CINEMATOGRAFIA BAIANA CONTEMPORÂNEA
No verão de 1993 aconteceu um fato muito significativo para o cinema baiano. Mesmo sentindo as fortes conseqüências da interrupção da atividade cinematográfica com o fechamento da Embrafilme, seis realizadores decidiram se reunir na Ilha de Mar Grande para, juntos, criarem um roteiro de um longa metragem: Moisés Augusto, Fernando Belens, Edgard Navarro, Pola Ribeiro, José Araripe Jr. e Jorge Alfredo. Foram dias intensos e de muita interatividade entre cabeças de diferentes formações em torno de um ideal comum: levar para a tela grande as nuances e matizes, trejeitos e esquisitices dessa gente de ginga inconfundível dos becos e ruas de pedras seculares do Pelourinho, ícone da tradição cultural soteropolitana. Desse encontro surgiu o ainda inédito “Via Pelô”, que desencadeou o movimento de retomada do cinema baiano.
Infelizmente os superegos e a falta de recursos não permitiram que o projeto fosse adiante, mas, a partir desse encontro, todos eles, individualmente, mas sempre com a colaboração afetiva e/ou profissional dos outros, intensificaram esse desejo com muita obstinação e conseguiram (juntamente com outros cineastas como Agnaldo Siri Azevedo, José Umberto, Joel de Almeida, Tuna Espinheira, Sérgio Machado, Umbelino Brasil, Lázaro Faria, Sofia Federico, Edyala Yglesias, Lula Oliveira, Fábio Rocha, Bernard Attal, Joselito Crispim, Caó Cruz Alves, Conceição Senna, Edyala Yglesiais, Orlando Senna, Henrique Dantas, Antônio Olavo, Claudio Marques, Marília Hughes, Cecília Amado, Roque Araujo, Daniel Lisboa, Chico Liberato, Caó Cruz, Edson Gomes, João Rodrigo Mattos, Matheus Viana, Oscar Santana, Fausto Júnior, João Guerra, Adler Kibe e tantos outros) realizar, a partir de 2001, dezenas de filmes longos, fazendo com que a Bahia experimentasse um novo ciclo de produção cinematográfica. Em um artigo para o Caderno de Cinema, denominei essa fase de “Novíssima Onda Baiana” numa alusão ao livro “A Nova Onda Baiana”, de Maria do Socorro Silva Carvalho.
A Bahia vinha de um longo jejum de filmes longos. Na década de 1990 o longa-metragem se ausenta do cenário cinematográfico baiano, que fica restrito à produção de curtas.
“Heteros, a comédia” (1994), produzido pela Truq Cine TV e Vídeo – que virá a ser, na década seguinte, a produtora mais atuante em Salvador –, dirigido por Fernando Belens, é uma obra de ficção que focaliza, em tom irônico e de deboche, a intolerância heterossexual na história de um sisudo professor universitário que se transmuta em mulher. Com roteiro escrito por Dinorah do Valle e pelo próprio Belens, o filme tem no seu elenco Patrício Bisso, Wilson Mello, Fafá Pimentel, Rita Assemany e Bárbara Suzart.
José Araripe Jr. realiza dois curtas: “Mr. Abrakadabra” (1996) e “Rádio Gogó” (1999). O primeiro, com roteiro premiado em concurso nacional e todo filmado em Cachoeira, cidade histórica da Bahia, é uma homenagem ao cinema mudo. O curta assinala a derradeira aparição de Jofre Soares, que viria, finda a rodagem, a morrer logo em seguida. Jofre Soares faz um velho artista que já não consegue fazer suas mágicas, e, desesperado, tenta o suicídio várias vezes, sem, contudo, obter êxito. Decidido a morrer a qualquer preço, arquiteta um super suicídio. Porém, algo surpreendente acontece.
O segundo curta trata da paixão de Gogó (Caco Monteiro) por futebol, que não tem limite. Sua vida consiste em narrar partidas de futebol de bairro, no futebolês, os babas de rua. Sonha em ter sua própria rádio, a Rádio Karioca, mas seu veículo mesmo se reduz a uma kombi. Depois de narrar espetacularmente a final da copa de 94, onde o Brasil sagra-se campeão, Gogó revela um segredo mantido a sete chaves, desde 1970.
Em uma co-produção com ZDF (televisão alemã) e Truq Cine Tv e Vídeo, foi rodado em Uauá, “Confirmação” de Pola Ribeiro, e também “Penitentes", de Joel de Almeida, episódios do longa-metragem “Os 7 Sacramentos de Canudos” (1996).
Sergio Machado, concluindo curso da Faculdade de Comunicação lança “Troca de Cabeça” (1996), que apesar de realizado em video U-matic, contou com um elenco de peso (Grande Otelo, Mario Gusmão, Ruth de Souza).
Logo depois vem “O Capeta Caribé” (1996), de Agnaldo Siri Azevedo, que revela a enorme integração da vida e da obra de Carybé com a cidade de Salvador. O que a Bahia tem em sua essência são bem registrados em seus quadros e murais. A trajetória e a vida do artista plástico desde que se fixou na capital baiana em 1938, a partir do texto homônimo de Jorge Amado.
“A Mãe” (1998), de Fernando Belens e Umbelino Brasil, onde Lúcia Rocha, mãe do cineasta Glauber Rocha e da atriz Anecy Rocha, fala dos filhos e dos filmes que eles fizeram. O filme é premiado no Festival de Gramado.
Na virada do século, Jorge Alfredo e Moisés Augusto finalmente finalizam o filme sobre a festa de Yemanjá, que eles vinham rodando desde 1995, e são selecionados para as mostras competitivas do Festival É Tudo Verdade e do Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano de La Habana. “Oriki” (2000), é um ideograma, um objeto sígnico construído via sintaxe de montage. Um filme sobre a força de algum princípio obscuro e indecifrável, que rege, que impera absoluta, que decide sobre as vidas dos pescadores e de todos que têm vistas para alcançar o azul dos mares da Bahia. A avant-première de “Oriki” foi numa sala de cinema de shopping center, um acontecimento para época, já que essas salas só exibiam os blockbuster. Era o sinal de que algo novo estava acontecendo na Bahia.
O lançamento e o sucesso desses novos curtas fizeram com que o produtor Moisés Augusto reunisse cinco filmes (A Mãe”, “O Capeta Caribé”, “Mr. Abrakadabra”, “Rádio Gogó” e “Oriki”) e lançasse com toda pompa o “Curta Cinema – 5 filmes baianos” (2000), que foi, antes de mais nada, uma necessidade da produtora de testar como se comportariam os filmes curtos no multiplex, antes do tão esperado lançamento de “Três Histórias da Bahia”, que já se arrastava diante da sofreguidão da cena cultural da cidade da Bahia.
A NOVÍSSIMA ONDA BAIANA
A partir de um edital estadual de 1996, surgiu o “Três Histórias da Bahia” (2001), que juntava três filmes curtos, querendo quebrar alguns paradigmas e investindo pesado no sonho do longa metragem e na aposta de comunicação com o grande público. Com a palavra, o saudoso João Carlos Sampaio, o critico de cinema mais atuante da retomada baiana: “Realizado em espírito de mutirão pela retomada do cinema baiano, com técnicos e atores, inclusive os convidados, trabalhando por cachês simbólicos ou até sem perspectiva de qualquer remuneração, ‘Três Histórias da Bahia’ é quase um pequeno milagre. Um empreendimento que, pelo seu significado, seria uma vitória, mas vai além como filme, oferecendo pistas interessantes para elucidar o ‘ser baiano’ da virada do século”.
A primeira história, “Agora é Cinza”, de Sérgio Machado, consegue trazer à tona o microuniverso de um barzinho do bairro de Periperi, com tipos, jeitos e gírias tão peculiares que nos permite uma auto-identificação reconfortante. Ao mesmo tempo em que exibe, à frente, um conto sensível sobre um homem que perde o posto de Rei Momo (Sérgio Mamberti), mas mantém, perante as pessoas do bairro, a sua majestade. A câmera habilmente acompanha o crepúsculo do “rei” e a mobilização de seus “súditos”, para, ao final exibir a redenção de todos, o expurgo de todas as frustrações, na folia do Carnaval de rua da Bahia.
“Diário do Convento”, de Edyala Yglesias, talvez tenha sido o episódio que mais sofreu com as limitações técnicas. Há oscilações entre tomadas belíssimas, como a que abre o episódio, e outras cenas possivelmente pinçadas pela ausência matemática de opções. O que não impede de se ver na tela uma história inteira. As cenas ambientadas no que seria um convento baiano do final do século XVII são muito densas e ricas. A angústia da noviça, enclausurada contra a vontade e arredia à ideia de renunciar ao mundo por nada, traduz-se num grito contundente. Uma voz que dispensa a necessidade do contraponto narrativo em tempo presente, com a personagem de Lucélia Santos. Cyria Coentro, Rita Assemany e o veterano do cinema baiano Milton Gaúcho estão irretocáveis.
O terceiro e último episódio, “O Pai do Rock”, de José Araripe Jr., é uma caricatura escrachada de uma banda de rock de garagem tentando atropelar as leis de mercado, que impõem como modelo a axé-music. Os tipos compostos por George Vassilatos, Oswaldinho Mil, Daniel Boaventura e Fábio Lago são tão improváveis – mesmo até para roqueiros –, que abocanham de imediato a simpatia do público. A concepção visual é um luxo de criatividade, que encontra amparo na fotografia caprichada de Hamilton Oliveira. Araripe brinda o público com humor negro alto-astral e fecha “3 Histórias” quase que com um convite. É que o filme termina atrás do trio elétrico, lugar onde “só não vai quem já morreu”, como diz a profecia.
Ainda nesse mesmo ano, Walter Lima produz “Um Vento Sagrado” (2001), que retrata a vida e obra de Agenor Miranda, famoso jogador de búzios de candomblé. “Vento sagrado” é a expressão usada por Agenor Miranda para definir os Orixás, divindades da tradição religiosa Ioruba da Nigéria, do Candomblé do Brasil e da Santeria de Cuba.
Sérgio Machado com uma produção de Walter Sales, lança no Festival do Rio “Onde a Terra acaba” (2001), a partir do “claro enigma cinematográfico” que é Mário Peixoto (1908-92), cineasta de um filme só, “Limite” (1931).
E, para surpresa geral, “Samba Riachão” (2001), de Jorge Alfredo, é selecionado para a mostra competitiva do Festival de Brasília e ganha os principais prêmios. Sai consagrado com o candango de melhor filme, dos juris official e popular, além de melhor montagem. Pronto: tinha sido dado o pontapé inicial para que a novíssima onda baiana alçasse novos voos, fazendo jus a longa tradição e vocação baiana para a sétima arte.
Mas nem tudo eram flores: no início, os nossos filmes, apesar de tantos prêmios em festivais, não foram bem aceitos pela crítica soteropolitana. Vejam o que André Setaro, o mais conceituado crítico de cinema local, escreveu sobre a nova leva de filmes baianos: “Considerando que o cinema é uma estrutura audiovisual, com um elo sintático (a linguagem) e um elo semântico (a produção de sentidos), um olhar sobre os filmes baianos que começam a aparecer a partir dos anos 2000 constata, neles, defeitos estruturais como se não houvesse uma preocupação com a estrutura narrativa, com a simbiose expressiva entre os dois elos fundamentais para a urgência criadora. Por outro lado, há uma quase obsessão por assuntos enraizados, por assim dizer, como o candomblé, os retratos da gente humilde, o pitoresco, a exploração do décor. Claro que tais assuntos são importantes, mas precisam de uma nova abordagem e o que se percebe é uma repetição do clichê na hora de contemplá-los. É sempre o mesmo discurso cinematográfico que se repete quase ad infinitum. E uma outra muleta que cai como luva para quem quer fazer cinema e se dizer cineasta: o documentário musical. Assim, logo após a estréia de ‘Três Histórias da Bahia’, ‘Samba Riachão’ (2001), de Jorge Alfredo, documentário centrado na figura do sambista Riachão, apesar dos prêmios conquistados (chega a ganhar, ex aequo com “Lavoura Arcaica” (2001), de Luiz Fernando Carvalho, o principal prêmio do Festival de Brasília), filme ainda que envolvente pela presença do retratado, tem a pretensão de ‘contar a história do samba’, quando deveria se restringir a ser um registro apenas sobre Riachão.”
O começo dessa guinada foi muito difícil. Apesar de “Samba Riachão” percorrer o calendário dos festivais nacionais e internacionais, e ser muito bem acolhido por diversas platéias mundo afora, só conseguiu chegar às telas do circuito comercial em 2004, devido a um edital de distribuição da Petrobras. Mesmo assim em apenas poucas salas de cinema. O mesmo aconteceu com “Eu Me Lembro”(2005), de Edgard Navarro, que apesar de sair do Festival de Brasília (2005) super premiado, fez uma carreira apenas razoável no circuito comercial. Sucesso de público nos cinemas, só quem mereceu foi o “Bahea, Minha Vida” (2011), de Márcio Cavalcanti. Em Salvador, o filme vendeu mais de 80 mil ingressos, sem antes ter participado de festivais, como era praxe.
Mas, aos poucos, a produção baiana foi conseguindo mais espaço. Maria do Socorro Silva Carvalho, em um artigo sobre sua pesquisa realizada no âmbito de um estágio pós-doutoral na PUCRS, concebida no campo da história, memória e das representações sociais, investiga a recepção da nossa cinematografia: “Essa produção é um marco na atividade cinematográfica baiana contemporânea, quando se verifica um processo de renovação e qualificação dos cineastas locais, que passam a atuar de forma mais organizada e profissional. Nesse momento, surgem instituições de ensino superior com cursos de formação em cinema, além de associações profissionais, como a Associação Baiana de Cinema e Vídeo (ABCV). No mercado cinematográfico, produzir filmes não implica acesso ao público, pois os atuais processos de distribuição e exibição têm dificultado o cinema nacional de chegar às salas exibidoras. E com essa produção baiana não é diferente, já que ela é marcada pelo chamado ‘filme de nicho’, de inserção restrita no mercado.”
No 17º Cine Ceará, sob “O céu de Iracema”, Jorge Alfredo, então presidente da APCNN (Associação de Produtores e Cineastas do Norte e Nordeste) em parceria com o colega cearense Rosemberg Cariri, publicou o seguinte texto, que sintetiza o caminho de retomada do cinema dessa outra metade do Brasil:
Vejo um sinal na magia desse Sol, que traz a luz para muitas produções: o cinema também quer ser do norte pra ser universal, quer ser do nordeste sem jamais deixar de ser brasileiro. Esse país é feito de vários!
E sempre que preciso for, evocaremos a sabedoria de Patativa do Assaré e a malandragem de Riachão, e os nossos heróis maltrapilhos e encouraçados como Corisco, SuperOutro e Mr. Abrakadabra sairão das telas para tirar do papel essas palavras e transformá-las em filmes, salas e espectadores. Nos sertões do Brasil deu-se o encontro de mundos: nações, povos e culturas se enfrentaram e se misturaram. O grande movimento de renovação do cinema brasileiro, o “Cinema Novo”, esteticamente arrojado, apaixonado e rebelde, não pode ser pensado sem o sertão e a sua cultura. Foi no sertão que os jovens cineastas foram buscar o drama do subdesenvolvimento, o germe da revolução, os mitos universais e a tragédia do homem.
O Norte/Nordeste, insisto em dizer, é resultado das misturas quentes de raças e culturas, regiões que não perderam a alma ao entrar na modernidade, mas multiplicaram a sua curiosidade e a traduziu nos filmes mais instigantes.
Por isso, mais do que nunca, faz-se necessário uma política dos estados e das Instituições do Norte/Nordeste, em parceria com os Governos estaduais das duas regiões, de fomento à produção de filmes, da preservação dos arquivos audiovisuais, das promoções de mostras e seminários reflexivos sobre o nosso cinema e a nossa imensa contribuição à nação brasileira. Urge reescrevermos a nossa cultura, através do cinema, na sua destinação histórica de universalidade. Urge religarmos essa nova cultura tropical e mestiça com as vertentes culturais das nações e dos povos fundadores, provocando novos encontros, novos conflitos, novas soluções e o conseqüente surgimento de novos signos culturais. O Brasil precisa saber que adormeceu em cima de um importante tesouro. Muito mais do que o ouro ou o petróleo, esse tesouro é a enorme diversidade cultural dos muitos povos e etnias que habitam as várias regiões do país.”
A APCNN diante dessa política de descentralização e nacionalização dos recursos para o audiovisual brasileiro conclama os governadores e os prefeitos do Norte e Nordeste para elegerem a produção audiovisual, especialmente o Cinema, que lhe dá o fundamento da linguagem, como uma PRIORIDADE ESTRATÉGICA. Isso nos colocará na dianteira do inadiável projeto de descolonização cultural que a sociedade brasileira precisa empreender para reconquistar a sua própria imagem e auto-estima. Essa é uma decisão que se impõe com urgência. Sem prejuízo da continuação das políticas já em andamento, como os editais, é essencial pensarmos nesse projeto de longo prazo e enorme alcance, pois ele, sim, poderá fazer a diferença que o todo o Brasil espera.
Em 2011, dez anos depois do lançamento da primeira longa-metragem depois de um jejum de 18 anos, estavam em cartaz no circuito de salas comerciais de Salvador quatro novos filmes baianos. Esse fato mereceu do então Secretário de Cultura do Estado da Bahia, Antonio Albino Canelas Rubim, a seguinte declaração: “O cinema baiano vive, hoje, um momento muito especial. Tivemos semanas com vários longas‐metragens baianos em cartaz em salas de exibições em nosso estado. A produção de longas‐metragens, coisa rara na história de nosso cinema, vem se consolidando, inclusive com o aparecimento de novos criadores e com sua expansão para gêneros com pouca tradição no cinema, a exemplo do documentário e da animação. Alguns destes filmes conseguiram mobilizar públicos razoáveis e permanecer em cartaz por diversas semanas. Além dos longas‐metragens, a produção audiovisual baiana tem se desenvolvido e se consolidado, com novos filmes e vigorosos criadores.”
Para finalizar esse verbete do Portal da Bahia Contemporânea nada como as palavras do saudoso cineasta Geraldo Moraes:
“O cinema e o audiovisual da Bahia vivem hoje um período de grande vitalidade que não tem tido a projeção que merece e precisa. O boom do audiovisual não é especificidade baiana, pernambucana ou seja o que for, é uma mudança mais profunda e irreversível que acontece num mundo que não é mais o que era há dez anos. Não estamos vivendo uma moda nova, mas o início da civilização da imagem. O verbo continuará porque é uma característica dos seres humanos, mas o meio socialmente predominante agora é outro. E cada vez mais.
Seja nas reuniões sociais, seja em casa ou nos lugares públicos, cada dia se fala menos e se disponibilizam mais https://portaldabahiacontemporanea.com.br/imagens pelos celulares. O texto é cada vez mais um auxiliar da imagem. Vovó não manda mais telegramas, nem posa para o selfie da netinha: ela mesma fotografa o seu bolo de aniversário e posta no WhatsApp. O celular não é mais um telefone, é um equipamento audiovisual que permite a você também telefonar, e está hoje está disponível nas ruas e paradas de ônibus.
E no campo da produção audiovisual a revolução é ainda mais profunda. Se antes precisávamos buscar pessoal e equipamentos profissionais pra fazer um curta, agora os amigos se reúnem e logo estão produzindo. Nascemos num ambiente em que poucas pessoas criavam mensagens audiovisuais e os outros – vale dizer a quase totalidade da sociedade – eram espectadores, consumidores, público enfim. Hoje não há mais o limite entre produtores e receptores de mensagens porque todos são as duas coisas ao mesmo tempo.
No bojo dessa reviravolta, os núcleos de produtores audiovisuais têm outra configuração. Há dez ou quinze anos a Bahia e outros estados brasileiros produziam raros filmes longas e alguns documentários. Nos últimos dez/doze anos, fizemos aqui mais de 25 longas e centenas de documentários sem contar a produção de núcleos espalhados pelos bairros, escolas, comunidades, que antes eram assunto de filmes e hoje são autores de suas próprias histórias.”
Segue, abaixo, um mapeamento do Cinema Baiano do Século 21 focado na produção de longas-metragens até o ano de 2015. Nesse portal, teremos oportunidade de atualizá-lo sempre que necessário. Em destaque, os cinco primeiros filmes daqueles cineastas que se reuniram com o produtor Moisés Augusto, na Ilha de Mar Grande, em 1993, e que, até então, nunca tinham realizado nenhum filme de longa-metragem.
MAPEAMENTO DO CINEMA BAIANO DO SÉCULO 21
SAMBA RIACHÃO 2001 – doc - 35mm - 86min. (Jorge Alfredo) Produtora: Truque FAZCULTURA (BA) 2000 Edital de Distribuição PETROBRAS) 2004 Distribuição: Pandora Filmes Agencia Nacional de Cinema – ANCINE – nº 5002935 Certificado de Produto Brasileiro – CPB Avant-première: novembro de 2001, no 34º Festival do Cinema Brasileiro de Brasília
Sinopse: O filme retrata a história do samba como tema central da Música Popular Brasileira, através da trajetória do sambista Clementino Rodrigues, o popular Riachão. Elenco: Riachão, Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Carlinhos Brown, Tom Zé, Bule-Bule, Armandinho, Cid Teixeira, Clarindo Silva, Eduardo Saphira, França Teixeira, Guido Guerra, José Jorge Randam, Manoel Canário, Oscar Santana, Perfilino Neto,Tuzé de Abreu, Antônio Risério.
Ficha técnica: Argumento e roteiro: Jorge Alfredo Direção de fotografia: Pedro Semanovschi Direção executiva: Moisés Augusto e Sylvia Abreu Direção de produção: Taissa Grisi Direção de arte: José Araripe Jr. Montagem: Tina Safhira Direção musical: Jorge Alfredo Edição de som: Miriam Biderman Mixagem: José Luiz Sasso Supervisão de transfer: José Augusto de Blasis |
EU ME LEMBRO 2005 – ficção - 35mm -110min (Edgard Navarro) Produtora: Truque 1º EDITAL BAHIA 2001 ANCINE, BNDES, PETROBRAS Distribuição: Pandora Avant-première: novembro de 2005, no 38º Festival do Cinema Brasileiro de Brasília
Sinopse: Uma investida poética de inspiração autobiográfica em que o realizador mistura realidade e ficção para traçar um painel de memória coletiva e, na tentativa de compreender a gênese de seus próprios conflitos, termina fornecendo pistas sobre algumas das buscas essenciais de sua geração. Elenco: Lucas Valadares, Fernando Neves, Arly Arnaud, Annalu Tavares, Wilson Mello, Rita Assemany, Fernando Fulco, Valderez Freitas Teixeira, Nélia Carvalho, Eva Lima, Caco Monteiro, George Vassilatos, Frieda Gutmann, Fafá Pimentel, Lucio Tranchesi, Cristiana Ferreira, Iara Colina, Laila Miranda Garin, Bertho Filho, Ipojucan Dias, Deusi Magalhães, Tânia Tôko, João Miguel, Rita Santana, André Tavares, Alex Muniz, Ricardo Luedy, Dantlen Melo, Ingredy Gaspar de Santana, Victor Porfírio e William Santos.
Ficha técnica: Produção: Sylvia Abreu e Moisés Augusto Música: Tuzé Abreu Fotografia: Hamilton Oliveira Direção de arte: Moacyr Gramacho Edição: Jefferson Cysneiros |
ESSES MOÇOS 2005 – ficção - 35mm – 86min (José Araripe Jr.) Produtora: Truque Distribuição: Pandora FAZCULTURA (BA) 2001/BNDES Avant-première: abril de 2005, no CinePE
Sinopse: Darlene e Daiane são duas meninas que fogem do interior e chegam a Salvador. Lá encontram Diomedes, um senhor idoso que está desmemoriado, perdido nas ruas, sem saber quem é nem onde mora. Juntos, os três exploram a cidade. Darlene, a menina mais velha, tem a idéia de ganhar dinheiro com esmolas, por conta da piedade que o velho desperta nas pessoas. Ainda assim, os três constituem uma espécie de família informal, em que Diomedes é capaz de conduzir as meninas para seu mundo, onde afeto e solidariedade têm espaço para existir. A jornada que viverão em 48 horas mudará suas vidas e abrirá possibilidades de escolha inesperadas para os três. Elenco: Inaldo Santana, Chayend Santos, Flaviana Silva, Lázaro Machado, Edmilson Mimí, Francisco Pithon, João Miguel, Gideon Rosa, Agnaldo Lopes, Neide Moura, Betho Filho, Rita Santana, Celso Jr, Manfredo Bahia, Andréa Duque, Fafá Pimentel, Ray Alves, Carlos Betão e Roberto Salles.
Ficha técnica: Roteirista: José Araripe Jr. Co-roteiristas: Hilton Lacerda Ricardo Soares Victor Mascarenhas Direção de Fotografia: Hamilton Oliveira Montagem: Jefferson Cysneiros Direção de Arte: Gilson Rodrigues Produção: Moisés Augusto e Sylvia Abreu Produção Executiva: Diana Gurgel, Ilna Baptista Direção de Produção: Taissi Grisi Trilha: Beto Neves Edição de Som: Mírian Biderman Som Direto: Nicolas Hallet |
PAU BRASIL 2009 – ficção – 35mm – 98 min. (Fernando Belens) Produtora: Studio Brasil /Truque 3º EDITAL BAHIA 2005 Avant-première: julho de 2009, no V Seminário Internacional de Cinema da Bahia
Sinopse: Num pequeno e perdido povoado no coração do Brasil, as famílias de Joaquim e Nives moram lado a lado. Apesar de conviverem com a mesma estrutura perversa de opressão social, lidam com a vida de modo radicalmente diferente. A intolerância com o outro e a pobreza são os ingredientes desse drama trágico. Elenco: Bertrand Duarte, Osvaldo Mil, Fernanda Paquelet, Fernanda Beling, Milena Flick, Arany Santana, Rita Brandi, Edlo Mendes, Felipe Calicote, Tarina Ramos.
Ficha técnica: Roteiro: Fernando Belens e Dinorath do Valle Produção executiva: Luciano Floquet e Sylvia Abreu Diretor assistente: Adler Paz Direção de produção: Taissa Grisi Direção de platô: Macarra Viana Direção de elenco: Laura Bezerra Produção de elenco: Elson Rosário Direção de fotografia: Hamilton Oliveira Direção de arte e figurino: Moacyr Gramacho Montagem: Andre Bendocchi Alves Música original: Bira Reis Som direto: Nicolas Hallet Edição de som: Andre Bendocchi Alves e João Da Costa Pinto Mixagem: Andre Bendocchi Alves |
JARDIM DAS FOLHAS SAGRADAS 2010 – ficção - 35mm - 90 min (Pola Ribeiro) Produtora: STUDIO BRASIL Edital Petrobrás 2005 Distribuição: Polifimes Avant-première: 2010 – Festival do Rio
Sinopse: Salvador. A expansão imobiliária da cidade decorrente de sua modernização faz com que o candomblé, tradicional religião afro-brasileira ligada à natureza, seja afetada. A causa é que o candomblé pede a existência de lugares amplos e naturais para a realização de sua liturgia. É neste contexto que Miguel Bonfim, um ex-bancário (que é filho de uma yalorixá) e um jornalista de esquerda decide criar o Jardim das Folhas Sagradas. Sem conseguir um local na cidade, ele decide montá-lo na periferia. Por questionar o sacrifício de animais, Bonfim resolve fazer um terreiro modernizado e descaracterizado. Só que esta decisão lhe traz graves consequências. Elenco: Antônio Godí, Harildo Deda, Evelin Buchegger, João Miguel, Aurístela Sá, Sérgio Guedes, Érico Brás
Ficha técnica: Direção de Fotografia: Antônio Luiz Mendes 1º Assist. Câmera: Haroldo Borges Preparação de Elenco: Márcio Meirelles Produção de Elenco: Elson Rosário Platô: Macarra - Mário Sérgio Vianna Produção de Set: Matheus Vianna Produção Executiva: Solange Lima Direção de Produção: Paulo Alcântara Direção de Arte: Gilson Rodrigues Direção Musical: José Miguel Wisnik Música: Gerônimo e Ildásio Tavares |
MAPEAMENTO DA PRODUÇÃO DE FILMES DE LONGAS-METRAGENS BAIANOS DO SÉCULO 21
- Três Histórias da Bahia - 2001 – ficção – 35mm – 96min. (Sérgio Machado, Edyala Iglesias, José Araripe Jr.)
- Samba Riachão - 2001 – doc – 35mm – 86min. (Jorge Alfredo)
- Onde a Terra Acaba - 2001 – doc – 35mm – 75min. (Sérgio Machado)
- Um Vento Sagrado - 2001 /Doc / Betacam / 93 min. (José Walter Lima)
- Cascalho - 2004 – ficção – 35mm – 102min (Tuna Espinheira)
- Quilombos da Bahia - 2004 -Doc - Betacam - 94min. (Antonio Olavo)
- Esses Moços - 2005 – ficção – 35mm – 86min (José Araripe Jr)
- Eu me lembro - 2005 – ficção – 35mm -110 min (Edgard Navarro)
- A Cidade das Mulheres - 2005 – doc – 35mm – 72min (Lázaro Faria)
- Cidade Baixa - 2005 / ficção/ 35mm./ 93 min. (Sérgio Machado)
- Brilhante - 2006 – doc – 35mm – 75min. (Conceição Senna)
- Agostinho da Silva- um pensamento vivo(2006 – doc – digital – 80min. (João Rodrigo)
- Glauber em Defesa do Cinema – 2006 – doc – digital - 100min (Roque Araújo)
- Ó Paí Ó - 2007 – ficção – 35mm -110 min. (Monique Gardenberg)
- Abdias Nascimento - Memória Negra - 2007 - Doc.- digital - 95 min (Antonio Olavo)
- Bombadeira - 2007 /Doc/ HD /75 min (Luis Carlos Alencar)
- Tudo isso parece um sonho - 2008 – doc- digital - 150min. (Geraldo Sarno)
- Sagrado Segredo - 2008 / Doc /35mm /75min. (André Luiz Oliveira)
- Quando nada acontece - 2008 – ficção - digital- 75 min. (João Gabriel)
- Estranhos - 2009 - ficção - digital - 100min (Paulo Alcântara)
- Pau Brasil - 2009 – ficção – 35mm – 98 min (Fernando Belens)
- Filhos de João – O Admirável Mundo Novo Baiano - 2009 – doc – 35mm – 75 min. (Henrique Dantas)
- Jardim das Folhas Sagradas - 2010 – ficção – 35mm – 90 min (Pola Ribeiro)
- Trampolim do Forte - 2010 – ficção -35mm – 90min. (João Rodrigo)
- Antonio Conselheiro – o Taumaturgo dos Sertões - 2010 / ficção / 35mm / 86 min (José Walter Lima)
- Quincas Berro D'Água- 2010 – ficção – 35mm – 102min (Sérgio Machado)
- O Último Romance de Balzac - 2010 – ficção - digital - 74min (Geraldo Sarno)
- Escutando Tom Zé - 2010 - doc - RED4K- 76 min (Jorge Alfredo)
- A Pedagogia da Presença - 2010 – doc – RED4K – 73 min. Jorge Alfredo)
- O Homem que Não Dormia - 2011 – ficção – 35mm – 100min (Edgard Navarro)
- Bahêa, Minha Vida - 2011 - doc – 35mm – 100 min (Márcio Cavalcante)
- Capitães da Areia - 2011 – ficção - 35mm - 95 min (Cecília Amado)
- Cuíca de Santo Amaro - 2012–doc – 35mm / 75min (Joel de Almeida / Josias Pires)
- Pra Lá do Mundo - 2012 – doc – 35mm – 78 min (Roberto Studart)
- Trieletrizado - 2013 - doc - RED4K - 76 min (Jorge Alfredo)
- A Coleção Invisível - 2013–ficção – 35mm - 89min (Bernard Attal)
- Ritos de Passagem - 2013 – animação – 35mm / 98min (Chico Liberato)
- Depois da Chuva - 2013 - Ficção, digital, 90min (Cláudio Marques e Marília Hugnes)
- Hereros Angola - 2013 - doc – digital - 99min (Sérgio Guerra)
- Sinais de Cinza - 2013 - doc - digital - 86 min. (Henrique Dantas)
- Breviário do Horror - 2013 - doc - digital - 80 min. (Fábio Di Rocha e Flávio Lopes)
- Rabeca - 2013 - doc - digital - 71 min. (Caetano Dias)
- Aprendendo a ler pra ensinar meus camaradas -2013 - doc - digital - 84 min.(João
Guerra)
- Revoada - 2014 - ficção - digital - 80 min. (José Umberto)
- Depois da Chuva,- 2015 – ficção,- digital - 90min. (Cláudio Marques, Marília Hughes)
- Tropykaos - 2015 - ficção - digital - 90min. (Daniel Lisboa)
- Travessia - 2015 - ficção - digital - 90min (João Gabriel)
- Rogério Duarte, O Tropikaoslista - 2015 - doc - 90min (José Walter Lima)
- Jonas e o Circo Sem Lona - 2015 - doc - digital (Paula Gomes)
- A Noite Escura da Alma - 2016 - doc. digital (Henrique Dantas)
51. Abaixo a Gravidade – 2018 - ficção - digital (Edgard Navarro)