APRESENTAÇÃO
Da Idade d’Ouro do Brazil, lançado em 14 de maio de 1811, segundo jornal impresso publicado no país, às plataformas digitais, nestes pouco mais de 200 anos os meios de comunicação da Bahia refletirão avanços e contradições de uma sociedade ainda profundamente desigual. Remediação tecnológica que também implica na migração de jornais, emissoras de televisão e rádios para Internet, o que tem levado à queda acentuada da circulação dos meios impressos, fenômeno que impacta na atuação do jornalismo baiano e variadas mídias que se destinam a outros propósitos.
1 - PERCURSO ATÉ O SÉCULO XXI
A primeira década do século XX marca o início da transição, em Salvador, da imprensa artesanal para industrial, ou “grande imprensa.” Processo que se deu com pequeno atraso em relação às capitais das regiões Sul e Sudeste e até mesmo Recife, onde o modo de produção industrial do jornalismo se consolidou alguns anos antes. Entende-se como fase industrial o incremento da tecnologia do linotipo e as prensas elétricas que substituem as manuais, assim como a máquina datilográfica. Estas inovações resultaram na divisão do trabalho social da atividade, o que exigiu investimentos por parte das empresas. A publicidade passou a ser sua principal fonte de financiamento.
Conforme Welinton Aragão (1985), é o momento de florescimento da imprensa na Bahia. Entre 1900 e 1911 surgiram 477 publicações no Estado. Neste período, os jornais Diário da Bahia, fundado em 1856 e que permaneceu ativo até 1917, e o Diário de Notícias, que iniciou suas atividades em 1875, se destacaram como principais órgãos noticiosos da capital.
Nas duas décadas seguintes, A Tarde e o Imparcial se somarão ao Diário de Notícias. Os três veículos serão hegemônicos até meados dos anos 40. Vale ressaltar que a existência destes órgãos de imprensa pode ser debitada, em boa medida, às disputas políticas na seara local. O Imparcial, que flertou com o integralismo nos anos 30, atuou até 1947.
No caso do Diário de Notícias, sua conduta extrapolou à geopolítica internacional. Entre 1935 e 1941, o vespertino esteve sob controle econômico de empresas alemãs sediadas na Bahia, o que levou o periódico a se envolver com a embaixada alemã, no Rio de Janeiro, e integrar a rede de comunicação do Partido Nazista no Brasil. Em 1941 o DN é comprado pelo Condomínio dos Diários associados, pertencente ao empresário Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. A direção editorial foi assumida pelo pernambucano Odorico Tavares, que inaugura uma nova fase caracterizada pelo estímulo às artes e às letras. O Diário de Notícias encerrou suas atividades em 1979. E em 1981 a décima-sétima Vara Comercial de Justiça do Estado decretou falência.
1.2 - RÁDIO SOCIEDADE
A Bahia também conhecerá a era de ouro do rádio. Em 27 de abril de 1924 é fundada a Rádio Sociedade, a mais antiga do Estado, iniciativa dos empresários Agenor Augusto de Miranda, Cesário de Andrade e Arquimedes Gonçalves. Em 1930 a emissora montou o departamento de rádio teatro e, no mesmo ano, o setor de Jornalismo. Devido a intensa censura do governo de Getúlio Vargas, a Sociedade se voltou à cobertura esportiva. Na década de 40 a emissora teve o mesmo destino do Diário de Notícias e também foi vendida aos Diários Associados, se juntando ao grupo na Bahia. Em 1997 seu controle foi assumido pela Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, quando passou a integrar a Central Record de Comunicação, atual Grupo Record.
1.3 - JORNAL A TARDE
Fundado em 15 de outubro de 1912 pelo advogado e político Ernesto Simões Filho, a partir dos anos 50 o jornal A Tarde se consolida como o periódico mais importante do Estado. Com 108 anos de existência e ainda em atividade, a empresa é um marco do chamado "jornalismo moderno" na Bahia. Iniciou a venda de espaços para publicações denominadas de “populares”, o que posteriormente passou a ser conhecido como classificados. Na ocasião, o ineditismo da iniciativa causou desconforto nos demais órgãos de imprensa soteropolitanos, que acusaram Simões Filho de “jornalista de balcão.” Nos primeiros anos de atividade, seu fundador e proprietário fez veemente oposição ao governador eleito em 1912 José Joaquim Seabra, o J.J. Seabra como ficou conhecido. Ao longo de 12 anos, período em que Seabra e aliados tornaram-se a maior força política no estado, A Tarde travou intensos embates com o “seabrismo”. Foi a marca do seu surgimento.
O jornal de Simões Filho se caracterizou como empresa tipicamente familiar na maior parte do percurso. Pela sua redação passaram gerações de profissionais que conquistaram muitos prêmios de destaque no cenário nacional. Vale destacar que sua linha editorial sempre se pautou na defesa do liberalismo e à direita do espectro político, tendo inclusive apoiado o golpe civil-militar de primeiro de abril de 1964, posicionamento equânime à maior parte da grande imprensa brasileira.
Em 1983 diversificou sua atuação em outros segmentos da mídia, quando foi inaugurada a rádio A Tarde FM, que em 1986 assumiu o nome FM 104, enfatizando o prefixo, para, posteriormente, retomar o antigo nome. Dez anos depois o jornal inicia sua presença digital implantando o portal A Tarde. A diversificação não parou por aí. Em 2010 passou a publicar o diário Massa!, com proposta editorial voltada à narrativa de apelo mais popular. O objetivo era buscar enfrentar seu principal concorrente, o jornal Correio, pertencente ao conglomerado da Rede Bahia e que em 2011 ultrapassara A Tarde em circulação.
Posteriormente, em 2012, ano de centenário do periódico, A Tarde estabeleceu parceria com o provedor Universo Online, o UOL, empresa pertencente ao Grupo Folha. Foi quando o endereço do portal, antes www.atarde.com.br, foi direcionado para www.atarde.uol.com.br. Neste mesmo ano a crise econômica se tornou mais aguda na empresa. Enfrentando passivos trabalhistas e dívidas, em janeiro de 2016 o jornal foi vendido e transferido à holding paulista Piatra SP Participações. A família Simões, após mais de 100 anos, deixava o controle do matutino.
Atualmente, o conglomerado é formado pelo jornal A Tarde, A Tarde FM, A Tarde Serviços Gráficos, Agência A Tarde, Avance Telecom, Massa!, Mobi A Tarde e a Revista Muito, que de suplemento dominical ganhou status de produto independente, podendo ser adquirido avulso. Conforme o Instituto Verificador de Circulação (IVC), em 2019 o A Tarde veiculava cerca de 10.300 exemplares por dia.
1.4 - JORNAL DA BAHIA
“Não deixe esta chama se apagar”. É o slogan que reflete a maior parte da caminhada do Jornal da Bahia, empreendimento iniciado em setembro de 1958 por João Falcão, ex-miltante do Partido Comunista Brasileiro, o PCB, ou “Partidão”. Condomínio de gênios, assim poderíamos denominar a redação do JBa nos primeiros anos. Nomes como o escritor João Ubaldo Ribeiro, o cineasta Glauber Rocha e o jornalista e escritor João Carlos Teixeira Gomes, que foi seu redator-chefe por muitos anos, marcaram a história desse periódico progressista, de linha editorial à esquerda, e que registrou forte presença na imprensa baiana.
Inovando com estilo gráfico despojado, o JBa dava tratamento e destaque diferenciados às fotografias e ilustrações. Entre 1969 e 1972, o jornal de Falcão fez veemente oposição a Antônio Carlos Magalhães, o ACM, que fora nomeado prefeito de Salvador em 1967 pelo então governador Luiz Viana. Dois anos depois ACM rompeu com Luiz Viana para logo em seguida, em 1970, ser nomeado governador pelo general-presidente Emílio Garrastazu Médici.
Sob o comando editorial de João Carlos Teixeira Gomes, o Joca, conhecido pelos colegas como “Joca Pena de Aço”, o JBa acirrou a luta política contra ACM, que passou a perseguir economicamente o periódico. A “ordem” aos empresários era para não veicular publicidade no jornal. Com influência no Planalto, ACM se aproveitou do Ato Institucional Número 5, o AI-5, e tentou enquadrar Joca na Lei de Segurança Nacional, mas não logrou êxito.
O aguerrido jornal manteve sua linha editorial a despeito do bloqueio econômico. Para chamar atenção da sociedade e buscar se manter, lançou a campanha “Não deixe esta chama se apagar”, simbolizada numa vela acesa que se derretia, imagem que traduzia a agonizante situação do matutino, que praticamente passou a sobreviver das vendas em bancas e assinaturas dos leitores, já que cada vez mais os anúncios eram reduzidos, obrigando o jornal a demitir jornalistas e outros profissionais.
Sobre esta situação, João Falcão, em entrevista concedida a este jornalista, apontou a conduta de Joca como “inconsequente”, discordando da estratégia empreendida pelo redator-chefe para o enfrentamento a ACM. “Não poderia ter posto a saúde financeira do jornal em risco. Aquela situação nos levou à perda de quase um milhão de dólares”, afirmou Falcão, que disse não ter revelado durante muitos anos este descontentamento com Joca “para não fortalecer o carlismo”. João Falcão faleceu em 27 de julho de 2011 aos 92 anos; João Carlos Teixeira Gomes faleceu em 19 de junho deste ano aos 84 anos.
Insolvente, o JBa foi vendido em dezembro de 1983 aos advogados Carlos Barral e Francisco Santos, que mudaram sua linha editorial. A partir de outubro de 1990 assumiu a direção do periódico Mário Kertész, que anos antes, em 1979, havia sido nomeado prefeito de Salvador por ACM. Em 1981 Kertész rompeu com seu padrinho político. Já filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), em 1985 foi eleito prefeito da capital baiana pelo voto direto. A mudança da linha editorial do JBa levou o periódico à fase populista, abraçando a narrativa do escândalo policialesco. Em 22 de fevereiro de 1994, após 36 anos, o Jornal da Bahia fechou as portas. Mário Kertész prosseguirá atuando na imprensa, como veremos adiante.
1.5 - TRIBUNA DA BAHIA
Há 51 anos, em outubro de 1969, a Tribuna da Bahia fez sua primeira edição. Conhecido como o jornal da Baixa dos Sapateiros, posto que localizado na tradicional região da capital baiana, foi o primeiro periódico do Brasil a ser impresso no sistema off-set. Entre as inovações, a TB implantou um manual de redação e criou uma espécie de escola para formar jornalistas, a Escolinha TB de Jornalismo. Sob o comando editorial do jornalista Joaquim Quintino de Carvalho, a modernização não se limitou à tecnologia. O jornal adotou padrão gráfico-editorial inovador e se diferenciou na narrativa dos fatos apurados.
Em 1974 o manche da empresa é assumido pelo empresário e engenheiro civil Joaci Góes. Pela sua opção editorial de independência e compromisso com o leitor, a TB também enfrentou a fúria do carlismo. Neste mesmo ano, passa a integrar a redação do jornal, sua estreia como profissional, o jornalista Emiliano José.
Nas crônicas que escreve na sua página no Facebook, tagueadas como #MemóriasJornalismoEmiliano, em algumas delas o escritor recorda da valente postura editorial da TB, não apenas quanto aos enfrentamentos políticos e a defesa dos interesses nacionais, mas também sobre o sofrimento de uma população majoritariamente pobre e excluída.
Uma dessas passagens é a matéria de sua autoria publicada em 25 de março de 1975, de título “Ter filhos passou a ser uma aventura infernal”. O texto relata as dificuldades das mulheres pobres da capital baiana para dar à luz. “Maternidade ‘Tsylla Balbino’, mais de 18 mil partos em 1974, mais de 23 mil internamentos, mulheres parindo nos bancos de espera, nos sanitários, na sala de espera, muitas delas entrando na maternidade em lágrimas e aos gritos, ‘minha Nossa Senhora do Bom Parto me ajude’, ‘seu doutor, me ajude’, uma súplica só, às vezes parindo imediatamente, e só então se acalmando, pedindo pra dar uma olhada na criança, o milagre da vida”, recorda Emiliano.
Diferente do JBa, a TB conseguiu se manter economicamente. A partir de 1997, os jornalistas Walter Pinheiro e Francisco Aguiar assumiriam a tarefa de conduzir o periódico. Optaram pelo modelo de gestão cooperativa com outros colegas. Em 1998, seu então diretor de redação, Raimundo Lima, deu prosseguimento ao trabalho de reengenharia no jornal. Em julho de 2001 o tradicional periódico baiano concretizou sua reformulação gráfica.
Dados divulgados pela empresa referentes ao ano de 2016 informam que a TB, neste ano, chegou a circular diariamente 29.500 exemplares na capital, contando com 16 mil assinantes. No entanto, conforme contato mantido em 8 de outubro deste ano, o atendimento do jornal se limitou a informar que este número havia sofrido redução “em decorrência da pandemia”, não precisando os dados atuais. Atualmente, o periódico é dirigido por Walter Pinheiro e veicula edições impressas e online.
1.6 - CORREIO
O Correio (que começou sua trajetória com o nome de Correio da Bahia) iniciou suas atividades em 20 de dezembro de 1978. É o embrião da Rede Bahia de Comunicação. Momento em que o projeto político do carlismo entendeu a necessidade de dar início à implantação do seu parque regional de mídia, que resultaria na formação da maior rede de comunicação do estado.
Do Correio da Bahia, órgão noticioso deliberadamente “chapa branca” do carlismo, para o Correio*, decorreram 30 anos até a ousada e bem sucedida reformulação gráfica implementada em agosto de 2008. O grupo contratou a consultoria Innovation para elaborar o novo projeto. A escolha do formato berlinder seguiu a tendência de tabloidezação de diversos impressos do mundo. Ao abandonar o standard, a mudança gráfica visava diálogo semiótico com a Internet. O objetivo foi apresentar interfaces visuais com os portais digitais, que já surgiam aos borbotões no período e começavam a tirar a atenção dos públicos dos impressos.
A alteração deu resultado. O Correio* se antecipou em relação aos demais concorrentes, sobretudo ao A Tarde, preso a antigos conceitos gráficos. Fato é que em 2012 circulava diariamente, em média, cerca de 62 mil exemplares, se tornando o maior jornal da região Nordeste e o décimo-sexto do Brasil em circulação. Concomitantemente, reformulou sua versão digital, pondo no ar o portal Correio24horas. Posteriormente, também registrará queda de veiculação em decorrência das profundas alterações nos hábitos de consumo de mídia. Em 2019, de acordo com o Instituto de Verificação de Circulação (IVC), o Correio distribuía diariamente cerca de 25 mil exemplares.
1.7 - TV ITAPOAN
Foi a primeira emissora de televisão da Bahia. No final dos anos 50 Salvador fora inclusa nos empreendimentos do Condomínio dos Diários Associados, que havia recebido autorização para nove concessões nas principais capitais brasileiras. O conglomerado de Assis Chateaubriand investiu Cr$ 80 milhões (oitenta milhões de cruzeiros) no projeto e no dia 19 de novembro de 1960 o estado ganhava seu primeiro canal de TV. A TV Itapoan, o Canal 5, foi Inaugurada com transmissões de missas e o clássico futebolístico da Bahia, o Ba x Vi, primeira transmissão ao vivo da partida entre as duas agremiações com as maiores torcidas da capital.
Operando das 19h às 22h no primeiro ano de atividade, três anos depois uma parte da programação passou a ser importada das TVs Tupi de São Paulo e Rio de Janeiro, fundadas em 1950 e 1951 respectivamente. Ambas também pertencentes aos Diários Associados.
Com a tecnologia do videotape, a TV Itapoan teve a possibilidade de veicular telenovelas e outros conteúdos produzidos no eixo São Paulo-Rio. Vale registrar que embora estes atrativos integrassem a grade da TV Itapoan, a programação local era predominante. Na década de 70 as transmissões ao vivo foram incrementadas devido a disponibilidade do satélite da Empresa Brasileira de Telecomunicações, a Embratel, estatal criada pelo regime civil-militar para dar suporte à radiodifusão no Brasil.
Até 1980 a TV Itapoan fez parte do condomínio de Chateaubriand. Neste ano, o conglomerado do empresário paraibano já contabilizava volumosa dívida com a Previdência Social e fornecedores, altíssimo passivo trabalhista e problemas de gestão. Em forte crise financeira, sete concessões do grupo foram cassadas pelo Governo Federal. A Rede Tupi era extinta.
A emissora, que já havia atravessado situação crítica em decorrência de incêndio ocorrido em julho de 1975, que a tirou do ar durante um ano, mesmo com dívidas acumuladas consegue se manter, se safando da cassação. É quando entra em cena Pedro Irujo, empresário de origem basca radicado na Bahia. Irujo adquiriu a emissora e a recém-inaugurada rádio Itapoan FM, criando o Sistema Nordeste de Comunicação (SNC), que passa a fazer cadeia com a Rede de Emissoras Independentes. Posteriormente, o SNC se filiou ao Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT.
O empresário foi bastante astuto. Fez acordo com o governo estadual para pagar impostos atrasados e cobrou credores mediante notas publicadas em jornais de Salvador. Na década de 90 a emissora do bairro da Federação expandiu seu sinal para o interior do Estado e se consolidou como vice-líder de audiência, atingindo 40% da Bahia.
Em 1997 o Sistema Nordeste de Comunicação dá sinais de exaustão em decorrência da falência do jornal impresso Bahia Hoje, parte integrante do grupo e que teve trajetória efêmera na capital. Neste mesmo ano, no mês de março, a Central Record de Comunicação adquiriu a TV Itapoan e a Rádio Sociedade da Bahia, conforme já mencionado. A emissora passou a ser a décima-terceira da Rede Record, se desligando do SBT após quase 16 anos de parceria.
A filiação à rede de comunicação pertencente à Igreja Universal do Reino de Deus resultou em mudanças na programação, sobretudo no jornalismo, que adotou linha editorial voltada a programas de escândalos policiais e apelo popular, o que lhe garantiu altos índices de audiência a partir do anos 2000. E também muitas críticas em decorrência de narrativas que apelavam à linguagem chula e acusatória. Programas que passaram a se constituir em verdadeiros tribunais inquisitoriais contra pessoas socialmente indefesas (ver adiante).
Este modelo de jornalismo bastante polêmico teve no programa Balanço Geral, comandado pelo apresentador e radialista Raimundo Varela, que atuava tanto na Itapoan quanto na Rádio Sociedade, um dos primeiros a abraçar este gênero na Bahia. O BG foi exportado para outras emissoras da Record reproduzindo o mesmo estilo de narrativa e identidade visual. Um outro produto da Itapoan que seguiu a mesma proposta, embora radicalizando muito mais, foi o programa Se Liga Bocão, conduzido pelo apresentador José Eduardo, o “Bocão”, que à frente se destacaria como um personagem bastante controverso (ver adiante). Atualmente, José Eduardo dirige o portal www.bnews.com.br, o Bocão News, de sua propriedade.
1.8 - TV ARATU
Foi a segunda emissora de televisão da Bahia e também palco de um dos maiores escândalos dos bastidores da economia política da mídia no Brasil. Primeira afiliada da Rede Globo no estado, a TV Aratu, o Canal 4, iniciou suas atividades em 15 de março de 1969. Empreendimento de um conjunto de acionistas, entre eles Luís Viana Neto, filho de Luís Viana Filho que governou a Bahia durante os anos 1967-1971. A estreia da TV Aratu ficou marcada pela vinheta de abertura, um jingle que caiu nas graças da população. Ser parceira comercial de Roberto Irineu Marinho garantirá muitos bônus à emissora da família Viana, mas também um amargo ônus, como veremos.
O contrato com a Rede Globo implicou num gap tecnológico à TV Aratu. A transmissão a cores é inaugurada na Bahia em 1973 pela emissora, que lançou o slogan A liderança colorida. Em pouco tempo, tomava a dianteira da audiência em Salvador e ultrapassava sua principal concorrente, a TV Itapoan. O avanço tecnológico e a grade de programação da Globo, que naquele momento impulsionava seu departamento de teledramaturgia com grandes produções, foram fatores determinantes.
A Rede Globo foi uma das primeiras cadeias de TV do país a realizar transmissão a cores. A empresa do Jardim Botânico havia aderido à tecnologia Phase Alternating Line - Linha de Fase Alternada -, ou sistema PAL, que seria combinado ao sistema Padrão M, o PAL-M. Esta mixagem tecnológica permitia aos aparelhos de televisão preto e branco receberem o sinal da transmissão em cores sem precisar de aparelhos de adaptação, mesmo não apresentando a imagem colorida.
Audiência significava negócios e, portanto, receitas. O regime civil-militar chegou ao fim em 1985. A eleição indireta de Tancredo Neves no Congresso Nacional decorreu de acordo entre a dissidência do regime e setores da oposição, o que levou à vitória o político mineiro, batendo o candidato dos militares, Paulo Salim Maluf, ex-governador de São Paulo. Tancredo faleceu e não chegou a tomar posse e o vice da chapa, José Sarney, assumiu a presidência em abril de 1985. Também dissidente e aliado de Sarney, ACM, quem Luís Viana Filho havia nomeado prefeito de Salvador em 1967 e com quem rompera dois anos depois, virou ministro das Comunicações da Nova República. Vale registrar que embora inimigos políticos, Viana e Magalhães sempre constituíram na Bahia bases de apoio ao regime civil-militar. Tratava-se de cizânia regional.
Mau agouro para a TV Aratu. Após a posse, ACM iniciou negociação política e empresarial com Roberto Marinho, que culminou no chamado escândalo da NEC. O ano é 1987. Intempestivamente, o contrato entre a TV Aratu e a Rede Globo é desfeito. A emissora foi à Justiça buscar reverter a situação. No entanto, com forte influência em Brasília e a despeito do seu candidato Josaphat Marinho ter perdido a disputa ao governo da Bahia para Waldir Pires, em 1986, ACM ainda exercia bastante controle no Judiciário baiano. A batalha judicial e política levou cerca de seis meses. Todos os esforços da TV Aratu foram em vão. O sinal da Rede Globo passou a pertencer definitivamente à TV Bahia, emissora da família de ACM fundada em março de 1985 e que, de início, se filiara à Rede Manchete, de propriedade do empresário Adolpho Bloch.
Foi um baque para a TV Aratu. Após 18 anos transmitindo o sinal da Rede Globo e liderando a audiência em Salvador na maior parte desse período, a emissora registrou queda brusca de anunciantes, com recuo de receitas em torno de 80%. Situação que impactou na infraestrutura tecnológica. Sem recursos para investir em equipamentos, a família Viana não conseguiu manter a qualidade das transmissões. Diante da situação, a saída foi se filiar à Rede Manchete, parceria levada até 1995, quando a TV Aratu se filiou à Central Nacional de Televisão (CNT), alterando seu nome para CNT-Aratu. Será uma breve parceria. Já em 1997, a “emissora do galinho”, referência à marca que tem imagem de um galo, se associou ao SBT, onde permanece atualmente.
A TV Aratu adentrou o século XXI presente em cerca de 80% do Estado, atingindo em torno de 10 milhões de telespectadores. O salto foi possível graças a investimentos em tecnologia e a transmissão do sinal por satélite, fruto de parceria comercial com a Embratel. Em 2006 lançou o portal Aratu Online, passando a operar como Grupo Aratu. Seu último investimento foi a aquisição da antiga TV Camaçari, emissora comunitária da cidade de Camaçari, situada na Região Metropolitana de Salvador, que mudou o nome para TV Aratu Camaçari.
1.9 - BAND BAHIA
Pertencente ao Grupo Bandeirantes de Comunicação, a TV foi inaugurada em abril de 1981 como Bandeirantes Bahia, ou Band Bahia. É a terceira emissora mais antiga de Salvador. Além de Aracaju, capital vizinha, aonde o sinal chegou em 2003 e atualmente marca presença como Band Aracaju, e da cidade de Nossa Senhoras das Dores, também no estado de Sergipe, a Band Bahia atinge 38 cidades do interior do estado mediante frequência VHF ou sinal digital. Além da TV, o grupo paulista também opera na Bahia as rádios BandNews FM Salvador e Band FM Vitória da Conquista, no sudoeste do estado.
O salto tecnológico da emissora ocorreu em junho de 2008, quando implantou um news center, tecnologia que viabiliza gerar três programas simultaneamente. Inicialmente, seus três produtos carros-chefes foram: Jogo Aberto Bahia, Bahia Urgente e o Boa Tarde Bahia. Em 2012 lançou o programa local Brasil Urgente Bahia, comandado pelo jornalista Uziel Bueno. Com forte presença no jornalismo esportivo, em 2013 a Band Bahia iniciou a veiculação de Os donos da Bola, transmitido atualmente no intervalo das 11:45h às 13h e que contempla boa audiência.
Buscando diversificar sua grade de programação local, em maio de 2018 a emissora estreou o conteúdo Band Mulher. Apostou num programa de variedades sob o comando da jornalista Pâmela Lucciola. Neste mesmo ano ocorreu o retorno de Uziel Bueno, que passou a comandar a versão local do Brasil Urgente. A Band Bahia é a atual cabeça-de-rede da Band Nordeste, que reúne as afiliadas da Bandeirantes nos estados da região.
1.10 - REDE BAHIA DE COMUNICAÇÃO
Considerado um dos maiores gaps político-empresarial do grupo da família Magalhães, a TV Bahia foi inaugurada em 10 de março de 1985. Conforme já mencionado, de início operou filiada à Rede Manchete e dois anos depois se associou à Rede Globo mediante acordo que envolveu o então ministro das Comunicações e Roberto Irineu Marinho.
No final dos anos 80 foi iniciada a formação da Rede Bahia de Comunicação, cadeia regional que atualmente congrega, além da TV Bahia, cabeça-de-rede, as seguintes emissoras: TV Santa Cruz, sediada na cidade de Itabuna, sul do estado, e que atende parte da região cacaueira; a TV Sudoeste, localizada em Vitória da Conquista, a terceira maior cidade baiana e epicentro econômico do sudoeste; a TV Subaé, sediada em Feira de Santana, segunda cidade mais importante do estado; a TV São Francisco, localizada na cidade de Juazeiro, quinta maior cidade baiana e grande polo de produção de frutas; e a TV Oeste, sediada em Barreiras, centro de maior destaque da região Oeste e a décima-primeira em população no estado. Trata-se da rede de maior capilaridade na Bahia, atingindo 13 milhões de telespectadores, maior parque de mídia do Nordeste.
Com dificuldades econômicas, em 2012 um terço das ações da Rede Bahia foi adquirido pelo grupo paulista Empresas Pioneiras, sediado em Campinas e controlador das Emissoras Pioneiras de Televisão (EPTV).
Após alcançar o maior índice de audiência entre todas filiadas da Rede Globo no país, fato ocorrido em 2014, em 2107 a TV Bahia começou registrar reiteradas perdas de pontos para a Record-TV Itapoan, situação que prossegue oscilando entre o primeiro e segundo lugar no intervalo das 12h às 14h. Com o objetivo de enfrentar a maior concorrente, em agosto de 2018 o grupo contratou a apresentadora Jéssica Senra, que passou a comandar o programa Bahia Meio-Dia. A jornalista levou à emissora narrativa inclinada ao jornalismo mais popular, já que as concorrentes, não só a Record assim como a TV Aratu, já vinham se pautarando nesta estratégia no mesmo intervalo horário.
Atualmente, também integram a Rede Bahia de Comunicação o portal regional iBahia.com, afiliado à Globo.com e com sede em Salvador, as rádios Globo FM, Bahia FM, Jovem Pam Salvador e Bahia FM Sul, emissora localizada na cidade de Itabuna e que atinge 28 municípios da região sul.
1.11 - O IRDEB
O Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), primeiro e único parque público de comunicação do estado, iniciou sua atuação em 1969, embora não com o desenho jurídico atual mas como ação radio educativa para formação de professores. Iniciativa, à época, da Secretaria de Educação do Estado da Bahia. Posteriormente, já como Irdeb, passou a funcionar no subsolo da Biblioteca Central dos Barris e em 1977 ganhou sede própria situada no final de linha do bairro da Federação, onde também abriga um teatro e uma videoteca, atualmente desativada. O IRDEB, órgão vinculado à Secretaria de Educação, congrega a Televisão Educativa da Bahia, a TVE, e a Rádio Educadora FM.
EDUCADORA FM
Primeiro veículo do Irdeb, a Educadora FM foi inaugurada em 31 de março de 1978. A proposta era se colocar como alternativa à atuação de artistas baianos que não tinham acesso às emissoras comerciais. Ao longo dos seus 42 anos foi o porto seguro de muitos valores musicais e de outros segmentos da cultura que lá puderam exibir seus trabalhos e dar curso às suas carreiras.
A Educadora FM é marco de uma revolução radiofônica na Bahia. Conforme a jornalista e professora universitária Daniela Souza, que durante oito anos atuou na emissora, “a rádio (Educadora FM) é uma encruzilhada onde os mais diversos ritmos se cruzam e as várias gerações puderam trocar notas musicais”. Uma das mais memoráveis iniciativas da emissora foi o Festival de Música Educadora, idealizado pelo jornalista Humberto Sampaio e que durante muitos anos esteve sob a responsabilidade do radialista Tom Tavares.
Ousar e inovar, esta é a proposta sempre em curso da emissora. Em 2003 começaram a ser veiculados programas dedicados ao jazz, rock, blues, reggae, salsa e black music, entre outros gêneros, o que rendeu a vinheta “O que é bom a gente toca”. A concepção dessa grade foi, basicamente, pensada por Humberto Sampaio e reformulada na gestão do radialista Mário Sartorello.
As mudanças prosseguiram. Em 2006 outro produto foi levado ao ar, o programa Multicultura, ou simplesmente “Multi”. Conforme a jornalista Márcia Moreira, que junto com a colega Doris Pinheiro criou o conteúdo, a Educadora FM não era uma rádio com características de jornalismo. “Comecei a esboçar o que viria a ser o Multicultura. Parti do princípio de que a Cultura era a espinha dorsal do Irdeb e, consequentemente, da Rádio Educadora, ambas sempre voltadas à divulgação e valorização dos artistas da terra e da cultura baiana”, explica. Márcia recorda que o Multicultura formou um time de comentaristas de altíssima qualidade: o professor Ubiratan Castro (in memorian); Jaime Sodré (in memorian); Carlos Barros; Paulo Costa Lima; Nelson Pretto; Messias Bandeira; Juliana Ribeiro; Lygia Aguiar; Justino Marinho; Claudius Portugal; Vanda Machado; Doris Pinheiro; Eugênio Afonso; Claudio Marques; Vevé Bragança; Monica Vasku; Lorena; Gustavo Castelucci e Jorge Sanmartin. Este último, um dos mais destacados cronistas esportivos da rádio baiana e autor do livro O fantástico mundo da bola.
Num primeiro momento, o Multi foi apresentado por Márcia Moreira e Doris Pinheiro. Posteriormente, Márcia passou a dividir o microfone com Daniela Souza. “Não abrimos mão que duas mulheres ancorassem”, sustenta. Na opinião de Doris Pinheiro, que chegou ao Irdeb em 1988 onde atuou em todos os veículos do instituto como apresentadora, repórter e criadora de diversos quadros e conteúdo, a Educadora FM sempre teve relação marcante com a cultura baiana. “Passamos a transmitir as festas populares de uma forma muito especial”, ressalta a jornalista.
Neste sentido, Daniela Souza destaca a importância da atuação dos servidores do instituto. “O Irdeb é o que é pelo conjunto dos seus funcionários que ao longo do tempo dedicam suas vidas para construir esse espaço de comunicação, educação, cultura e memória”, arremata a jornalista, que foi a responsável pela implementação online do Festival de Música Educadora FM.
No quadragésimo aniversário da rádio foi lançado o documentário “40 anos da Educadora FM”, que apresenta parte da história da emissora e está disponível no canal do Irdeb no YouTube. O filme reúne depoimentos de artistas, jornalistas e ex-funcionários que passaram pela Educadora.
Nos últimos quatro anos a rádio intensificou as transmissões ao vivo de shows de grandes nomes da música brasileira. Na maior parte, com exclusividade. E sempre esteve presente nas coberturas do Carnaval de Salvador e no São João do Pelourinho.
Um dos seus mais recentes produtos, lançado em 2019, foi o Giro Nordeste, programa integrado por rádios públicas da região, iniciativa do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste, o Consórcio Nordeste. O programa é veiculado de segunda a sexta, às 20h.
A Educadora FM é um dos players do Portal do Irdeb, de onde também sua programação é disponibilizada via streamings ou podcasts. Além disso, a emissora tem perfis nas redes sociais Instagram, Facebook, Twitter e YouTube, esta última rede dividindo com a TVE. Já o programa Multicultura também está presente no catálogo da plataforma Spotify.
A TVE
O segundo veículo do Irdeb foi a Televisão Educativa da Bahia, a TVE. Fundada em 9 de novembro de 1985, à semelhança da coirmã, a Educadora FM, a emissora também marcará forte presença no cenário cultural do estado. Além da produção própria de conteúdos de altíssimo nível, a TVE se lançou à missão de resgatar, mediante produções documentais, aspectos da cultura baiana que praticamente permaneciam recônditos em diversas regiões de um estado de grande dimensão territorial e que hoje é dividido em 27 territórios de identidade.
Coube à emissora pública da Bahia fechar o século XX dando uma das maiores contribuições, se não a maior, ao resgate sociocultural das diversas “Bahias”. Entre 1996 e 1999 foi produzida a série documental Bahia Singular e Plural. Conforme o jornalista e escritor Antonio Pastori, um dos que esteve à frente do projeto como diretor, pesquisador, roteirista e editor, a premiadíssima série, exibida não apenas no estado mas também a nível nacional, “foi um dos principais marcos históricos da televisão baiana”. A produção envolveu equipes da TVE e Educadora FM e teve marca criada a partir dos desenhos do memorável pintor e artista plástico argentino-baiano Carybé, que entre muitos trabalhos foi responsável pela ilustração de diversos livros do escritor Jorge Amado.
“Por intermédio de carta deixada antes da sua morte, ele (Carybé) dizia que viu a magia dos seus desenhos ganharem movimento. E meses antes de falecer, teve a felicidade de ver sua obra ganhar animação mediante as vinhetas criadas para a série”, afirma Pastori. A trilha sonora do Bahia Singular e Plural foi assinada pelo maestro Fred Dantas a partir de intensa pesquisa. E a narração de muitos dos seus episódios, com destaque para O Recôncavo na Palma da Mão, foi feita pelo reconhecido ator baiano Harildo Deda.
Na opinião de Pastori, a série coaduna “com o que o geógrafo Milton Santos defendia de uma forma genial no seu olhar de uma nova Geografia”. Neste sentido, o jornalista explica que “existe um casamento entre esse pensamento (de Milton Santos) e o trabalho que nós fizemos no mapeamento cultural e paisagístico da Bahia”.
A partir de 2007, com a criação da TV Brasil por parte da Empresa Brasileira de Comunicação, a EBC, a emissora incluiu na sua grade a programação da nova TV, mas mantendo a parceria com TV Cultura de São Paulo, da Fundação Padre Anchieta. Dois anos depois desfez a parceria com o órgão paulista e passou a exibir boa parte da programação da TV Brasil, compondo com sua produção local, embora minoritária.
Em 2019 a TVE incrementou processo de digitalização do sinal no interior do estado. E neste mesmo ano firmou parceria com o Deutsche Walle (DW), parque público de comunicação alemão, quando iniciou a exibição dos programas “Futurando”, que aborda ciência, educação, meio ambiente e tecnologia, e o “Camarote 21”, dedicado à cultura e arte contemporâneas.
Atualmente, já são 58 cidades baianas que recebem o sinal digital da emissora. Neste ano de 2020 atingiu os seguintes territórios: Piemonte Norte do Itapicuru, Chapada Diamantina, Itaparica, Vale do Jiquiriçá, Piemonte da Diamantina e Costa do Descobrimento. Segundo o secretário de Educação da Bahia, Jerônimo Rodrigues, a iniciativa representou investimento na ordem de R$ 1,2 milhão, o que resultou no alcance de mais 746.085 mil pessoas. "É uma TV pública responsável por informações importantes, sérias e estratégicas, composta por uma programação rica e diferenciada”, destacou Jerônimo Rodrigues sobre a necessidade de ampliar a capilaridade digital da TVE.
Entre os conteúdos da emissora, estão: o Soterópolis e o TVE Revista, que tratam de temas culturais, o TVE Notícias, os programas esportivos Cartão Verde Bahia e TVE Esporte, o Palco TVE, que exibe shows de grandes artistas e os melhores momentos das festas populares, o Perfil & Opinião e o TVE Entrevista Especial, programas voltados a entrevistas com personalidades da política brasileira. A emissora também faz transmissões especiais do Carnaval de Salvador, do São João do Pelourinho e de algumas cidades onde os festejos juninos têm relevância, o que não ocorreu este ano em decorrência da pandemia.
Há cerca de quatro anos vem intensificando transmissões esportivas regionais, como o Campeonato Baiano Intermunicipal de Futebol, a Segunda Divisão do Campeonato Baiano de Futebol, o Campeonato Baiano masculino sub-15, a Copa 2 de Julho Sub-15 masculino e o Campeonato Baiano sub-20 masculino.
Além do sinal digital para captação em aparelhos convencionais de televisão, a TVE transmite sua programação pelo portal www.irdeb.ba.gov.br, na sua página no Facebook e no canal da emissora no YouTube. E mantém contas para divulgação da programação nas redes Instagram e Twitter.
1.12 - REDE METRÓPOLE
A primeira rede de comunicação do Estado implantada no século XXI foi o grupo capitaneado pela Rádio Metrópole FM, fundada em 30 de abril de 2000 e que substituiu as emissoras Cidade FM e Rádio Clube de Salvador. É o marco inicial da rede pertencente ao ex-prefeito de Salvador e radialista Mário de Melo Kertész. Seus veículos de comunicação estão abrigados no portal de notícias Metro1, onde também disponibiliza, via download, o PDF do Jornal da Metrópole, que até 2018 circulou impresso.
A programação da Rádio Metrópole FM tem como principal âncora seu próprio proprietário e se caracteriza pela veiculação de conteúdos jornalísticos e de debate, além de programas populares e transmissões esportivas. Seguindo tendência mundial, em 4 de maio de 2019 a Metrópole FM encerrou suas transmissões na frequência AM 1290 kHz e passou a transmitir apenas no prefixo digital FM 101.3 MHz. Dos 417 municípios baianos, a Rede Metrópole atinge 300 em diversas regiões do estado mediante formação de rede com emissoras do interior. O site do grupo, o www.metro1.com.br, nos três primeiros meses de 2020, conforme informação da própria empresa, registrou 11,6 milhões de acessos, crescimento de 89% em relação ao mesmo período de 2019. O grupo também possui perfis nas redes sociais Facebook, Twitter, Instagram e no aplicativo de mensagem instantânea WhatsApp. Estas plataformas servem de hubs para rotear os conteúdos do portal e da rádio - que estão em convergência - e também para streamings de alguns programas da emissora que são veiculados em formato audiovisual, seguindo tendência das novas narrativas de webradio.
1.13 - BAHIA NOTÍCIAS
Iniciativa do jornalista Samuel Celestino e do empresário Ricardo Luzbel, o portal Bahia Notícias foi fundado em dia 7 de agosto de 2006. Atualmente, conta também com a webradio Rede Bahia Notícias (RBN). Celestino é colunista decano do A Tarde e tem forte presença na mídia baiana.
O BN veicula conteúdos em sete editorias - esportes, holofote, cultura, saúde, justiça, municípios e mulher - e mantém programa específico no seu canal do YouTube, o 3 em Pauta, além do conteúdo radiofônico Isso é Bahia, este em parceria com A Tarde FM e apresentado pelo editor Fernando Duarte e o radialista Jefferson Beltrão. Nas redes sociais, faz transmissões diárias ao vivo na sua página no Facebook do quadro BN na Tela.
No final de 2019, segundo dados informados pelo próprio portal, o site fechou o ano contabilizando 64.1 milhões de acessos únicos, o que correspondeu o salto de 30% em relação a 2018, conforme métricas do Google Analytics. A mesma plataforma informa que mais de 5,5 milhões de usuários chegaram ao Bahia Notícias mediante redes sociais.
2 - PANORAMA ATUAL
VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO
CONCESSÕES DE RÁDIOS COMERCIAIS
Salvador possui atualmente 53 concessões de rádio feitas pela Agência Nacional de Telecomunicações, a ANATEL, conforme pode ser consultado no site do órgão federal. No Estado, são cerca de 1500 rádios.
TVS COMUNITÁRIAS
Conforme o último levantamento da Frente Nacional pela Valorização das TVs do Campo Público (Frenavatec), dos 258 municípios onde são oferecidos os serviços de operadoras de TV a cabo, existem 72 canais comunitários em funcionamento em todo o Brasil. Cinco (5) desses canais comunitários de televisão operam na Bahia, sendo apenas um deles em Salvador, conforme mapeamento de TVs comunitárias disponível em modelo de georreferenciamento no Google Maps.
CANAL COMUNITÁRIO EM SALVADOR
- TV Comunitária de Salvador-BA / Canal 08 – NET
OUTROS CANAIS COMUNITÁRIOS NA BAHIA
- TVJ - Canal Comunitária de Feira de Santana/BA / Maistv – NET
- TVCOM 99 - Lauro de Freitas/BA / Associação dos Usuários da TV e Canal Comunitário de Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador.
- TV Litorânea - Camaçari/BA
- TV Ilhéus/BA / Associação de Cultura Popular de Ilhéus e Região / Canal 3 e 95 – NET
CANAL DA CIDADANIA
Salvador possui a TV Kirimurê, que tem caráter público por não ter fins lucrativos. Integra o projeto Canal da Cidadania, do Ministério das Comunicações
JORNAIS IMPRESSOS EM SALVADOR
- Jornal A TARDE / Grupo A TARDE
- Jornal Correio* / Rede Bahia
- Tribuna da Bahia
- Jornal MASSA! / Grupo A TARDE
PORTAIS DE NOTÍCIAS SEDIADOS EM SALVADOR
- Bahia.ba
- Bahia Notícias
- Bocão News
- Metro1 / Grupo Metrópole
- G1 Bahia / Rede Bahia
- iBahia / Rede Bahia
- Correio24Horas / Rede Bahia
- Portal A TARDE
- Tribuna Online
- Hora da Bahia
- Bahia Sem Fronteiras
- Farol da Bahia
- LeiaMaisBA
- EJR (evilasiojunior.com.br)
- Bahia Jornal
PRINCIPAIS RÁDIOS DE SALVADOR EM TERMOS DE AUDIÊNCIA/ENGAJAMENTO (TODAS DIGITAIS)
- Rádio Bahia FM 88.7
- Rádio Piatã FM 94.3
- Rádio Transamérica FM 100.1
- Nossa Rádio FM 103.3
- Rádio Nova Brasil FM 104.7
- Rádio Salvador FM
- Rádio Itapoan FM 97.5
- Rádio Metrópole FM 101.3
- Rádio A Tarde FM 103.9
- Rádio Excelsior FM 106.1 (Pertencente à Arquidiocese de Salvador)
- Rádio BandNews FM 99.1
- Rádio Sociedade FM 102.5
- Rádio Globo FM 104.3
- Rádio Educadora FM 102.5
- Rádio Gospel Jovens Adoradores (apenas webradio)
- Rádio Delta Gospel FM 87.9
- Rádio Gospel Missão (apenas webradio)
- Rádio Litoral FM Gospel 106.5
- Nossa Rádio FM 103.3
- Rede Bahia Notícias (apenas webradio)
O INTERIOR DA BAHIA
Principais jornais impressos, portais, sites e blogs das maiores cidades da Bahia
CIDADE |
IMPRESSOS |
ONLINE |
BLOGS |
Feira de Santana |
Tribuna Feirense Municípios em Foco Jornal Folha do Estado Jornal Feira Negócios |
Portal da Feira Feira Hoje Municípios Baianos Portal Renato Ribeiro De olho na Cidade Bahia na Política Acorda Cidade Portal Rádio Repórter Correio Feirense Bom Dia Feira Agito Feira de Santana Portal FM Terra de Lucas Caldeirão do Paulão Portal Valter Vieira Portal Dia Feira Jornal Feira Hoje Feira 24 Horas Portal Quarto Poder Notícias FSA - G1 Jornal Grande Bahia |
Blog da Feira Blog CL Blog Terra de Lucas Blog do Itamar Ribeiro Blog Cristovam Aguiar Blog Central de Polícia FSA Blog Por Simas Blog do Joildo Ferreira Blog do Velame Blog do Oliveira Dimas Blog Dilson Barbosa Blog Rota Polícia FSA Blog Repórter Ney Silva |
Vitória da Conquista |
Jornal Impacto Diário do Sudoeste Tribuna de Conquista A Semana |
Núcleo de Notícias Notícias Vitória da Conquista - G1 Vitória da Conquista Notícias Resenha Geral Link Conquista Portal Nildo Freitas Revista Gambiarra |
Blog do Paulo Nunes Blog do Rodrigo Ferraz Blog do Anderson Conquista Agora Blog do Wal Cordeiro Blitz Conquista Karisma News Blog do Leo Santos |
Itabuna |
Radar Notícias Políticos Sul da Bahia Portal Vermelhinho Oziel Aragão Pimenta na Muqueca Bahia Online Diário da Bahia Jornal A Região |
Blog Tempo Presente Itabuna Hoje Blog do Thame Blog do Fábio Luciano Informe Geral de Itabuna Blog Circuito 10 Blog Tabocas Notícias Blog do Val Cabral Blog Expressão Única Blog Verdinho Itabuna |
|
Ilhéus |
Jornal Foco Tropa de Elite R2CPress Ilhéus 24 Horas Reclame Boca Revista Folha da Praia Revista Bellas |
Costa do Cacau Brasilheus Blog do Gusmão Blog do Agravo Blog Rapazói Blog do Jonildo Glória Blog Povos Indígenas Blog O Sarafo Blog do Chicó Blog Comunidade Tia Marita Blog de Ilhéus |
|
Porto Seguro |
Jornal do Sol O Sollo Bahia Dia O Baianão News Na Mídia News Notícias de Porto Seguro - G1 |
Ligeirinho no Esporte |
|
Teixeira de Freitas |
Sul Bahia News Teixeira News Teixeira Verdade Teixeira no Ar O Povo News |
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Barreiras |
Gazeta do Oeste Jornal Nova Fronteira Jornal Novo Oeste Barreiras 24 Horas Fala Barreiras Mais Oeste Mural do Oeste Se Liga Barreiras IOeste ZDA |
Blog do Hailton Pereira Barreiras Bahia |
|
Seabra |
Portal da Chapada |
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Juazeiro |
Jornal A Notícia do Vale Ação Popular O Diário da Região |
Blog da Josélia Maria Blog do Carlos Brito Blog do Geraldo José Blog do Banana Blog Quer Saber Política Daniel no blog |
CELULARES EM SALVADOR
Fonte: Telecom
Dados referentes a Abril de 2020
Total de aparelhos celulares em Salvador: 3.776.380
Densidade: 131,13 por 100 habitantes
MARKET SHARE
OPERADORA |
NÚMERO DE APARELHOS |
PESO % |
OI |
1.340.524 |
35.59% |
TIM |
938.339 |
24.91% |
Claro |
764.224 |
20.29% |
Vivo |
713.518 |
18.94% |
Cinco |
9.004 |
0.24% |
Nextel |
669 |
0.02% |
MODALIDADE
Pré-pago |
2.291.593 |
60.85% |
Pós-pago |
1.474.787 |
39.16% |
TIPO DE PESSOA
5Pessoa física |
3.507.526 |
93.13% |
Pessoa jurídica |
258.854 |
6.87% |
TECNOLOGIA
4G |
2.853.005 |
75.75% |
3G |
563.952 |
14.97% |
2G |
349.423 |
9.28% |
CELULARES NA BAHIA
No estado existem 12,8 milhões de aparelhos celulares, sendo que 9,3 milhões são assinaturas pré-pagas.
3 - ANÁLISE FINAL
3.1 - A MÍDIA BAIANA E A SOCIEDADE CIVIL
SURGE O CONSELHO ESTADUAL DE COMUNICAÇÃO
O chamado jornalismo populista com suas narrativas de apelo ao justiçamento, expondo dramas sociais, reforçando preconceitos e se utilizando de pessoas em vulnerabilidade social para angariar audiências, ampliou seu espaço na Bahia na primeira década do século XXI. Situação que levou entidades da sociedade civil a denunciar graves violações aos Direitos Humanos. É neste contexto que o estado se põe como vanguarda no Brasil e instala, em janeiro de 2012, o Conselho Estadual de Comunicação.
Do final século XIX para início do século XX, quando jornais se prestavam a dedurar “negros fugidos” e condenar manifestações religiosas e culturais afrodescendentes, à capa de A Tarde de 12 de fevereiro de 1975, “Bloco racista. Nota destoante”, protesto do jornal ante a presença do bloco afro Ilê Aiyê no carnaval de Salvador, ou mesmo décadas antes quando o Diário de Notícias da Bahia dava loas às políticas raciais do III Reich, narrativas violentas contra pobres, negros e excluídos sempre se fizeram presentes numa imprensa, com pontuais exceções, historicamente controlada por famílias tradicionais e setores do empresariado local em parceria com grupos de fora do estado.
Meter o dedo nesta ferida não será tarefa fácil. A instauração do Conselho Estadual de Comunicação foi vista com reservas pela grande imprensa do centro-sul e, surpreendentemente, de forma até amistosa por alguns órgãos de maior circulação e audiência na Bahia. Empresas como O Globo e o Estado de São Paulo viam no conselho a tentativa de “tutelar” o jornalismo. Da mesma forma que a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) o denunciava como inconstitucional, “porque cabe à esfera federal legislar sobre o tema”, argumentava a entidade. Velhos clichês que propositadamente buscavam baratinar a opinião pública quanto ao papel dos conselhos reguladores à atuação jornalística, prática comum até mesmo em países capitalistas liberais, como Ingraterra, Alemanha entre outros.
Motivos não faltavam. Um deles foi o relatório A construção da Violência na Televisão da Bahia. Este trabalho, realizado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom) sob a supervisão do professor Giovandro Marcos Ferreira, aponta que a partir de 2005 algumas emissoras de Salvador incrementaram a exibição de programas policialescos e que violavam os Direitos Humanos. O monitoramento contou com as participações das seguintes entidades: o Centro de Comunicação Democracia Cidadania (o CCDC, entidade ligada à UFBA), a Cipó Comunicação Interativa e o Coletivo Brasil de Comunicação Social, o Intervozes.
Dois conteúdos de grande audiência foram monitorados, os programas Se Liga Bocão, apresentado José Eduardo, o “Bocão”, que foi veiculado em diversas emissoras entre 2006 e 2014, e o Na Mira, transmitido pela TV Aratu e comandado pelo jornalista Uziel Bueno, que se notabilizou pelo uso da expressão “o sistema é bruto!”. Ambos, conforme o relatório, assumiam papéis de justiceiros, acusando pessoas em matérias policialescas e sem comprovações. Os alvos dessas narrativas, encenadas com estardalhaços, eram, quase sempre, homens jovens, pobres, negros e que residiam na periferia de Salvador. De acordo com o relatório,
(…) cruzando categorias sexo, faixa etária e raça foi possível identificar o perfil das fontes de informação suspeitas ou acusadas de crimes nas coberturas do Na Mira e Se Liga Bocão: tratou-se de homens, jovens e negros. Somando-se ao local de cobertura este perfil ganhou mais uma característica: a baixa renda. Tal perfil reforça as constatações e denúncias dos movimentos sociais sobre a violação dos direitos humanos que as pessoas com estas características sofrem e que são cotidianamente reforçadas pelos dois programas. Na maior parte dos casos, os crimes dos quais estas pessoas foram acusadas não tinham comprovações, mas o fato de pertencerem a esse perfil foi indício suficiente para o julgamento e a condenação pelos programas e pela polícia (…) (Disponível em: https://bit.ly/3jTbBhY).
O monitoramento apontou, em linhas gerais, quatro principais violações identificadas nos dois programas: contra direitos constituídos; contra direitos políticos; contra a dignidade humana e contra a diversidade (ou direitos difusos e coletivos).
Diante deste quadro, a iniciativa do Conselho Estadual de Comunicação dialogava historicamente com o Relatório MacBride, documento publicado no início da década de 80 por movimentos sociais da América Latina que já reivindicavam o direito à democratização da mídia. Na Bahia, o tema veio à baila, de fato, na agenda política durante a campanha de 2006 à disputa do Governo do Estado.
Um documento foi formulado e subscrito por 28 organizações não-governamentais. Neste ano, quando Jaques Wagner (PT) foi eleito com 52,89% dos votos, o texto lhe foi entregue após o pleito, uma vez que não havia sido concluído no decorrer da campanha. Contemplava 27 propostas para políticas públicas de comunicação e destacava a Conferência de Comunicação como etapa de planejamento e o Conselho Estadual de Comunicação como órgão consultivo e deliberativo dessas políticas.
Após cinco anos de acalorados debates, em abril de 2011 a Assembleia Legislativa aprovou a proposta do governo de regulamentação do artigo 277 da Constituição da Bahia e criou o Conselho Estadual de Comunicação Social (Lei 12.212/2011), que foi instalado no início de 2012. O comando ficou a cargo do então secretário de Comunicação Robinson Almeida, que conduziu o órgão até 2104, quando se desligou da presidência para concorrer a uma vaga na Câmara Federal. No entanto, os movimentos sociais e coletivos ligados à democratização da comunicação criticaram duramente o fato de o secretário de plantão da pasta presidir o órgão, conforme texto aprovado pela Assembleia Legislativa. Para algumas destas entidades, o conselho perdera seu caráter democrático.
Atualmente, o CEC é presidido pelo atual secretário, André Curvello, e é constituído por 27 membros, sendo sete do poder público e 20 da sociedade civil. Entre suas atribuições, constam a proposição de medidas para o aperfeiçoamento da Política Estadual de Comunicação Social, a atuação em defesa dos direitos da sociedade ligados à mídia e a articulação de ações para que a distribuição das verbas publicitárias seja baseada em critérios técnicos de audiência e garanta a diversidade e pluralidade.
3.2 - O TRAUMÁTICO PARTO PARA O DIGITAL
Transcorridas duas décadas do século XXI, os meios de comunicação na Bahia já estão completamente integrados às plataformas digitais. Não haveria outro caminho. Conforme pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil, entre 2016 e 2017 o estado passou de 7,3 milhões de Internautas para 8,1 milhões. Em um ano, foram mais de 800 mil pessoas com acesso à rede. Salto de 13,7%. Seguramente é a despeito da crise econômica em curso, este número já é maior. E embora ainda seja grande o déficit de acesso à Internet no estado, atualmente com cerca de 15 milhões de habitantes, trata-se de contingente expressivo, posto que atinge mais de 50% da população. Quadro que implica em mudanças substanciais no comportamento das audiências engajadas. As novas gerações consomem e também produzem conteúdos buscando intensa interatividade nas redes sociais.
Estas profundas alterações na economia da atenção resultarão no declínio da chamada imprensa escrita. Matéria publicada no site da Associação Baiana de Imprensa em 2 de fevereiro de 2018 já apontava a queda de circulação dos jornais impressos. Emissoras de rádio e TV em total convergência com seus portais já começam a debitar mais preocupação com os engajamentos dos públicos do que necessariamente com as audiências, muito embora esta mensuração não tenha de todo caído em desuso. Aferir audiência não mais se dissocia de monitorar e auditar os percursos dos conteúdos veiculados.
Doravante, reter atenção se traduz em curtidas, reações, comentários, tuites, retuites e compartilhamentos. A despeito da maioria do público de produtos tele narrativos e radiofônicos da Bahia continuar consumindo de forma convencional, ou seja, unidirecional, os modelos de comunicação multidirecionais avançam em gradiente crescente.
São as tramas transmídias. Programações veiculados nas TVs e rádios já não mais se encontram recônditas às grades das emissoras. Estão disponíveis para acessos on demand. Streamings no Instagram, Facebook, YouTube e outras redes complementam e dialogam com as entregas convencionais. Programações híbridas nas quais determinados conteúdos são veiculados num formato para TV ou rádio e noutros para as redes sociais, tendo nas hashtags e QRcodes os mecanismos que realizam a centrífuga entre a velha e as novas mídias.
Portais agora são hubs roteadores de conteúdo. A busca de atrair e reter atenção tem requerido estratégias de broadcasts para “enriquecer” os feeds e times lines dos órgãos noticiosos e os de reenquadramentos noticiosos. Impera o jornalismo de dados.
Estes movimentos alterarão os modelos de negócios. Com pontuais exceções, quase todos os portais baianos estão reféns do Google Adwords, principal serviço de publicidade e fonte de receita da gigante do Vale do Silício. É o capitalismo de predição, ou vigilância, que agora norteia e determina a veiculação publicitária nas plataformas. Cada clique, curtida, visualização, comentário, compartilhamento ou quaisquer interações são factíveis de rastreamento pelo Google. A empresa da Califórnia define, a partir de cálculos métricos e estudos psicométricos, onde e quando lança um banner ou peça publicitária em determinado site ou portal, a depender do comportamento do usuário. Na maioria dos portais e sites, a gestão da publicidade foi praticamente terceirizada ao Google, que é proprietário da maior plataforma de conteúdos audiovisuais do mundo, o YouTube.
4 - CONCLUSÃO
O jornalismo 3.0 chegou. Quais tendências à frente? Não basta estar na rede, tem que saber entregar conteúdo. Cenário complexo. O que pode ser um desafio é também oportunidade para os órgãos de imprensa da Bahia. A disputa não está mais circunscrita entre seus pares. Ampliou. Agora se dá, também, com youtubers e digitais influencers. O front jornalístico se estendeu ao Twitter, Facebook, Instagram, YouTube e, recentemente, ao TikTok. A Sociologia Digital passa ser área de conhecimento determinante nas redações e seu estudo rotina. Em pleno momento da ciência de dados e da ascensão da midialogia, os meios de comunicação da Bahia buscam agora se reposicionar na selva dos algoritmos. É também o momento de estabelecer a ética como valor indissociável da praxis jornalística. As novas gerações exigirão. Por conta de tudo que ocorreu no passado e se reflete no presente.