúde e vitalidade de todo o sistema acima, ou seja, da capacidade instalada de pesquisa em Cultura na Bahia.
16.
A produção cultural e artística baiana (Teias culturais)
A produção artística baiana transcende o território da Bahia, repercute nos centros da indústria cultural brasileira, frequenta os palcos mais representativos do País (inclusive os da Bahia), viaja com cada trio elétrico que vai animar carnavais sertanejos ou estrangeiros, se materializa em orquestras sinfônicas e filarmônicas, grupos de dança e de teatro, produções de cinema e lançamentos de literatura; sob a forma de livro, arrebanha públicos de inúmeras línguas pelo mundo afora, e como estilo de ginga, se constitui numa incrível rede de mestres de capoeira espalhada por todos os continentes cantando Bimba e Pastinha. Nesta seção pretendemos deixar que as imagens contem essa história de riqueza e de diversidade, a partir de quatro grandes categorias — Personagens, Manifestações, Grupos Estáveis e Eventos.
Teia de Cultura I – Personagens
Fonte: Elomar Figueira Mello, compositor, escritor, violonista e cantor brasileiro. Foto de Rodrigo Coimbra. Acesse: File:Juca_Ferreira,_Elomar_Figueira_Mello_and_Rossane_Nascimento.jpg licensed with Cc-by-2.0 |
Foto Valdina Pinto Fonte Site UFBA Acesse: https://www.ufba.br/ufba_em_pauta/bahia-se-despede-de-makota-valdina |
Foto Harildo Deda Fonte Site Ciência e Cultura - UFBA Acesse http://www.cienciaecultura.ufba.br/agenciadenoticias/pesquisadores/harildo-esteves-deda/ |
Ubiratan Castro de Araújo Fonte Secretaria de Cultura da Bahia Acesse http://www.cultura. ba.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=7370 |
Caetano Veloso Fonte Revista Cult Acesse https://revistacult.uol.com.br/home/entrevista-caetano-veloso/ Página oficial do artista www.caetanoveloso.com.br |
Margareth Menezes Fonte: página oficial da artista |
Franklin Menezes Fonte: Jornal Fatos&Points Acesse https://fatosepoints.wordpress.com/2015/03/16/conversa-com-o-fatospoints-a-arte-de-frank-menezes/ |
Nelson Maleiro Fonte Blog Tempo Música Acesse https://tempomusica.blogspot.com/2009/05/nelson-maleiro-um-gigante-da-bahia.html |
Neguinho do Samba Neguinho do Samba em 2003. Foto: Edmar Melo (Ag. A Tarde) Fonte Wikipedia |
Wagner Moura / Foto: Wagner Moura at Lisbon Film Festival Fonte Wikipedia |
Gabi Guedes Fonte Site Mata Adentro Acesse http://mataadentro.com.br/filter/Viv%C3%AAncia-Percussiva-Agosto-15-a-17/Gabi-Guedes |
Erenilton Bispo do Santos Fonte Fundação Palmares |
Cleise Mendes Fonte site IDERB Bahia Acesse https://www.irdeb.ba.gov.br/soteropolis/?tag=cleise-mendes |
Tia Ciata Legenda: "Nascida Hilária Batista de Almeida, em 1854, Tia Ciata arregimentava eventos que mesclavam cultura, dança e religiosidade (Foto: Divulgação do Acervo da Organização Cultural Remanescentes de Tia Ciata - ORCT)" Tia Ciata (Hilária Batista de Almeida) - Santo Amaro da Purificação, 1854 — Rio de Janeiro, 1924 - foi uma cozinheira e mãe de santo brasileira, considerada por muitos como uma das figuras mais influentes para o surgimento do samba carioca. Fonte: Ministério da Cultura do Brasil / Wikipedia |
Raul Seixas Fonte: Arquivo Nacional Imagem do Fundo Correio da Manhã / Wikipedia |
Mestra Didi Fonte: Museu Afro Brasil Acesse: https://www.facebook.com/museuafrobrasil.oficial/photos/a.111125285587053/1708805735818992/ |
Paulo Lauro Nascimento Dourado Fonte Site Ciência& Cultura da UFBA Acesse http://www.cienciaecultura.ufba.br/agenciadenoticias/pesquisadores/paulo-lauro-nascimento-dourado-2/ |
Orlando Tapajós Fonte site da Associação Bahiana de Imprensa / Foto: Arquivo/Rede Bahia Acesse https://abi-bahia.org.br/baianos-se-despedem-do-carnavalesco-orlando-tapajos/ |
Ivete Sangalo Fonte Site da Secretaria de Cultura da Bahia Acesse http://www.cultura.ba.gov.br/2016/12/12676/Show-de-Ivete-Sangalo-na-Concha-ganha-mais-uma-data.html |
Lindembergue Cardoso Fonte Blog Música Brasilis Acesse https://musicabrasilis.org.br/compositores/lindembergue-cardoso |
Dulce Aquino Fonte site UFBA |
Emilia Biancardi Fonte site Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia |
Mestre Pastinha Fonte site Fundação Palmares |
Gilberto Gil Fonte site oficial do artista Acesse www.gilbertogil.com.br |
Glauber Rocha Fonte site Salada de Cinema Acesse https://saladadecinema.com.br/2014/03/07/cine-brasil-glauber-rocha-distante-e-necessario/ |
Mateus Aleluia Fonte página oficial do artista |
Mãe Stella de Oxóssi Fonte Wikipedia Acesse https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3e_Stella_de_Ox%C3%B3ssi |
Tom Zé Fonte página oficial do artista Acesse http://tomze.com.br/ |
Fernando Cerqueira Fonte site UFBA Acesse http://www.mhccufba.ufba.br/SISMHCC/mhcc_index.php?idioma=es&secao=3&extra=5 |
Wally Salomão Fonte wikipedia |
Jorge Amado Fonte Blog Estante Virtual https://blog.estantevirtual.com.br/2016/08/08/8-livros-essenciais-de-jorge-amado/ |
Lia Robatto Fonte site Fundação Pedro Calmon |
Dorival Caymmi Fonte Blog da Boitempo Acesse https://blogdaboitempo.com.br/2014/04/30/dorival-caymmi-no-seu-aniversario/ |
Emanoel Araujo Fonte site Museu Afro Brasil Acesse http://www.museuafrobrasil.org.br/o-museu/emanoel-araujo |
Bule Fonte Wikipedia |
Ricardo Castro Fonte site oficial do artista |
Duo Robatto
Fonte site Teatro Castro Alves
Carlos Prazeres Fonte site Arte Matriz |
Teia de Cultura II – Manifestações
Banda de Pífanos de Pau-Ferro – Jacobina Fonte: globo.com |
Banda de Pífanos Grupo da União – Serrolândia Fonte Portal Serrolândia Acesse https://portalserrolandia.com.br/galeria/83/a-cultura-dos-tocadores-de-pifanos-em-serrolandia-ba |
Banda de Pífano da Lagoa da Boa Vista – Seabra Fonte Youtube |
Teia de Cultura III - Grupos Estáveis
Orquestra Sinfônica da Bahia Fonte página oficial da Orquestra |
Madrigal da UFBA Fonte: site da Escola de Música da UFBA |
Orquestra Sinfônica da UFBA Fonte: site da UFBA |
Neojibá Fonte: página oficial NEOJIBÁ Acesse: https://neojiba.org/# |
BTCA – Balé do Teatro Castro Alves Fonte: Página oficial do Balé |
CIA de Teatro da UFBA Fonte: página Mapeamento Cultural da UFBA Acesse: https://mapeamentocultural.ufba.br/corpos-estaveis-grupos-residentes/companhia-de-teatro-da-ufba |
Companhia Baiana de Patifarias Fonte: Página Oficial da Companhia |
Teatro XVIII Fonte: site Pelourinho dia e noite Acesse http://pelourinhodiaenoite.salvador.ba.gov.br/index.php/33-agenda/danca-teatro/1557-saraus-do-xviii |
Teia de Cultura IV (eventos)
Festa do Bonfim Fonte: página Salvador da Bahia Acesse https://www.salvadordabahia.com/roteiros/o-que-saber-sobre-a-lavagem-do-bonfim/ |
Festa de Yemanjá Fonte site Bahia no ar Acesse: https://bahianoar.com/festa-de-iemanja-e-reconhecida-como-patrimonio-cultural-de-salvador/ |
Festa de Yemanjá Fonte site Bahia no ar Desfile 2 de Julho Fonte: site Bahia no Ar |
Festa de Santa Bárbara Fonte: site Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural |
Festa da Conceição da Praia Fonte: site IBahia |
Festa da Ribeira Fonte: site Cultura Todo Dia Acesse http://www.culturatododia.salvador.ba.gov.br/festa-modelo.php?festa=9 |
17.
Territórios de identidade cultural
A tendência para pensar a cultura da Bahia a partir de Salvador ou do Recôncavo é uma deformação antiga que responde a razões de várias ordens. Para além das questões que são nossas mesmo há a tendência marcante — presente na idade moderna desde o início do crescimento das cidades e certamente intensificada pelo capitalismo tardio — de concentração da atenção e direcionamento do fluxo de informação e poder para os grandes centros, criando uma imensa rede hierarquizada que envolve, de um lado, as megalópoles (ou centros de centros), e de outro, as periferias de periferias. Estamos diante de uma questão que ultrapassa em muito a escala local.
Projetos como o População Cultural e Circulação Cultural, criados a partir de 2002 buscaram focalizar essa deficiência, e promoveram uma série de atividades cujo foco era essa diversificação, tendo atingido cerca de 15 municípios. No entanto, para fazer avançar o processo de reconcepção da cultura como direito do cidadão comum, formulando políticas públicas que apontem nessa direção, faz-se necessário colocar em jogo um modelo mais abrangente de gestão, que, no caso da Bahia, dê conta, minimamente da diversidade de um território vastíssimo, atualmente concebido como um conjunto de 417 municípios. Em 2007, foi criada a Diretoria de Espaços Culturais para gerir os 17 espaços culturais da Secretaria localizados na Região Metropolitana de Salvador (seis) e no interior (onze). Quando pensamos nos 417 municípios do Estado da Bahia, nos damos conta da precariedade da rede de equipamentos. Em dezembro de 2008 foram implantados os representantes territoriais da área da Cultura, e, a seguir, o duas instâncias voltadas para a dinamização do processo de interiorização:
O Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI) e o Centro de Formação em Artes (CFA) foram instalados em 2011. O CCPI tem como objetivo atender à diversidade cultural do estado: culturas dos sertões, de matrizes africanas, indígenas e ciganas, além de tratar das culturas para a infância, juventude, idosos, mulher e LGBT. Já o CFA desenvolve cursos de variadas modalidades em artes na capital e no interior. Em dezembro de 2011, foi criada a Rede Estadual de Formação e Qualificação em Cultura, que reúne secretarias, universidades, institutos federais, sistema S, ONGs e Ministério da Cultura, visando ampliar a oferta de cursos em cultura na Bahia.
http://www.cultura.ba.gov.br/arquivos/File/LIVRETO_SECULT.pdf
A área da cultura adotou, de maneira sensata, uma metodologia desenvolvida pela área de Planejamento (oriunda, na verdade do Ministério do Desenvolvimento Agrário a partir de 2003, como territórios rurais, na sequência de um laborioso processo de ausculta dos envolvidos), configurando a Bahia como 27 territórios de identidade, tal como descreve o Site dessa secretaria:
Com o objetivo de identificar prioridades temáticas definidas a partir da realidade local, possibilitando o desenvolvimento equilibrado e sustentável entre as regiões, o Governo da Bahia passou a reconhecer a existência de 27 Territórios de Identidade, constituídos a partir da especificidade de cada região. Sua metodologia foi desenvolvida com base no sentimento de pertencimento, onde as comunidades, através de suas representações, foram convidadas a opinar.
O território é conceituado como um espaço físico, geograficamente definido, geralmente contínuo, caracterizado por critérios multidimensionais, tais como o ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política e as instituições, e uma população com grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam identidade, coesão social, cultural e territorial.
http://www.seplan.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=17
Território |
Municípios |
Irecê |
América Dourada, Barra do Mendes, Barro Alto, Cafarnaum, Canarana, Central, Gentio do Ouro, Ibipeba, Ibititá, Ipupiara, Irecê, Itaguaçu da Bahia, João Dourado, Jussara, Lapão, Mulungu do Morro, Presidente Dutra, Uibaí, São Gabriel, Xique-Xique. |
Velho Chico |
Barra, Bom Jesus da Lapa, Brotas de Macaúbas, Carinhanha, Feira da Mata, Ibotirama, Igaporã, Malhada, Matina, Morpará, Muquém do São Francisco, Oliveira dos Brejinhos, Paratinga, Riacho de Santana, Serra do Ramalho, Sítio do Mato. |
Chapada Diamantina |
Abaíra, Andaraí, Barra da Estiva, Boninal, Bonito, Ibicoara, Ibitiara, Iramaia, Iraquara, Itaetê, Jussiape, Lençóis, Marcionílio Souza, Morro do Chapéu, Mucugê, Nova Redenção, Novo Horizonte, Palmeiras, Piatã, Rio de Contas, Seabra, Souto Soares, Utinga, Wagner. |
Sisal |
Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção, Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Retirolândia, Santaluz, São Domingos, Serrinha, Teofilândia, Tucano, Valente.. |
Litoral Sul |
Almadina, Arataca, Aurelino Leal, Barro Preto, Buerarema, Camacan, Canavieiras, Coaraci, Floresta Azul, Ibicaraí, Ilhéus, Itabuna, Itacaré, Itaju do Colônia, Itajuípe, Itapé, Itapitanga, Jussari, Maraú, Mascote, Pau-Brasil, Santa Luzia, São José da Vitória, Ubaitaba, Uma, Uruçuca. |
Baixo Sul |
Aratuípe, Cairu, Camamu, Gandu, Ibirapitanga, Igrapiúna, Ituberá, Jaguaripe, Nilo Peçanha, Piraí do Norte, Presidente Tancredo Neves, Taperoá, Teolândia, Valença, Wenceslau Guimarães. |
Extremo Sul |
Alcobaça, Caravelas, Ibirapoã, Itamaraju, Itanhém, Jucuruçu, Lajedão, Medeiros Neto, Mucuri, Nova Viçosa, Prado, Teixeira de Freitas, Vereda. |
Médio Sudoeste da Bahia |
Caatiba, Firmino Alves, Ibicuí, Iguaí, Itambé, Itapetinga, Itarantim, Itororó, Macarani, Maiquinique, Nova Canaã, Potiraguá, Santa Cruz da Vitória. |
Vale do Jiquiriçá |
Amargosa, Brejões, Cravolândia, Elísio Medrado, Irajuba, Itaquara, Itiruçu, Jaguaquara, Jiquiriçá, Lafayette Coutinho, Laje, Lajedo do Tabocal, Maracás, Milagres, Mutuípe, Nova Itarana, Planaltino, Santa Inês, São Miguel das Matas, Ubaíra. |
Sertão do São Francisco |
Campo Alegre de Lourdes, Canudos, Casa Nova, Curaçá, Juazeiro, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé, Sobradinho, Uauá. |
Bacia do Rio Grande |
Angical, Baianópolis, Barreiras, Buritirama, Catolandia, Cotegipe, Cristópolis, Formosa Do Rio Preto, Luís Eduardo Magalhães, Mansidão, Riachão Das Neves, Santa Rita De Cássia, São Desiderio, Wanderley. |
Bacia do Paramirim |
Boquira, Botuporã, Caturama, Érico Cardoso, Ibipitanga, Macaúbas, Paramirim, Rio do Pires. |
Sertão Produtivo |
Brumado, Caculé, Caetité, Candiba, Contendas do Sincorá, Dom Basílio, Guanambi, Ibiassucê, Ituaçu, Iuiu, Lagoa Real, Livramento de Nossa Senhora, Malhada de Pedras, Palmas de Monte Alto, Pindaí, Rio do Antônio, Sebastião Laranjeiras, Tanhaçu, Tanque Novo, Urandi. |
Piemonte do Paraguaçu |
Boa Vista do Tupim, Iaçú, Ibiquera, Itaberaba, Itatim, Lajedinho, Macajuba, Mundo Novo, Piritiba, Rafael Jambeiro, Ruy Barbosa, Santa Terezinha, Tapiramutá. |
Bacia do Jacuípe |
Baixa Grande, Capela do Alto Alegre, Capim Grosso, Gavião, Ipirá, Mairi, Nova Fátima, Pé de Serra, Pintadas, Quixabeira, Riachão do Jacuípe, São José do Jacuípe, Serra Preta, Várzea da Roça, Várzea do Poço. |
Piemonte da Diamantina |
Caém, Jacobina, Miguel Calmon, Mirangaba, Ourolândia, Saúde, Serrolândia, Umburanas, Várzea Nova. |
Semiárido Nordeste II |
Adustina, Antas, Banzaê, Cícero Dantas, Cipó, Coronel João Sá Euclides da Cunha, Fátima, Heliópolis, Jeremoabo, Nova Soure, Novo Triunfo, Paripiranga, Pedro Alexandre, Ribeira do Amparo, Ribeira do Pombal, Santa Brígida, Sítio do Quinto. |
Litoral Norte e Agreste Baiano |
Acajutiba, Alagoinhas, Aporá, Araçás, Aramari, Cardeal da Silva, Catu,- Conde, Crisópolis, Entre Rios, Esplanada, Inhambupe, Itanagra, Itapicuru, Jandaíra, Olindina, Ouriçangas, Pedrão, Rio Real, Sátiro Dias. |
Portal do Sertão |
Água Fria, Amélia Rodrigues, Anguera, Antônio Cardoso, Conceição da Feira, Conceição do Jacuípe, Coração de Maria, Feira de Santana, Ipecaetá, Irará, Santa Bárbara, Santanópolis, Santo Estêvão, São Gonçalo dos Campos, Tanquinho, Teodoro Sampaio, Terra Nova. |
Sudoeste Baiano |
Anagé, Aracatu, Barra do Choça, Belo Campo, Bom Jesus da Serra, Caetanos, Cândido Sales, Caraíbas, Condeúba, Cordeiros, Encruzilhada, Guajeru, Jacaraci, Licínio de Almeida, Maetinga, Mirante, Mortugaba, Piripá, Planalto, Poções, Presidente Jânio Quadros, Ribeirão do Largo, Tremedal, Vitória da Conquista. |
Recôncavo |
Cabaceiras do Paraguaçu, Cachoeira, Castro Alves, Conceição do Almeida, Cruz das Almas, Dom Macedo Costa, Governador Mangabeira, Maragogipe, Muniz Ferreira, Muritiba, Nazaré, Salinas da Margarida, Santo Amaro, Santo Antônio de Jesus, São Felipe, São Félix, Sapeaçu, Saubara, Varzedo. |
Médio Rio de Contas |
Aiquara, Apuarema, Barra do Rocha, Boa Nova, Dário Meira, Gongogi Ibirataia, Ipiaú, Itagi, Itagibá, Itamari, Jequié, Jitaúna, Manoel Vitorino, Nova Ibiá, Ubatã. |
Bacia do Rio Corrente |
Brejolandia, Canápolis, Cocos, Coribe, Correntina, Jaborandi, Santa Maria da Vitória, Santana, São Felix Do Coribe, Serra Dourada, Tabocas do Brejo Velho. |
Itaparica |
Abaré, Chorrochó, Glória, Macururé, Paulo Afonso, Rodelas. |
Piemonte Norte do Itapicuru |
Andorinha, Antônio Gonçalves, Caldeirão Grande, Campo Formoso, Filadélfia, Jaguarari, Pindobaçu, Ponto Novo, Senhor do Bonfim. |
Metropolitano de Salvador |
Camaçari, Candeias, Dias D'Ávila, Itaparica, Lauro de Freitas, Madre de Deus, Mata de São João, Pojuca, Salvador, São Francisco do Conde, São Sebastião do Passé, Simões Filho, Vera Cruz. |
Costa do Descobrimento |
Belmonte, Eunápolis, Guaratinga, Itabela, Itagimirim, Itapebi, Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália. |
Trata-se de uma mudança cultural na própria forma de gerir a cultura, e, certamente vai exigir um bom tempo de maturação — caso os investimentos aconteçam de fato. Ou, pode congelar no tempo e ficar registrado como mais uma iniciativa importante na gestão pública que não foi adiante.
18.
Les Adieux
Sendo a escrita de verbetes sobre cultura na Bahia um exercício de humildade e mesmo de desconhecimento, na medida em que deparamos com vastos continentes que ainda não visitamos, deixo aqui firmado o quanto me cabe desses afetos. Por felicidade, há outros verbetes neste Portal dando atenção diferenciada a diversas áreas de produção artística e cultural — Música, Teatro, Cinema, Literatura... entre outras — que aqui foram tocadas em maior ou menor intensidade. Para além desses verbetes dedicados às artes vale lembrar que temas como ‘Financiamento da Cultura na Bahia’, ‘Impacto da cultura digital’, ‘Comunidades tradicionais: Terreiros, Indígenas e Quilombolas’, ‘Culturas Identitárias’, e ainda, ‘Memórias e Patrimônios Culturais’, ampliam o olhar construído nesse verbete central sobre a grande área da Cultura. Alguns desses temas, mencionados ao longo deste verbete, receberão atenção que merecem em outros escritos, desdobrando alguns assuntos aqui tratados.
Todavia, seria impossível fechar o ciclo de nossa reflexão sem algumas menções a processos e eventos que escaparam da visão sintética montada acima, assim como pontuar um brevíssimo olhar de síntese:
Cena 1
A última década vivenciou dois momentos deveras importantes para a Cultura na Bahia — e acessíveis à minha visada. Em 2011, com a liderança inspiradora e visionária do eminente Prof. Roberto Figueira Santos, foi criada a Academia de Ciências da Bahia, que se constituiu através de uma lógica pouco comum entre academias dessa natureza — seguindo a visão de seu criador, a Academia de Ciências da Bahia buscou congregar em torno de si pesquisadores de todas as áreas do conhecimento. Sendo assim, ao invés de delimitar o seu espaço através de dosimetrias de territórios acadêmicos, fixou o horizonte na perspectiva daqueles que produzem conhecimento seja em que área for — Ciências, Filosofia ou Artes. E através dessa lar perspectiva vem desenvolvendo atividades de grande relevância — publicações, encontros, campanhas, seminários — e, inclusive, investindo em novas formas de comunicação das atividades de seus membros, através das redes sociais.
O outro momento, na chave da tradição, foi a comemoração do Centenário da Academia de Letras da Bahia, em 2017, realizando uma extensa programação e preparando uma publicação específica sobre a data, sob a presidência de Evelina Hoisel. Ora, a conquista por uma entidade cultural de um centenário de vida em nosso meio já é um feito deveras diferenciado. Para Hoisel:
Os escritores têm, assim, uma função social definida, proporcional à sua competência como escritores. É por esta via que podemos traçar o papel das Academias de Letras no desenvolvimento da sociedade. É como guardiã de um precioso acervo de obras literárias — e também não literárias — que uma Academia de Letras demarca o seu lugar como disseminadora do saber no contexto ao qual se localiza.
Cena 2
Também, não é possível deixar de registrar a transformação radical da cena da música sinfônica na Bahia. Essa história, que teve capítulos nos séculos anteriores, reafirma-se a partir da criação da Orquestra Sinfônica da UFBA em 1954 que se mantém ativa até os dias de hoje, cumprindo além de tudo o seu papel de orquestra-escola, atualmente sob a direção do Maestro José Maurício Brandão. A partir de 1982 surge a Orquestra Sinfônica da Bahia - OSBA movimentando o nosso cenário. Com o surgimento do projeto Neojibá (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis) a partir de 2007 — uma das grandes novidades da cultura baiana como caminho diferenciado de formação de músicos e plateias, tendo Ricardo Castro e Eduardo Torres como principais lideranças — a Bahia passou a contar com três grupos orquestrais de qualidade, e uma série de orquestras juvenis que apoiam o processo de formação. Nos últimos dois anos registra-se também a reestruturação da OSBA, permitindo um ressurgimento de vital importância para todo o segmento, depois de um trabalho incansável de mobilização feito pelo Maestro Carlos Prazeres. Ora, não se trata apenas de dar conhecimento do estado da arte de um determinado gênero musical, e sim de registrar uma transformação importante na atitude da sociedade com relação a esse gênero, ou conjunto de gêneros, que frequentam as salas de concerto (e aplicativos) do mundo.
Cena 3
Vale também o registro da manutenção do papel de centralidade da música de percussão entre nós. O último levantamento do número de casas de candomblé em Salvador foi realizado entre 2005 e 2007, com participação do CEAO-UFBA, tendo chegado ao incrível número de 1250 locais (cada uma das casas foi fotografada e inscrita no registro com os demais dados obtidos). Basta imaginar esse contexto como uma grande rede de formação de percussionistas e temos um entendimento preliminar da pujança rítmica de nossa cidade, tal como aparece em momentos festivos como o carnaval. Urge criar uma política pública de apoio a esse processo de formação musical. Emergindo com maior visibilidade dessa grande pirâmide podemos registrar as atividades de percussão desenvolvidas pela Escola de Música da UFBA, a exemplo do Festival Dois de Julho, coordenado por Jorge Sacramento, totalmente dedicado à música de invenção no campo percussivo. Mas, nesse mesmo contexto, há de se registrar o ingresso de Iuri Passos, Alabê do tradicional Terreiro do Gantois, como professor concursado da Universidade Federal da Bahia, apontando para uma trajetória de diálogo e parceria entre universidade e comunidade, e já mostrando o potencial dessa trajetória com o lançamento do CD Obatalá, com músicas daquele contexto (já indicado para o Grammy de música latina).
Cena 4
Por onde anda o nobre objetivo de construir um sólido programa cultural através das escolas desse grande Estado da Bahia? Será que vamos deixar o Século XXI correr solto, sem uma revolução do papel da escola como agente de formação cultural — tanto no nível de todos os municípios, como no nível das escolas estaduais, e, por que não, os institutos e universidades federais? Não custa imaginar um futuro repleto de clubes de leitura, clubes de cinema, grupos de dança e de filosofia, oficinas de artes visuais, corais, bandas...
Cena 5
As Filarmônicas da Bahia. Impossível deixar de registrar o quanto precisam de ação governamental de apoio, de articulação e de financiamento. São instituições centenárias que já demonstraram a importância e a relevância do que fazem — já passamos desse nível. Trata-se de construir soluções, tal como ficou muito claramente demonstrado pela sessão especial realizada em 2019 na Assembleia Legislativa da Bahia, tendo como facilitador do evento o Maestro Fred Dantas.
Cena 6
O movimento de Composição na Bahia também se manteve bastante ativo nessas duas primeiras décadas do Século XXI, especialmente através da participação de compositores da Bahia em festivais nacionais e internacionais, e também através da realização do MAB-Música de Agora na Bahia, um ciclo de atividades que movimentou a cena da música de vanguarda, trazendo para o diálogo importantes compositores e intérpretes nacionais e internacionais, marcando assim a atuação da OCA – Oficina de Composição Agora.
Apresentamos neste verbete uma visão de conjunto desse enorme continente chamado de Cultura da Bahia — a partir de um determinado olhar (por exemplo, pouco dissemos sobre a indústria cultural e suas reverberações hollywoodianas entre nós). Desfiamos conceitos e interpretações, mencionamos atos e personagens, identificamos fases e processos. Com relação às últimas décadas (e evitamos tratar de atividades de gestões que estejam em curso), tecemos uma reflexão sobre o amplo processo de construção de políticas públicas, sobre o desafio da interiorização dos mecanismos de incentivo à cultura na Bahia, e sobre a capacidade instalada de pesquisa entre nós. De todos os temas, esse último é o que mais surpreende, pelo enorme avanço em termos de diversificação e de quantidade mesmo do que se produz. Está aí o resultado de um vigoroso investimento em estruturas de produção de conhecimento. Oxalá seja capaz de resistir à atual onda de desinvestimento nos processos que tentam caminhar na direção contrária — autoritarismo e doutrinação.
NOTAS
- Esse texto contou com a leitura e comentários de Fátima Froes, Denisson Padilha e Thiago Dória, a quem agradeço a atenção dispensada.
- Um exemplo apenas: a batida da bossa nova proposta por João Gilberto, e que teve tal impacto na produção cultural brasileira e mundial, com sua solução genial de colocar na mão do violonista uma verdadeira batucada, traz em si manhas que poderiam ser associadas a Juazeiro (sua cidade natal), à cultura negra do Recôncavo baiano (onde morou na juventude) e mesmo à matreirice carioca, num verdadeiro exercício de entrelaçamento de pulsões e vicissitudes.
- Ao frisarmos a produção como nosso foco, reconhecendo sua centralidade para os processos de construção de identidade, não deixamos de reconhecer a importância dos processos de recepção de bens culturais globalizados, originados de outros lugares, hoje potencializados por uma rede mundial de comércio da atenção. Não trataremos da vida cultural da Bahia a partir desse ângulo, que certamente merece atenção diferenciada como tema de estudo.
- Além disso, essa visão remete ao traçado da Conferência da UNESCO sobre Cultura (1989), que entende cultura como indo além das letras e das artes, na direção dos modos de vida, sistemas de valores, tradições e crenças, algo que passa a ter um impacto considerável entre nós, e que pode ser evocado através da realização de empreitadas distintas como a série de Mercados Culturais que se articularam com a realização do Fórum Cultural Mundial (São Paulo, 2004), o Fórum Mundial de Turismo, Paz e Desenvolvimento Sustentável (Salvador, 2004), e mesmo a profunda reconcepção da pasta da Cultura efetivada entre 2005-2011. Não por acaso, todas essas iniciativas interagem com lideranças a partir da Bahia: Rui César (Casa Via Magia), Sergio Fogel (Instituto de Hospitalidade), Gilberto Gil e Juca Ferreira (Ministros da Cultura no período mencionado).
- Ora, seguindo a lógica do espetáculo, esse desafio remete ao efeito brechtiano de distanciamento (ou estranhamento se quisermos maior proximidade com o sentido original de Verfremdungseffekt). Que o leitor acompanhe as opções feitas pelo fio discursivo do verbete.
- Apud Estampas do Imaginário: literatura, história e identidade cultural, de Eneida Leal Cunha (2006, p. 122).
- Essa a visão de Silviano Santiago tal como descrita em Estampas do Imaginário: literatura, história e identidade cultural, de Eneida Leal Cunha (2006, p. 122).
- Não custa lembrar que, no Rio de Janeiro, a direção escópica se inverte, passa a ser de cima para baixo, das arquibancadas para o asfalto, como se a Corte estivesse até hoje por ali, representadas pelo olhar das câmeras.
- Apud Risério (1981).
- Cf Edivaldo Bolagi “Afoxé: nasce o Carnaval Odara na Bahia”, In: Casa do Carnaval da Bahia, Paulo Miguez (Org.), PMS, 2018. Marcos Carpinteiro era um axogun – um importante cargo hierárquico de um terreiro situado no Engenho Velho de Brotas.
- Há uma expressão popular (é bem verdade que agressiva e de natureza preconceituosa), mas, capaz de registrar esse amor pelo aparente excesso de diversidade, trata-se da expressão “penteadeira de puta” — talvez uma forma da elite se distanciar desse procedimento de hibridação. No campo da criação musical, Ernst Widmer cunhou as expressões “organicidade” e “relativização” (ou “inclusividade”) para se referir justamente à fricção entre lógicas distintas numa mesma obra, viradas de mesa na transição da organicidade para a relativização. Ora, todos os processos de adaptação de elementos nativos (a rítmica afro, por exemplo) na construção de novos objetos (a canção popular, por exemplo) são plasmados a partir de adaptações da lógica original ao novo contexto. É o caso do frevo, que absorveu os acentos rítmicos dos padrões africanos, adaptando-os a harmonias e melodias de origem europeia.
- O Reino e a África separados por um oceano, as referências indígenas ofuscadas pelo choque cultural e pela invisibilidade daí decorrente.
- Por outro lado, para além da anarquia, como contraparte lógica e contraditória, a tendência a aceitar autoritarismos e mandonismos diversos como forma de negar a natureza tíbia do laço social unificador.
- E, claro, os traços anárquicos e carnavalescos não garantem qualidade per se; a qualidade é peixe raro.
- Muitos baianos estão presentes no disco — Caetano que foi uma espécie de idealizador, Gil, Capinan, Tomzé —, em franca harmonia com os paulistas — Rogério Duprat, Mutantes com Rita Lee—, sendo que Rogério foi o idealizador dos arranjos que são uma espécie de alma da empreitada. Apenas uma carioca, Nara Leão, e o piauiense Torquato Neto.
- Pensando o Carnaval da Bahia como espetáculo, veremos duas grandes categorias de formato, mais ou menos equivalendo à dicotomia entre rua e salão, entre transitar e ficar parado. De um lado: afoxés, cordões, batucadas, corso e desfile, pranchas, escolas de samba (com seu estilo pré-Sambódromo do Rio) mudanças, blocos, trios elétricos, blocos de trio, intensificados por espectadores, caretas, fantasias, pipocas. De outro lado: o tradicional baile, o banho a fantasia, as lavagens, gritos de carnaval, dinâmicas de praça (como a Castro Alves nos anos 70), becos e camarotes.
- Em 1977 estavam filiados 116 blocos
ALGUMAS REFERÊNCIAS
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ARAÚJO, Nelson de. Pequenos mundos: um panorama da cultura popular da Bahia, Tomo II. Salvador: Universidade Federal da Bahia e Casa de Jorge Amado, 1988.
BARBALHO, Alexandre. Política cultural. In: RUBIM, Linda (org.) Organização e produção da cultura. Salvador, EDUFBA, 2005, p. 33-52.
BIÃO, Armindo. Matrizes estéticas: o espetáculo da baianidade. In: BIÃO, Armindo (Org.). Temas em contemporaneidade, imaginário e teatralidade. São Paulo: Annablume; Salvador: GIPE-CIT, 2000. p. 17-30.
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BRANDÃO, Maria. Carnaval, carnavais: cultura e identidade nacionais, In: LIMA, Paulo Costa e HEALEY, Paul (Org.). Seminários de carnaval II. Salvador. Pró-Reitoria de Extensão da UFBA, 1999, p. 101-105.
CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 3.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000.
CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
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CHAUÍ, Marilena. Cidadania Cultural- O direito à cultura. São Paulo: Editora Perseu Abramo, 2006.
DEPARTAMENTO CULTURAL da UFBA. Notícia histórica da Universidade da Bahia. Salvador, EDUFBA, 2016.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas.
LIMA, Paulo Costa. Ensaio do trio. Música popular e outras adjacências. Salvador: EDUFBA, 2012.
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