Tema: Dança
Por Lia Robatto Coreógrafa, professora e pesquisadora em dança. Criadora da Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia – FUNCEB. Professora aposentada da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

A cultura é uma das formas de organização do cotidiano para responder aos variados desafios da vida, num processo sensível de estruturação e transformação da realidade. A cultura tanto é reflexo como reflexão da sociedade, adaptando-se à sua dinâmica, contextualizando aspectos político-sociais diferenciados, agregando um sentido de pertencimento à comunidade que a produz, e imprimindo um valor significativo ao artista que cria, ao artista que interpreta ou à comunidade que usufrui do seu processo e do seu produto. A cultura, as artes e especificamente a dança estão constantemente contribuindo direta ou indiretamente com a aquisição de novas perspectivas da vida, com a revisão de conceitos, provocando transformações tanto individuais, subjetivas, como coletivas, sociais.

 

Fotografia: Silvio Robatto

Uma das funções da dança é despertar múltiplos olhares imaginados sobre cada indivíduo, cada grupo, cada comunidade, inventando possibilidades, revelando territórios na ordem da poesia, das narrativas, das memórias, dos sentimentos, das ideias, das utopias, sem fronteiras estabelecidas. Um olhar sobre a atuação artístico-profissional de qualquer dançarino, coreógrafo ou grupo de dança, requer uma reflexão sobre o contexto político, social e cultural onde, quando e como cada artista atua, ou seja, requer uma consideração sobre as condições circunstanciais que envolvem as manifestações populares, os produtos artísticos ou/e os trabalhos acadêmicos, com uma perspectiva da sua efetiva função na sociedade. A dança pode oferecer experiências singulares que marcam as relações entre as pessoas, comunidades e entre públicos, revelando aspectos próprios e modos de vida, como subsistemas de organização social, produzindo formas peculiares de simbolizar o mundo – manifestações constituindo-se expressivas e necessárias, que sempre são únicas e insubstituíveis.

A arte, incluindo a dança, tanto se beneficia de épocas de bonança como enfrenta com criatividade as crises, e com seu espírito de resiliência e/ou de combatividade aponta situações perversas tais como a injustiça social, a repressão à liberdade de expressão, a inércia e marasmo cultural, a decadência dos costumes etc. superando eventual esgotamento e saturação de ideias, transformando ultrapassadas representações estéticas e criando estratégias para o confronto com os inevitáveis embates da vida. Portanto há que se analisar o percurso da dança na Bahia, com seus sucessos, retrocessos, suas dificuldades, limitações e possibilidades, sob uma ótica específica de cada área de abrangência para que se faça uma reflexão que contemple a mais ampla gama de manifestações e atividades e que considere as mais diversas comunidades, desde representações regionais tradicionais como no âmbito artístico profissional ou acadêmico, abarcando artistas independentes com atuações relevantes, assim como companhias de dança estruturadas ou grupos que vêm se organizando em coletivos de produção alternativa. Este verbete pretende apenas apontar para as vertentes de danças na Bahia e suas modalidades.

A dança da Bahia tem alcançado uma dimensão universal quando apresenta seu forte vínculo com o contexto social onde é produzida, facilmente reconhecível pelo tipo de movimentação e pelas características dinâmicas corporais, intransferíveis, de seus dançarinos, portadores de sua cultura.

Na Bahia, as danças religiosas ou de entretenimento e lazer, manifestação tradicional popular anônima ou erudita contemporânea, proposta artística assinada, profissional ou amadora, são configuradas em espetáculos coreográficos, em ritos sagrados, em festas comemorativas, em práticas cotidianas de trabalho e entretenimento, a partir das mais variadas manifestações de danças, cantos, ritmos, dramatizações, jogos, brincadeiras, entre tantas outras expressões culturais.

No percurso da história da humanidade, a dança, em quase todas as culturas e em quase todas as épocas, configura-se, primordialmente, como um fenômeno coletivo. A dança tem sido um agente socializador por excelência. A dança na Bahia é um exemplo dessa sua capacidade catalizadora de agregação.

 

DANÇA, PATRIMÔNIO ARTÍSTICO DA BAHIA

De onde vem todo esse manancial da cultura brasileira, esse alimento que nos faz especialmente novos, arcaicos e contemporâneos, livres e rebeldes, mas irremediavelmente nacionais? (...) um patrimônio intangível daqueles que negaram o esquecimento em torno do baobá, para aqui derramar e transbordar essa cultura sensorial e concreta no trabalho do eito, das minas de ouro e das pedras preciosas, das casas, das mães de leite, mas também das cavalhadas, nas representações dos Bois-bumbás, nos cortejos dos Reis de Congo, dos Maracatus, dos Afoxés, dos Candomblés, dos Guerreiros de Alagoas, das músicas das igrejas barrocas? Toda essa ancestralidade da África se mescla, como num banquete antropofágico, supimpa e refinado, com a nossa herança indígena, transformadora e definitiva.

Araújo, Emanoel. Exposição Brasileiro, Brasileiros. Museuafrobrasil. SP 2005

 

A Bahia é portadora de um valioso patrimônio artístico. Seu patrimônio imaterial apresenta um rico acervo de manifestações de dança muito diverso, considerado um valioso bem cultural intangível, oriundo de comunidades tradicionais regionais ou de guetos urbanos da periferia, ou ainda de profissionais com formação técnica e/ou acadêmica. Dançarinos e coreógrafos que expressam o seu universo através de uma movimentação corporal e códigos gestuais impregnados de um significado poético que pode transcender a realidade cotidiana, uma forma criativa de encontrar um sentido em sua vida. Suas danças tanto podem ser memórias de um repertório cultural como produtos das mudanças de mentalidades na constante dinâmica de cada comunidade portadora, mantenedora e recriadora dessas linguagens. Infelizmente essa diversidade de danças da Bahia reflete também uma histórica desigualdade social.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

IDENTIDADE

Através de suas danças a Bahia revela sua identidade, quase sempre mutante pelo natural fluxo entre outros saberes, abrangendo uma diversidade de manifestações tanto mantenedoras como inovadoras, que constituem um caldo cultural representativo dos diversos grupos de indivíduos e grupos sociais formadores do seu povo.

O Brasil, e especificamente a Bahia, primeiro território colonizado, foi violentado na sua identidade, quando da chegada dos portugueses. Os jesuítas fincaram na terra “virgem” o marco do cristianismo, a cruz, símbolo da sanha colonizadora, numa catequese avassaladora, subjugando a cultura tribal, maculando a alma dos nossos índios, satanizando suas crenças. Sob a ótica dos padrões “civilizatórios” do poder colonizador através da Igreja Católica, desqualificaram os valores fundamentais da cultura indígena, desmoralizando seus costumes. Essa mesma violência cultural deu-se com os escravos africanos que, no entanto, aqui conseguiram desenvolver significativa capacidade de resistência, enfrentando estigmas impostos, em geral, via um processo de sincretismo cultural. Assim, nossa identidade mestiça teve sua integridade comprometida desde o início, pois as drásticas transformações não aconteceram pela troca e interação voluntária, mas foram impostas pelo português conquistador. A relação histórica tripartida das culturas (ibérica dos colonizadores, ancestrais do povo indígena da terra e dos africanos para aqui trazidos escravizados) resultou numa identidade híbrida imposta e assimétrica, entre dominados e dominadores.

Na cultura tribal das diversas nações indígenas, assim como na cultura das diversas nações africanas, predomina a crença nas forças telúricas como entidades divinas da natureza, configuradas em manifestações corporais dançadas. Na cultura portuguesa do século XVI e XVII, há que se destacar as narrativas lendárias medievais, especialmente sobre os mouros, na excelência da sua literatura, como a de Camões sobre os grandes feitos marítimos, sua arquitetura, sobretudo as imagens de santos, os ornatos e adornos internos das igrejas, e as manifestações católicas da contrarreforma, dando vazão à exacerbação de todos os sentidos que resultou na exuberância barroca, com a espetacularização das procissões de grande porte, como as de Corpus Christi e os Autos de Fé de caráter dramático, ricamente pomposas. Essas características propiciaram uma “cultura tropical” com a formação de manifestações dramatizadas de dança, de grande variedade rítmica.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

Três vertentes principais das danças baianas: como manifestação coletiva popular, como ritual sagrado, como expressão artística, autoral. E, por sua vez, cada vertente apresenta uma grande diversidade de modalidades.

Os participantes e portadores de cada manifestação de dança desenvolvem um sentimento de distinção, com orgulho de sua marca peculiar, diferente das demais, com um olhar mais focado nos detalhes que os separam em vez de uma perspectiva do que os une pelas semelhanças com as demais danças locais. Trata-se da necessidade de pertencimento grupal, que passa por várias camadas, partindo do reconhecimento que atende a uma ou mais questões identitárias simultaneamente, por exemplo: de identidade étnica, de gênero, de ancestralidade, de religião, de territorialidade, de luta, de ofício, de faixa etária, de coletividade, de celebração, de inserção global, entre outras.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

Trata-se de danças de identificações comunitárias, na sua maioria tradicionais, quase sempre comemorativas, calendarizadas. Exemplos na Bahia:

  • DE IDENTIDADE ÉTNICA, como um dos marcos mais significativos da Bahia, a DANÇA AFRO-CONTEMPORÂNEA, hoje largamente desenvolvida em cursos livres e regulares, grupos e companhias de dança profissionais de qualquer origem. Essa dança recria livremente características de sua herança étnica através de um processo de síntese. Configurada em ritmos sincopados tradicionais que vibram no corpo todo, movimentos contínuos da coluna vertebral em ondulações e requebros dos quadris, altamente sensuais, manutenção da cabeça no eixo central, sempre altiva, pés plantados percutindo o chão, na busca da energia vital na “terra mãe”. Deslocamentos e corridas súbitas e eventuais saltos, braços soltos jogados em todas as direções, livremente, com gestuais simbólicos numa alusão às narrativas ancestrais evocando signos sagrados. Sempre dançada coletivamente, com música ao vivo, geralmente um trio de percussionistas. Tipos de movimentação principais: polirritmia percutida nos pés descalços, postura com a coluna ligeiramente inclinada para frente, em arco (salientando a natural lordose do negro) quadris empinados para trás, exploração de articulações com rotação de várias partes do corpo, com ênfase na pélvis e ombros; movimentos de contrapeso compensatório corporais, sem compromisso com o eixo vertical, numa natural economia de esforço; eventuais mimeses de tipos de movimentos de animais, tais como corpos rastejantes e sinuosos como serpentes no chão em contraste com fortes impulsos, lançando com energia, braços no espaço, como asas de pássaros; movimentos centrais com qualidade dinâmica contrastante de contrações e extensões, com raras quebras ou movimentos periféricos ou retilíneos, fluxo contínuo de movimentos ondulados, cíclicos, flexíveis, elásticos; passos repetitivos, numa aceleração crescente até sua culminância onde todo o corpo se expande numa explosão de êxtase e vitalidade. Há uma técnica híbrida estruturada de dança afro, contendo alguns poucos elementos de outras técnicas ocidentais, criada pela coreógrafa professora Rosângela Silvestre adotada por alguns professores para isso qualificados. Porém, cada professor vem desenvolvendo com muita criatividade seu próprio método de ensino; nota-se que alguns deles ainda requerem maior sistematização. Há um predomínio de improvisações de sequências de passos aleatórios, sempre inspirados no ritmo (variações a partir do repertório musical dos ritos do candomblé). Quase todas as aulas de dança afro contemporânea incluem uma parte voltada para a dança dos orixás, numa esquematização de seus passos e gestuais simbólicos, bem como para eventual dramaturgia de suas lendas ancestrais, respeitando-se parte dos ritos interditos, restritos só para os iniciados. É interessante notar a tendência de coreógrafos da dança afro a desenvolver uma concepção e estética cada vez mais contemporâneas, abrangendo um cunho universal. São dezenas, se não centenas, de professores de dança afro em toda a Bahia, hoje grande parte com graduação universitária e muitos pesquisadores em cursos de mestrado, que se organizam para constante reflexão sobre as questões que envolvem esse segmento. Todos os professores e alunos reverenciam os saudosos Mestres King e Augusto Omolú que tanto contribuíram para a formação de professores, coreógrafos e dançarinos ao longo de suas carreiras artísticas que extrapolaram a dança afro.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

  • DE IDENTIDADE DE GÊNERO, como, por exemplo, o SAMBA DE RODA, predominantemente feminino, com destaque para o grupo de Sambadeiras de Cachoeira e Ganhadeiras de Itapoã, tema da Escola de Samba Viradouro, campeã de 2020. Sambas de roda que mantêm a tradição: o de dona Nicinha de Santo Amaro, de Ipirá, o Mucambo, de Tubarão, Filhos do Caquende, Geração Iguape, Dona Dalva, entre outras rodas do Recôncavo baiano. Os homens eventualmente também entram nas rodas de samba, especialmente nas rodas de capoeira com a variante do SAMBA DURO. O samba de roda que é conservado em sua forma tradicional em algumas comunidades, como tão bem descreveu Dorival Caymmi, caracteriza-se por uma “baiana” dançando no meio da roda onde todos batem palmas, com pequenos passos rasteiros, sincopados, jogo de cintura e delicados requebros, finalizando com uma umbigada na pessoa escolhida para substituí-la no centro da roda. Contém uma graça e um carácter sensual de sedução ainda sutil, comparado com os padrões atuais em suas variantes numa chocante degradação de apelo sexual explícito, como a dança da “boquinha na garrafa” e certos pagodes “pancadões”. Há que destacar a tese de doutorado sobre o samba de roda do Recôncavo Baiano de Clécia Queiroz.

Modalidades LGBT - Na Bahia pode-se encontrar também modalidades de danças que atendem à população TRANSGÊNERO, configuradas como atividade profissional ou semiprofissional, em pequenas boates e espaços alternativos, como A Âncora do Marujo e Caras e Bocas em Salvador, danças de show travesti, de gogodance, de drag queen dance, de stripper, de stiletto dance (salto alto)1.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

  • DE IDENTIDADE DE ANCESTRALIDADE, como, por exemplo, DANÇAS TRIBAIS remanescentes das nações indígenas Pataxó, Pankararé, Tuxá, Kiriri, Tumbalalá na Bahia, geralmente em rituais xamânicos de magia, propiciatórios de caça, de plantio e colheita, de iniciação etc. Geralmente as características das danças diferem de uma tribo a outra e a predominância é de participação dos homens, onde raramente as mulheres se misturam durante as danças, submetendo-se a um papel secundário. O uso de máscaras é comum nessas danças tribais e refere-se a seres sobrenaturais, e o gestual reproduz majoritária e esquematicamente os movimentos dos animais. Infelizmente são danças pouco difundidas e menos ainda estudadas.
  • DE IDENTIDADE DE RELIGIÃO, como, por exemplo, danças sagradas dos ORIXÁS nas festas rituais de candomblé, onde se celebra um rico panteão de entidades, uma mistura de cultos de diversas nações africanas aqui involuntariamente reunidas, como jeje nagô, malê, congo angolano (inquice,) queto, banto, entre outros. Após uma série de rituais fechados preparatórios, cada orixá é incorporado na roda pelo chamado do seu toque rítmico, que parece possuir um repertório com mais de mil cânticos transmitidos via tradição oral, onde cada dança corresponde a um canto. Os orixás apresentam-se através de uma dança de origem ancestral, conforme sua relação ontológica e sua função social. O candomblé é de caráter animista, onde se considera os orixás como entidades divinas que representam os elementos da natureza. Cada um possui um papel propiciatório na sociedade além de ter um tipo de temperamento, que é expresso na dinâmica de seus movimentos. Há um rico repertório de lendas tradicionais expressas em poemas e cânticos - orikis (uma síntese ideogramática de atributos dos orixás, vide Antônio Risério, ORIKIS ORIXÁS, Ed. Perspectiva, 2018). Cada pessoa tem um orixá diferenciado dos demais; são manifestações próprias, como as várias evocações de cada Iansã, de cada Xangô, de cada Omolú, de cada Yemanjá, de cada Ogum, de cada Oxóssi, de cada Oxalá, entre muitos outros. Filhos e filhas de santo passam pelo intrincado processo de iniciação, quando são instruídos a respeito dos fundamentos do candomblé, num período variável de recolhimento na camarinha, quando aprendem o básico sobre o “dono de sua cabeça”, que inclui a revelação da forma peculiar de dançar de seu santo. Não existe um estereótipo único de cada santo. São mais de 1.250 casas cadastradas de candomblé só em Salvador, imagine-se a dimensão do contingente de percussionistas e dançarinos iniciados.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

  • DE IDENTIDADE TERRITORIAL, como, por exemplo, os BUMBA MEU BOI (área rural de agropecuária). Trata-se de uma manifestação que contém elementos híbridos das culturas ibérica, africana e indígena, e acontece em quase todo o Brasil, especialmente no Nordeste, e na Bahia pode ter o nome de Boi Janeiro onde apresenta uma forma mais despojada e singela em comparação com os Bois de sotaque de São Luís do Maranhão, por exemplo, sem falar no fenômeno do Boi Bumbá de Parintins. É uma manifestação cênica dramatizada com uma narrativa satírica de forte teor de crítica social, onde o Boi representa toda a economia da região de labuta com o gado. A brincadeira se baseia no drama provocado pelo desejo da mulher “prenha” Catirina de comer a língua do boi do patrão e a obrigação de seu marido, Mateus ou Pai Francisco, de satisfazer esse desejo para não perder a criança, em conflito com o interdito pelo fato dele não ser dono do boi – e toda uma sátira que se desenvolve a partir da questão da partilha do boi, confrontando o povo, gente despossuída, frente aos poderosos, políticos, igreja e proprietários das grandes fazendas, dramatizando toda a dinâmica social local. A Bahia tem no litoral as CHEGANÇAS, MARUJADAS ou NÁUS CATARINETA), que se referem a tradições medievais ibéricas das lutas contra os infiéis mouros. A dança dramatiza as batalhas marítimas. Comemora-se a vitória do catolicismo sobre o islamismo. São manifestações ingênuas e também despojadas, porém encantadoras pela evocação lendária, geralmente realizadas por pescadores de pequenas cidades à beira mar, com trajes de marinheiros2.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

  • DE IDENTIDADE GUERREIRA, a CAPOEIRA. Na Bahia a capoeira tem três modalidades: a) a mais tradicional que vem desde o século XVIII, CAPOEIRA DE ANGOLA; b) uma linha sistematizada nos anos 40 por Mestre Bimba, CAPOEIRA REGIONAL; e c) dança espetáculo, CAPOEIRA CONTEMPORÂNEA, uma adaptação do jogo, sem luta real, produto folclórico mais acrobático e virtuosístico voltado ao mercado turístico. E ainda tem a capoeira livre, praticada nas ruas espontaneamente pelo povo, como jogo, brincadeira e lazer, sem maiores compromissos com seus fundamentos, sua disciplina, seus ritos e hierarquia presentes nas duas primeiras, nem com o apuro técnico corporal da última. Trata-se de uma das expressões da cultura híbrida desenvolvida no Brasil, uma junção dos povos oriundos de diversas nações africanas que aqui foram escravizados. A capoeira é uma manifestação, inicialmente de predomínio masculino (hoje temos na Bahia um significativo movimento de mulheres capoeiristas, como “Mulheres da Pá Virada”). Em seus primórdios essa dança-jogo-brincadeira identificava os negros entre si, propiciando um sentimento de pertencimento e principalmente uma estratégia de resistência através de uma luta corporal dançada em forma de diversão, a partir da ginga do corpo no ritmo dos antigos batuques, toques de berimbau, com um repertório de toques específicos que indicam determinados modos do jogo, e cantos com narrativas, verdadeiras crônicas de época. A capoeira tradicional é jogada de forma rasteira, em duplas, num cordial desafio de golpes, contra golpes, esquivas e muita malícia. Olho no olho, os dois desafiantes ficam atentos ao menor esboço de ataque ou fuga do outro, onde qualquer vacilo pode ser um sério risco. A dupla interage no mesmo ritmo dentro de um espaço compartilhado, a roda de adeptos e músicos, sempre sob a liderança do Mestre a quem se presta todo respeito. Os mestres Pastinha, Bimba, João Grande e João Pequeno são reverenciados pelas novas gerações de capoeiristas.

 

  • DE IDENTIDADE DE FAIXA ETÁRIA, os jovens e debutantes, nos bairros periféricos de Salvador, GRUPOS DE VALSA. Pode ser considerado um rito de passagem urbano contemporâneo onde a dança constitui-se um marco principal e momento de culminância da comemoração, o baile de debutantes, principalmente entre os grupos sociais de menor poder aquisitivo. Com uma dinâmica organizacional semelhante às quadrilhas juninas, essa manifestação surgiu no começo de 2.000, nos bairros periféricos de Salvador. Esses grupos são formados, cada um, por cerca de 20 casais de adolescentes. Surgiram para comemorar as festas de 15 anos das meninas de seus bairros e hoje expandiram sua atuação. Parte de seus gastos é custeada pelos próprios participantes e parte por um eventual cachê de apresentação. No início de sua criação, agregaram jovens leigos autodidatas em dança, que foram se tornando dançarinos semiprofissionais. São grupos com um forte viés romântico (os títulos de seus grupos refletem seu imaginário: Fascinação, Sonho de Valsa, Eterna Paixão, Pura Emoção, Um Só Coração, Sintonia do Amor etc.) e produzem seus figurinos de “gala”, uma ingênua fantasia de viver personagens da “classe nobre”. Apesar de terem um lado ingênuo, esses grupos têm muito valor pela capacidade de realização, aprendizado, organização em condições precárias, mas com muita empolgação pela dança, e vários desses jovens, sem poder aquisitivo, incentivados por coreógrafos profissionais, partiram para aprofundar seus estudos em dança. Hoje organizaram uma associação de dezenas de grupos de valsa e promovem concursos entre si.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

  • DE IDENTIDADE COLETIVA, por exemplo, os BLOCOS CARNAVALESCOS, que refletem a nossa assimétrica sociedade, blocos separados por etnias e classes sociais. Existe uma boa literatura e pesquisas a respeito de autores como Marcelo Dantas, Antônio Risério, Paulo Miguez, Nelson Cadena, entre outros. O Carnaval de Salvador atrai multidões. São mais de dois milhões de foliões - baianos e turistas - nas ruas e 234 entidades em 11 categorias (20 afoxés, 68 afros, 22 de samba, 20 alternativos, 45 blocos de trio, três especiais, três de índios, sete infantis, 26 de percussão, sete de sopro e percussão e 13 de travestidos) cadastradas na Saltur - Empresa Salvador Turismo, responsável pela organização e coordenação da festa. Os BLOCOS AFRO, os AFOXÉS são os que mais desenvolvem a dança em seus desfiles, mantendo uma ala com trajes típicos, que apresenta elaboradas coreografias inspiradas nas suas heranças africanas, assim como a atuação de excelentes dançarinos em cima dos trios elétricos, além da dança desfile coletiva de todos os seus participantes, que podem chegar a mais de dois mil, com destaque para os mais antigos, como o afoxé Filhos de Gandhi, o Ylê Ayê, o Olodum, o Malê de Balê, o Muzenza, e o Cortejo Afro.

Os BLOCOS DE TRIO são comercializados e tornaram-se uma indústria do Carnaval, vendendo a preço alto seus abadás. São liderados por cantores de trios elétricos famosos como no início Dodô e Osmar, Morais Moreira, depois Luis Caldas, que renovou a música axé, e os ainda atuantes Bel Borba, Daniela Mercury, Durval Lélys, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, Timbalada, entre outros. Os foliões pulam o carnaval cantando principalmente axé music, um gênero musical que surgiu na Bahia na década de 1980, misturando o ritmo de candomblé ijexá, samba-reggae, frevo, reggae, merengue, forró, samba duro, ritmos do candomblé, pop rock, bem como outros ritmos afro-brasileiros e afro-latinos, e o povo esquematiza de forma simplista as danças típicas desses ritmos, num resultado, em termos de dança, um tanto medíocre. É interessante notar que não se dança samba nos blocos de Carnaval da Bahia, só nos raros blocos de samba. A indústria do Carnaval primeiro criou a “corda”, levada a duras penas pelos cordeiros, seguranças, corda que separa os foliões com poder aquisitivo do povo da “pipoca”, que pula livremente na rua, sem direito ao abadá de ingresso ao espaço “privado” na rua de cada bloco. Com o tempo desenvolveu-se em Salvador uma modalidade altamente elitizada de separar ainda mais os foliões abastados, o camarote de luxo, montado temporariamente ao longo do percurso carnavalesco de Ondina, com verdadeiras boates internas, onde se dança, principalmente, música dos shows de DJs famosos. Na contramão dessa comercialização, há que destacar o fenômeno da excelente banda “Baiana System”, sem corda, que vem apontando para novas propostas pop musicais e seus fãs dançam em grupos tipo ciranda na rua.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

BLOCOS sem trio, que resgatam canções antigas de carnaval, com predominância de MARCHA RANCHO, com bandas acústicas, como o tradicional “Para o Ano Sai Melhor”, outros semelhantes que hoje saem no Rio Vermelho ou outros no percurso alternativo de Santo Antônio Além do Carmo, como o bloco “De Hoje a Oito”.

  • DE IDENTIDADE GLOBAL, por exemplo, STREET DANCE, Dança de Rua. Os jovens do mundo todo, inicialmente rapazes, encontraram nos anos 80 uma forma de expressão comum através de uma dança urbana das periferias que surgiu nos Estados Unidos na esteira do movimento hip hop. Uma dança de tal beleza e força que explodiu por todas as regiões e nações, com a qual jovens de qualquer etnia, cultura e nacionalidade se identificaram, quebrando fronteiras territoriais. A Bahia, apesar de ter muitas formas próprias de dançar em suas festas de largo, também adotou a street dance, o break, o funk, e hoje conta com muitos dançarinos, coreógrafos e grupos adeptos que se organizam e promovem BATALHAS entre si, com premiações anuais, e participam de festivais locais e nacionais. O bairro suburbano de Plataforma e de Paripe notabilizam-se por estas street dances.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

  • DE IDENTIDADE DE CELEBRAÇÃO, por exemplo, as QUADRILHAS JUNINAS. A festa de São João é uma das mais celebradas na Bahia. Trata-se de uma festa de interior. Há a quadrilha caseira, improvisada com os convidados, com as danças tradicionais ao ritmo de forró, xaxado ou baião, com filas de casais, sob o comando do puxador e o tradicional roteiro de movimentação mimética: “cavalheiros cumprimentam as damas”, “caminho da roça”, “olha a chuva” etc, depois a cena teatralizada do casamento caipira (tabaréu), com variantes ao gosto da turma. E na capital a Prefeitura ou empresas de Televisão promovem Festivais de Forró e Concursos de Quadrilhas Juninas (só em Salvador, cerca de 50 grupos participam da festa oficial com cerca de 5.000 participantes). Trata-se de quadrilhas organizadas, que atuam em seus bairros, sob lideranças locais, e com seus próprios recursos promovem toda a produção, incluindo as sofisticadas fantasias que podem ser até ingênuas na concepção, porém luxuosas no acabamento, seguindo a temática adotada pela quadrilha a cada ano. Os ensaios são disciplinados, intensificados em junho. Sob uma liderança rigorosa do(a) coreógrafo(a), as apresentações seguem um padrão tradicional, mas sempre em recriações coreográficas engenhosas, criando evoluções grupais caleidoscópicas no espaço, inventando novidades de efeitos cênicos conforme o tema e sua dramatização e conforme a escolha das canções. Há uma forte concorrência entre elas e isso motiva todos a empenharem-se na qualidade da apresentação. Os concursos estipulam regras que são rigorosamente obedecidas, mas não inibem a espontaneidade dos dançarinos participantes que expressam uma empolgação contagiante. Essa festa e sistemas de quadrilhas acontecem de forma semelhante em todo o Nordeste, com especial relevância na cidade de Campina Grande na Paraíba. Destacamos algumas quadrilhas de Salvador: Balão Beijo, Buscapé, Santa Fé, Fogaréu, Forró do ABC, Terra Viva, Forró Asa Branca, Leão do Norte, Cia da Ilha, Capelinha do Forró.

 

  • COMO MANIFESTAÇÃO CULTURAL IDENTITÁRIA, há que destacar uma festa tipicamente baiana, o 2 DE JULHO, promovida pelo povo, onde saem às ruas as mais diversas entidades cívicas, incluindo grupos de dança e música desfilando pela cidade (relembrando o percurso das tropas vencedoras), pois se comemora a Independência da Bahia3, com relevância para a questão de identidade das mais significativas. Nesta festa celebra-se a figura simbólica do CABOCLO, considerando a questão de mulher, configurada em duas esculturas, imagens do caboclo e da cabocla, cada um em seu carro alegórico puxados à mão pelo povo, que representam tanto o HERÓI E HEROÍNA PATRIÓTICO (A) guerreiro (a), como a ETNIA INDÍGENA do povo da terra, e ainda uma ENTIDADE RELIGIOSA muito reverenciada nos CANDOMBLÉS da Bahia, acumulando, portanto, três símbolos numa mesma figura histórica, o caboclo. Existe um ditado popular na Bahia, “chorar no pé do caboclo”, bem significativo dessa imagem metafórica.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

Há que reconhecer a importância da salvaguarda dos bens imateriais e a motivação para manutenção ou recriação de uma manifestação popular em vias de desaparecimento ou de descaracterização. Processo significativo não só no âmbito histórico-cultural, mas também no âmbito da subjetividade, pois são referências que marcam um sentido de pertencimento aos detentores daquela manifestação. No entanto, a opção e a iniciativa de preservação, ou transformação, devem partir dos herdeiros diretos daquela tradição. A política acertada seria atender às legítimas demandas culturais das comunidades portadoras das manifestações ou restringir-se ao registro das mesmas, visando a sua memória e principalmente sua valorização através da sua difusão.

Uma definição de dança como popular, dança sagrada ou dança artística é uma classificação um tanto arbitrária, pois na realidade da cultura baiana, suas fronteiras são flexíveis, por vezes intercambiáveis. Podem-se encontrar traços do viés de uma dança no território da outra, produto híbrido das vivências comunitárias e adaptação à dinâmica do contexto sociocultural. A forma de cada dança configura a sua função na sociedade, quase todas mutantes pelo fluxo dinâmico entre outros saberes que inspiram uma diversidade de expressões inovadoras, constituindo um caldo cultural representativo dos diversos grupos de indivíduos e sociais formadores do povo desta terra.

 

FUNÇÃO DA DANÇA NA SOCIEDADE DA BAHIA

Para entendermos qual é o significado da dança para a comunidade baiana, é preciso refletir sobre suas múltiplas funções na sociedade. Para cada grupo de pessoas a dança pode atender a uma ou mais necessidades. Podemos observar, além das necessidades de identificação anteriormente citadas, algumas funções comuns na dança da Bahia.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

  • DESCARGA DE ENERGIA E EMOÇÃO – a dança como entretenimento e prazer –, uma forma de catarse das tensões da vida cotidiana, propiciando um estado de êxtase coletivo: por exemplo, a dança nos “paredões” das comunidades periféricas e, principalmente, a dança na “pipoca” do carnaval de rua na Bahia, onde toda a comunidade é envolvida.
  • UMA FORMA DE MAGIA em busca do domínio de forças ocultas através de gestuais cabalísticos ou de práticas de mimese da natureza, geralmente lideradas por xamãs com poderes extra-sensoriais, com reconhecimento e hierarquia comunitária, por exemplo: algumas danças tribais indígenas da Bahia.
  • RITOS DE POSSESSÃO novos cultos populares híbridos, transformações da tradição africana, menos rígidos que o candomblé, como a macumba, que incorpora alguns elementos de cultos indígenas, do catolicismo e do espiritismo com variantes urbanas, tais como, as danças nas festas de umbanda, as danças das pomba giras, das ciganas, etc, tendo os fiéis como testemunhas.
  • DANÇAS PROPICIATÓRIAS – de tradição oral, familiar e de ofício, como o zambiapungo, de plantio e colheita dos trabalhadores rurais, ou danças de celebração dos ciclos das estações como danças de pesca, por exemplo, a extinta pesca do xaréu na praia de Armação, danças guerreiras, como o maculelê, ou comemorativas dos ciclos da vida, onde todos da comunidade participam.
  • MANUTENÇÃO DAS TRADIÇÕES ANCESTRAIS – propiciando um sentido de pertencimento através da memória das manifestações de dança calendarizadas e reconhecidas pela sua matriz tradicional ou pelas narrativas de sua história, presente nas danças dramáticas populares regionais, tais como a chegança, nego fugido, boi bumbá, ternos de reis etc., tendo sempre à frente dos grupos, um(a) mestre portador(a) das memórias e transmissor(a) oral dessas heranças culturais.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

  • ARTE EDUCAÇÃO – a dança como um método de ensino psicofísico na formação das competências básicas do educando. Trata-se de uma função milenar de integração da criança e jovem na sociedade, e que só recentemente tem sido reconhecida e sistematizada como uma forma de educação para a cidadania, a partir do ECA em 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Ensino de dança aplicado em poucos projetos de ensino governamentais e mais especialmente em organizações não governamentais como, por exemplo, Escola de Dança e Capoeira do Projeto Axé.
  • ARTÍSTICA a dança como forma de autorrelização e transcendência. Obra autoral individual ou grupal, assinada. Expressão subjetiva, elaborada através de pesquisa da linguagem do movimento. Dança como representação simbólica com a função de fortalecer a existência de cada indivíduo e principalmente de cada grupo. Sistema de formação e de produção profissional estruturado.

 

A Universidade Federal da Bahia foi a primeira do Brasil a criar cursos de dança de nível universitário e hoje é a única a ter um curso em nível de Doutorado em Dança. A Bahia tem também uma Escola de Dança do Estado que mantem cursos livres, preparatórios e técnico profissionalizante em dança. São inúmeras academias e escolas de dança particulares. Em termos de companhias profissionais, a Bahia tem só um corpo estável de dança, o Balé Teatro Castro Alves, atuando desde 1981. Apesar de um enorme contingente de dançarinos formados, existem poucos grupos profissionais de dança contemporânea em plena atividade, por dificuldade de sobrevivência artística devido à falta de políticas públicas locais adequadas para a cultura.

Consideram-se três sistemas diferenciados de dança no mundo, incluindo a Bahia: dança popular, dança erudita e dança comercial, categorias que sempre foram estigmatizadas por uma hierarquia. Qualquer classificação artística requer uma delicada e sensível abordagem pelo fato de apresentar traços que podem estar imbricados num só produto ou presentes no mesmo autor. São fronteiras flexíveis, difíceis e talvez desnecessárias de identificar. Utopicamente, o “correto” seria estabelecer um nivelamento entre elas. Seria uma vã tentativa de ignorar a diferença entre essas vertentes. Trata-se de uma questão de especificidades. O equívoco é considerar essas três modalidades como iguais, assim como, por outro lado, valorizar mais a cultura erudita ou produtos da indústria cultural em detrimento das manifestações da cultura popular. Constituem-se em sistemas com conceitos e práticas diferenciadas, que demandam uma perspectiva própria e devem ser vistas pela ótica de sua natureza particular. Não se pode tratar as danças baianas nessas três vertentes culturais como equivalentes, assim como não se pode compará-las em termos de qualidade. É complicado perceber onde se situa a linha divisória entre uma e outra dessas danças, como e quando, historicamente, na Bahia, acontece a separação entre a dança popular, a dança erudita e a dança comercial (para programas de auditório na televisão, para a indústria do carnaval ou do turismo). A articulação entre os mecanismos da criação das manifestações de dança e obras coreográficas autorais e sua função social pode dar-se pela identificação com o ambiente sociocultural onde cada manifestação ou espetáculo é produzido e como é usufruído pelo seu público, respeitando-se a formação dos seus participantes e autores e seu particular processo de criação e distribuição ou circulação. A dificuldade na tentativa de classificação e comparação é criada pela falta de uma consciência da função da dança na sociedade e de uma política pública cultural baiana mais democrática e inclusiva, assim como pela premissa da lógica comercial, tendenciosa, na escolha de distribuição e difusão dos produtos coreográficos setorizados por uma perversa estratégia de domínio do mercado para os públicos de classes diferenciadas.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

MANUTENÇÃO E RUPTURA DAS TRADIÇÕES

Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas no final do século XX. (...). Estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós próprios como sujeitos integrados. Esta perda de um "sentido de si" estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento—descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos — constitui uma "crise de identidade" para o indivíduo.

Stuart Hall, A identidade cultural na pós-modernidade, DP&A Editora, 2006

 

O ser humano é gregário por natureza, e para isso reforça seus emblemas identificatórios expressos por sinais que o vinculem a determinado segmento social, mas também tem a necessidade de transcender sua cultura e de identificar-se com a sociedade em termos mais amplos, extrapolando e ampliando seu horizonte pessoal e comunitário. Essas necessidades aparentemente antagônicas: a manutenção da sua cultura regional, tradicional em contraponto à necessidade de ruptura do sistema estratificado em busca da renovação, são impulsos legítimos, não excludentes e complementares. Enquanto Pernambuco −mesmo considerando seu valioso movimento cultural contemporâneo, por exemplo, com o Mangue Beat− tem uma forte tendência a valorizar, conservar e manter suas atividades culturais tradicionais, particularmente seu maravilhoso acervo de danças populares, tais como o maracatu, o frevo, os caboclinhos, o cavalo marinho, em suas versões urbanas e rurais. Já a Bahia é “novidadeira” e adora recriar suas manifestações de dança popular com risco de perda das tradições, mas com a efervescente dinâmica de participação popular, motivada justamente pelas transformações. Basta levantar os tipos de danças que surgem periodicamente na Bahia que caem na moda e no “hit” da mídia e logo desaparecem, tais como: lambada de origem nortista caribenha, fricote, tititi, é o tchan, axé dance, as variantes “safadas” do samba de roda, como a dança da garrafa, requebra, pagode, pancadão, além das banais coreografiazinhas forjadas a cada ano pelos blocos de trio elétrico no carnaval, e por aí vai. Porém, a cultura baiana tem um substrato na sua múltipla identidade tão marcante que sobrevive a essas descaracterizações periódicas da moda.

Há que considerar tanto as desejáveis mudanças nas manifestações de dança da Bahia, produto das adaptações à dinâmica cultural de cada geração, como também há que apontar para as descaracterizações de manifestações de dança tradicional baiana, quando o mercado do Carnaval promove a banalização da música e consequentemente de sua dança, ou quando, equivocadamente, o governo ou empresas turísticas elegem determinados grupos profissionais folclóricos para representar a cultura da terra, apresentando shows “para inglês ver” com produtos estereotipados da cultura baiana, numa visão chauvinista, caricaturas da nossa realidade cultural, configurados numa grosseira redução da imagem do baiano: uma junção de clichês sensacionalistas, de gosto duvidoso,  evocando sentimentos ufanistas, visando apenas uma rasa lógica de mercado. É importante destacar na contramão desse clichê de baianidade, os grupos amadores de manifestações tradicionais com sua resiliência e a excelente companhia profissional Balé Folclórico da Bahia, que há mais de 30 anos vem, a duras penas, apresentando no mundo todo um admirável trabalho de resgate e recriação coreográfica das manifestações regionais da Bahia.

 

DANÇA PARA CONSUMO

A sociedade atual, em termos universais, notadamente a partir dos anos 80, apresenta uma crescente tendência ao individualismo, complementada com uma acirrada competitividade, mentalidade que vem implantando na Bahia novos hábitos de consumo de serviços, com uma exacerbação egocêntrica de culto ao corpo. Um desses bens de consumo tem sido a disseminação da prática de uma DANÇA DILETANTE, infelizmente não com o objetivo artístico de expressão, mas como ferramenta para moldar corpos num padrão ideal de beleza importado através de exercícios físicos de dança. Trata-se das mais diversas modalidades de dança oferecidas por escolas e academias de fitness particulares espalhadas nas cidades do interior da Bahia e em todos os bairros de Salvador, desde os ditos “nobres” até os suburbanos, incluindo a região metropolitana e comunidades periféricas. Pode-se encontrar aulas para todos os gostos e bolsos, desde fit dancebungee dance (dança aérea com equipamentos) − pole dance reggaetonlive 2 dancecheerleadingtwerking – zouk − zumba – swing baiano – salsa baiana − biorritmo – biodance − tecido (dança aérea circense) − dança do ventre – dança flamenca − danças circulares – dança de salão, até a ragha (dança campista). Convém notar os nomes estrangeiros dessas infindáveis modalidades, o que denota um modismo e o desejo de consumo de lançamentos no mercado de novos “produtos”, no caso, de novas danças fitness. A maioria dos participantes é de mulheres, com algumas turmas voltadas para a terceira idade, mas, curiosamente, grande parte dos professores é formada por homens. Apesar de essas aulas não se constituírem como um movimento artístico, trata-se de um hábito saudável e que oferece trabalho para muitos profissionais da dança.

 

CURSOS DE DANÇA COMO FORMAÇÃO ARTÍSTICA

Fotografia: Silvio Robatto

 

Entre essas academias e escolas de dança particulares acima citadas, várias oferecem cursos de balé clássico, dança moderna e contemporânea, aulas de jazz, sapateado e dança afro. Estas aulas têm um cunho mais sistemático e objetivo artístico, com destaque para a antiga EBATECA, com várias filiais espalhadas pela cidade de Salvador, a Escola de Dança Contemporânea de Fátima Suarez, a Academia de Ballet, além das escolas de professores notáveis como Rosana Abubakir, Tereza Monteiro, Marília Nascimento, Walter Leone, entre outros.

Além de cursos particulares, há na Bahia organizações não governamentais, instituições culturais e órgãos educativos oficiais que mantêm um ensino estruturado de dança, seja como arte-educação ou como formação artística.

A Universidade Federal da Bahia foi a primeira escola de dança de ensino superior no Brasil, fundada em 1956, oferecendo curso de dançarino profissional (bacharelado em dança) e magistério de ensino superior (licenciatura em dança). Projeto visionário do magnífico Reitor Edgard Santos que em meados dos anos 50 criou as escolas de Música, Teatro e Dança, convidando para dirigir esta última a coreógrafa contemporânea Yanka Rudzka, quem implantou a dança na universidade sob o signo da modernidade. Hoje a Escola mantém atividade de ensino, graduação e pós-graduação, pesquisa e extensão. A escola continua como pioneira no Brasil, pois é única na oferta de um curso de doutorado em dança. Seus professores e alunos vêm contribuindo para um significativo acervo de trabalhos de pesquisa publicados pela EDUFBA e trabalhos de extensão coreográficos apresentados em seus palcos, Teatro do Movimento e Teatro Experimental.

No âmbito estadual, a Escola de Dança da FUNCEB foi criada em 19834 mantendo nesses quase 40 anos cursos livres, preparatórios e técnico profissionalizante em nível de segundo grau, atendendo cerca de 1.500 alunos. A maioria de seus alunos é oriunda de uma camada popular e muitos continuaram seus estudos, graduando-se na Escola de Dança da UFBA, alguns obtendo pós-graduação e título de mestrado. Possui um significativo contingente de dançarinos formados, hoje profissionais atuando de forma independente ou em grupos locais, nacionais e companhias internacionais.

DANÇA CONTEMPORÂNEA

Fotografia: Silvio Robatto

 

A produção de espetáculos coreográficos de dança contemporânea na Bahia ao longo dos anos tem sido muito relevante. Desde meados da década de 70 a Bahia realizou importantes eventos nacionais de dança, como oficinas, concursos, ateliês, seminários, que congregavam centenas de grupos e profissionais da dança, mas hoje reduziu sobremaneira esses encontros5. Além do Ballace6, com enfoque em alunos de balé, e outros pequenos eventos em Salvador e nas cidades do interior, a Bahia só mantém um importante de Festival Internacional: o Viva Dança7, para profissionais.

O que a dança contemporânea da Bahia propõe é uma troca de experiências, de absorção de novas ideias e novas formas expressivas com uma consciência crítica através do diálogo com outras soluções artísticas, e, nos seus estágios diferenciados de conhecimento específico em dança, o aprendizado de variadas abordagens psicofísicas em busca de novas linguagens do movimento. A renovação dos valores estéticos estimula a busca de outras formas coreográficas, principalmente no que se refere ao tratamento cênico dos fatores espaço-temporais, elementos essenciais da dança, permeáveis às novas dinâmicas do mundo contemporâneo.

A característica das obras coreográficas da Bahia é tão variada quantos seus autores. A maior parte da dança baiana contemporânea não se enquadra mais em estilos, gêneros, modalidades. A dança atual não segue mais padrões técnicos, estéticos nem conceituais. A dança não quer mais ter vínculos com esta ou aquela linha e escola tradicional, mesmo sendo oriunda de uma delas. A dança assume compromissos com as ideias que podem ser de ordem política, social, de gênero, das minorias ou de liberdade de expressão artística.

Na Bahia, como no mundo todo, os grupos de dança contemporânea valorizam a diversidade cultural, uma reação contra o racismo, intolerância religiosa, questões de gênero, de inclusão e acessibilidade, apontando para a perversa assimetria social, lamentavelmente ainda presente. A dança busca intérpretes que apresentem uma expressão peculiar, procurando em cada participante o sujeito social de sua própria cultura, estimulando-o a apresentar uma expressão particular, extravasando seu temperamento único e interagindo com as diferenças "do outro". Por isso há uma predominância de grupos com dançarinos negros, e de apresentações com repertório de coreografias inspiradas em elementos da herança africana. Porém, as coreografias podem até se inspirar em expressões étnicas, mas não se restringem à esfera de identificação regional. Pretende-se uma dança sem fronteiras, com uma abrangência universal, transcultural.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

Indubitavelmente, a Bahia é um polo de referência de dança nacional, onde convivem e se misturam processos de criação e invenção coreográfica com diferentes perspectivas, não somente estéticas, mas também na sua dimensão ética. A Bahia desde a década de 60 vem apresentando obras coreográficas contemporâneas significativas apesar do desequilíbrio nacional, onde há um inevitável privilégio de recursos de produção para a dança realizada no Centro-Sul do país devido ao poder econômico concentrado em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Os profissionais da Bahia vêm organizando encontros em diversos âmbitos da área da dança profissional visando troca de informação, de experiências, de ideias, discussões dos problemas para realização de seus trabalhos artísticos, elaboração de projetos e planejamento de ações coletivas, assim como propostas de políticas públicas para a área a serem devidamente encaminhadas.

No período da pandemia e isolamento social (junho 2020), os profissionais de dança independentes promoveram uma Conferência virtual informal com mais de 250 participantes de Salvador e de cidades do interior, para levantarem propostas emergenciais de soluções para o setor, o que revela a dimensão do movimento de dança baiano. Há que se proceder a um novo levantamento de profissionais da dança na Bahia. Em 1998 o Governo da Bahia publicou um Guia Cultural através da convocação de profissionais das várias linguagens, incluindo dança, que resultou num mapeamento amplo, porém sem maiores critérios classificatórios nem rigor de pesquisa, pois se tratava de um cadastro voluntário, onde cada qual se auto qualificou, resultando nos seguintes dados: 373 grupos, sendo de dança (não indica a modalidade) 128, folclóricos 30, de capoeira 95, blocos de carnaval 120. Dançarinos cadastrados 766, coreógrafos 227. Considerando que a Bahia já apresentava essa dimensão de prováveis profissionais de dança, seria importante saber quantos estariam, hoje, após 22 anos, exercendo de fato a profissão, dados imprescindíveis para um projeto consistente de políticas públicas para a dança na Bahia e um plano de ação de atendimento às demandas do setor.

Os coreógrafos e produtores profissionais de dança da Bahia vêm procurando atender às novas tendências da economia criativa da cultura mundial, inventando uma nova forma de inserção de seus produtos em plataformas internacionais, considerando a possibilidade de contato com novas ideias e tecnologias propiciadas pelo processo em expansão da globalização, num esforço de empreendimento artístico organizacional, provocando uma nova dinâmica de atuação através do intercâmbio com diferentes modos de vida entre pessoas, experiências e soluções peculiares encontradas em diferentes comunidades em outros países.

Apesar de um padrão dominante no âmbito cultural internacional, muitos artistas deram mostras, através de rupturas comportamentais e estéticas, de como se reinventar a partir do encontro com o novo, com a alteridade e com o porvir, sendo possível identificar aqui na Bahia estratégias investigativas de profissionais da dança, não só na busca de novas linguagens, aliada à busca por uma legitimidade artística, mas principalmente de uma representação que abranja e ultrapasse seu território, o que implica posturas conceituais, políticas e culturais mais amplas, tendo como perspectiva a noção de contemporaneidade e o empenho por uma transformação social.

Na última década têm surgido em Salvador jovens profissionais de dança buscando estratégias alternativas de realização artístico-cultural. Trata-se de uma nova abordagem de empreendimento produtivo visando maior oportunidade de realização, tais como acesso ao público, formação de novas plateias e distribuição dos trabalhos coreográficos, numa dinâmica onde o artista procura tornar-se mais independente do sistema vigente. Na área da dança formam-se “coletivos” com fortes traços ideológicos sociais e variadas estruturas de manutenção do grupo e ocupação de espaços de trabalho, assim como de criação coreográfica ou de performance. São organizações coletivas de toda a cadeia produtiva artística baseadas em sistema de cooperação de serviços técnico e profissional, rodízio de lideranças, de intérpretes-autores e responsabilidades técnicas e produtivas como o Circuito de Casas: Casa Rosada, Casa Pachamãe, Casa Preta e Casa Charriot, Casa D’A Outra, Casarão Barabadá, CAS - Casa de Artes Sustentáveis, Sopro da Sereia, Casa Quatro, com apoio do Coletivo PontoArt.

Agora no século XXI e no mundo todo, especialmente na Bahia, onde há muita produtividade artística e poucos recursos, os profissionais da dança encontram-se num impasse entre manter, recriar ou abandonar a coreografia mais estruturada de espetáculos de dança contemporânea, característica das companhias profissionais, ou optar pelas performances mais alternativas. Trata-se tanto de uma ruptura quanto a conceitos e estéticas, forma versus conteúdo, quanto de uma ruptura em sua concepção coreográfica em relação às graves limitações de produção. A dança na Bahia agora está preocupada em sobreviver, resolvendo questões artísticas que atendam uma auto-organização e infraestrutura, soluções práticas da cadeia de criação e produção, tais como recursos para cobrir custos de montagens, divulgação, apresentações, circulação e comercialização. Observa-se que a forma de performance tem sido uma das saídas mais viáveis.

Em Salvador tem havido diversas apresentações dessas OBRAS PERFORMÁTICAS que trabalham com várias linguagens de forma integrada, em sua maioria realizadas em espaços informais para pequenos públicos. Podem ser consideradas tanto como trabalho de artes visuais, como de dramatização, de música ou/e de dança. São obras comprometidas com posturas político-sociais. Houve uma mudança no timing das peças, podendo resultar tanto numa dança de dinâmica muito fragmentada e dispersa, ou pelo contrário, com movimentos extremamente concentrados, densos e introspectivos, ou ainda, mais frequentemente, performances que acontecem num tempo cênico dilatado, fluido, com quebras de continuidade, impregnada de infindáveis vazios e silêncios. A dança não mais como apenas entretenimento. Em sua maioria, propõe ao expectador um pacto de compartilhamento do seu sentido de vida, a dança cumprindo sua função de despertar seu público geralmente para questões das minorias, através da sensibilização e conscientização, via exposição do corpo a nu, com toda sua fé e verdade artística.

 

TRADIÇÃO VERSUS INOVAÇÃO E UNIVERSAL

Há que considerar que a dança da Bahia apresenta muitas vertentes e suas manifestações indicam dimensões incomensuráveis em suas diversas formas de expressão, que podem ir de sutis expressões subjetivas a representações coletivas de grande porte. Para entender a dança da Bahia é preciso adotar uma percepção mais sensível e um olhar mais agudo e crítico, direcionado às questões culturais nas suas formas intangíveis. Para tanto, fazem-se necessárias releituras e reinterpretações constantes do nosso patrimônio imaterial histórico. Porém, há que reconhecer que existe, em paralelo, uma cultura viva, mutante, expressa em danças através das mais variadas manifestações, resultado dos saberes e fazeres populares, patrimônio imaterial só recentemente reconhecido como bem simbólico.

A necessidade de reconhecimento por marcos referenciais únicos no mundo, próprios de seu povo de origem é, paradoxalmente, simultâneo ao desejo do indivíduo de se inserir numa vida contemporânea sem fronteiras, instigado por diferentes formas do viver de outros povos. Quanto mais flexível à aceitação do novo e do desconhecido, da valorização da diversidade, mais rica será esta sociedade, mais apta para a sobrevivência, aceitando os novos desafios, trazendo outros enfoques e perspectivas às suas heranças culturais. O artista através da sua poética criativa, busca um sentido de si mesmo, do outro, do seu entorno e das relações desses fatores.

O vertiginoso processo de mundialização provocou uma gradual desterritorialização criando novas geografias culturais, por um lado flexibilizando a antiga concepção do sentido de uma identidade fixa, agora não mais restrito às referências de origem de cada grupo social, mas agregando novos valores universais, conforme tendências e referências de cada um. Devido a um deslocamento do indivíduo de seu lugar no mundo e a consequente falta do sentimento de inclusão no seu grupo social, pode-se estar incorrendo numa falta de sentido na vida do sujeito − pessoas perdidas nesse amplo painel de múltiplos repertórios e infinitas possibilidades globais.

 

Fotografia: Silvio Robatto

 

Hoje a dança contemporânea, incluindo a da Bahia, reage a tudo que seja formalmente estruturado, técnico e padronizado. A dança abdica da necessidade de identificação e permanência na história, optando pela dinâmica revolucionária do efêmero, coerente com a natureza fugaz e ambígua, própria da sua linguagem. Devemos às ideias revolucionárias e visão prospectiva dos autores-intérpretes a dinâmica da arte do movimento em permanente transformação.

 

NOTAS

  1. Em 2019 foi oferecido em Salvador, o curso Trans-formação pela Organização das Nações Unidas no Brasil, Livres & Iguais: projeto de capacitação de pessoas transexuais, travestis e não-binários, formando a 1ª turma em Salvador
  2. Na Bahia alguns pesquisadores de campo estão estudando várias dessas essas manifestações, produzindo e publicando trabalhos acadêmicos assim como coreógrafos têm se inspirado em diversas manifestações aqui citadas em obras de recriações artísticas. Segue lista de algumas MANIFESTAÇÕES TRADICIONAIS REGIONAIS DA BAHIA que participaram da Caminhada Axé promovida em Salvador durante 10 anos pela FUNCEB: de Santo Amaro: Caretas do Acupe, Nego Fugido do Acupe, Bombachos do Acupe, Maculelê Netos de Popó; de Cachoeira: Mandus e Cabeçorra; de Saubara: Barquinha de Bom Jesus dos Pobres, Burrinha; de Muritiba: Segura a Véia; de Cairú: Congo, Reisado, Terno da Terra Dondara, Chegança Moura, Gamboa do Morro, Barca; de São Francisco do Conde: Capa Bode, Lírio Amor; de Camaçari: Boi Janeiro, Bumba Meu Boi, Burrinha Parafuso; de Santa Brígida: Dança de São Gonçalo, Guerreiros de São Jorge e Joana D’Arc, Mineiro Páu, Reis; de Mucugê: Mucutum Zezé; de Arembepe: Chegança; de Praia do Forte: Mascarados; de Prado: Marujada; de Valença: Grupo Arguidá, Festa da Baleia, Chegança; de Caravelas: Mouros e Cristãos; de Nova Viçosa: Mouros e Cristãos; de Irará: Burrinha; de Carinhanha: Dança dos Caboclos; de Irará: Burrinha; de Jacobina: Marujada; de Belmonte: Negros Africanos; de Bom Jesus da Lapa: Grupo Caretagem; de Itaparica: os Guaranis; de Salvador: Pierrot Tradição da Plataforma, Terno de Reis Rosa Menina, Terno de Reis Os Astros, Baile Pastoril, Cordão da Saudade
  3. Na Bahia o poder do Império Colonial não acatou o grito de independência de Dom Pedro em setembro e as tropas portuguesas resistiram 10 meses lutando contra a Marinha e o Exército local até o ano 1823.
  4. por Lia Robatto, autora deste texto
  5. A autora deste verbete, junto com Lúcia Mascarenhas, publicou em 2002 um livro “Passos da Dança - Bahia” pela Fundação Casa Jorge Amado, com um extenso levantamento da dança contemporânea da época. Este verbete não pretende esgotar nomes de coreógrafos e grupos, o que demandaria uma pesquisa atualizada que ultrapassa o âmbito deste texto. Segue lista (incompleta) de alguns dos COREÓGRAFOS que mais vêm atuando de forma independente e em seus grupos ou suas companhias nos últimos anos em Salvador: os “veteranos” onde a autora deste verbete se inclui como uma das pioneiras, Lia Robatto, Clyde Morgan, Carmem Paternostro, Lícia Moraes, Cristina Castro, Fafá Daltro, Jorge Silva, Jorge Alencar, Matias Santiago, Ana Vitória, Clênio Magalhães, Paco Gomes, João Perene, Osvaldo Rosa, Fátima Suarez, Nadir Nóbrega, Edleuza Santos, Daniela Augusto, Luciana Pugliese, Ana Paula Bouza, Karla Landin, Leda Ornelas, Tânia Bispo, Edu O., Warney Jr., Elísio Pitta, Bárbara Barbará, Ludmila Pimentel, Mirela Misi, Ciane Fernandes, Deni Neves, e alguns coreógrafos mais novos: Bruno de Jesus, Neemias Santana, Anderson Dantas, Denilson José, Dani Guimarães, Luciana Tude, Danilo Queiroz , Nirlyn Seixas, Morena Nascimento entre muitos outros, além de coreógrafos ligados à Instituições, como vários bailarinos que se tornaram intérpretes-autores do Balé Teatro Castro Alves, professores das Escolas de Dança da UFBA e da FUNCEB, SESI SESC etc.
  6. Festival Nacional de Dança – Ballace , Cidade do Saber, em Camaçari-BA. Um encontro de estudantes e profissionais da dança com mostras competitivas e não competitivas, oficinas, palestras e cursos rápidos. Personalidades como jurados das mostras e/ou professores das atividades formativas. Todo ano, durante o Ballace, também ocorre pré-seleção para bolsistas da Escola de Teatro Bolshoi
  7. Vivadança Festival Internacional, é um evento anual que inclui espetáculos internacionais e nacionais, oficinas, exposições, mostras especiais e mesas-redondas, com público estimado de 20 mil expectadores, encontro de gestores culturais, programadores e curadores mantendo uma troca constante de soluções e experiências com representantes de outros festivais do Brasil, América do Sul e Europa. O VIVADANÇA já recebeu representantes dos estados de Pernambuco, São Paulo, Amazonas, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, Goiás e Bahia, e de países como Polônia, Hong Kong, Estados Unidos, Espanha, França, Canadá, El Salvador, Equador, México, Colômbia, Peru, Paraguai e Argentina
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