Tema: Artes Visuais
Por Alejandra Hernández Muñoz Uruguaia, residente em Salvador desde 1992, é Arquiteta, Mestre em Desenho Urbano e Doutora em Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (FAU/UFBA), com Pós-Doutorado pelo Instituto de Artes da Universidade de Brasília (IA/UnB). É professora permanente de História da Arte da Escola de Belas Artes (EBA/UFBA).

ARTES VISUAIS CONTEMPORÂNEAS NA BAHIA

“A contemporaneidade é uma singular relação com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, dele toma distâncias; (...) uma dissociação e um anacronismo. Aqueles que coincidem muito plenamente com a época, (...) não são contemporâneos porque, (...) não conseguem vê-la, não podem manter fixo o olhar sobre ela.”

Giorgio Agamben – “O que é contemporâneo”, 2006.

 

A permanente transgressão dos limites – temporais e espaciais, físicos e conceituais, linguísticos e técnicos – e os alcances da criação artística em seus impactos sociais e políticos, constituem um denominador comum das obras de arte mais destacadas desde o fim da Guerra Fria. Mais do que inquirir o que é arte hoje, interessa perscrutar os efeitos que a obra de arte produz e a abrangência do artístico como superação do aspecto visual. O que a arte expressa, sua capacidade de movência e seu potencial de questionamento, prevalecem sobre sua aparência. A obra de arte, seja física ou imaterial, permanente ou efêmera, deixou de ser um objeto de contemplação para ser uma posição donde ver ou experimentar o mundo.

Em termos conceituais, a arte contemporânea é marcada pela confrontação com os discursos estéticos clássicos e pela dissociação das grandes narrativas tradicionais – estas sob o conceito de mimesis e da preponderância do aspecto visual – diante da emergência de novas indagações teóricas que vão além dos valores formais. Todavia, muitas vezes a intencionalidade do artista parece prescindível para definir uma obra de arte no contexto dos mecanismos de reconhecimento institucional e dos circuitos de legitimação que determinam que um artefato qualquer ou uma ação possam ter ou não status de arte.

No âmbito internacional, o surgimento da arte contemporânea é localizado nos anos 1960, a partir da ocorrência de uma série de rupturas radicais nas formas, nos conteúdos e nos meios artísticos respeito aos postulados do modernismo. Porém, a partir de que momento podemos falar de arte contemporânea na Bahia? Que há de específico na produção artística baiana? Que alcances tem a dita arte baiana? Na maioria das reflexões teóricas, a arte baiana tem sido tratada de modo restrito à questão da autoria, tanto dos artistas nascidos no Estado, que moram na Bahia ou não, quanto dos não baianos, porém, residentes na Bahia, que aqui criam (ou criaram) durante algum tempo1. Entretanto, falar de arte contemporânea baiana não significa abordar apenas o fazer dos artistas na ou da Bahia, mas também refletir sobre as condições de produção, circulação e legitimação artística e, consequentemente, avançar nas questões inerentes ao sistema estadual das artes, suas especificidades e seus alcances no cenário local, regional, nacional e internacional. Não interessa aqui avaliar o grau de novidade ou quantificar a dimensão mercadológica que a arte contemporânea baiana possa apresentar, senão identificar algumas das problemáticas e das potencialidades reveladas pelos artistas que produzem na Bahia2.

Conhecer a arte contemporânea baiana, portanto, além do exercício de historiografia ou narrativa de trajetórias, compreende uma decupagem do que subjaz nos processos criativos, com identificação das possíveis sementes ou precedentes, suas técnicas e seus significados. Uma prospectiva da arte contemporânea baiana também pode apontar potencialidades e vocações latentes para caminhos futuros e desdobramentos interessantes em função das relações dos artistas com os diferentes agentes e instâncias que satelitam o fazer artístico. A partir dessas constatações e considerando as lacunas e complexidade do tema, o panorama traçado a seguir apresenta uma dupla síntese: por um lado, uma relação de obras e pesquisas artísticas destacadas que evidenciam o repertório de linguagens, temas e técnicas do trabalho dos artistas contemporâneos na Bahia, e, por outro lado, um elenco dos agentes e elementos principais do sistema de arte baiano através de grandes eixos de questões que estão entrelaçadas na dinâmica contemporânea.

Fig. 01 – Etsedron, “Ensaio fotográfico em Porto Seguro”, 1977. Foto: Hamilton Luz. Fonte: MARIANO, Walter. Etsedron. Dissertação. Salvador: Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFBA, 2005.

Fig. 02 – Baiana System, fev.2020. Foto: Filipe Cartaxo – imagem cedida pela banda para este texto.

O arco temporal de nosso percurso abrange dois extremos de transcendência da arte contemporânea baiana: de um lado, a irrupção do Etsedron, na XII Bienal de São Paulo de 1973, e, do outro lado, as apresentações catárticas coletivas do Baiana System no último carnaval de Salvador em 2020. Nosso percurso começa com o grupo Etsedron, o reverso do Nordeste, que escancarou a essência sertaneja no âmago do principal evento de arte brasileira e um dos mais importantes do mundo, a Bienal de São Paulo, nas edições de 1973, 1975 e 1977, no momento em que a máquina da repressão política ditatorial aprimorava suas táticas de ódio e morte no país. O perfil multidisciplinar do coletivo fundado em 1969 e liderado por Edison da Luz, colocou em discussão assuntos de ordem social, ambiental, histórica e econômica de modo transversal que foram recebidos inicialmente como problemáticas regionalistas e que hoje são revistos como pioneiros de muitas pautas da arte atual3. No outro extremo temporal da cena de arte contemporânea baiana, temos o início de 2020, onde se situa a apresentação do Baiana System no contexto da maior festa da Bahia. O que comumente é chamado de ‘show’ da banda pode ser lido como uma grande performance coletiva que, além do conteúdo de suas letras e dos elogiados predicados musicais, conjuga uma dimensão visual tribal sintetizada pela máscara, coloca a estética do subúrbio no foco do circuito do centro soteropolitano, ocupa a rua sem cordas por oposição ao exclusivismo pasteurizado dos camarotes, e instaura uma experiência imersiva na multidão próxima do transe. Os limites simbólicos entre performance artística e espetáculo público, resistência e multiculturalismo, festa coletiva e ritual metafísico se confundem e é nessa confusão que são apreciáveis as contribuições mais pungentes e instigantes da arte contemporânea baiana4.

 

O CONTEXTO TERRITORIAL BAIANO

Desde início dos anos 2000, nas grandes bienais e mostras internacionais de arte contemporânea, as fronteiras político-administrativas parecem ter perdido força na problematização das propostas e experiências artísticas. A arte contemporânea brasileira costuma aparecer em diálogo com outras produções que abordam questões abrangentes, transnacionais e comuns a contextos diversos pelo mundo. Concomitantemente, a mobilidade dos artistas contemporâneos tem aumentado graças à ampliação dos programas e instâncias de intercâmbios internacionais, tais como residências e participações em projetos artísticos colaborativos. Também a consolidação de circuitos na Ásia, África e Oceania tem contribuído para a ruptura da hegemonia de referências europeias e norte-americanas, ampliando as possibilidades de trânsito dos artistas brasileiros em outros circuitos do cenário internacional de arte contemporânea. E, nesse contexto, a crescente afirmação da arte contemporânea brasileira tem reverberações diversas, tanto no mercado da arte internacional como na estrutura dos circuitos nacionais e regionais.

A circulação de artistas oriundos do Nordeste é um corolário desse processo, porém, as interlocuções locais e regionais ainda são frágeis. Nas regiões metropolitanas de Salvador, Recife, Fortaleza e Belém é possível identificar instâncias mais ou menos consolidadas que funcionam como canais de mediação entre a produção local e os circuitos fora da região. Porém, contextos artísticos de outras capitais como Teresina, Natal, João Pessoa, Aracaju e Maceió dependem estreitamente dos cenários maiores, com algumas iniciativas pontuais de promoção local dirigidas a minimizar as carências de estrutura de formação e de visibilidade dos artistas. De modo geral, fora das capitais do Nordeste a interlocução regional é tímida, no melhor dos casos restrita à promoção de alguns eventos, com escassa ocorrência de linhas de ação duradoura e pouco foco crítico-reflexivo.

Fig. 03 – Maxim Malhado, “Galeria Esteio”, 2014. Local: EBA/UFBA, Foto: Gillian Villa, 11/07/2014. Instalação - 3a Bienal da Bahia, 2014.

Fig. 04 – Gaio Matos, “Instrumentos para dobrar rios”, 2014. Local: Rio São Francisco, Foto do artista. Site specific - 3a Bienal da Bahia, 2014.

Uma das experiências artísticas e institucionais mais singulares do Nordeste foi desenvolvida por Maxim Malhado entre 1994 e 2006, em Sítio Novo. A “Esteio Galeria de Arte”, criada em um dos espaços da residência familiar do artista, inseriu a arte no cotidiano da pequena vila de dois mil habitantes no interior da Bahia. A pequena galeria movimentou a vida da pacata cidade com exposições, vernissages, leilões e intervenções urbanas realizadas com a participação dos moradores. Amparado no fazer e na vontade coletiva, a proposta criou um lugar que prescindia dos circuitos oficiais de legitimação artística. Oito anos mais tarde, a Esteio foi retomada durante cem dias como um dos trabalhos mais destacados da 3ª Bienal da Bahia no pátio da Escola de Belas Artes em Salvador. Instalada em três casas de taipa de sopapo construídas especialmente para a ocasião, com uma programação intensa de exposições temporárias, atividades diversas e documentação do seu percurso institucional, a nova Esteio, dentre seus múltiplos significados, levantou uma questão crucial sobre as assimetrias que caracterizam o desenvolvimento da arte na Bahia5.

Enquanto eram construídas aquelas casinhas de taipa da Esteio, nas margens do Rio São Francisco, Gaio Matos desenvolvia outro projeto para a 3ª Bienal da Bahia perscrutando as cidades da bacia hidrográfica que foram alagadas com a construção dos reservatórios de Sobradinho e do Lago Itaparica: Petrolândia, Rodelas, Remanso, Paulo Afonso, Casa Nova e Canindé. Para Gaio o espaço é uma matéria de trabalho, uma relação construída pelos eventos e objetos, e não é visto como um receptáculo. Portanto, além de fotografar as cidades submersas e conhecer a cultura e a população ribeirinha, a fauna e a flora da região, o artista observou a situação atual da bacia, provocada pelas intervenções, desvios e alterações das águas do rio. Dessa pesquisa e vivência resultou “Instrumentos para dobrar rios”, uma série de intervenções performáticas nas correntezas do Velho Chico6.

Ambas as obras de 2014, a Esteio e os Instrumentos, podem ser vistas como metáforas da produção e do circuito da arte na Bahia precisamente no contexto do maior evento da cena artística estadual nos últimos anos e que, oportunamente, tinha como eixo temático “É tudo Nordeste?”. Então, o que é esse território e como se pode ler a Bahia desde a dimensão da sua produção artística?

A realidade do cenário baiano está monopolizada pelo circuito da capital soteropolitana. A Região Metropolitana de Salvador (RMS), que ocupa menos de 1% da área total da Bahia, com pouco mais de um quarto da população estadual, concentra os equipamentos e as referências principais sobre arte contemporânea7. Porém, deve-se assinalar que há algumas instituições e manifestações diversas em contextos territoriais e culturais complexos como são o Sertão, o Agreste, o entorno do Rio São Francisco e as regiões urbanas populosas que abrangem realidades além das circunscrições jurídico-administrativas dos municípios. É o caso de Feira de Santana e sua abrangência imediata do sul do sertão, ou de Vitória da Conquista como epicentro do sul do Estado. Também é necessário dar atenção a contextos singulares como Petrolina e Juazeiro além das circunscrições estaduais onde, como disse Milton Santos, “a fronteira pode ser o lugar de outra coisa completamente diferente de um limite”. Também cabe observar as possibilidades de interlocução de espaços do extremo oeste baiano que, por estarem mais próximos de Brasília ou Palmas, podem ter intercâmbios com a cena artística dessas cidades mais do que diálogos com Salvador, por exemplo.

Tradicionalmente, a divisão geográfica do estado da Bahia compreendia sete mesorregiões (Extremo Oeste, Centro-Norte, Vale de São Francisco, Nordeste, Centro-Sul, Região Metropolitana de Salvador, Sul). Porém, desde 2007, em função das dimensões identitárias, ambientais, econômicas e culturais, foram definidos 27 territórios de identidade, por sua vez agrupados em seis macro territórios8. Entretanto, em termos de arte contemporânea, a produção observada segundo os territórios de identidade não apresenta particularidades relevantes como acontece em outras áreas da cultura. A diversidade de linguagens e técnicas que os artistas visuais desenvolvem são mais ou menos as mesmas, independente da microrregião de ocorrência. As temáticas, talvez, possam apresentar alguma especificidade. Em termos de estrutura física, se observam algumas possibilidades e diferenças em função da existência de equipamentos específicos, como centros culturais, escolas e galerias, para o acolhimento de mostras de arte regulares, a exemplo dos Salões Regionais de Artes Visuais da Bahia (comentados mais adiante), ou nas localidades com patrimônio histórico-arquitetônico relevante que têm motivado ações federais, como o Programa Monumenta9, ou estaduais, como os Pontos de Cultura10. Até 2016, quando começou a ser desmontada a estrutura de gestão e estimulo à cultura no Brasil, essas ocorrências, vinculadas ao alcance de programas, projetos, ações e iniciativas dirigidas para as artes visuais, constituíam uma urdidura importante para compreender os regimes de visibilidade e de circulação bem como a dinâmica de estimulo e de receptividade da produção artística.

Nos últimos cinco anos, o cenário das artes visuais na Bahia apresenta-se em processo acelerado de decadência e de precarização. Desde o fim da ditadura, talvez o melhor momento para as artes visuais baianas foi entre 2007 e 2012 quando houve, além da disponibilidade de recursos financeiros, a articulação entre instituições, artistas, produtores culturais e gestores, que possibilitou efetivamente o desenho de um sistema artístico local em diálogo com a cena nacional e internacional. Mas, quais as características desse sistema? Como acontece a gestão e o fomento à produção artística baiana?

Na Bahia, a iniciativa privada, em termos de apoio financeiro às artes visuais, é quase inexistente. A diferença de outros Estados, são poucas as fundações e instituições privadas que oferecem alguma linha de estímulo à produção de artes visuais11. Em consequência, com poucas empresas ou promotores individuais, a alçada pública tem sido a incentivadora principal. Por um lado, o Ministério da Cultura (MinC), criado em 1985, teve uma função importante na gradativa profissionalização da produção artística nacional. Recebeu um impulso significativo desde 1999 com a ampliação de recursos orçamentários e, desde 2003, com a reestruturação da pasta e a incorporação de secretarias e representações regionais que permitiram ampliar as ações efetivas e os alcances das políticas culturais. Por outro lado, na escala estadual, em fins de 2006, a criação da Secretaria de Cultura (SECULT) dissociada da alçada do Turismo, à qual esteve atrelada desde 1995, foi um marco importante para a construção de uma nova política estadual para a cultura e as artes visuais. No novo contexto administrativo articulado com o MinC, a gestão estadual das artes visuais buscou eliminar as práticas clientelistas de outrora, que pautavam a distribuição de recursos na Bahia, e implementou gradativamente uma série de linhas de fomento, formação e organização da cena artística através de concorrências, editais e programas que reestruturaram a cadeia produtiva na esfera local.

A tradicional macrocefalia de Salvador no direcionamento de investimentos e linhas de ação começou a ser minimizada com a definição dos territórios de identidade antes mencionados que permitiram uma capilaridade maior das políticas e um atendimento mais abrangente das artes visuais. Porém, na esfera municipal da capital nunca houve uma alçada cultural correlata que permitisse um desenvolvimento e potencialização das artes visuais no contexto de uma cidade com mais de dois milhões e meio de habitantes12. Portanto, em termos institucionais, a produção de artes visuais baianas, tem sido fomentada basicamente pela iniciativa federal do MinC, através dos setores e ações específicos para as artes incluída a FUNARTE13, e pela alçada da Secult, na demanda compartilhada com todo o Estado. Pode-se dizer que, de modo geral, a partir dessas duas esferas, federal e estadual, têm se organizado as diferentes instâncias de produção, circulação e financiamento das artes visuais na Bahia nas duas últimas décadas, além de algumas ações privadas de alcance nacional como premiações e convocatórias institucionais, a exemplo da Petrobras, Braskem, Itaú Cultural, Prêmio  CNI/Marcantônio Vilaça, dentre outras. Mas, desde 2015, com a supressão da maioria dos editais, o contingenciamento de recursos orçamentários e a extinção de linhas específicas para as artes visuais, a exemplo de vários programas da FUNARTE no MinC e dos projetos da SECULT, tem ocorrido uma desestruturação profunda do frágil sistema de artes visuais na Bahia.

 

BREVE PERFIL DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA CONTEMPORÂNEA

Desde inícios do século XX, as categorias históricas da pintura e da escultura (outrora chamadas de “belas artes” ou “artes maiores”) são insuficientes para explicar as manifestações contemporâneas ante a consolidação das experimentações das vanguardas e da continua emergência de possibilidades conceituais e tecnológicas. Na arte baiana não é diferente e, nas últimas décadas, se observam diversas dissoluções das linguagens tradicionais. Porém, que especificidades teria a baianidade artística? É possível perceber formas próprias da arte baiana recente? Como nos vemos e como podemos ser vistos? Quais temas exploramos e quais as referências? Com que técnicas e materiais driblamos as restrições às nossas possibilidades expressivas? Que valores esprememos e através de quais linguagens? Responder a essas questões é difícil e foge ao escopo deste espaço. Entretanto, essas perguntas são úteis para um breve perfil da produção atual que permite uma aproximação ao amplo repertório de artistas destacados, temáticas principais e caminhos técnicos. Obviamente é impossível elencar aqui todas as pessoas que fazem arte na Bahia. Mas, quais artistas, ateliês e coletivos têm se destacado nos últimos vinte anos?

A maioria dos artistas baianos contemporâneos costuma desenvolver suas pesquisas e produzir obras em diferentes suportes, técnicas e assuntos, porém, é possível elencar algumas atuações segundo as linguagens bidimensionais e tridimensionais mais recorrentes nas últimas duas décadas, com a ressalva de que outros artistas serão referenciados acompanhando as reflexões ao longo deste texto.

O desenho, como linguagem relevante na produção de artes visuais baianas, apresenta uma longa trajetória tanto em diálogo com técnicas gráficas e fotografia, quanto associado a ferramentas digitais ou a suportes urbanos. A geração modernista baiana legou artistas como Carybé, que codificou uma visualidade singular do cotidiano local, bem como promoveu uma difusão dos valores e costumes da Bahia através da arte. Porém, o desenho baiano contemporâneo, em geral, se afasta dessa tradição mais anedótica. Geisiel Ramos é um exemplo de desenvolvimento do desenho enquanto linguagem expressiva contemporânea, com obras em técnica aprimorada de grafite sobre papel. Da geração mais nova, Felipe Rezende também tem explorado o grafite, em suportes contínuos com certo espirito cinemático, tencionando a impossibilidade de uma apreensão completa do desenho sem uma dinâmica de percurso do olhar. Muitos dos trabalhos mais potentes de Juliana Moraes, Pablo Cordier, Ana Verana14 e Josemar Antonio são desenhos em diferentes técnicas e suportes, quase sempre em pequena escala, sobre temáticas recorrentes que oscilam entre a melancolia e o erotismo. Já Rebeca Silva e Samantha Santana desenvolvem interfases de desenho e ilustração explorando aplicações sobre objetos. Em uma escala espacial maior, artistas como Zé de Rocha15 e Daiane Oliveira chamaram a atenção da cena baiana por conta de suas experimentações de desenho com fogo a partir de um fazer quase performático. Outros artistas como Pedro Marighella16, Luana Vellame e Adalberto Alves têm avançado com pesquisas de desenho em amplas superfícies e ocupações gráficas efêmeras em espaços de galerias onde o monumental do espaço é contraposto às nuanças de personagens e texturas que embaralham o onírico e o real. Em outro extremo, explorando suportes arquitetônicos externos e âmbitos urbanos Talitha Andrade, Rebeca Matta, Nila Carneiro17, Samuca e Marcos Costa18 são bons exemplos de artistas que costumam desenvolver o desenho vinculado a ações engajadas e ativismo, temáticas de questionamento social e diálogos com as práticas de grafitti sem perder uma dose de lirismo e leveza formal. Nesse sentido, é interessante observar a trajetória ininterrupta de desenvolvimento do desenho de Miguel Cordeiro19, um pioneiro de arte urbana soteropolitana dos anos 1970 que avançou para a elaboração regular de diários gráficos com articulação de imagens e textos, em técnicas mistas e uso de redes sociais como mecanismo de divulgação e visibilidade. Arte serial, experiências colaborativas e de ilustração são outras possibilidades de desenho desenvolvidas por artistas com Bruno Marcello20, Amine Barbuda e Tulio Carapiá. Um desdobramento interessante, que tem crescido nos últimos anos em grande medida por motivos econômicos, é o desenho de tatuagem, a exemplo dos trabalhos de Johannes Rocha de Jesus, que também transita pelo grafitti e pichação, ou de Uillian Novaes, que mistura técnicas oriundas da gravura e da pintura na sua produção gráfica. E este breve panorama do desenho baiano estaria incompleto sem a menção de pelo menos outros duas vertentes de realizações, uma, em diálogo com o design de múltiplos, a exemplo das personagens surreais de Davi Caramelo21, e outra, da fronteira entre a ilustração e o desenho de animação realizado por Igor Souza22 em filmes e desenhos de palco. Nesse sentido, tem um grupo de artistas emergentes que vem desenvolvendo o desenho relacionado à gravura, ilustração e animação, a exemplo dos núcleos e projetos desenvolvidos por Tamires Lima e Taygoara Aguiar23.

De modo parecido ao que se observa no desenho, o legado da pintura modernista baiana não tem muita influência no fazer pictórico das últimas décadas ou, pelo menos, não é um valor evidente na produção dos pintores em atividade. Como dito antes, a maioria dos artistas baianos contemporâneos costuma transitar por mais de uma linguagem, muitas vezes em processos que misturam diversos suportes e técnicas na produção de suas obras. No caso dos artistas que podemos citar como representativos da pintura contemporânea baiana, vários desenvolvem concomitantemente o desenho, a pintura, a fotografia e/ou as artes gráficas. É o caso de Leonardo Celuque, Nelson Magalhães24, Rener Rama25, Ricardo Bezerra e José Ignacio, dentre outros, destacados pela pintura densa, de óleo ou acrílico sobre tela, em dimensões diversas, sob temáticas literárias, oníricas ou abstratas, mas que aparece muitas vezes associada a grafismos, recursos gestuais e inserções de materiais que extrapolam sutilmente a bidimensionalidade das obras. Um dos artistas mais refinados da pintura baiana foi Joazito cujo legado ainda precisa ser estudado e redimensionado em termos de contribuição às artes visuais baianas além da produção pictórica. Isabela Seifarth, Vanessa Girardi, Artur Rios e Rogério Dutra são bons expoentes de uma geração mais nova que explora imagens vigorosas do cotidiano com virtuosismo técnico, repensando os gêneros pictóricos tradicionais. Mike Sam Chagas tem umas séries interessantes que flertam com a ilustração e a linguagem da publicidade em figurações neo-pop. Em um sentido não menos experimental, porém, retomando o rigor da pintura mais tradicional, Fábio Magalhães e Anderson Santos26 levam o hiper-realismo a desdobramentos inquietantes, seja como pequenos objetos originados daquilo que as telas representam, seja pelas possibilidades de expansão do processo pictórico através da realidade virtual, reposicionando a pintura figurativa e, às vezes, beirando a iconoclastia dos gêneros tradicionais do retrato, da natureza morta e da paisagem. Na fronteira do desenho, a pintura e o objeto, as obras de Vauluizo Bezerra27 são, tal vez, o exercício mais rico de atravessamentos surreais de temáticas existenciais, dilemas metafísicos e ironia cáustica sobre a realidade.

Na tradição da pintura mural soteropolitana, inaugurada por aqui em 1949 por Carlos Bastos nos murais do boêmio e saudoso bar Anjo Azul e consagrada na produção muralista da Escola Parque, as contribuições atuais se limitam ao fazer transgressor dos grafiteiros e pichadores. A diferença de outras cidades pelo mundo onde há reconhecimento do valor dessa produção no âmbito urbano, em Salvador as condições de desenvolvimento da pintura urbana são desalentadoras, apesar da constatação de manifestações relevantes que poderiam configurar um circuito da arte baiana de rua, cotejável ao percurso das igrejas, dos monumentos públicos e das instituições de arte na capital28. Na cena estadual, essa precariedade é maior e grafiteiros e artistas de rua costumam ser muito desvalorizados. Além de alguns artistas já mencionados pela sua relação estreita com a produção de desenho, Limpo (Fábio Rocha) e Éder Muniz têm diversos painéis pela cidade, consolidando uma estética reconhecível na cena do grafitti soteropolitano29. Também Anderson AC30, e Flos (Flávio Souza) em Salvador, Devarnier Hembadoom em Simões Filho e Dmitri de Igatu em Andaraí, dentre outros, compartilham o universo da arte urbana e transitam pelas práticas da pintura mural misturada com técnicas de grafitti, estêncis ou colagens, abordando temáticas que vão das memórias familiares mais intimistas, passando por conteúdos de engajamento sócio-político, até a espacialidade territorial das paisagens naturais baianas. Dessas experiências de arte urbana, destacam-se os trabalhos das “peles grafitadas” de Willyams Martins que retomam práticas de décollage das camadas subjacentes nas superfícies dos muros e promoveram uma discussão interessante em 200731.

Nas artes gráficas, talvez, é onde o legado modernista baiano evidencia uma influência mais direta no fazer dos artistas atuais, em grande medida devido às referências da EBA/UFBA e das oficinas do MAM/BA, espaços principais de formação e experimentação de artes gráficas. A herança de artistas como Hansen Bahia, Henrique Oswald, Mario Cravo Jr. e Calasans Neto, dentre tantos outros, está muito presente nas aulas dos grandes mestres-educadores Juarez Paraíso, Renato Fonseca, Antonello L’Abbate e Evandro Sybine. A tradição de mestres populares vinculados à xilogravura do cordel nordestino continua em desenvolvimento em alguns locais do interior baiano. Mas, das matrizes de madeira de cenas melancólicas de Mestre Duda, sempre auxiliando professores e estudantes dos cursos da EBA/UFBA, até os exercícios mais conceituais de palavra e signo de Davi Bernardo, o repertório gráfico baiano é amplo. Da mão de artistas como Evandro Sybine, explorando possibilidades tridimensionais de grandes matrizes e das potências compositivas da repetição, novas gerações de artistas como Lia Cunha, João Oliveira32 e Adriel Figueiredo passaram a explorar interfases das diferentes técnicas tradicionais da gravura com design, fotografia e narrativas singulares. Nesse sentido, cabe mencionar as estruturas tridimensionais de xilogravuras, matrizes e instalações com vídeo desenvolvidas por Eneida Sanches33. Da cena emergente, vale a pena acompanhar as Mostras Gráficas realizadas entre 2015 e 2017 com artistas novos como Luma Flores, Felipe Brito, Marina Alfaya e Artur Soares, dentre outros. Também merece destaque o trabalho consistente de gravura e fotografia de Patrícia Martins, explorando relações do corpo como matriz e possibilidades da autoimagem.

A cena de fotografia contemporânea baiana  é uma das mais diversificadas, abrangendo um repertório amplo de produções e questionamentos, desde a sólida tradição documental de um Adenor Gondim até as experimentações mais líricas de Rosa Bunchaft34. Possivelmente os fotógrafos baianos, enquanto classe artística, sejam o grupo mais organizado dentre os diferentes segmentos das artes visuais. Cabe assinalar que não há qualquer manifestação artística baiana que tenha um compêndio histórico abrangente como o publicado em 2006 por Aristides Alves35, ou eventos reflexivos próprios como o Colóquio de Fotografia36, ou um centro de referência acessível da produção contemporânea como o Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana37, no Forte de Santa Maria, ou, até, uma campanha de reivindicação de alcance nacional como o movimento Carta das Laranjeiras38 em 2016. Em termos artísticos contemporâneos, possivelmente o mais conhecido no circuito internacional seja Mario Cravo Neto39, cujo legado reverbera em muitos fotógrafos em atividade. Porém, as pesquisas artísticas de fotografia baiana contemplam diferentes vertentes, desde processos imersivos em contextos singulares como fazem Hirosuke Kitamura40, André França41, Márcio Lima42 ou Rogerio Ferrari, até experimentações diversas a exemplo da fotografia expandida de Maristela Ribeiro43, as cianotipias de Renata Voss44, as instalações de Eriel Araújo, as impressões em platinum palladium de Andrea Fiamenghi45, as colagens de Péricles Mendes46 ou as ficções documentais de Paulo Coqueiro47. Produções especificas como os retratos de Nicolas Soares48 ou a fotografia de arquitetura de Manoel Sá49 podem ser destacadas junto às contribuições de artistas da nova geração como Lara Perl50, Adriano Machado51 e Rodrigo Wanderley52, dentre muitos outros. Todavia, além da produção artística própria cabe mencionar as iniciativas de promoção da fotografia por parte de alguns fotógrafos, a exemplo do ativismo de Neyde Lantyer53, a construção de uma dimensão editorial por Mariana David54, a difícil afirmação de espaços específicos como Alvaro Villela na Galeria Triângulo ou Ricardo Sena55 na Galeria Alma e a atividade gráfica de Lukas Cravo.

Considerando a saga inovadora e reconhecida internacionalmente de artistas como Mário Cravo Jr. e Frans Krajcberg, dentre outros legados do modernismo, no âmbito da expressão tridimensional é onde, possivelmente, haja um repertório mais diversificado de produções contemporâneas na Bahia. Desde as instalações do Etsedron nos anos 1970, citado no início, até as intervenções de Gaio Matos na paisagem do Rio São Francisco em 2014, o leque de manifestações abrange diferentes escalas, desde objetos pequenos como os rostos esculpidos em giz de Elias Santos, ora em caixinhas ora em instalações com luz, até intervenções pelo meio rural como fez Juraci Dórea, seja com estruturas de couro e madeira ou em murais nas modestas paredes de adobe das casas sertanejas.

Um grupo significativo de artistas baianos tem se notabilizado pelo uso da madeira, a exemplo de Emanuel Araújo56, cujos relevos e esculturas gozam de largo reconhecimento nacional e internacional. Marcos Zacaríades57, em um processo arqueológico e artesanal, extrai objetos de grande potência expressiva dos resquícios da devastação das matas. Também as peças de Josilton Tonm58 e Paulo Pereira59 transitam, com diferentes técnicas, nessa fronteira entre a opera-de-mano e a opera-de-natura, criando peças que muitas vezes parecem evocar objetos inexistentes. Já Florival Oliveira60 reforça a maleabilidade das fibras mediante formas imbrincadas, entre o anatômico e o tectônico, dóceis e orgânicas, no limiar surreal entre seres vivos e objetos mecânicos. De certo modo, essa surrealidade está presente também nas fisionomias alteradas de Cenildo Silva ou nas grandes estruturas de Ramiro Bernabó. Em um sentido mais abstrato, os arcabouços de madeira de Marco Antonio qualificam o vazio subvertendo relações de massa e gravidade e dialogando com formas arquitetônicas.

No âmbito da cerâmica, Adriana Araújo e Sarah Hallelujah se destacaram por algumas instalações questionando a visão tradicional do barro em seus sentidos utilitários ou decorativos. Cabe ressaltar o trabalho de Eriel Araújo61 que, além das suas criações em cerâmica e fotografia, tem tido um papel importante no estímulo à produção e discussão da tridimensionalidade contemporânea em artistas como Luiza Magaly, Mário Vasconcelos, Milena Oliveira e Takeo Shishido que subvertem as relações de suporte, através de instalações em cerâmica de formas instigantes, desafiando a gravidade ou até em relações instáveis de caráter performático.

São raras as criações de escultura de bulto em pedra, a exemplo de Josilton Tonm. Mas, além da madeira e da cerâmica, muitos artistas na Bahia criam objetos e peças escultóricas utilizando materiais diversos que resultam de operações de apropriação, ressignificação e deslocamento conceitual. Mestre Didi (Deoscóredes Maximiniano dos Santos)62 traduziu a visão do mundo nagô e sua experiência de vida, em esculturas derivadas dos emblemas dos orixás do Panteão da Terra: Nanã e seus três filhos míticos, Obalauaê, Oxumaré e Ossain. Das criações com materiais perecíveis, às vezes incluindo performances, podem ser citados diversos trabalhos com uso de açúcar, dendê, carne de charque e outros por Caetano Dias e Ayrson Heráclito. Vale lembrar os objetos utilitários cotidianos privados de sua função original e repropostos em vidro por Liane Heckert. Também Márcia Abreu63, com longa trajetória de encáustica e outras experimentações, tem criado objetos perturbadores misturando cerâmica e vidro. E as instalações com peças de chumbo de Rogéria Maciel, resultantes de trabalhos colaborativos, são interessantes como exercícios de estranhamento e alteridade. Dos trabalhos de composição de obras a partir de objetos existentes, Ieda Oliveira é uma das artistas mais prolíficas, às vezes compondo instalações complexas incluindo performances e interatividade do público.

Das diversas técnicas que usam fibras, deve-se lembrar o pioneirismo de Genaro de Carvalho na tapeçaria moderna brasileira que teve grande influência em outros mestres que exploraram a lã e outros materiais no desenvolvimento de urdiduras e bordados em formas bi e tridimensionais. Porém, mais uma vez, pouco desse legado do modernismo baiano se espelha no fazer artístico contemporâneo. Talvez a artista que mais se aproxima desse repertório da lã, seja Dôra Araújo que, através do crochê e do bordado, cria objetos diversos que compõem instalações imersivas e interativas, conjugando dimensões lúdicas e surreais. Neste grupo, podem ser incluídas também as peças de Carla de Carvalho, construídas com fibras de coqueiros. Já Nadia Taquary64 produz objetos instigantes misturando fibras naturais e orfebraria a partir de referências da memória ancestral e ritual afro-brasileira.

Nas fronteiras entre o bidimensional e o tridimensional, podem ser apontadas as pesquisas de Maria Luedy com papel artesanal misturado a fibras vegetais ou as experiências de Flavio Marzadro65 conjugando improntas de gestos e texturas em argamassas. Dentre as artistas emergentes, cabe ressaltar o trabalho de Andreza Pires com utilização de cabelo. Por outra vertente, Jovan Mattos constrói peças utilizando pedra portuguesa que exploram relações formais e materiais ambíguas. Félix Caetanno cria esculturas de concreto e ferro embaralhando os sentidos de construção e destruição, enquanto Zuarte ensambla e repropõe diversos objetos preexistentes em instalações e ambiências singulares. Mas, o uso de objetos preexistentes caracteriza o trabalho de vários artistas baianos, a exemplo de Marepe, Vinicius S/A e Vauluizo Bezerra. Nesse sentido, Tonico Portela66 e Vladimir Oliveira usam objetos do cotidiano tencionando novas leituras, enquanto a ironia dos objetos de Tuti Minervino67 desafia a perversidade do banal e a fugacidade do transcendente, com recursos de ensamblagem e apropriação ou interferências de fotografia e vídeo.

Diversos trabalhos e práticas “expandidas” de artistas como Juraci Dórea ou Juarez Paraíso, extrapolam os espaços tradicionais das galerias. Alguns dos trabalhos mais conhecidos de Baldomiro Costa, que se inscrevem no que se denomina land-art ou arte do território, são as intervenções nos anos 90 nas dunas da Lagoa do Abaeté (estruturas com palhas de coqueiros e com catadores de vento) e na praia de Piatã (grandes desenhos na areia).

Entretanto, dentre todas as linguagens que podem ser identificadas no fazer das artes na Bahia, as artes do corpo e as artes eletrônicas são, talvez, as que tem registrado maior expansão na cena contemporânea. Das artes do corpo, muitas vezes embrincadas com artes cênicas, a exemplo das obras de Edu O. e Ciane Fernandes, a maioria das manifestações de performances na Bahia se caracteriza pelo engajamento e potência crítica das propostas. Mário, Rose Boaretto68, João Pedro Matos e outros artistas, na década de 2000 tiveram um papel precursor no estímulo de manifestações em lugares públicos, práticas colaborativas e performances duracionais articuladas com práticas imersivas, arte postal, percursos espaciais, fotografia, design gráfico e música. Roberta Nascimento costuma discutir as relações opressivas da cultura de consumo enquanto Ieda Oliveira se apropria de elementos da cultura popular para instalações que compreendem performance. Já artistas como Ana Fraga69 e Lais Guedes, com diferentes recursos e alcances, abordam questões de gênero que também estão presentes no trabalho de Marie Thauront explorando o corpo como suporte de exercícios compositivos e autobiográficos onde se entrecruzam performance, fotografia e pintura. Uma das artistas mais potentes com trânsito e reconhecimento fora da Bahia é Musa Michelle Mattiuzzi com obras muito potentes que discutem o papel histórico da mulher negra e denunciam os abusos e exclusões impostos pelo imaginário cis normativo branco. Questões de reparação, resistência e descolonização também perpassam as performances de Tiago Sant’Ana e Ayrson Heráclito. Em uma vertente diferente, mediante ocupações e ações de longa duração, Arthur Scovino70 conjuga outros aspectos da cultura, principalmente símbolos do imaginário místico, religioso e histórico brasileiro. Nesse sentido, o trabalho de Jayme Fygura71 possívelmente seja o mais difícil de circunscrever dentro de uma única dimensão artística, levantando uma discussão mais ampla da performance em espaço público, as fronteiras com a ensamblagem, body art e design.

As artes eletrônicas, associadas com cinema e plataformas de jogos, têm tido um desenvolvimento interessante nos últimos anos na Bahia. Desde as pioneiras animações de Chico Liberato72 até expoentes da nova geração como Caio Araújo há uma produção interessante nas artes audiovisuais. Henrique Dantas tem um trabalho consolidado de vídeo-arte e de cinema documental, assim como as instigantes obras de Daniel Lisboa73.  Entretanto, muitos artistas da performance e de intervenções usam o vídeo para registro documental de ações, ou empregam edição de registros que devêm em novas obras ou complementos de trabalhos. Mas a videoarte, no sentido estricto da linguagem, é um dos caminhos explorados sob diferentes prismas e temáticas por Mônica Simões74, Caetano Dias, Ayrson Heráclito e Danillo Barata75. Também ludicidade e irreverência, o caótico e o traumático, são valores que perpassam grande parte das obras de artistas como Flávio Lopes e Marcondes Dourado. Dentre a geração mais nova, vale prestar atenção nas experiências de artistas como Yazmin Nogueira.

Além do vídeo, na esfera das Universidades da Bahia, artistas vêm desenvolvendo experiências na área das tecnologias eletrônicas e informacionais aplicadas à arte. No âmbito do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC) da UFBA, Karla Brunet76 está à frente de um grupo de pesquisa de arte, tecnologia e ciência. Já no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) da UFRB, Jarbas Jácome77 trabalha com sistemas interativos em tempo real para processamento audiovisual integrado. Cabe salientar que a UFRB e seus cursos da área do audiovisual, nas cidades de Cachoeira e São Félix, tem consolidado um espaço interessante de produções artísticas e tecnológicas, inclusive promovendo o Reconvexo organizado por Fernando Rabelo e considerado o único festival brasileiro que investe em novos formatos da técnica de vídeo-projeção mapeada e interativa, ou vídeo mapping.

Até aqui, o panorama geral da produção na Bahia é bastante parcial, senão reducionista, do fazer dos artistas, já que, como alertado no início, a maioria deles transita por diversas linguagens e técnicas em suas criações. Na cena dos coletivos, essa complexidade de atuação e proposta dificilmente pode ser enquadrada em uma única categoria. Nas duas últimas décadas, podemos destacar pelo menos três coletivos baianos que exemplificam o repertorio de propostas dessa modalidade de produção artística na qual as autorias individuais ficam diluídas e, em geral, as estratégias de circulação e legitimação dos trabalhos é compartilhada. O primeiro e mais longevo é o Grupo de Interferência Ambiental (GIA), um coletivo artístico formado desde inícios de 2000, que age no contexto social, político, cultural e econômico em que vive, através de ações que compreendem objetos e registros diversos. O GIA não cria obras contemplativas no sentido tradicional da arte, mas, através de suas ações, promove reflexão e crítica sobre o nosso tempo. Outro coletivo interessante é o OSSO78, com atuação intensa entre 2008 e 2013, centrado em performance e intervenções em espaços públicos, que promoveu diversas mostras e encontros artísticos das artes do corpo. E o terceiro coletivo singular é a Sociedade da Prensa que, desde 2013, pesquisa e desenvolve soluções gráficas artesanais e técnicas de impressão, também promovendo oficinas e feiras de impressos, estimulando a discussão entre artistas de gravura, ilustração, produção editorial, múltiplos e arte serial.

Sem dúvidas, os e as artistas são a essência da arte em qualquer lugar. Porém, além de todos esses artistas e grupos elencados até aqui, há galeristas, assistentes, curadores, produtores, críticos, montadores e uma série de diversos profissionais que trabalham junto aos criadores da arte. Portanto, para entender como funciona e se articula o meio artístico baiano, a seguir serão apresentados e discutidos vários assuntos, espaços e agentes que dizem respeito à produção de arte contemporânea na Bahia.

 

A FORMAÇÃO EM ARTES VISUAIS

A lenta internacionalização da produção artística baiana pode ser percebida através das escassas participações naquele que é o evento mais antigo e tradicional do circuito de arte internacional: a Bienal de Veneza. A primeira participação de um artista baiano nessa mostra foi em 1952 quando Mário Cravo Jr. expôs uma obra na 26ª edição. Quatro anos mais tarde, em 1956, Carybé apresentou cinco obras e, em 1960, Cravo participou novamente com 10 trabalhos. Na 31ª edição seguinte de 1962, Rubem Valentim expôs seis obras. Em 1964, ano da construção do Pavilhão do Brasil nos Giardini, Clarival do Prado Valladares foi o único crítico baiano a participar de uma comissão de seleção do evento79. Pode-se dizer que o ritmo de presença da arte baiana moderna foi relativamente ágil, considerando-se que eram poucos os artistas baianos que tinham inserção no circuito nacional e internacional. Inclusive, cabe lembrar que a Bahia fez sua própria Bienal em 1966 com uma segunda edição abruptamente censurada em 1968 que, simbolicamente, representou um freio para esse percurso de reconhecimento na cena nacional e internacional. Tudo indica que passariam 24 anos para que a Bahia voltasse a ter representação na Bienal de Veneza. Foi com o “Projeto Terra” de Juraci Dórea80, na 43ª edição de 1988, que o Sertão entrou no Pavilhão do Brasil. Mais quinze anos de ausência baiana até Marepe levar seu “Recôncavo” à 50ª edição de 2003. E mais quatorze anos transcorreram, até que Ayrson Heráclito81 fosse convidado para apresentar o ritual de “Sacudimentos” na 57ª edição de 2017. Portanto, três artistas contemporâneos baianos que, ao longo das três últimas décadas, são representativos de momentos diferentes da arte contemporânea baiana em seu processo de reconhecimento internacional.

Quando Juraci Dórea começou sua caminhada pelo sertão desenvolvendo o Projeto Terra que seria exposto em Veneza em 1988, profundos questionamentos e emergências ocorriam no mundo artístico. Em 1984, as esculturas de madeira e couro de Dórea surgiam pelo sertão enquanto, no Rio, acontecia a exposição “Como vai você, Geração 80?” na Escola de Artes Visuais do Parque Lage82 e, em Paris, o Centre Pompidou realizava a mostra “Os Inmateriais” que iniciava a linguagem artística electrónica. No Caribe, surgia o Centro Wifredo Lam, para investigar e promover expressões artísticas da America Latina, África e Ásia, através da recém criada Bienal de Havana. Em New York, o Museum of Modern Arts (MoMA) realizava “Primitivismo”, exposição muito criticada que apresentava a influência da arte tribal e exótica na arte do século XX, enquanto em Londres era inaugurada a Saatchi Gallery. Em 1986, enquanto a AIDS irrompia como assunto no debate artístico internacional, em São Raimundo Nonato, no Piauí, era criada a Fundação Museu do Homem Americano (FUNDHAM), no Parque Nacional Serra da Capivara, resultado do grande trabalho de pesquisa da arqueóloga Niéde Guidon e sua equipe, que viria a sacudir as teorias do povoamento das Américas. No ano seguinte, após a irrupção das Bienais de Sydney (1973) e de Havana (1984), era criada a terceira grande bienal periférica em Istambul (1987) fortalecendo a discussão e olhares artísticos ‘desde a região’ e consolidando a ruptura com os discursos hegemônicos. E ainda, em 1988, quando Dórea apresenta em Veneza suas obras pelo sertão, no âmbito local de Salvador surgia o Salão Baiano de Artes Plásticas no MAM/BA, enquanto começava a se delinear o fim da URSS e da Guerra Fria no mundo.

Fig. 05 – Juraci Dórea, “Projeto Terra”, 1988. Local: Pavilhão do Brasil na 43ª Bienal de Veneza. Fonte: TODERO, Luiz Ney. De Canudos a Veneza: o Projeto Terra do artista plástico Juraci Dórea. Dissertação. Salvador: Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFBA, 2004.

Fig. 06 – Ayrson Heráclito, “Sacudimento”, 2015. Local: Casa da Torre, Praia do Forte. Fonte: https://www.premiopipa.com/pag/ayrson-heraclito/

Nesse contexto, o Projeto Terra de Dórea, iniciado em 1982, foi pioneiro da land art na Bahia. Compreendeu quatro grandes caminhadas até a década de 1990 e acabou sendo retomado com uma nova caminhada em 2014, na 3ª Bienal da Bahia. Portanto, essa caminhada desbravando o sertão é uma boa síntese do percurso de reconhecimento e legitimação da arte baiana chegando, de modo emblemático, ao momento atual com o trabalho de Ayrson Heráclito recompondo simbolicamente as duas margens da Bahia e do Benin. O trabalho, na Casa da Torre (na Praia do Forte, Bahia) e na Maison des Esclaves (na Ilha de Goré, Senegal), faz do Atlântico não um desbravamento, mas a base de um retorno necessário e uma revisão dos postulados colonialistas que têm moldado a cultura hegemônica. O mundo em 2017 é muito diferente daquele de 1988 – e está mudando mais ainda por conta da pandemia do Covid-19. A Bienal de Veneza ficou quase diluída na centena de grandes mostras (bienais, trienais e quadrienais) de arte contemporânea que ocorrem pelo mundo a cada ano. O sistema de arte adquiriu um nível de profissionalização e diversificação sem precedentes, com espaços, agentes e eventos específicos, e um leque amplo de interesses e desdobramentos. Veremos, então, como isso começou a reverberar na Bahia, a começar pela formação dos artistas.

Na tradição da arte moderna baiana há numerosos artistas visuais autodidatas e, atualmente, no interior do Estado, a produção de artistas como Seu Nêgo (Dilson Dias de Almeida, Barreiras), M.B.O. (Ubaíra), Pedro Lima (Seabra) ou Binha (Juazeiro) têm reconhecimento ainda restrito. Apesar do autodidatismo, a formação artística institucional é o caminho principal da profissionalização da maioria dos artistas contemporâneos. Entretanto, na Bahia podem ser reconhecidos pelo menos três âmbitos de percurso formativo: o ateliê do artista, os cursos e atividades livres, e a Universidade.

A atividade formadora e criativa não oficial realizada nos ateliês dos artistas costuma se desenvolver com diferentes níveis, desde autodidatas individuais que fazem seus trabalhos dirigidos para a venda direta, em geral em pequena escala, até grupos de artistas que produzem juntos ou separados com iniciativas coletivas de aprimoramento técnico, compartilhamento de equipamentos e instâncias de difusão e venda conjunta. Muitos dos artistas populares e os ditos ‘naives’ (‘naif’ é o singular) do Pelourinho em Salvador, Porto Seguro, Praia do Forte e Chapada Diamantina, por exemplo, conformam pequenas comunidades de criadores, em sua maioria autodidatas, que produzem obras majoritariamente de pintura, gravura e escultura na expectativa do consumo turístico. Alguns desses artistas buscam aprimorar seus conhecimentos com cursos livres ou formalizar sua atuação com um curso superior que contribua para sua profissionalização. Foi o caso de Raimundo Bida83, um pintor com ateliê próprio no Passo em Salvador que, depois de ter suas pinturas reconhecidas em um círculo de colecionadores e de ter exposto fora do Brasil, cursou o Bacharelado de Artes Plásticas da EBA/UFBA redimensionando o alcance de seu trabalho e ampliando os intercâmbios com artistas de outras linguagens.

O ateliê mesmo, além de lugar de produção, comercialização e promoção do artista, pode vir a ser um modo de experimentação e conhecimento singular da arte no circuito local, inclusive na ausência do artista. É o caso dos ateliês de um autodidata ainda pouco conhecido como O Louco (Boaventura da Silva Filho)84, continuado por Louco Filho (Celestino Gama da Silva)85 em Cachoeira, ou de artistas com trajetórias internacionais como Ramiro Bernabó, Caetano Dias, Bel Borba ou Maria Adair, cujos estúdios, galpões, arquivos e espaços de trabalho constituem lugares de referência e pesquisa para a arte contemporânea na Bahia. Um exemplo disso é o ateliê Helena Landínez & Mark Dayves instalado recentemente no imóvel que, por décadas, foi o inesquecível ateliê de Eckenberger no Carmo em Salvador, um modo de reconhecimento e homenagem do seu rico legado. Entretanto o ateliê de Franz Krajcberg que, conforme vontade do artista, deveria ter originado o Museu Ecológico homônimo em Nova Viçosa, infelizmente não foi instituído pelo Governo da Bahia responsável pelo acervo ímpar86.

Alguns artistas começaram a desenvolver suas criações a partir de cursos livres, a exemplo de J. Cunha87 cuja obra atravessa e articula arte, design e outras dimensões da cultura. Das iniciativas de cursos e atividades livres, possivelmente as mais conhecidas sejam as Oficinas do MAM/BA criadas pelo professor da EBA/UFBA Juarez Paraiso em 1980, durante a gestão do também artista Chico Liberato. Destinadas ao público em geral e com acesso gratuito, as inicialmente chamadas “Oficinas de Arte em Série” foram oferecidas durante quatro décadas nos espaços do MAM/BA. O elenco de cursos teórico-práticos de técnicas e atividades de discussão sobre linguagens artísticas compreendia equipamentos e ateliês específicos para o desenvolvimento de cerâmica, desenho, escultura, gravura e pintura, entre outras. Além das oficinas do MAM/BA, a oferta de formação e discussão em artes visuais tem sido limitada em Salvador e mais escassa ainda no interior do estado. Instituições como Caixa Cultural, Goethe-Institut, ACBEU, Alliance Française e Instituto Cervantes costumam promover diversos cursos curtos, workshops, ciclos de palestras e outras atividades dirigidas à formação e discussão de artes visuais, mas todas essas atividades costumam se concentrar na capital.

Um caso singular de formação foi a experiência Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia, uma parceria privada entre Oi Futuro e organização não governamental CIPÓ-Comunicação Interativa de Salvador. A escola ofereceu, de 2004 a 2015, cursos de design gráfico, computação gráfica, vídeo, fotografia e web design, formando 80 jovens de 16 a 19 anos em cada turma, oriundos de comunidades populares urbanas, estudantes ou egressos da rede pública. Após a finalização do curso de 18 meses, os egressos tinham a opção de integrar, por um período de seis a 18 meses, um segundo módulo de formação chamado Núcleo de Produção, com planejamento e execução de projetos autorais dos jovens e trabalhos solicitados por clientes, buscando estimular a produção artística e cultural dos estudantes e buscando a inserção deles no mercado de trabalho a partir de parcerias e articulações feitas com diversas instituições e empresas. Ao todo foram formados 480 alunos e, além da formação, a Oi Kabum! promoveu diversas atividades de difusão como exposições, oficinas e eventos de compartilhamento de experiências88.

Na cena de cursos superiores, até 2002, a segunda instituição de ensino artístico mais antiga do Brasil, a Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), era no Estado a única instância em nível público federal com cursos de formação de artistas (Bacharelado e Licenciatura) e designers. Em Salvador, além da EBA, havia os cursos de Educação Artística da Universidade Católica (UCSAL, em nível privado filantrópico) e de Design da Universidade Estadual (UNEB, em nível público civil estadual). Portanto, nas duas últimas décadas, um dos fatores mais importantes na profissionalização das artes foi o impacto das estratégias do Ministério da Educação (MEC) através do projeto de Reestruturação do Ensino Universitário (REUNI) na região Norte-Nordeste.

O período entre 2005 e 2015 foi um momento político-econômico de múltiplos desdobramentos favoráveis para o cenário artístico contemporâneo, com investimentos significativos na área de educação que, embora incipientes, permitiram um maior acesso da população aos focos de formação e discussão artístico-intelectual. Em alguns casos, no interior dos estados, as implantações de campi universitários, com novos cursos de artes visuais, museologia, cinema, música e artes cênicas, foram relacionadas às intervenções do Programa Monumenta, antes mencionado, em conjuntos arquitetônicos de interesse histórico-patrimonial, a exemplo de Cachoeira (BA), Penedo (AL) e Laranjeiras (SE). Portanto, a iniciativa conjunta do MEC e alguns dos investimentos em recuperação patrimonial arquitetônica foram propulsores de novos polos de discussão de arte contemporânea no Nordeste e contribuíram para a descentralização do circuito do âmbito das capitais. Na Bahia, a afluência de estudantes e professores de várias partes do país para esses novos campi promoveu uma renovação de repertórios e a consolidação de redes de intercâmbios que vêm contribuindo para novos protagonismos além da hegemonia das referências de Salvador89.

A expansão do ensino de artes visuais na Bahia resultou na criação de quatro cursos federais de artes visuais em Juazeiro (Universidade do Vale do Rio São Francisco - UNIVASF desde 2002), Cachoeira (Universidade Federal do Recôncavo Baiano - UFRB desde 2006), Santa Maria da Vitoria (Universidade Federal do Oeste Baiano - UFOB desde 2013) e Porto Seguro (Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB desde 2013). Na iniciativa privada comercial há outros dois ou três cursos de Educação Artística e de Design. Também, em nível de Pós-Graduação, houve uma ampliação da oferta. No Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da EBA/UFBA, além do curso stricto sensu de Mestrado oferecido desde 1986, foram realizadas três edições, desde 2010, da Especialização em Arte-Educação (lato sensu) e, em 2013, foi implantado o curso de Doutorado, além de pelo menos outras dez pós-graduações em outras áreas de artes, humanas e exatas em diferentes instâncias da UFBA. Também na UFOB, desde 2015, há Especialização em Artes e Ação Cultural (lato sensu).

Ainda no plano educacional e formativo, deve se destacar que, em paralelo ao surgimento dos novos cursos federais, entre 2007 e 2014 houve uma ampliação significativa dos departamentos educativos em algumas instituições como o MAM/BA, Caixa Cultural, Diretoria de Museus (DIMUS) e Solar Ferrão, consolidando equipes de monitores e mediadores permanentes nas atividades dos centros artísticos, em sua maioria compostas por estudantes ou recém-formados em artes e museologia. No âmbito da 3ª Bienal da Bahia, de janeiro a abril de 2014, foi oferecido pelo MAM/BA em parceria com a EBA/UFBA um Curso de Formação de Mediadores de amplo reconhecimento que qualificou com grande sucesso três centenas de pessoas para atividades diversas em eventos de artes90.

 

O PAPEL DAS RESIDÊNCIAS E DOS INTERCÂMBIOS INSTITUCIONAIS

Virginia de Medeiros91, uma das artistas baianas mais reconhecidas e premiadas fora da Bahia, trabalha com vídeo e instalação apropriando-se de formas de investigação antropológica e etnográfica e estratégias do documentário para discutir relações de alteridade e rever os modos de interpretar o outro. Em 2009, apresentou “Sergio e Simone”, um vídeo com raízes no “Studio Butterfly” que funcionou em 2006 numa pequena sala do edifício Sulacap do centro de Salvador. O Studio, um ponto de encontro da artista com as travestis que habitaram a pensão de Rosana, guardava uma memória visual dos quartos das travestis que traziam suas fotos antigas e recentes, junto a familiares, amigos, amores, e, sentadas na “poltrona dos afetos”, narravam para Virginia algumas histórias de vida que eram registradas em vídeo. Em troca, a artista fazia com elas um ensaio fotográfico, e ao final lhes dava um book. Depois do Studio, em 2007, como parte de um intercâmbio com o Instituto Sacatar, Virginia fez residência artística no Centro de Artes La Chambre Blanche, em Québec, Canadá, da qual resultou sua primeira exposição individual “Faille”. Buscando semelhanças entre Quebec e Salvador, Virginia usou a falha geológica comum a ambas cidades como conceito criativo e reflexivo da ruptura das certezas como, por exemplo, a favela é uma brecha dentro da cidade organizada que produz outro espaço, um domínio do aproximado e do criativo; a travesti, cujo corpo carrega uma tensão insolúvel entre os dois sexos, é um falha na moral, biologia e direito, e assim por diante. Depois da residência no Canadá, a artista produziu a obra “Sergio e Simone”. O vídeo retrata Simone, uma travesti, que morava numa casa arruinada na abandonada Ladeira da Montanha, próxima do Sulacap. Ela teve uma convulsão por causa de uma overdose de crack, seguida de um delírio místico no qual acreditou ter se encontrado com Deus e escapado da morte. Então, Simone volta para casa dos pais, retoma o seu nome de batismo Sérgio e, num surto de fanatismo, se considera uma das últimas pessoas enviadas por Deus para salvar a Humanidade. A obra participou em 2014 da 31ª Bienal de São Paulo e foi premiada no 18° Festival de Arte Contemporânea Videobrasil com uma nova residência ICCo (Instituto de Cultura Contemporânea) em São Paulo.

Esse resumo da dinâmica do percurso de Virginia de Medeiros entre 2006 e 2014, mostra a articulação entre o processo criativo, as residências artísticas e os regimes de visibilidade e circulação de exposições e eventos na arte contemporânea.

Fig. 07 – Virginia de Medeiros, “Sergio e Simone”, 2009-2014. Local: 31ª Bienal de São Paulo – vídeo-instalação. Fonte: http://virginiademedeiros.com.br 

As atuais residências artísticas são uma modalidade derivada das viagens de estudo que, desde fins do século XIX, por premiações ou bolsas acadêmicas, caracterizaram o aprendizado de muitos artistas, com o objetivo de complementar a formação e possibilitar a fruição de obras e coleções de arte canônicas. Nas duas últimas décadas, o número de residências artísticas cresceu vertiginosamente, tanto em âmbitos institucionais tradicionais quanto em espaços exóticos. Assim, em tempos de incentivo à mobilidade acadêmica, de valorização do “consumo da experiência” e de viagens mais baratas, os estágios temporários fora do contexto profissional habitual ganharam estruturas que propiciam condições de discussão, conhecimento e produção artísticos graças ao deslocamento geográfico. Programas e projetos de diferentes perfis surgiram em diversos lugares do mundo, inclusive no Brasil, expandindo as possibilidades de criação, intercâmbio, colaboração e estudo artístico. Em geral, o que caracteriza uma residência artística é o deslocamento e ocupação espacial, como mecanismo de estranhamento, e a concentração do trabalho em um período determinado, como incentivo à produção artística e reflexiva em condições restritas. Os formatos variam desde o compartilhamento de espaços provisórios e ateliês rotativos até projetos de imersão e vivência vinculados a comissionamento de eventos. Cada programa de residência tem suas especificidades em relação a locais, regime de temporada, temas de concentração, condições físicas e financeiras, perfis de suportes e técnicas, acompanhamento curatorial e parcerias de colaboração ou subsídio.

Em nível internacional, há inúmeras consequências da circulação dos artistas em programas de residências fora do Brasil, desde as trocas de experiências com outros contextos e a capilaridade local das referências internacionais, até possíveis influências da arte baiana no exterior. Na Bahia há pelo menos três instâncias que promovem residências regulares: Instituto Sacatar (Itaparica), SECULT e Programa Vila Sul (Salvador). O Instituto Sacatar da Sacatar Foundation tem o programa regular de residências artísticas mais antigo da Bahia, criado após constatar que não havia programas de residências no Brasil no início dos anos 2000. Desde 2001 tem realizado diversas atividades entre profissionais altamente qualificados e a comunidade local da ilha de Itaparica, economicamente precária e tecnicamente limitada, mas com uma riqueza cultural profundamente ligada a tradições ancestrais trazidas da África. Até início de 2020, hospedou mais de 400 artistas do Brasil e do mundo inteiro92. Já o Programa de Residências Vila Sul do Goethe-Institut Salvador-Bahia foi criado em 2016, visando fortalecer interlocuções do Brasil e demais países do hemisfério Sul. Dirigido ao acolhimento de artistas e agentes culturais de diversas áreas, linguagens e origens, até dezembro de 2019 passaram pelo programa 80 residentes (individuais ou em duplas) com desdobramentos significativos não apenas para os participantes estrangeiros como para vários artistas baianos93. Finalmente, na SECULT, o Fundo de Cultura, enquanto mecanismo de fomento às artes e cultura, tem uma linha de apoio específica denominada Mobilidade Cultural que, a partir de edital público, possibilita apoio financeiro a propostas de residências artística e cultural, circulação, promoção e difusão, intercâmbio e cooperação cultural, além de formação em artes e cultura, para pessoas, grupos ou obras94.

Tiago Sant’Ana95 é um bom exemplo de artista que produz a partir de residências artísticas, como artista na criação de obras específicas a partir de tais experiências de deslocamento geográfico, e como curador de artistas em trânsito em Salvador. Fez sua primeira residência artística internacional no HANGAR Centro de Investigação Artística de Lisboa, em 2018, através do edital de Mobilidade Cultural da SECULT, onde construiu alguns trabalhos e projetos apresentados na exposição individual “Baixa dos Sapateiros” na galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea do Rio de Janeiro. Além das trocas e investigação da cena local de Portugal, a residência no HANGAR possibilitou ao artista pensar o catálogo das duas mostras “Casa de Purgar” que ele havia realizado em Salvador e Rio de Janeiro antes de ir para Lisboa. Porém, Tiago também vem desenvolvendo curadorias a partir do programa Vila Sul, propondo e realizando exposições coletivas com artistas em residência em Salvador, estruturadas em ciclos que discutem perspectivas coloniais.

Fig. 08 – Tiago Sant’Ana, “Casa de Purgar”, 2018. Local: Paço Imperial, Rio de Janeiro, Foto: Fernando Souza – objetos e vídeo-instalações. Fonte: https://tiagosantanaarte.com

Além dos programas regulares como Sacatar, Vila Sul e SECULT, cabe citar iniciativas isoladas de artistas baianos que têm acedido a oportunidades de desenvolvimento de projetos específicos, a exemplo do projeto “Perto de lá – Close to there” de Lanussi Pasquali e Jordan Martins que, desde 2015, promove atividades e intercâmbios entre Salvador e Chicago. Também, como mencionado antes, desde 2000 houve prêmios de residência da Bienal do Recôncavo, em parceria com a Bienal de Havana e a Academia de Brera em Milão, ou do 15º Salão da Bahia do MAM/BA com a Werkplaats Beeldende Kunst Vrije Academie e Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC_Videobrasil, que infelizmente não tiveram seguimento por conta da interrupção dos eventos aos quais estavam vinculados.

Em nível acadêmico, são promovidas diversas possibilidades de cooperação, residências e formas de intercâmbio para docentes e estudantes entre cursos e programas em Artes Visuais, como os da Universidade Federal da Bahia (UFBA) com a Universidade Politécnica de Valência (UPV), ou os da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) com a Werkplaats Beeldende Kunst Vrije Academie (Holanda). Entre 2008 e 2010 um convênio da EBA/UFBA com a Escola de Artes de La Reunion (França) possibilitou intercâmbios interessantes entre alunos e professores, com estágios de estudantes de artes franceses em Salvador e de estudantes da EBA em La Reunion que resultaram em visitas técnicas, trabalhos coletivos, palestras e exposições em ambos locais.

O projeto mais recente de residências artísticas em Salvador é o Fluxos do Atlântico Sul, de iniciativa de um grupo de professores e artistas vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFBA. Em termos metodológicos, o projeto compreendeu sete propostas artísticas que problematizaram repertórios e dialogaram com os acervos do Museu Afro-brasileiro da Universidade Federal da Bahia – MAFRO/UFBA e da Casa do Benin. Assim, o projeto promove e valoriza o patrimônio cultural africano e brasileiro através da arte contemporânea; ao mesmo tempo que forma conhecimento sobre duas coleções artísticas pouco divulgadas, estimula a produção de novas expressões contemporâneas. De modo geral, a proposta opera em diferentes estratos do sistema das artes: impulsiona a responsabilidade individual ante a ausência dos promotores tradicionais da arte (neste caso o poder público), conjuga aspectos formativos do fazer artístico através da residência em acervos (opção ainda incipiente nas instâncias tradicionais acadêmicas), ativa diversos espaços de encontro, escuta e reflexão conjunta através das diferentes atividades desenvolvidas, redimensiona a função cívica das coleções na formação de valores coletivos, e favorece interlocuções institucionais e intercâmbios culturais pelas parcerias com outros eventos e a participação dos convidados96.

Porém, no âmbito regional e nacional as iniciativas de intercâmbios ainda são fragmentárias. Em termos de diálogo nacional são importantes as itinerâncias e intercâmbios promovidos por editais como Conexão de Artes Visuais da FUNARTE (último foi em 2012) e Caixa Cultural (último edital foi em 2018), principalmente para exposições. Cabe mencionar a relevância dos recortes de grandes eventos como Prêmio CNI/Marcantonio Vilaça, Rumos do Itaú Cultural, Bienal de São Paulo ou Treinal de Luanda no Museu de Arte Moderna da Bahia, assim como a parceria de projetos como A Gosto da Fotografia entre a Casa da Photografia (Salvador) e a Pinacoteca de São Paulo (2010) ou das edições do projeto Triangulações (2013, 2014 e 2015) vinculado ao Circuito das Artes.

 

OS ESPAÇOS, EQUIPAMENTOS E EVENTOS DAS ARTES VISUAIS

Em Salvador se encontra uma das obras mais instigantes sobre a implicação da arte enquanto dimensão coletiva, e da responsabilidade cívica do artista na qualificação do espaço público desde a esfera privada. No Largo da Vitória, no térreo do Edificio Monsenhor Marques, se localiza um mural de Juarez Paraíso97, realizado em 1978. O trabalho repropõe a relação entre o espaço privado e o espaço público, assinalando a fronteira entre ambos como transição orgânica e fruição estética. Entrar ou sair do edifício não é apenas a passagem de um âmbito para outro, mas um ato de relação plástica da esfera do doméstico individual para a dimensão pública coletiva, e vice-versa. Sem adentrar nos detalhes técnicos e outras qualidades artísticas da obra, o painel em pedra portuguesa salva desníveis de uma ampla superfície irregular que abrange, como uma pele, o chão do playground do edifício, avança no muro de delimitação do lote e envolve o passeio até o meio fio da rua. Conceitualmente trata-se de um trabalho que dialoga com práticas da denominada escultura no campo ampliado, expandida na escala urbana, neste caso embaralhando as acepções de arte mural, escultura e arquitetura.

Fig. 09 – Juarez Paraíso, “Mural”, 1978. Local: Edf. Monsenhor Marques, Salvador. Fonte: http://www.dicionario.belasartes.ufba.br

Fig. 10 – GIA, “Flutuador”, 2008. Local: Praia do Solar do Unhão, Salvador.Fonte: http://giabahia.blogspot.com 

Três décadas mais tarde, essa questão do uso dos espaços públicos e sua relação com a política e a arte reapareceu explicitamente em uma ação de uma tarde de maio de 2008, na praia do Solar do Unhão. O “Flutuador” do GIA (Grupo de Interferência Ambiental)98 era uma plataforma flutuante de garrafas pet reutilizadas, colocada nas águas da Baía para que as pessoas, sobretudo da comunidade do Unhão, usassem como quisessem. De modo amplo, trata-se de um exercício de negação da obra de arte como objeto em favor de um processo coletivo de convívio e compartilhamento de experiências que ativa uma série de discussões em torno do sentido da arte no cotidiano da grande cidade.

Os dois exemplos, o mural e a plataforma flutuante, são casos de obras de arte contemporânea baiana que ocorrem e retiram sua potência de situações fora dos espaços institucionais e dos recintos onde costuma-se legitimar a criação artística. Porém, quais são os equipamentos, espaços, eventos e agentes que possibilitam a circulação e o acesso à produção de arte baiana? Onde se mostra a arte? Como assinalado antes, deve-se reconhecer que o poder público emerge como principal agente estruturante da cena artística, apesar dos crônicos gargalos burocráticos e da precária organização das políticas de ação e fomento para as artes visuais. Se consideramos o potencial da produção artística baiana, é perceptível que os espaços específicos, tanto de galerias expositivas quanto dos acervos públicos, são escassos na Bahia e os mais reconhecidos são quase todos de administração pública, a exemplo do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA), Palacete das Artes Rodin (PAAR) e Museu de Arte da Bahia (MAB)99.

Não há um único museu, galeria ou espaço institucional construído especificamente para as demandas complexas da arte contemporânea, que seja capaz de atender tanto à variedade de escalas que a arte contemporânea apresenta quanto aos diferentes espaços necessários para sua exibição. Não se trata de uma questão apenas dimensional, que acompanhou a passagem dos espaços interiores do século XIX dirigidos para o mercado da pintura e da escultura modernas, pouco a pouco substituídos pelo modelo neutro do chamado “cubo branco” condizente com uma arte mais abstrata e autônoma, e que foi se adequando às dimensões e características da arte produzida desde os anos 1950, desde as grandes telas do expressionismo abstrato e os objetos seriados do minimalismo até as monumentais instalações da land art e site specific. Além de grandes áreas, a arte contemporânea demanda também as chamadas “caixa preta”, enquanto área fechada e obscurecida para a projeção de imagens, e “caixa cinza”, dos espaços versáteis para performances e dança nos museus e instituições da arte. Em Salvador, apenas o MAM/BA conjuga algumas dessas possibilidades, mas com restrições por conta da condição de patrimônio histórico e monumento arquitetônico tombado. Já o PAAR, cujo anexo do fundo tem sido elogiado enquanto projeto de arquitetura, com qualidades dimensionais apropriadas para alguns projetos de arte contemporânea, apresenta limitações para projeções e resulta inadequado como espaço expositivo para materiais sensíveis à luz. Todavia, corolário da retração geral do poder público no estímulo à produção, a precarização e/ou desativação de alguns âmbitos expositivos tem impactado negativamente nas possibilidades de apresentação dos trabalhos dos artistas.

Em termos quantitativos, dos 3.849 museus e instituições cadastrados pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) até julho de 2020, 835 (21,7%) estão na Região Nordeste. Desses, 220 (26,3%) estão na Bahia, distribuídos em 78 dos 417 municípios baianos. Portanto, por essa fonte, menos da quinta parte dos municípios conta com algum equipamento cultural, sendo que 90 (40%) estão concentrados em Salvador e 130 (60%) localizados no interior100.

No Estado da Bahia (excluindo Salvador) podem ser identificados pelo menos 120 espaços e instituições com algum potencial para acolhimento, difusão e promoção das artes visuais. Nesse elenco se incluem os 15 centros de cultura e espaços sob gestão da SECULT (não todos cadastrados pelo IBRAM)101 e pelo menos nove instituições com foco específico em arte contemporânea, tanto de administração pública como Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira e Museu Regional de Arte (ambos em Feira de Santana), Casa de Cultura Jorge Amado (Ilhéus) e Museu Regional da UESB/Casa Henriqueta Prates (Vitória da Conquista), quanto as instituições privadas do Museu Hansen Bahia (Cachoeira), Centro Cultural Dannemman (São Fêlix), Galeria Arte & Memória (Igatu), Casa de Arte Baiana (com o acervo particular de Michael Eckes que adquiriu obras de artistas baianos desde os anos 70 até a atualidade) e Museu de Arte Contemporânea (Senhor do Bonfim, com um acervo incipiente e heterogêneo de obras de artistas brasileiros e internacionais).

Em Salvador, há 120 instituições cadastradas pelo IBRAM, cujo perfil inclui “Artes Visuais”, e outros 42 espaços não cadastrados, a saber: 17 sob gestão da SECULT, 7 iniciativas privadas (que serão analisadas mais adiante enquanto propostas alternativas ao circuito tradicional) e 18 espaços em outras alçadas culturais como Galeria Cañizares (EBA/UFBA), SaldeArte-CinemaUFBA e SaladeArte-Daten, as galerias do Instituto Cervantes, Aliança Francesa, Goethe-Institut, e 12 galerias de arte comerciais (ex. Paulo Darzé, Roberto Alban, Fabio Pena Cal, RV Cultura & Arte, Prova de Artista, etc.). Cabe salientar que além da Galeria ACBEU que fechou em 2018, dentre os espaços institucionais, o circuito soteropolitano perdeu nos últimos cinco anos a Galeria do Conselho, o Centro Cultural dos Correios (no Cruzeiro de São Francisco) e o Palácio da Aclamação, que foram importantes referências de atividades e exposições da arte produzida na cidade nas duas últimas décadas. Também deve-se ressaltar que, além do fechamento de espaços, a decadência dos museus tradicionais, a exemplo do MAM/BA, é um assunto sensível nos últimos anos102.

Assim como falamos das situações singulares do mural de Juarez Paraíso e da plataforma flutuante do GIA, durante a 3ª Bienal da Bahia, realizada em 2014, obras, ocupações e ações temporárias foram desenvolvidas em diversos espaços alternativos, tais como igrejas, ruinas de fábricas, arquivos e bibliotecas, terrenos baldios e locais que nunca estiveram no circuito tradicional. Nesse sentido, há muitos âmbitos como o Instituto do Cacau, Escola Parque e TCA, dentre outros equipamentos, com potencial para acolher projetos específicos de arte contemporânea. Entretanto, de modo resumido, pode-se dizer que atualmente há pelo menos 50 espaços que acolhem regularmente propostas de arte contemporânea, e pouco mais da metade é privada.

Em termos de eventos, desde os anos 1990 até 2015 era possível identificar uma rotina de circulação, visibilidade e consolidação da maioria dos artistas baianos, principalmente aqueles artistas emergentes ou de gerações mais novas em busca de legitimação das suas produções. Não raro, antes de fazer uma primeira exposição individual e longe de ser representado por alguma galeria, muitos artistas começavam a mostrar seus trabalhos em exibições coletivas institucionalizadas. Os Salões Regionais de Artes Visuais103 eram uma primeira instância estadual, seguida de participações com maior repercussão como a Bienal do Recôncavo104 e/ou o Salão Nacional de Artes Plásticas do MAM/BA105, além das oportunidades de exposições periódicas como o Circuito das Artes106 e editais da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB) como o Portas Abertas107. Os artistas costumavam construir seu currículo artístico a partir dessas instâncias antes de acessar eventos e circuitos nacionais e internacionais. Com a extinção do Salão do MAM/BA em 2009 mediante o decreto que criou a Bienal da Bahia, houve uma intenção de consolidar os diálogos nacionais e regionais até então realizados e, ao mesmo tempo, investir em intercâmbios internacionais e perspectivas de circulação dos artistas baianos fora do Brasil. Mas infelizmente, apenas em 2014 foi realizada a Bienal da Bahia e até o momento não há perspectivas de qualquer retomada de todo o arcabouço que caracterizou o pequeno sistema de artes visuais baiano108.

Além de todos esses eventos, merecem destaque pelo menos outros três, embora de linguagens específicas de fotografia, performance e artes eletrônicas. O primeiro é o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger109, criado em 2002 pela FUNCEB, que busca incentivar, divulgar e valorizar a produção fotográfica brasileira, conferindo premiações a conjuntos de obras de temática e técnica livres. Como um dos maiores concursos para trabalhos fotográficos do Brasil, é realizado de dois em dois anos, com edital aberto para fotógrafos brasileiros ou estrangeiros com situação de permanência legalizada, residentes em qualquer estado do país, que devem apresentar um projeto ainda não premiado no Brasil ou no exterior. Até 2013, eram exibidos apenas os três premiados por categoria e o selecionado na categoria principal recebia apoio financeiro para a realização de uma exposição individual em Salvador e para a publicação de um catálogo com ensaio. Porém, desde a edição de 2016, passaram a ser expostos e incluídos no catálogo todos os doze finalistas, ampliando o alcance de promoção e discussão da fotografia contemporânea.

O segundo evento específico é a Mostra de Performance110 da EBA/UFBA realizada desde 2010 na Galeria Cañizares. Com participações individuais e coletivas de artistas que desenvolvem as artes do corpo, a mostra envolve exposições e propostas que atravessam diversas questões temáticas utilizando vários recursos, inclusive problematizando a fronteira entre artes cênicas e artes visuais. Com nove edições até 2019, a programação é apresentada durante uma semana com registros em fotografia e vídeo divulgados parcialmente.

Dirigido às expressões e artes eletrônicas, o terceiro evento que merece destaque é o Festival Reconvexo, criado em 2013 e com uma edição de alcance latino-americano em 2017, reunindo vídeo-instalações, mapeamento digital, cinema expandido. Através de projeções, a proposta busca ressignificar espaços arquitetônicos, exibir trabalhos de vídeo-mapping e incentivar a criação de obras contextualizadas no Recôncavo da Bahia. Na primeira edição de 2013, compreendeu intervenções nas ruas, exposições em galerias, artistas convidados, debates e oficinas em escolas da rede pública. Na segunda edição de 2017, apresentou vídeo-projeções de imagens mapeadas em grandes fachadas, vídeo-projeções 3D, intervenções urbanas, videoinstalações, workshops, mesa-redonda e o ReconvexoLab, um laboratório criativo em vídeo-dança.

De todo esse panorama percebe-se que a extinção ou descontinuidade de instâncias internacionais (Bienal da Bahia, Bienal do Recôncavo), nacionais (Salão do MAM/BA, Prêmio Pierre Verger de Fotografia) e estaduais (Salões Regionais de Artes Visuais, Portas Abertas das Artes Visuais, Prêmio Matilde Matos, Circuito das Artes) têm provocado uma lacuna preocupante na circulação dos artistas, tanto dos iniciantes, que não têm como começar a apresentar suas primeiras obras, quanto dos mestres mais consolidados, que não encontram oportunidades de expor e incentivar sua produção. Ainda, o circuito mercadológico das galerias privadas é muito restrito e os espaços de vendas, tais como feiras e leilões, são incipientes. Nos museus e acervos, a ausência de pautas de ação institucional é uma constante. As gestões dificilmente estabelecem projetos a médio e longo prazo ou linhas de ação claras que permitam organizar contextos de discussão e atividades consistentes em paralelo às exposições. A redução dos departamentos educativos e a falta de agenda de promoção de foros de intercâmbio entre agentes, instituições e artistas, também parecem ter se acentuado no cenário de precarização geral.

 

O MERCADO DE ARTE BAIANO

Na 25ª Bienal de São Paulo, em 2002, Marepe (Marcos Reis Peixoto) apresentou a obra “Tudo no mesmo lugar pelo menor preço”, um muro de 6,00 x 2,30m, feito de tijolo, cimento, argamassa e tinta estampado com o slogan: "Comercial São Luiz - Tudo no mesmo lugar pelo menor preço". A peça, tecnicamente um ready made, foi trasladada de uma loja que vendia materiais de construção em Santo Antônio de Jesus, cidade onde o artista nasceu e vive até hoje.  Segundo o próprio Marepe111, seu pai trabalhava naquela loja que era a principal da cidade na época, e quando ele ia na loja, passava pelo muro. A obra conjuga a memória afetiva do artista, através de um objeto cotidiano da cultura local, e a imagem pragmática da propaganda que alcança uma dimensão mundana. Depois da Bienal, a obra foi adquirida por R$ 15.000,00 pelos colecionadores Fábio Faisal e Têra Queiroz de São Paulo. Cinco anos mais tarde a obra valia pelo menos quinze vezes mais112. Entretanto, além da singularidade conceitual do trabalho e das especulações mercadológicas da obra de arte, Marepe é um exemplo da relevância dos circuitos locais e regionais na circulação e legitimação do trabalho do artista. A primeira exposição coletiva de porte foi a 1ª Bienal do Recôncavo em 1991, na qual foi premiado, participando depois das duas edições seguintes. O próprio artista reconhece o papel do evento na construção de uma trajetória que o levaria gradativamente ao circuito internacional de eventos como as Bienais de São Paulo e de Veneza antes mencionadas. Todavia, Marepe constitui uma exceção no cenário da arte contemporânea brasileira e, mais ainda, no contexto baiano: produz desde uma cidade no interior da Bahia sem ter migrado para o Sudeste do país onde se concentra a comercialização de arte no Brasil. “Marepe, ao não migrar, é um exemplo de exceção – não apenas da postura do artista que opta por não migrar, mas também por ter conseguido estabelecer uma carreira institucional e comercial dentro de um sistema que por vezes exclui os artistas que não habitam no Rio de Janeiro ou em São Paulo”.113

Fig. 11 – Marepe, “Tudo no mesmo lugar pelo menor preço”, 2002. Local: 25ª Bienal de São Paulo – instalação. Fonte: https://raphaelfonseca.net/Desaguar-no-Rio-Sururu

A internacionalização do circuito de exposições e do mercado de arte é, talvez, uma das facetas mais reconhecidas do sistema de arte contemporâneo. Mas, como funciona essa tal internacionalização? Como se desenha o papel social do artista na estrutura institucional da arte? Que relações pode ou deve construir o artista com a esfera pública e com as instâncias não públicas para garantir uma mínima autonomia de produção e certa independência de ação? Diversos autores têm enfocado e analisado esse tipo de questões no âmbito internacional, principalmente em contextos europeu, norte-americano e, mais recentemente, asiático. Na última década alguns estudos têm apontado para o contexto latino-americano, mais na lógica de “novidade de investimento” e menos como possibilidade de conhecimento de especificidades. Os relatórios anuais do mercado de arte internacional fazem referência, desde 2012, à promissora e emergente participação da produção brasileira. Entretanto, os dados e levantamentos sempre estão dirigidos para as movimentações e transações acima dos cinco dígitos. Além dos balanços dos leilões, poucos são os dados qualitativos atualizados sobre o perfil institucional da arte e sua incidência na produção contemporânea. Todavia, os levantamentos artísticos no Brasil sofrem de crônica defasagem temporal e lacunaridade de dados, reles prospecção de cenários e escasso aprofundamento de diagnósticos comparativos. Em termos de arte contemporânea, os poucos estudos existentes são pautados por levantamentos apenas nas capitais estaduais.

O circuito artístico baiano desenhado até 2015 – quando começou a definhar – tinha atingido uma articulação de iniciativas, programas, instituições e eventos que permitiam um regime de visibilidade, circulação e comercialização da arte produzida no Bahia. Marepe e a maioria dos artistas mencionados em esta reflexão são uma prova disso. Mesmo assim, o circuito baiano ficava muito aquém das demandas da produção atual face à abrangência territorial do estado e à precariedade das estruturas institucionais de formação artística, acervos de referência e espaços de exibição. O mercado baiano é ainda inexpressivo no cenário nacional e nulo na escala internacional. Segundo dados de um levantamento encomendado pela FUNARTE em 2010, a participação do Brasil no mercado internacional não chegaria a 1%; o mercado interno de arte está dominado até hoje por São Paulo (60%) e Rio de Janeiro (20%); a Bahia era responsável em 2010 por, no máximo, 3% desse mercado e, apesar de estar à frente dos mercados pernambucano e capixaba, se situa até hoje na chamada ‘periferia atrasada’ que compreende a região Norte-Nordeste do país. Mas, como se reflete esse desempenho mercadológico incipiente na qualidade da produção dos artistas? Ou, melhor, quais as estratégias e especificidades da sobrevivência profissional dos artistas do Nordeste num cenário mercadologicamente irrelevante?

A arte foi, provavelmente, o último produto a entrar na lógica do consumo em série como outros itens da indústria capitalista. O comércio de arte é a menos transparente e menos regulamentada das grandes atividades econômicas. Portanto, para entender como se estrutura a economia da arte baiana, é bom começar por reconhecer que, de modo geral, as informações do mercado de arte são sempre uma incógnita, pois a maioria das negociações é opaca, as transações de arte são sigilosas, com estatísticas genéricas que costumam mencionar percentuais relativos às vendas entre períodos com volumes monetários pouco detalhados. As feiras fornecem uma síntese das movimentações restritas às galerias que participam dos grandes circuitos mercadológicos e aos artistas consagrados pelo mercado internacional. Porém, pouco espelham a realidade de produção e a abrangência da arte contemporânea e, menos ainda, a situação de contextos periféricos aos principais centros. Fora os grandes circuitos nos quais salários e honorários dos próprios artistas e dos profissionais de museus, galerias e casas leiloeiras podem chegar a níveis muito acima da média, pode-se dizer que a massa que depende da economia da arte vive em situação informal senão improvisada. No cenário da arte contemporânea baiana essa precariedade é facilmente constatável.

Das galerias comerciais que trabalham com arte contemporânea em Salvador, a Galeria Paulo Darzé, com 37 anos de trajetória e atualmente com 53 artistas representados, é a mais relevante por promover um diálogo permanente com outras instâncias da cena de produção e discussão artística na Bahia. A segunda galeria mais antiga é a Galeria Prova do Artista que, com 33 anos de existência e apesar de contar com acervo de 62 artistas, carece de qualquer interlocução além do interesse comercial. Já a Roberto Alban Galeria, fundada em 1989, apenas desde 2013 passou a operar na cena de arte contemporânea e atualmente conta com representação de 35 artistas. Desde 2001 e muito dirigida à cena de arquitetura e decoração, a Fabio Pena Cal Galeria conta com representação de 39 artistas e pouca aderência a eventos e foros além do comercial. Já a Zeca Fernandes Escritório de Arte, embora com escasso foco para arte contemporânea, desde 2007 promoveu alguns leilões que contribuíram com a movimentação de compradores de arte em Salvador. A RV Cultura e Arte, desde 2008 desenvolve diversas atividades de promoção e discussão de quadrinhos, ilustração, animação, lowbrow art e produção de múltiplos, representando 19 artistas e organizando alguns eventos específicos de arte serial. A Galeria Luiz Fernando Landeiro, ativa entre 2013 e 2019 e agora trasladada para a nova Galeria Paciência, apesar de ter foco em arte contemporânea e circulação em algumas feiras, carece de estrutura regular de acervo. Desde 2015, dentro do Shopping Paralela, opera a Galeria B-Arte, um espaço de venda de trabalhos de artistas com foco apenas mercadológico. Finalmente, no contexto da pandemia de 2020, há expectativa com a abertura da Casa Rosa como nova galeria de arte, aparentemente com foco em arte contemporânea.114

Além do contexto das galerias de Salvador, vale a pena uma aproximação ao perfil de emprego e renda da do meio artístico atualmente mediante alguns indicadores. Um pesquisa realizada pela revista seLecT em abril de 2020 com 462 participantes de todo o Brasil, para entender melhor a situação de uma parcela importante da cadeia produtiva da arte, mostrou que 51,9% desses trabalhadores – das áreas de vendas, produção, montagem, conservação, educativo, entre outros – não têm contrato de trabalho. Desse total, apenas 32,9% possuem vínculo empregatício em regime celetista; 58,8% afirmou ter rendimentos de até R$ 3.000; 69% não possui outra fonte de renda para além do campo da arte115.

Outra pesquisa, divulgada em 20/07/2020, realizada por um consorcio encabeçado pela representação da UNESCO no Brasil, revelou que dos 204 participantes, 44,42% dos trabalhadores da cultura na Bahia perderam 100% de sua renda durante a pandemia do novo coronavírus. Para 34% a prestação de serviços é a principal fonte de receita e para outros 34% é oriunda dos editais. Os principais setores de atuação verificados na pesquisa foram 40,29% de “Artes performáticas, música e celebrações”, 21,94% de “Artes visuais e artesanato”, e 16,13% de “Patrimônio e cultura popular tradicional”116.

Até a deflagração da pandemia em março de 2020, uma amostra117 de 330 artistas contemporâneos, em atividade e residentes na Bahia, revela que apenas 20 (6,1%) têm (ou tinham) alguma forma de representação de galeria, isto é, estão (ou estavam) inseridos no mercado de arte formalizado. Do elenco geral, pelo menos 50 (15,2%) são exclusivamente fotógrafos, sem considerar aqueles artistas que utilizam de algum modo a fotografia no processo criativo. Em termos de ingressos financeiros, se pode constatar que menos da terceira parte dos artistas na Bahia tinha até início de 2020 alguma fonte de renda regular, sendo 39 (11,8%) professores ou funcionários públicos e 60 (18,2%) que vivem de alguma atividade formalizada vinculada ou não à arte. Outra amostra revela mais um dado importante: dos 307 artistas participantes do Circuito das Artes entre 2007 e 2016, pelo menos 8 (2,6%) faleceram na última década e 22 (6,8%) migraram para fora do estado da Bahia, inclusive para o exterior do Brasil.

Cabe ressaltar que esse último perfil se refere exclusivamente ao grupo dos artistas. Se cotejamos com as outras duas pesquisas anteriores, em escala nacional da revista seLecT (artes visuais) e na escala estadual (área cultural em geral), ampliando o olhar para outros colaboradores e profissionais do meio de artes visuais, tais como montadores, assistentes, produtores, técnicos, curadores, designers, arte-educadores e mediadores, dentre outros, o quadro é mais vulnerável e, na perspectiva pós-pandemia, mais preocupante: a maioria dos produtores culturais e profissionais das artes dependem de empregos autônomos instáveis ou pequenos empreendimentos frágeis que mal conseguiram sobreviver à crise financeira internacional de 2008 e suas reverberações na Bahia. Portanto, sem uma mínima diretriz ou iniciativa de política pública específica, será muito difícil dinamizar uma economia da qual dependem não apenas os artistas como também uma série de profissionais vinculados às artes visuais.

 

O COLECIONISMO DE ARTES VISUAIS

O valor de um acervo artístico ou de uma coleção vai além da consideração individual das obras que compõem o conjunto, das perspectivas subjetivas dos artistas e das motivações de criação das peças. Como conjunto de objetos, toda coleção é produto de condições espaciais e temporais singulares, bem como das vicissitudes que determinaram a constituição desse patrimônio.

A Bahia tem admiráveis exemplares de arte e arquitetura de valor incalculável e elogiada apreciação ao longo do tempo. A tradição barroca e colonial bem como a produção modernista contam com rica fortuna crítica e acervos de referência nacional e internacional, desde os conjuntos urbanos monumentais, reconhecidos como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, às obras modernas inovadoras de artistas como Mário Cravo Jr., Carybé, Genaro de Carvalho ou Walter Smeták, dentre outros. Igrejas e museus baianos costumam ser lugares de visitação inesquiváveis para quem se interessa pelo conhecimento da arte brasileira.

No entanto, diferente de outras regiões do Brasil, a formação de coleções públicas de arte contemporânea é quase inexistente, inclusive instituições como os MAM/BA de Salvador, a Fundação Danemann de Cachoeira ou o MAC de Feira de Santana que contavam com alguma estratégia de aquisição periódica ou que dispõem de espaços próprios para exibição, pouco dialogam entre si no sentido de intercâmbios e mostras que discutam a produção contemporânea regional a partir de suas coleções. Em nível privado, as iniciativas são ainda mais escassas já que as poucas galerias existentes na região apenas dialogam (quando participam) no âmbito dos grandes circuitos do mercado nacional ou internacional como ArtBasel, ARCO, SP-Arte ou ArtRio, sem possibilidade de encontros regionais que possam oferecer uma alternativa em escala intermédia entre o nacional/internacional e o local.

Em nível institucional, na Bahia há pelo menos quatro grandes coleções de arte que incluem peças de arte contemporânea: em Salvador, as do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA), da Associação Cultural Brasil - Estados Unidos (ACBEU) e da Escola de Belas Artes (EBA/UFBA), e em Feira de Santana, a do Museu Regional de Arte (MRA-UEFS). Pode-se dizer que essas são as únicas instituições culturais que têm alguma política de aquisição e/ou de recepção de obras de arte contemporânea e que contam com alguma diretriz de formação de acervo. Entretanto, nenhuma dessas têm orçamento específico para aquisição regular de obras, com escassos recursos para trabalhos de reserva técnica, de restauração de peças e/ou de manutenção dos acervos. O MAM/BA, a EBA/UFBA e o MRA-UFES são instituições públicas estaduais ou federal, enquanto a ACBEU é privada.

Antes referido em outros tópicos deste texto, o MAM/BA em Salvador é considerado o principal espaço para a arte contemporânea do estado e um dos mais importantes do país. Desde 1960 guarda uma coleção com mais de 1.200 peças, das quais, uma pequena parte, fica exposta de modo permanente no Parque das Esculturas, como galeria ao ar livre aberta ao mar. O acervo abrange um panorama de contribuições de artistas de várias gerações, dos modernistas, como Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Flávio de Carvalho, Pierre Verger, José Pancetti, Samson Flexor e Carybé, até os contemporâneos, como Tunga, Waltercio Caldas, Siron Franco, Marepe, Ayrson Heráclito, Caetano Dias, entre outros118.

A ACBEU de Salvador é um centro binacional, cultural e educacional, sem fins lucrativos, cujos objetivos são a promoção, o patrocínio, o desenvolvimento e o intercâmbio entre os povos, sobretudo entre o Brasil e os Estados Unidos da América, sempre visando oferecer educação de excelência e promover atividades culturais. Fundada em 1941, a ACBEU inicialmente funcionou no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) e, mais tarde, na Rua São Raimundo até sua transferência em 1975-76 para o local atual no Corredor da Vitoria. Nesse contexto, há 40 anos, surgiu a Galeria ACBEU construindo uma trajetória de incentivo às artes visuais através de exposições, atividades culturais e parcerias com outras instituições. No percurso, despretensiosa e afetivamente, formou-se uma coleção única sobre a produção artística na Bahia desde os anos 1970. Os artistas foram doando trabalhos como forma de agradecimento pela realização de exposições na galeria e o legado foi ganhando dimensão e demandando uma atenção especial em termos de gestão e conservação. A pesar da coleção não ser o foco principal da missão institucional, desde 1990 a ACBEU formalizou uma coordenação da galeria e uma sistemática de ingresso de obras no acervo através de um regulamento que dispunha, dentre outras condições, sobre a seleção da pauta anual para ocupação do espaço físico da galeria e sobre a doação de uma obra artística por parte dos expositores. Assim, até o fechamento em 2018, a Galeria consolidou visibilidade e profissionalização119. Depois de mais de 40 anos da trajetória como um dos espaços de artes visuais mais relevantes da vida cultural soteropolitana, a coleção ACBEU compreendia mais de 320 obras abrangendo um amplo panorama das possibilidades técnicas e linguísticas da arte contemporânea desenvolvida na Bahia, principalmente através das doações da última década. São obras que fazem parte de séries, processos e trabalhos memoráveis de artistas brasileiros com reconhecimento local, nacional e internacional, muitos dos quais realizaram sua primeira mostra individual naquela instituição120.

Também a coleção da EBA/UFBA em Salvador é um caso interessante para refletir como se forma uma coleção institucional de arte e as demandas de um acervo de efetivo alcance público. As obras mais antigas da coleção datam de fins do século XIX adquiridas por compra ou premiações, a exemplo do Prêmio Caminhoá. Porém, nas últimas décadas, considerando-se a inexistência de recursos financeiros da Universidade para aquisição de obras de arte, pode-se dizer que o mecanismo mais frequente tem sido a doação de trabalhos por iniciativa tanto dos próprios artistas, alguns deles alunos e professores, e de particulares, muitas vezes pessoas anônimas vinculadas ou não à Escola. Assim, a Escola tem acumulado um valioso acervo de pintura, desenho, gravura, escultura e fotografia que totaliza mais de 500 peças, muitas das quais à espera de recursos para urgentes trabalhos de conservação e restauração. Uma parte significativa das obras, majoritariamente de pintura, incluídas as mais antigas do acervo, está em exibição permanente nos espaços do Casarão principal enquanto outra parte de obras, todas tridimensionais, se encontra no jardim. Em termos de critérios de formação, a coleção carece de curadoria para a aceitação de novas obras, com lacunas importantes na sua representatividade enquanto acervo institucional. Por exemplo, apesar de terem lecionado na Escola por alguns anos, mestres como Genaro de Carvalho, pioneiro da tapeçaria moderna brasileira, Mário Cravo Júnior, principal mestre da escultura moderna baiana, ou Hansen Bahia, referência fundamental para a gravura baiana, no acervo não consta qualquer obra deles. Entretanto, a maioria dos professores atuais, que são artistas em atividade, tem tomado a iniciativa de doar obras próprias para a Escola e de incentivar alguns estudantes destacados a fazer o mesmo, sobretudo a partir das duas exposições de efeméride da fundação da Escola, nos 130 anos em 2008 e nos 140 anos em 2018. Tudo isso tem possibilitado formar um pequeno panorama da produção artística local, apesar de caminhar de modo muito lento no sentido de profissionalização institucional, no que diz respeito à catalogação, problematização e crítica da coleção, que permitam uma difusão maior desse patrimônio121.

A coleção do Museu Regional de Arte (MRA) de Feira de Santana é menos conhecida, embora muito significativa em sua trajetória e qualidade artística. O Museu foi criado em 1967 com apoio de Assis Chateaubriand e é um dos mais importantes do Estado. Institucionalmente pertence ao Centro Universitário de Cultura e Arte da Universidade Estadual de Feira de Santana (CUCA-UFES), o acervo formado com doações privadas conta com arte modernista brasileira (inclusive com participantes da Semana de 22), arte nipo-brasileira, arte naif, artistas modernos ingleses e trabalhos contemporâneos de renomados artistas brasileiros, baianos e feirenses122.

Cabe assinalar que nos cadastros do IBRAM desde 2011 não constam o acervo da EBA/UFBA (constam os acervos EMUS/UFBA, MAS/UFBA, MAE/UFBA) e o acervo da ACBEU, bem como também não aparecem relacionados acervos institucionais soteropolitanos como os acervos Odebrecht, Desenbanco, Banco do Brasil da Bahia e Casa do Rio Vermelho (de Zélia e Jorge Amado). O cadastro do IBRAM não elenca espaços privados de frequentação coletiva que têm acervos, tais como Lalá Casa de Arte, Espaço Ativa, Galeria Paulo Darzé e Galeria Roberto Alban, dentre outros. Também é interessante notar que há pelo menos 35 coleções de fotografia identificadas no Estado123.

Todavia, acervos contemporâneos de colecionadores particulares, em geral são restritos, de difícil acesso e, na maioria dos casos, sigilosos. As coleções particulares de alguns dos principais ícones culturais baianos modernos apenas chegaram a ser expostas antes de serem vendidas pelos herdeiros, sem a mínima chance de constituírem fundos para os museus existentes ou de virarem acervos de acesso público que fomentassem a emergência de um museu de arte contemporânea. Apenas restou o catálogo do leilão no Rio de Janeiro da coleção de Zélia Gattai e Jorge Amado, por exemplo, formada pelos escritores de modo afetivo ao longo de sua vida, e apressadamente leiloada e dispersa sem nunca ter sido exposta ao público baiano. A coleção de Odorico Tavares, felizmente exposta uma única vez na Bahia, já começou seu processo de venda de peças isoladas e de dispersão.

Sem dotação orçamentária para as instituições adquirirem obras, são as coleções particulares que garantem a movimentação das galerias baianas. Mas, quais as preferências dos colecionadores baianos? Não há dados do perfil dos compradores baianos, mas, segundo alguns galeristas, a abstração é difícil de vender e as preferenças na Bahia são por trabalhos de temática figurativa. Das coleções contemporâneas particulares acessíveis, o acervo da Galeria Paulo Darzé é o mais relevante.

Fig. 12 – Fábio Magalhães, “Onde moram os devaneios”, 2013. Óleo sobre tela, 250 x 230 cm – Coleção Particular. Fonte: https://fabiomagalhaes.com.br

Fig. 13 – Musa Michelle Mattiuzzi, “merci beacoup, blanco!”, 2012 - performance, Salvador. Foto: Hirosuke Kitamura. Fonte: https://www.premiopipa.com/pag/artistas/michelle-mattiuzzi/

Fabio Magalhães124 é um dos artistas baianos emergentes nos anos 2000 que integra esse acervo. Por um lado, o artista alcançou uma legitimação institucional, no sentido de valores simbólicos e técnicos representativos da sua época, sendo reconhecido em eventos nacionais como o XV Salão da Bahia e do Programa Rumos, e, por outro lado, sua obra é interessante em termos mercadológicos, tanto como valor de investimento quanto de receptividade favorável no gosto dos colecionadores. Mas, que tipo de obra Fábio produz? Embora ele tenha alguns trabalhos tridimensionais, estamos falando aqui de obras de pintura, de óleo sobre tela, em dimensões generosas, de linha hiper-realista, em um processo técnico de concepção visual que envolve recursos de performance, cenografia, fotografia e desenho. Fábio conjuga virtuosismo técnico com temática autorreferencial na qual associa, metaforicamente, imagens do próprio corpo, sentimentos, estados psíquicos e situações banais, buscando ressaltar condições inconcebíveis de serem retratadas senão por meio de artifícios e distorções da realidade. Cabe frisar: estamos falando de pintura que é a linguagem que domina o mercado de arte de galerias, tanto de arte contemporânea quanto de outras categorias (velhos mestres, arte moderna, arte de pós-guerra)125.

Se a pintura tem um trânsito dominante na constituição das coleções de arte na Bahia, muito diferente é a receptividade de obras das linguagens mais recentes, como vídeoarte, artes eletrônicas, instalações e artes do corpo. Em geral, os artistas dessas produções dependem mais do patrocínio e apoio à execução dos seus projetos do que da venda ocasional das obras enquanto objetos. Nesse sentido, as performances de Musa Michelle Mattiuzzi126 são obras extremamente simbólicas, visualmente primorosas e com camadas de leituras impactantes sobre as políticas de raça e gênero. Discute as práticas de opressão, exclusão e exploração da mulher negra, e coloca em evidencia as urgências decoloniais. Na cena das duas últimas décadas, sem dúvidas, os projetos de Michelle são o que há de mais potente em termos de técnica e linguagem de uma artista individual na Bahia e, possivelmente, do Brasil. Seu trabalho tem alcançado amplo reconhecimento nacional e internacional, no âmbito institucional do circuito de bienais de arte como a XIII Documenta de Kassel, ou seja, mostras onde costuma haver obras imersivas e projetos experimentais que são difíceis de ver nas galerias tradicionais. Entretanto, performance é um tipo de trabalho artístico ainda com limitada receptividade no mercado de arte.

Os trabalhos de Fábio e Michelle são propostas artísticas diferentes, oriundas de repertórios diferentes, mas que desestabilizam quem desavisadamente acredita ou entende a arte contemporânea como algo contemplativo. No reduzido e conservador mercado baiano, as obras de Fábio, enquanto objetos colecionáveis, teriam maior aceitação que as obras de Michelle, efêmeras em sua condição performática e imateriais. Entretanto, ao não haver investimentos públicos na formação de coleções de arte contemporânea, e no atual cenário de desestrutura geral e de precarização institucional, é muito provável que ambos os artistas, como tantos outros contemporâneos, fiquem ausentes no legado artístico de referência institucional para as próximas gerações.

 

CIRCUITOS ESPECÍFICOS E CIRCUITOS ALTERNATIVOS

Uma das últimas obras apresentadas em Salvador antes da pandemia do Covid-19 foi a obra “Folha de Guarda”, que aconteceu em 11/01/2020 no Atelier Ativa e em 05/03/2020 na EBA/UFBA. Os artistas Alex Simões (poeta e perfomer), Laura Castro (escritora e artista gráfica), Leonardo França (dançarino e músico) e Raiça Bomfim (atriz e performer) realizaram uma ação performática que compreendia música, poesia, ação ritual e objetos. Embora o grupo não se considere um coletivo artístico, os artistas desenvolvem diversos projetos e parcerias há tempos. A obra, além da sua potência artística, é representativa de várias questões referidas ao longo deste texto sobre o modo de produção e circulação de arte na Bahia e explicitam outras questões. Em primeiro lugar, o trabalho emerge da confluência de vários projetos pessoais dos artistas que resultam em uma articulação rica de sensações, sentidos e recursos, com uma visualidade forte e uma singular relação tempo e espaço diferente da previsibilidade de um roteiro narrativo e da dinâmica de uma coreografia ou produto cênico. Em segundo lugar, a performance aconteceu em um espaço não institucionalizado e em uma situação festiva informal sem, contudo, estar atrelada a um contexto de entretenimento. Depois foi repetida em um âmbito oficial, tecendo novas relações de receptividade. Em terceiro lugar, a obra, embora de baixo custo, não teve qualquer instância de produção subsidiada se considerada a relativa complexidade de elementos envolvidos, sendo custeada e montada pelos próprios artistas.

Fig. 14 – Alex Simões, Laura Castro, Leonardo França e Raiça Bomfim, “Folha de Guarda”, 2019. Local: Atelier Ativa – performance – Foto da autora, 11/01/2020.

De modo panorâmico, até aqui foi apresentada a produção artística baiana através de um elenco de artistas destacados e dos principais elementos do sistema de arte estadual, tanto da estrutura oficial ou institucionalizado, quanto da dimensão paralela do colecionismo com perfil mais mercadológico. Entretanto, há um repertório ainda maior que compreende ou que se pode chamar de circuitos específicos de determinado tipo de manifestações e de circuitos alternativos para um mercado de pequena escala, onde trabalhos como Folha de Guarda se gestam e acontecem.

Na cena da Bahia, e principalmente de Salvador com ecos em alguns lugares do interior, podem ser identificados, pelo menos, seis circuitos específicos de veiculação e diálogos das artes visuais com outras expressões culturais: artes eletrônicas, performance e artes do corpo, fotografia, cinema e audiovisual, arte serial, artes da palavra.

Assim como foi comentado o incipiente circuito de artes eletrônicas surgido na última década em Cachoeira, com grupos de pesquisa na UFRB e eventos como o Festival Reconvexo, as manifestações de performance mantém fronteiras difusas com as artes cênicas e outras linguagens do corpo, principalmente em Salvador através de eventos como o Festival Internacional de Artes Cênicas (FIAC), o Festival Latino-Americano de Teatro (FILTE), o Palco Giratório do SESC127 e os trabalhos de alguns diretores, como Jorge Alencar, Gil Vicente e Márcio Meirelles. É pertinente mencionar o âmbito da cenografia e figurinos como áreas de atuação de muitos artistas visuais, seja em peças isoladas ou através de ações continuadas em instituições como o Teatro Castro Alves (TCA).

A cena de fotografia baiana, como também já foi citado, conta com acervos, publicações, eventos, instituições como a Fundação Pierre Verger, galerias especializadas como as Galerias Alma e Triângulo e cursos como os do Instituto Casa da Photographia128. Também a produção artística de videoarte dialoga com instâncias formalizadas tanto públicas, como as Salas Walter da Silveira e Alexandre Robatto, quanto privadas, como o circuito SalaDeArte, o programa Cinematógrafo e o Itáu Cinemas/Cine Glauber. Além dos eventos específicos de longa trajetória como as Jornadas Internacionais de Cinema da Bahia (1971 a 2012) e os que surgiram ou se consolidaram nas últimas duas décadas, como os Festivais Panorama Coisa de Cinema (Salvador), Festival Cachoeira Doc (Cachoeira), e Mostra Cinema Conquista (Vitória da Conquista), no âmbito da UFRB, a criação do primeiro curso de cinema do Norte/Nordeste promoveu a formação de foros interessantes para artistas visuais que trabalham com meios audiovisuais.

A veiculação e a difusão de arte serial têm um circuito reduzido e com escassa visibilidade na Bahia. A cena de grafitti, histórias em quadrinhos (hq’s), ilustração, tatuagem, animação, toyart e produção de múltiplos, concentra um significativo repertório de nomes e vozes com uma produção intensa. Entretanto, apenas a galeria RV Cultura e Arte promove regularmente eventos e oferece um acervo atualizado de publicações.  Também, as artes da palavra têm estreita relação com o circuito de arte serial e de design gráfico. Muitos saraus promovidos por arte-educadores como Nelson Maca, feiras literárias como a FLICA de Cachoeira e outras práticas relacionadas ao circuito literário são espaços de interesse de artistas visuais que trabalham com livros de artista e repertórios de literatura, conjugando poesia, performance e música. Uma iniciativa relacionada com esse contexto, tem sido promovida desde 2016 pelas artistas Daniela Steel, Inês Linke e Andrea May junto à artista portuguesa Susana Bravo, no sentido de discutir e exibir um tipo específico de produção: livros de artistas.

Os aqui identificados como circuitos alternativos reúnem empreitadas e ações que, de modo paralelo ao circuito oficial institucional e comercial mais reconhecido, buscam estimular e difundir a produção artística contemporânea através de foros de discussão, eventos e propostas mercadológicas de pequena escala. Entretanto, a diversidade do empreendedorismo cultural e as iniciativas experimentais, práticas colaborativas e recursos de economia criativa dessa cena alternativa levantam questões sobre possíveis estruturas emergentes desses modos de produção e circulação artística que resultam das estratégias de sobrevivência em tempos de omissão institucional e de precarização das políticas culturais na Bahia e no Brasil.

Considerando a área central de Salvador até o bairro do Rio Vermelho, região onde se concentra grande parte dos equipamentos e instituições oficiais da arte já referidos, pode se avaliar uma quantidade de propostas alternativas interessantes que se desenvolvem nas últimas duas décadas e servem para ter uma ideia da potência desse setor para o cenário da arte contemporânea. O que ocorre em Salvador pode ser cotejado com muitas iniciativas alternativas em outras cidades e regiões do Estado, isto é, em paralelo à cena oficial, por reduzida que seja, sempre há iniciativas alternativas que precisam ser relevadas na hora de apreciar a produção contemporânea baiana.

Em Salvador, talvez, o mais longevo dos espaços físicos alternativos seja o Beco dos Artistas no Garcia onde, com altos e baixos, têm-se congregado diversas manifestações em torno de questões de gênero e da produção de artistas marginalizados de outros âmbitos de circulação. Nesse sentido, cabe lembrar do outrora Quixabeira dos anos 1990 e atual Casa Rosada, e do Velho Espanha, ambos nos Barris, com perfil versátil para eventos tanto artísticos quanto usos comerciais vinculados ao entretenimento. Nas últimas duas décadas, outros locais têm acolhido propostas que interligam diversos tipos de manifestações interdisciplinares, a exemplo da Casa Preta no Sodré e da Casa Santa Luzia no Comércio. Além desses, cabe lembrar a iniciativa de Orlando Pinho, desde 2013 à frente das temporadas do Dominicaos, com apresentações memoráveis de música, performance e intervenções audiovisuais, realizadas aos domingos, primeiro na casa da Rua do Carmo 13, depois na Casa Antuak da Rua Democratas 21 e finalmente nos Barris.

Também, vale ressaltar a dinâmica interessante do bairro de Santo Antonio além do Carmo onde além de numerosos ateliês de artistas, costuma haver uma programação cultural variada, não isenta de controvérsias e atividades que tem sido alvo de oportunismos turísticos e mercadológicos, desde as rodas de samba do Grupo Botequim ao desfile carnavalesco do Bloco DeHojeaOito (DHJ8). O bairro concentra espaços independentes como o Solar Santo Antônio de Dimitri Ganzelevitch, incansável promotor cultural e um dos marchands mais ativos e engajados da cidade, além de espaços de cafés e bares como D’Venetta, Cafelier, Oliveiras e Aboca, que costumam acolher algumas propostas de artes visuais. Também merecem destaque as ações de artistas como Daniela Amoroso e Raquel Mascarenhas que, durante um tempo, abriram suas casas no bairro para experimentações e exposições artísticas.

Já no Rio Vermelho, além dos bares mais antigos que muitas vezes abrem espaço para manifestações de artes visuais, como o Tropos e o Ciranda Café, há pelo menos dois espaços de iniciativa privada que merecem atenção em seu perfil propositivo. O primeiro é o Lalá-Casa de Arte, de Luiz Ricardo Dantas, que desde 2011 promove eventos com diversas parcerias e colaborações, inclusive apresentações pioneiras de artes visuais e manifestações performáticas de altíssima qualidade. O segundo espaço é o Ativa Ateliê, sob coordenação de Lanussi Pasquali, que, consolida uma trajetória de ações e eventos multilinguisticos como o Perto de Lá/Close to There (realizado no MAB em 2015) e a Ocupação Coaty (realizada em 2016 durante três meses no outrora restaurante Coaty da Ladeira da Misericórdia). O Ativa, desde 2019, oferece diversas modalidades de formação e discussão de arte bem como promove ações de intercâmbio (já mencionadas no item sobre as residências artísticas) em parceria nacional e internacional.

Muitas dessas alternativas não institucionalizadas, envolvem intervenções na preexistência de sobrados e casas em estado precario, dinamização cultural e social em diferentes escalas urbanas, e proposição experimental que não encontra acolhimento em outras instâncias129. Nessa linha, o Mouraria 53, encabeçado por Pedro Alban, conjuga experiências de arquitetura, exposições de arte, ateliês diversos e discussões de sustentabilidade. Já o Centro Cultural Que ladeira é essa?, situado no casarão da Ladeira da Preguiça 10, desde 2013, através de colaborações da comunidade com diversos artistas, tem apoiado mobilizações pela valorização e visibilidade do entorno com perspectivas diferentes ao processo de gentrificação da área.

Dentre os eventos alternativos em contextos institucionais, merecem destaque as produções da infatigável Andrea May, promovendo as artes visuais mediante exposições e feiras em diferentes formatos. Na street art (arte urbana ou arte de rua) realizou ações colaborativas de âmbito nacional como o ATTACK+ em 2003. Em 2005 foi uma das pioneiras da ToyArt no Brasil, promovendo intercâmbios entre vários artistas e expondo individualmente ou em mostras coletivas por vários estados. Entre  2010 e 2013 realizou e coordenou o projeto colaborativo de exposições e oficinas Atelier Coletivo Visio.; entre 2011 e 2012 desenvolveu o COLLAB, uma rede colaborativa de criação à distância, promovendo a interatividade da arte, valorizando as diferenças; e entre 2013 e 2014 realizou o NOISE INVADE, coletivo dedicado à estética do "ruído" através de experimentações sonoras e visuais no Brasil e Portugal.130

Outra artista que desenvolve projetos colaborativos de feiras e instâncias de intercâmbio de artes visuais, sobretudo artes gráficas, é Flavia Bonfim131. Desde 2013 realiza oficinas de bordado com comunidades de bordadeiras em Sussuarana, envolvendo ocasionalmente outras artistas. Também tem organizado, entre 2013 e 2019, as diversas edições do Festival de Literatura e Cultura Gráfica (FILEX) e, entre 2016 e 2019, as várias edições das feiras Pedra-Papel-Tessouro (PPT), Taboão, Ladeira e Paraguassu, todas propostas que constituem uma oportunidade de exibição de trabalhos, venda de pequeno porte e intercâmbios entre os artistas.

Da cena do interior do Estado, além das práticas institucionalizadas já mencionadas e registradas no IBRAM, podem se destacar pelo menos três iniciativas diferentes: a Galeria Arte & Memória de Igatu, o CAMMA em Massarandupió e o Museu do Mato em Mucugê.

A Galeria Arte & Memória, criada em 2002 pelo artista plástico Marcos Zacaríades132, é uma boa demonstração do poder transformador da arte numa comunidade. Embora registrada no IBRAM, pode ser considerada como circuito alternativo por conta de sua singularidade e localização. No pequeno povoado de Igatu, perdido entre as montanhas da Chapada Diamantina, com cerca de 380 habitantes, sem banco, sem farmácia, sem supermercado e sem transporte, não é pleonasmo dizer que Zacaríades tira leite das pedras. Guardadas as devidas proporções, este que pode ser chamado de primeiro curador do garimpo, criou uma referência comunitária comparável à iniciativa do empresário Bernardo Paz com o Instituto Inhotim em Minas Gerais, também criado em 2002, mas só aberto ao público quatro anos mais tarde. Em Igatu, Zacaríades construiu um museu e uma galeria de arte contemporânea entre ruínas de antigas casas de pedras, consolidando, com os moradores do povoado, um acervo de utensílios usados por garimpeiros entre as décadas de 1930 e 1950. Entre as ruínas das velhas “locas” e habitações dos garimpeiros, se estrutura um jardim com esculturas de arte contemporânea e agradáveis espaços de descanso com loja e café. O complexo é um exemplo de articulação entre patrimônio ambiental, cultural e arquitetônico e projeto de sustentabilidade sócio-econômica-turística-cultural.

Fig. 15 – Marcos Zacariades, Gaeria Arte & Memória, Igatu. Fonte: http://www.marcoszacariades.com.br/galeria-arte-memoria

O Centro de Artes Maxim Malhado (CAMMA), localizado na residência do artista na praia de Massarandupió, é uma iniciativa que, de certo modo, dá seguimento à experiência da Esteio Galeria de Arte referida no início deste texto. Desde 2016, o espaço, segundo o artista Maxim Malhado, “tem como principal objetivo promover encontros, brincadeiras, visitas, utilizando a arte e suas facilidades como se quisesse eterizar instantes”. Realiza atividades diversas de discussão e criação artística bem como pequenas feiras de artesanato local e obras de arte de artistas convidados.

O Museu do Mato, localizado na zona rural de Mucugê, aos pés da Serra do Sincorá, no Parque Nacional da Chapada Diamantina, é um laboratório artístico e museológico experimental que investiga o patrimônio integral (natural, cultural, tangível, intangível) da região através de pesquisas e trabalhos coletivos de observação, escuta e coleta de dados, documentos, imagens, arquivos pessoais e relatos de pessoas que vivem na Chapada Diamantina. Fundado em 2016, a partir dos mapeamentos, procura relacionar e entender os conteúdos da região (processos, natureza, gente, formas de adaptação ao ambiente, usos e costumes, cultura, movimentos e memória local), o que pode resultar em produção artística, cultural ou científica. O museu trabalha e compartilha os conteúdos através de conversas, oficinas, práticas rurais, residências criativas, trilhas, ciclos de filmes, e outras ações. O acervo é formado por materializações das ações (relatórios, fotos, objetos, documentação, construções poéticas) e resultados dos mapeamentos (coleções, publicações, arquivos, experimentações artísticas), que poderão ser acessados por meio digital e visitas presenciais133.

 

A CRÍTICA DE ARTE E PUBLICAÇÕES ESPECÍFICAS NA BAHIA

Como se discute arte? Quem promove ou faz a crítica? Que instâncias e veículos são relevantes para a discussão e divulgação da produção? De modo recorrente, os textos e referências históricas sobre a arte baiana se limitam a elencos de artistas e citação de algumas obras, com frágil articulação de contextos e escassa reflexão crítica, muitas vezes reduzida a detalhes biográficos e comentários laudatórios sobre a produção artística. A trajetória da institucionalização, a profissionalização e o desenvolvimento do campo artístico, costumam ser tratados de modo anedótico, evitando posicionamentos sobre o fazer presente e muitas vezes com arcabouços conceituais inadequados ou distantes do fazer baiano. A ausência de publicações específicas no meio local, seja na forma de colunas na imprensa diária ou através de revistas e periódicos regulares, limita consideravelmente a construção de reflexões instigantes em torno da cena de artes visuais, bem como da formação de conhecimento e divulgação da produção dos artistas em atividade na Bahia.

Bibliotecas, de modo geral, são escassas em todo o Estado. Bibliotecas de arte são ainda mais raras. E bibliotecas com acervo atualizado sobre arte contemporânea e com publicações recentes são uma miragem. Possivelmente as bibliotecas de arte mais tradicionais são as da EBA/UFBA (com alguma atualização graças ao PPGAV/UFBA), MAM/BA (com catálogos próprios e ampliada graças a intercâmbios institucionais entre 2007 e 2015), MAB (com acervo antigo e carente de atualização), Goethe-Institut (com foco em arte e cultura alemãs, revistas mensais e jornais), Alliance Française (com foco em arte e cultura francesa, mas pouco atualizada), Instituto Cervantes (com foco em arte e cultura espanhola e latino-americana) e ACBEU (com foco em arte e cultura estadounidense).

Além das escassas bibliotecas, não há livrarias especializadas em artes visuais. Nos anos 1990 as livrarias de Salvador que ofereciam catálogos de títulos de arte atualizados eram principalmente a tradicional Civilização Brasileira (possivelmente o grande precedente das grandes redes de livrarias do Brasil) e a baiana Grandes Autores (que chegou a ter uma loja no Itaigara e outra em Ondina). Na década seguinte, quando surgiram algumas livrarias pequenas e sebos interessantes, a exemplo do sebo Beringela na Praça da Sé, a Livraria da Torre no Rio Vermelho, e o espaço cultural Porto dos Livros na Barra, funcionou a única livraria especializada em artes que houve na capital, a Galeria do Livro (de 2004 a 2013). Ainda, pode-se dizer que, até início dos anos 2010, a carência de bibliotecas especializadas em arte e atualizadas sobre a produção contemporânea, encontrou certo contraponto na consolidação das livrarias de rede, como Saraiva e Cultura. Mas, desde a chegada da Amazon em 2014 no Brasil, o e-comerce começou a devorar parte significativa da clientela que comprava livros no varejo tradicional – a maioria das livrarias pequenas desapareceu e, inclusive, entre 2017 e 2018 a Saraiva fechou 20 lojas pelo país, a Cultura enxugou seu quadro de funcionários e ambas passaram a investir nas vendas eletrônicas. Se no interior da Bahia, a oferta de publicações de arte contemporânea sempre foi precária, senão inexistente na maioria dos municípios, a instalação das novas Universidades com bibliotecas novas e o e-comerce facilitaram o acesso a livros, catálogos e revistas de arte, sem mencionar o acesso a sítios digitais de ampla gama. Sem dúvidas, essa acessibilidade para artistas, produtores e pesquisadores em arte que estão afastados das livrarias tradicionais é um dos aspectos positivos da digitalização do mundo.

Além das bibliotecas e livrarias, a qualidade e o alcance da crítica de arte de um lugar podem ser aferidos pelo espaço da cobertura dos eventos artísticos na imprensa local e pela repercussão da produção na imprensa nacional. Nesse sentido a imprensa do Norte-Nordeste revela-se cada vez mais precária, principalmente na Bahia onde o jornalismo cultural é quase inexistente na imprensa local, tanto em mídia impressa e digital quanto televisiva. Os principais jornais do estado atualmente (A Tarde, Correio, Tribuna), em geral, têm colunas semanais de crítica de cinema, de música ou de moda, porém, não dispõem de colunas de crítica de arte ou de uma mínima agenda artística bem comentada. Não raro, os comentários sobre arte aparecem misturados às pautas das colunas sociais ou se limitam à divulgação de releases. Em geral, os espaços fixos das duas ou três colunas de arte e cultura existentes, são mais descritivas de alguns acontecimentos, porém, com pouca potência para promover discussões e reflexões mais duradouras que a efemeridade das aberturas ou coquetéis de vernissages. Em termos de articulação com o pensamento e discussões da arte contemporânea são textos muito afastados de reflexões com potencial formativo e instigante, tanto para o público como para os artistas e produtores de arte na Bahia.

Infelizmente, também não há publicações regulares específicas e periódicos baianos de artes, com exceção de poucas propostas descontinuadas de revistas que emergem de editais e alternativas editoriais por iniciativa dos próprios artistas, designers ou produtores culturais, a exemplo das revistas independentes Umbu, Gravidade, Barril e Miolo. Mesmo os poucos cadernos e periódicos acadêmicos de artes, a exemplo da revista Extensão da PROEXT/UFRB e das revistas Ohun e Cultura Visual e do Dicionario Manuel Querino do PPGAV/UFBA, apresentam escassa abordagem da produção da arte contemporânea. Das iniciativas institucionais, cabe destacar o Programa de Incentivo à Crítica das Artes desenvolvido pela FUNCEB desde 2011, porém, atualmente interrompido. Esse programa visava a democratizar o acesso à cultura e estimular a formação artística dos criadores, técnicos, produtores e pesquisadores da área de artes em geral, mediante a promoção da produção qualificada de crítica de artes. Teve dois seminários em 2011 e 2012, quatro volumes impressos e a publicação do periódico Cítrica (com duas edições) 134.

Finalmente, cabe salientar que, nos últimos quatro anos, praticamente desapareceram os recursos e financiamentos para publicação de catálogos e livretos de atividades e exposições, prejudicando as instâncias de registro e comprometendo a construção da memória da produção artística baiana.

 

ALÉM DOS ARTISTAS: AGENTES DA CENA ARTÍSTICA

Na Trienal Frestas de 2014, em Sorocaba, Caetano Dias135 apresentou a obra “Delírios de Catharina”, um trabalho escultórico composto de mais de 60 cabeças feitas de açúcar fundido e uma mesa de estilo português manuelino feita de sangue de boi e resina. O trabalho resultou de uma pesquisa de mais de dez anos que o artista desenvolveu com desdobramentos em diferentes obras feitas com açúcar, desde o pequeno Canto Doce (citação do Canto Gorduroso de Beuys) na Estação da Calçada em 2006, até um Labirinto Doce construído no MAM/BA em 2009, quase sempre conjugando a história do açúcar, a história da escravidão no Brasil e a diáspora negra africana. O nome da obra alude à índia Catharina Paraguaçu; as cabeças, com traços negros e mestiços, evocam os africanos escravizados; a mesa é uma referência à racionalidade portuguesa e ao processo violento de colonização. Para a produção o artista trabalhou com dois assistentes e também com um ajudante para buscar o sangue de boi em Feira de Santana. As cabeças foram feitas durante dez anos a partir de moldes de silicone e gesso de cabeças de pessoas diferentes, contando com a colaboração de amigos, voluntários, pessoas contratadas, técnicos, etc., ou seja, uma equipe dinâmica que teve vários envolvidos no processo.

Em paralelo às pesquisas de Caetano, entre 2008 e 2020, Vinicius S/A136 montou 17 vezes a instalação “Lágrimas de São Pedro” em diferentes lugares. Com grande sucesso de público e de crítica no Brasil e no exterior, a última apresentação foi em Ribeirão Preto em abril de 2020. Simbolicamente a obra remete à memória do artista, à chuva no sertão e à suspensão do tempo. A instalação imersiva é composta por mais de 3.500 “lágrimas” formadas por bulbos de lâmpadas cheios d’água presos por fios de nylon ao teto do espaço em diferentes alturas e com um tipo de iluminação específica. Na maioria das montagens o artista leva uma equipe de cinco pessoas (uma produtora, dois montadores, um auxiliar de montagem e um fotógrafo) e para pendurar as lágrimas contrata de oito a doze pessoas no local da instalação; para a produção da obra chegou a contratar mais de vinte pessoas. Além disso, tem uma série de profissionais autônomos mobilizados para cada montagem, tais como pintor, marceneiro, serralheiro, assessor de comunicação, auxiliar de transporte, técnico de iluminação, engenheiro para emissão dos laudos necessários, eletricista, designer gráfico, técnico de plotagem e educadores que participam da mediação com o público.

Além dos valores artísticos, ambas as obras de Caetano e Vinicius, sejam Delírios ou sejam Lágrimas, são bons exemplos da quantidade de profissionais que a arte contemporânea mobiliza para a realização de muitas obras e projetos. Segundo o tipo de trabalho e a complexidade da proposta, a estrutura das equipes de produção, montagem e exibição pode ser enorme.

Fig. 16 – Caetano Dias, “Delírios de Catharina”, 2014. Local: Frestas - I Trienal de artes Visuais, SESC Sorocaba. Instalação composta de 70 cabeças de açúcar, bancada de trabalho em madeira com torno de ferro, e mesa manuelina sólida com sangue de boi e resina. Fonte: https://caetanodias.wordpress.com

Fig. 17 – Vinicius S/A, “Lágrimas de São Pedro”, 2020. Foto: Erivan Morais. Fonte: https://www.facebook.com/pg/lagrimasdesaopedro/posts/

Um dos profissionais mais notórios nas práticas da arte contemporânea é o curador. Figura emergente no processo de profissionalização do sistema da arte desde os anos 1980, o curador é um colaborador importante na problematização do processo do artista no circuito, na potencialização e organização de exposições, na articulação crítica e conceitual, possibilitando novas leituras das obras. Possivelmente a curadora baiana mais reconhecida nacional e internacionalmente é Solange Farkas. Mas, na Bahia atualmente há vários curadores que vem se destacando, sejam professores vinculados ao ensino acadêmico a exemplo de Ludmila Britto, Juliana Gontijo, Inês Linke, Lia Krucken, Ayrson Heráclito, Nanci Novaes e Danillo Barata, ressaltando-se que alguns deles também são artistas, sejam curadores independentes como Tiago Sant’Ana, Uriel Bezerra e Thais Darzé. E o fazer do curador está estreitamente vinculado com o fazer do crítico, figura que muitas vezes coincide com a do curador.

Além desses dois profissionais, na relação entre o trabalho e o público participam também professores, diretores institucionais, arte-educadores, restauradores e museólogos, produtores culturais, jornalistas, etc. E ainda na instância mercadológica outros agentes participam tais como galeristas, marchands, especialistas de reserva técnica, profissionais de registro fotográfico e audiovisual, comunicadores, designers, atendentes e funcionários diversos nos espaços de venda. Portanto, os artistas nunca estão sozinhos, inclusive na Bahia.

 

(IN)CONCLUSÕES ANTE FUTUROS INCERTOS

A recente pandemia de Covid-19 provocou mudanças sem precedentes nos hábitos das pessoas, nas rotinas cotidianas e nas relações de produção da humanidade. Sem falar da tragédia das perdas de vidas humanas e das consequências desastrosas para a economia em nível mundial, ainda são incertas as perspectivas para a cena das artes visuais. Por todos lados, além dos centros culturais desativados, galerias falidas e escolas de arte agonizando, foram fechados muitos pontos tradicionais de encontro e referência das artes visuais, de bares boêmios a espaços de exposições. Em termos laborais e de renda, a economia da cultura já aponta para uma situação extremamente delicada. Contudo, se observa uma inflexão importante no papel das artes visuais e das instituições culturais, não apenas durante o isolamento como também nas perspectivas de retomada das atividades em geral, principalmente no papel do público em tempos de afastamentos presenciais e de mudanças de comportamento. A dimensão do presente se expandiu em um grau inimaginável. No caso das grandes instituições que possuem sólidas instâncias virtuais, com sítios bem estruturados e coleções on-line com bancos de dados eficientes, é possível que o público aumente consideravelmente e se consolide a partir do isolamento. Mas que acontecerá com aqueles museus, centros culturais e instituições da Bahia que têm apenas realidade física pautada pela visita presencial e escassa ou nula instância virtual? O que esperar dos regimes de visibilidade e circulação artística aos quais estávamos acostumados? Como serão impactados as atividades expositivas e os modos de mediação no processo de difusão e legitimação da arte?

Como foi apresentado ao longo desta reflexão, tanto os artistas, na alçada imediata de seu trabalho individual, quanto as interlocuções e vínculos com as diversas instâncias e agentes do sistema das artes, na Bahia e no Brasil, todos estão em um momento de impasse ante as fissuras e rupturas de toda a cadeia de produção. De modo geral, desde início de março quando se acentuou a expansão do coronavirus, assistimos a uma explosão de ofertas culturais on-line, concertos em streaming, exposições virtuais, ebooks, filmes, etc. que trazem consequências positivas no que se refere a hábitos e comportamentos do público, desde a aproximação a novos formatos e modelos de consumo até o fortalecimento da relação com artistas, autores e criadores, inclusive com efeitos promocionais. Mas a rápida disponibilização de conteúdos gratuitos no período de confinamento tem sido comparada a uma bulimia cultural que, apesar das boas intenções e generosidade por parte significativa dos produtores culturais, também motiva críticas às diversas assimetrias, oportunismos e injustiças que perpassam o âmbito das plataformas de conteúdo. Além de tal oferta gratuita ser insustentável a longo prazo, a pergunta que paira no ar é: que acontecerá com a cultura e a arte depois da crise sanitária?

Os sucessivos recortes e contingenciamentos dos últimos anos no Brasil e nos contextos de países que têm seguido a liturgia neoliberal, gradativamente têm precarizado os canais de subsistência tradicionais dos setores culturais. Desde 2015 temos assistido a um processo contínuo de supressão de instâncias de fomento à produção artística, de fragilização das políticas culturais em geral e de desmontagem dos dispositivos de administração pública e de incentivos específicos de cada setor artístico-cultural. Esse processo se acelerou e atingiu um nível preocupante na atual gestão de Bolsonaro, numa dupla empreitada de perseguição ideológica retrógada às universidades e a todas as instâncias de produção artística-cultural, ao mesmo tempo que se encaminha o aniquilamento sistemático dos subsídios e das alçadas de promoção da cultura e do conhecimento. Para piorar o contexto, na Bahia e no Brasil como possivelmente em muitos lugares do mundo, a atual pandemia tem evidenciado uma realidade dolorosa: a maioria das iniciativas culturais, incluídas as artes visuais, e do que costumamos chamar de ‘indústria cultural’ são um conglomerado de empregos autônomos instáveis e pequenos empreendimentos frágeis que mal conseguiram sobreviver à crise financeira internacional desde a quebra de Lehman Brothers. Portanto, a previsão do cenário pós-coronavirus é desalentadora e, sem intervenção pública, é impossível imaginar a existência de uma economia da arte e da cultura após o desastre do Covid-19.

Como foi exposto aqui, a produção de arte contemporânea na Bahia é rica e com perspectivas enormes de crescimento. Mas para isso é fundamental o fortalecimento do sistema artístico baiano em todos seus elos, elementos e instâncias, pois os artistas sozinhos não produzem interlocuções. E se há uma certeza na atual pandemia é que só a arte salva porque nos oferece alternativas desde onde perscrutar o horizonte e sobreviver às agruras da realidade.

 

NOTAS

  1. O mais próximo de um olhar abrangente sobre a produção artística na Bahia até os anos 2000, são os textos de Wilson Rocha e Matilde Matos. Também vale a pena consultar os escritos de Almandrade e César Romero, embora sob um olhar distante das discussões da arte contemporânea. – Cf. ROCHA, Wilson. Artes Plásticas em Questão. Salvador: Omar G., 2001; MATOS, Matilde. 50 anos de Arte na Bahia / 50 years of Art in Bahia. Salvador: EPP Publicações e Publicidade, 2010; ALMANDRADE. Escritos sobre Arte – arte, cidade e política cultural. Salvador: EGBA, 2008; ROMERO, César. Coluna Artes Visuais. In: Correio da Bahia. Disponível em: https://www.correio24horas.com.br/noticias/categoria/cesar-romero/ - acesso em jun.2020.
  2. Uma primeira reflexão sobre arte contemporânea baiana foi realizada pela autora em 2008 na ocasião da celebração dos 130 anos de fundação da Escola de Belas Artes da Bahia em 1877. Na Galeria Cañizares e na EBA/UFBA foram apresentadas as exposições “EBA em Histórias” (núcleo histórico, cur. Luiz Freire) e “EBA em Obras” (núcleo moderno, cur. Malie Kung Matsuda), respectivamente, e na Galeria do Goethe-Institut/ICBA a mostra “EBA em Processos” (núcleo contemporâneo, cur. Alejandra Muñoz). Infelizmente o site com os textos produzidos para essa exposição foi desativado. – Cf. MUÑOZ, Alejandra Hernández. "Processos na Arte Contemporânea e a EBA em Processos" – texto curatorial da exposição EBA 130 anos - Núcleo EBA Em Processos, na Galeria do ICBA, mar.2008. Depois em 2011 a autora integrou a equipe do Programa RUMOS do Instituto Itaú Cultural, que incluiu um extenso trabalho de mapeamento da produção artística brasileira desde 2000. – Cf. BARBOSA, Sânzia Pinheiro & MUÑOZ, Alejandra Hernández. “Região Nordeste”. In: Convite à Viagem – Rumos Artes Visuais 2011-2013. Catálogo de exposição homônima realizada em São Paulo, SP (18set./17dez. 2012) e Rio de Janeiro (8fev./abr.2013), RJ. Edição bilíngüe português/inglês. ISBN 978-85-7979-037-9. São Paulo: Itaú Cultural, 2012. 380p.il. p.88-115. Disponível em PDF em: http://d3nv1jy4u7zmsc.cloudfront.net/wp-content/uploads/2014/11/livro_conviteaviagem.pdf - acesso em jun.2020.
  3. Segundo Walter Mariano, o coletivo de artistas chamado “Etsedron – um anagrama em que a palavra Nordeste é escrita ao contrário – foi composto por artistas baianos e existiu entre os anos de 1969 a 1979. Sua proposta artística aglutinava a uma estrutura central, calcada nas artes plásticas, elementos de música, dança, teatro, cinema e pesquisa de cunho etnográfico.Transitando pela contramão do circuito oficial de arte, o grupo configurou-se como um legítimo representante de sua época, quando, através das mais variadas correntes artísticas, questões como autoria, unidade, originalidade e autenticidade da obra de arte foram problematizadas assim como todas as regras e convenções sociais. Em meio à mordaça imposta pela ditadura militar implantada em 1964, o Etsedron desenvolveu um método singular de trabalho coletivo baseado na convivência com comunidades rurais. Através de seus “Projetos Ambientais”, buscou recriar a atmosfera anímica encontrada na zona rural brasileira. O grupo, fazendo jus à sua proposta inicial de ir até o “avesso” da condição nordestina, retratava, nos moldes de um Guimarães Rosa, um Brasil sertanejo, pobre e agreste, distante da imagem litorânea, paradisíaca e estereotipada. Apontava diretamente para as contradições existentes na sociedade e no universo das artes plásticas brasileiras, submissas aos modelos oriundos da Europa e Estados Unidos, como também colocava em xeque a percepção oficial que o Brasil tinha de si mesmo, o que provocou polêmicas nas Bienais Internacionais de São Paulo de 1973, 1975, 1977 e 1979, principal cenário das artes plásticas no país. A despeito desse sucesso e do Grande Prêmio recebido na Bienal Nacional de São Paulo em 1974, o grupo dissolveu-se melancolicamente em 1979, por falta de apoio, sem sequer ter exposto na Bahia, seu local de origem, permanecendo eclipsado desde então”. – Cf. MARIANO, Walter. Etsedron. Dissertação. Salvador: Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFBA, 2005. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/9846 - acesso em jun.2020.
  4. Idealizado pelo guitarrista Roberto Barreto, com produção e baixo de Marcelo Seco e voz e letras de Russo Passapusso, o BaianaSystem é um projeto musical formado em 2009 visando novas possibilidades sonoras para a guitarra baiana, instrumento criado em Salvador, nos anos 1940, responsável pelo surgimento do trio elétrico. A banda mistura o sound system jamaicano com a guitarra baiana, conjugando ritmos como samba-reggae, ijexá, rap rock e ska com gêneros afro-latinos como MPB, frevo, afrobeat, reggae, cumbia e pagode baiano. Por se tratar de um sistema de som, a configuração do grupo pode variar de acordo com a apresentação e conta com a colaboração de diversos músicos, produtores e artistas. Filipe Cartaxo é o integrante responsável pela arte gráfica, fotografias e videos que compõem os módulos móveis de grafismos, organizados como uma linguagem de sistemas. A máscara aparece como personificação de um “ser", um elo com o público, fazendo com que o mesmo vire parte integrante desse “sistema". Em 2016, a banda ganhou visibilidade internacional com a faixa "Playsom" no game ‘Fifa 16’ da Eletronic Arts e a revista Rolling Stone Brasil elegeu “Duas Cidades” como 5º melhor disco brasileiro do ano; em 2019, o disco “O Futuro não demora” ganhou o prêmio de melhor álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa no 20° Grammy Latino. - Cf. Baiana System, in: https://pt.wikipedia.org/wiki/BaianaSystem e http://baianasystem.com.br/ - todos os links acessos em jul.2020.
  5. Maxim Malhado. In: Prêmio PIPA, 2011. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/artistas/maxim-malhado/; In: Galeria Paulo Darzé. Disponível em: https://paulodarzegaleria.com.br/artistas/maxim-malhado/; Catálogo Esteio Galeria de Arte. In: 3ª Bienal da Bahia, 2014. Disponível em: https://issuu.com/bienaldabahia/docs/livreto_esteio_smallest - todos os links acessos em jun.2020.
  6. Gaio Matos. In: Pena Cal Galeria de Arte. Disponível em: http://www.penacalgaleria.com.br/artista-inter/27; In: Prêmio PIPA, 2015. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/gaio-matos/ - todos os links acessos em jun.2020.
  7. O estado da Bahia compreende 567.295 km² com uma população de 15 milhões de pessoas, conforme estimativa do IBGE em 2020, dos quais 2,8 milhões se concentram nos 693,8 km² do município de Salvador.
  8. A definição dos territórios de identidade contempla perfis microrregionais em função de realidades territoriais e culturais representativas de uma produção com elementos e dinâmicas particulares, ex. Chapada Diamantina ou a Costa do Descobrimento na Bahia. Conforme o §1º, do art. 1° do Decreto nº12.354, de 25 de agosto de 2010, do Governo do Estado da Bahia, um Território de Identidade é “o agrupamento identitário municipal formado de acordo com critérios sociais, culturais, econômicos e geográficos, e reconhecido pela sua população como o espaço historicamente construído ao qual pertence, com identidade que amplia as possibilidades de coesão social e territorial”. - Cf. FUNCEB. Mapa dos Macroterritorios da Bahia. Disponível em: http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=10559 - acesso em jun.2020.
  9. O Monumenta, criado em 1995 e efetivado desde 2000, é um programa de recuperação do patrimônio cultural urbano brasileiro, executado pelo Ministério da Cultura (MinC) e financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Previsto para 26 cidades no país, na Bahia, as cidades atingidas pelo Monumenta são: Salvador, Cachoeira e Lençóis. Porém, com o desmonte do MinC, o programa ficou suspenso desde 2015.
  10. Pontos de Cultura são entidades ou coletivos culturais que compõem uma base social capilarizada e com poder de penetração em variados territórios e comunidades, em especial nos segmentos sociais mais vulneráveis. Implantados desde 2008, em 2016 se contabilizavam 270 pontos de cultura no Estado, porém, foram poucos os que tiveram atividades de promoção das artes visuais.
  11. É pertinente lembrar que a lucrativa indústria privada do carnaval baiano, sempre beneficiada por subsídios e estrutura pública para a realização da festa popular, tem sido incapaz de legar uma contrapartida duradoura com dimensão cidadã. Entre os grandes nomes da folia baiana, não há notícias de iniciativas tais como estimular a formação de uma biblioteca ou apadrinhar a construção de um novo teatro municipal. Paradoxalmente, a ostentação do sucesso profissional e financeiro dos artistas baianos se traduz em ícones do consumo de luxo e, no melhor dos casos, promoção de alguma campanha social-assitencialista, mas jamais propor uma iniciativa cultural. Apesar da quantidade de talentos e profissionais envolvidos, por exemplo, a dita “axé music” em mais de três décadas nunca se mobilizou para a construção de um centro de referência da memória do carnaval baiano onde, por exemplo, poderia ter um acervo de abadás que permitisse a apreciação da evolução de um tipo de design têxtil, ou de um simples arquivo de fotos da trajetória da decoração das ruas e, inclusive, da efêmera fastuosidade dos camarotes privados. Apenas a lendária Fubica está depositada de modo burocrático na Casa da Música do Abaeté, enquanto a memória musical parece ser a única criação acessivel e organizada por causa da indústria fonográfica. Na Bahia, outro exemplo de ausência de iniciativa privada nas artes visuais é a Odebrecht. Possivelmente a empresa baiana de maior transcendência nacional e internacional, nunca demostrou interesse para a construção de um centro cultural próprio como acontece com outras empresas de porte no Brasil. Curiosamente, com exceção das memoráveis publicações sobre história e arte da Bahia e alguns projetos de restauração patrimonial de edificações históricas, sempre acompanhados de pomposos discursos recheados de comprometimentos com valores culturais coletivos, a Odebrecht nunca mostrou iniciativa para promover um legado artístico visual acessível aos baianos que pudesse ser um exemplo a ser seguido por outras empresas. Outro exemplo é a coleção de arte do Desenbanco que chegou a ter parte do acervo exposta em diferentes mostras, e que poderia ter sido o embrião de um museu de arte contemporânea.
  12. A Prefeitura Municipal de Salvador (PMS) esporadicamente lança o edital “Arte por toda parte” dirigido a promover diversas áreas de cultura na cidade, inclusive artes visuais. Entretanto só constam duas edições em 2013 e 2015. – Cf. http://www.arteemtodaparte.salvador.ba.gov.br/index.php/editais - acesso em jun.2020.
  13. A Fundação Nacional de Artes (FUNARTE) foi criada em 1975 para promover e incentivar a produção, a prática, o desenvolvimento e a difusão das artes no país. Como órgão do Governo Federal brasileiro, é responsável pelas políticas públicas federais de estímulo à atividade produtiva artística brasileira, e atua para que a população possa cada vez mais usufruir das artes. Em seu início, englobava apenas música (popular e erudita) e artes plásticas e visuais. Convivia com a Fundação Nacional de Artes Cênicas (FUNDACEN), o Instituto Nacional de Folclore (INF) e a Fundação do Cinema Brasileiro (FCB), todas ligadas ao Ministério da Educação e Cultura, posteriormente ao Ministério da Cultura (MinC). Em março de 1990, o Governo Federal extinguiu todas as instituições culturais e, em dezembro, foi criado o Instituto Brasileiro de Arte e Cultura (IBAC) – ligado diretamente à Secretaria de Cultura da Presidência da República (que depois voltou a ser novamente Ministério). O IBAC englobava FUNARTE, FUNDACEN e FCB. Em 1994, a sigla FUNARTE substituiu a sigla IBAC. Em 2019, após a extinção do MinC, a FUNARTE foi vinculada ao Ministério da Cidadania e posteriormente ao Ministério do Turismo, compreendendo as áreas de circo, dança e teatro, de música (de concerto, popular e de bandas) e de artes visuais (incluindo a preservação da memória das artes e a pesquisa na esfera artística). É a única instituição no Estado brasileiro com as atribuições e especialidades necessárias para tratar desses campos de atividade. O trabalho de mais de 40 anos da Fundação inspirou a criação de dezenas de entidades municipais e estaduais assemelhadas, em todo o território nacional. Desde 2015, alguns dos principais programas e prêmios específicos de artes visuais foram suspensos, a exemplo do Programa Rede Nacional de Artes Visuais (desde 2004, 12ª edição em 2015), o Programa Conexão Artes Visuais (com edições em 2007 e 2010), o Prêmio de Arte Contemporânea (desde 2010, última edição em 2015), e o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia (desde 2000, com última edição em 2017). Depois de quatro anos de interrupção, apenas o Prêmio de Artes Plásticas Macantonio Vilaça (desde 2006) teve 9ª edição em 2019. Para artes visuais as únicas inciativas novas têm sido o Prêmio Artes Visuais – Periferias e Interiores (em 2018, dirigido a propostas em periferias urbanas ou cidades de interior), o Prêmio Descentrarte (em 2019, dirigido a projetos em municípios brasileiros com população entre 50 e 100 mil habitantes) e o Prêmio RespirArte (em 2020, para incentivar atrações online). – Cf. www.funarte.gov.br – acesso em jun.2020
  14. http://anaverana.blogspot.com/ - acesso em 2020.
  15. Zé de Rocha. In: RV Cultura e Arte. Disponível em: https://rvculturaearte.com/Ze-de-Rocha e http://zederocha.blogspot.com/ - todos os links acessos em jun.2020.
  16. Pedro Marighella. In: RV Cultura e Arte. Disponível em: https://rvculturaearte.com/Pedro-Marighella e https://www.pedromarighella.com.br/ - todos os links acessos em jun.2020.
  17. https://nilacarneiro.com.br/ - acesso em jun.2020.
  18. http://spraycabuloso.com.br/ - acesso em jun.2020.
  19. Cf. TALENTO, Biaggio. “Miguel Cordeiro retoma personagem Faustino”. In: A Tarde, 23/10/2013. Disponível em: https://atarde.uol.com.br/cultura/noticias/1543090-miguel-cordeiro-retoma-personagem-faustino - acesso em jun.2020.
  20. http://bua.blogspot.com/ - acesso em jun.2020.
  21. Davi Caramelo. In: RV Cultura e Arte. Disponível em: https://rvculturaearte.com/Davi-Caramelo - acesso em 2020.
  22. Igor Souza. In: RV Cultura e Arte. Disponível em: https://rvculturaearte.com/Igor-Souza - acesso em jun.2020.
  23. Tiragem: Laboratório de Livros é um coletivo formado por artistas, designers, professores, estudantes e egressos da Escola de Belas Artes da UFBA, que compartilham o interesse em investigar o objeto Livro. - Cf. http://www.tiragem.ufba.br/; JORGE, Gilson. “Talentos da nova geração de ilustradores e desenhistas baianos ampliam campos de ação”. In: A Tarde/Muito, 05/07/2020. Disponível em: http://atarde.uol.com.br/muito/noticias/2131899-talentos-da-nova-geracao-de-ilustradores-e-desenhistas-baianos-ampliam-campos-de-acao - todos os links acessos em jul.2020.
  24. http://anjobaldio.blogspot.com/ - acesso em jul.2020.
  25. http://atelierrenerrama.blogspot.com/2014/04/blog-post.html - acesso em jul.2020.
  26. Anderson Santos. In: RV Cultura e Arte. Disponível em: https://rvculturaearte.com/Anderson-Santos; In: Galeria Paulo Darzé. Disponível em: https://paulodarzegaleria.com.br/artistas/anderson-santos/; https://andep8.wordpress.com/ - todos os links acessos em jul.2020.
  27. Vauluizo Bezerra. In: Prêmio PIPA, 2012. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/vauluizo-bezerra/; In: Galeria Paulo Darzé. Disponível em: https://paulodarzegaleria.com.br/artistas/vauluizo-bezerra/ - todos os links acessos em jun.2020.
  28. Em 2009, Neila Maciel realizou um projeto de mapeamento de murais e painéis artísticos de Salvador que, apesar que não teve seguimento, foi um registro pioneiro desse acervo e um reconhecimento importante da abrangência e qualidade dessa produção artística. – Cf. MACIEL, Neila. Mapeamento de Murais e Painéis Artísticos de Salvador - Relatório Final. Salvador: FUNCEB, 2009. Disponível em: https://ascomfunceb.files.wordpress.com/2010/10/projeto-de-mapeamento-de-paineis-e-murais-artisticos-de-salvador-etapa-1-2009.pdf - acesso em jun.2020. Em outro sentido, em 2016 foi realizado o projeto MURAL (Movimento Urbano de Arte Livre) de execução de painéis pintados ao longo de diversos muros pela Av. da França no Comércio. O precedente desse pequeno circuito pode ser identificado na sequência de painéis promovidos por um concurso público organizado em 1998 e financiado pela Companhia de Docas da Bahia (CODEBA).- Cf. http://codeba.com.br/eficiente/sites/portalcodeba/pt-br/site.php?secao=noticias_gerais&pub=4284. O MURAL foi contemplado pelo edital “Arte em Toda a Parte – Ano III”, da Fundação Gregório de Matos, da Prefeitura de Salvador, e teve participação dos artistas Limpo (Fábio Rocha), Fael Primeiro, Rebeca Silva, Davi Caramelo, Éder Muniz, Devarnier Hembadoom, Nila Carneiro, Pedro Marighella e Marcos Costa. - Cf. DELAQUA, Vitor. “Galeria de arte a céu aberto em Salvador”. In: ArchDaily Brasil, 06/11/2016. ISSN 0719-8906. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/798820/galeria-de-arte-a-ceu-aberto-em-salvador - acesso em jun.2020.
  29. REZENDE, Eron. “Na trama da cidade”. In: A Tarde/Muito, 25/10/2014. Disponível em: https://atarde.uol.com.br/muito/noticias/1633856-na-trama-da-cidade - acesso em jun.2020.
  30. Anderson AC. In: Galeria Paulo Darzé. Disponível em: https://paulodarzegaleria.com.br/artistas/anderson-cunha/ - acesso em jun.2020.
  31. MIGUEZ, Luiza. “Grafite da discórdia - Um piauiense virou persona non grata entre os artistas de rua baianos”. In: Piaui, edição 78, mar.2013. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/grafite-da-discordia/; Willyams Martins. In: Galeria Roberto Alban. Disponível em: http://www.robertoalbangaleria.com.br/artista/willyams-martins - todos os links acessos em jun.2020.
  32. Joâo Oliveira. In: RV Cultura e Arte. Disponível em: https://rvculturaearte.com/Joao-Oliveira – acesso em jun.2020.
  33. Eneida Sanches. In: Prêmio PIPA, 2011. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/eneida-sanches/ - acesso em jun.2020.
  34. Rosa Bunchaft. In: Galeria Roberto Alban. Disponível em: http://www.robertoalbangaleria.com.br/artista/rosa-bunchaft - acesso em jun.2020.
  35. ALVES, Aristides. A Fotografia na Bahia (1839-2006). Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo; Funcultura; Asa Foto, 2006.
  36. http://www.coloquiodefotografia.ufba.br/ - acesso em jun.2020.
  37. https://www.pierreverger.org/br/acervo-foto/espaco-pierre-verger-da-fotografia-baiana/apresentacao.html - acesso em jun.2020.
  38. https://issuu.com/coqueiro/docs/cat__logo_100000_carta_das_laranjei - acesso em jun.2020.
  39. https://www.cravoneto.com.br/ - acesso em jun.2020.
  40. http://hirosukekitamura.com/ - acesso em jun.2020.
  41. http://www.andrefranca.com/pt/ - acesso em jun.2020.
  42. Márcio Lima. In: Galeria Paulo Darzé. Disponível em: https://paulodarzegaleria.com.br/artistas/marcio-lima/ - acesso em jun.2020.
  43. http://maristela-ribeiro.blogspot.com/ - acesso em jun.2020.
  44. https://renatavoss.com/ - acesso em jun.2020.
  45. http://andreafiamenghi.com.br/ - acesso em jun.2020.
  46. https://www.periclesmendes.com.br/ - acesso em jun.2020.
  47. https://www.paulocoqueiro.com.br/ - acesso em jun.2020.
  48. http://www.nicolassoares.com/ - acesso em jun.2020.
  49. https://manuelsa.com/ - acesso em jun.2020.
  50. https://issuu.com/laraperl - acesso em jun.2020.
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  56. Emanuel Araújo. In: Pena Cal Galeria de Arte. Disponível em: http://www.penacalgaleria.com.br/artista-inter/62 - acesso em jun.2020.
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  58. Josilton Tonm. In: Pena Cal Galeria de Arte. Disponível em: http://www.penacalgaleria.com.br/artista-inter/51 - acesso em jun.2020.
  59. Paulo Pereira. In: Prêmio PIPA, 2011. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/artistas/paulo-pereira/ - acesso em jun.2020.
  60. Florival Oliveira. In: Galeria Paulo Darzé. Disponível em: https://paulodarzegaleria.com.br/artistas/florival-oliveira/ - acesso em jun.2020.
  61. Eriel Araújo. In: Galeria Roberto Alban. Disponível em: http://www.robertoalbangaleria.com.br/artista/eriel-araujo e http://erielaraujo.com.br/ - todos os links acessos em jun.2020.
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  69. MIDLEJ, Dilson. Ana Fraga. In: Dicionário Manuel Querino, 2014. Disponível em: http://www.dicionario.belasartes.ufba.br/wp/verbete/ana-fraga/ - acesso em jun.2020.
  70. Arthur Scovino. In: Prêmio PIPA, 2014, 2015 e 2016. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/arthur-scovino/ e https://arthurscovino.wordpress.com/ - todos os links acessos em jun.2020.
  71. SANTOS, José Mário Peixoto. Jaime Fygura. In: Dicionário Manuel Querino, 2014. Disponível em: http://www.dicionario.belasartes.ufba.br/wp/?verbete=jayme-fygura&letra=J&key=&onde= - acesso em jun.2020.
  72. MIRANDA, Lara e CONCEIÇÃO, Thiago. “O Nordeste animado de Chico Liberato”. In: Revista Fraude, Ano 13, nº14, 2016. Disponível em: http://www.revistafraude.ufba.br/materia.php?revista=14&materia=2 – acesso em jun.2020.
  73. Daniel Lisboa. In: Associação Cultural Videobrasil / FF>>dossier 017, jun.2006. Disponível em: http://site.videobrasil.org.br/dossier/dossier/541921 - acesso em jun.2020.
  74. http://intervencaodomestica.com.br/exposicao/monica_simoes/ - acesso em jun.2020.
  75. Danillo Barata. In: Associação Cultural Videobrasil / FF>>dossier 043, mai.2009. Disponível em: http://site.videobrasil.org.br/dossier/dossier/946002 - acesso em jun.2020.
  76. http://karlabru.net/site/ - acesso em jun.2020.
  77. https://jarbasjacome.wordpress.com/ - acesso em jun.2020.
  78. http://coletivosso.blogspot.com/ - acesso em jun.2020.
  79. ANDRADE, Edmárcia Alves de. A representação brasileira na Bienal de Veneza: da primeira participação em 1950 ao destaque para a edição de 1964. Dissertação de Mestrado. Juiz de Fora, 2019. Disponível em: http://repositorio.ufjf.br:8080/jspui/bitstream/ufjf/10295/1/edmarciaalvesdeandrade.pdf - acesso em jun.2020.
  80. TODERO, Luiz Ney. De Canudos a Veneza: o Projeto Terra do artista plástico Juraci Dórea. Dissertação. Salvador: Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFBA, 2004. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/9850 - acesso em jun.2020.
  81. MUÑOZ, Alejandra. A camada invisível: um olhar transversal nos vídeos de Ayrson Heráclito. In: Associação Cultural Videobrasil / FF>>dossier 036 / Ayrson Heráclito, ago.2008. Disponível em: http://site.videobrasil.org.br/dossier/textos/831604/831838; BARATA, Danillo. Ayrson Heráclito. In: Dicionário Manuel Querino, 2014. Disponível em: http://www.dicionario.belasartes.ufba.br/wp/verbete/ayrson-heraclito/; Ayrson Heráclito. In: Prêmio PIPA, 2012, 2015 e 2016. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/ayrson-heraclito/; In: Galeria Paulo Darzé. Disponível em: https://paulodarzegaleria.com.br/artistas/ayrson-heraclito/; TESSITORE, Mariana. Ayrson Heráclito, um artista exorcista. In: ArteBrasileiros, 27/06/2018. Disponível em: https://artebrasileiros.com.br/sub-home2/ayrson-heraclito-um-artista-exorcista/ - todos os links acessos em jun.2020.
  82. A exposição “Como vai você, Geração 80?”, considerada uma das mais relevantes da arte nacional contemporânea, lançou novos nomes na cena artística brasileira, a exemplo de José Leonilson, Beatriz Milhazes, Ciro Cozzolino, Daniel Senise, Leda Catunda, Sérgio Romagnolo e outros. Essa geração, a maioria com menos de 40 anos, junto a artistas como Rodrigo Andrade, Nuno Ramos, Carlito Carvalhosa, Fernando Lucchesi, foi chancelada no ano seguinte na XVIII Bienal de São Paulo.
  83. Raimundo Bida. In: Galeria Jacques Ardies. Disponível em: http://www.ardies.com/raimundo-bida/ - acesso em jun.2020.
  84. PÊPE, Suzane Pinho. Boaventura da Silva Filho, o Louco. In: Dicionário Manuel Querino, 2014. Disponível em: http://www.dicionario.belasartes.ufba.br/wp/verbete/boaventura-da-silva-filho-o-louco/ - acesso em jun.2020.
  85. PÊPE, Suzane Pinho. Louco Filho, Celestino Gama da Silva. In: Dicionário Manuel Querino, 2014. Disponível em: http://www.dicionario.belasartes.ufba.br/wp/verbete/celestino-gama-da-silva-louco-filho/ - acesso em jun.2020.
  86. Em 2019 foi abortada a perspectiva de instalar o museu Frans Krajcberg no Sitio Natura onde viveu o artista. Entretanto o acervo, em poder do Estado, ficará itinerando por quatro anos até a previsão de abertura do museu em local a definir na Região Metropolitana de Salvador. Cf. JACOBINA, Ronaldo. Projeto do Museu Frans Krajcberg em Nova Viçosa é abortado pelo Governo do Estado. In: Correio da Bahia, 17/09/2019. Disponível em: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/projeto-do-museu-frans-krajcberg-em-nova-vicosa-e-abortado-pelo-governo-do-estado/ - acesso em jun.2020.
  87. http://universodejcunha.com.br/ - acesso em jun.2020.
  88. Fonte: Releases e relatórios da Oi Kabum! disponibilizados pela ex-Coordenadora Isabel Gouvêa.
  89. Danillo Barata fez uma síntese interessante sobre o efeito da descentralização que operou a UFRB em Cachoeira e Santo Amaro. – Cf. BORGES, Kátia. "Como viver sem uma reflexão ética e estética?" In: A Tarde/Muito, 08/05/2017. Disponível em: https://atarde.uol.com.br/muito/noticias/1859560-como-viver-sem-uma-reflexao-etica-e-estetica - acesso em jun.2020.
  90. O Curso de Formação de Mediadores da 3ª Bienal da Bahia, com carga horária de 103hs, compreendeu aulas teóricas, palestras, leituras, dinâmicas de grupo, encontros mediados, pesquisas, apresentações audiovisuais, e inclusive formação dos guardas de acervo, dos seguranças e do atendimento aos convidados especiais da Bienal. Os requisitos para participar do curso eram ter mais de 18 anos e possuir ensino médio completo ou em curso, ter facilidade de comunicação, criatividade, organização, assiduidade, pontualidade e interesse. Os aprovados nos dois módulos do curso receberam um certificado em Mediação Cultural. Os mais de 300 participantes foram capacitados a desenvolverem atividades específicas e contribuírem para a compreensão das propostas artísticas da Bienal e, após a conclusão do curso, foram selecionados 150 mediadores que atuaram nas diversas atividades e locais de realização do evento.
  91. Virginia de Medeiros. In: Galeria Nara Roesler. Disponivel em: https://nararoesler.art/artists/62-virginia-de-medeiros/; In: Prêmio PIPA, 2014. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/virginia-de-medeiros/; http://virginiademedeiros.com.br/ - todos os links acessos em jun.2020.
  92. A Sacatar Foundation é uma instituição estadounidense sem fins lucrativos fundada na Califórnia em 2000 com o objetivo explícito de estabelecer e de financiar as atividades do programa de residências no Brasil. O programa foi implantado em Itaparica através do Instituto Sacatar, uma instituição brasileira sem fins lucrativos fundada em 2001. - Cf. https://sacatar.org/ - acesso em jun.2020.
  93. O programa, sob o tema geral “Sul”, destina-se a intelectuais, artistas, cientistas e escritores reconhecidos de todas as disciplinas, bem como a outros profissionais em campos interdisciplinares ou de pesquisa. A cada dois meses turmas de quatro residentes permanecem por três a quatro semanas nos apartamentos individuais e dependências do Goethe-Institut Salvador-Bahia realizando pesquisas, participando de atividades de intercâmbio e estabelecendo contatos e colaborações com diversas instituições e agentes locais de diferentes áreas de interesse. O Programa tem parceria da Robert Bosch Stiftung, o Musicboard Berlin, a Kunststiftung Sachsen-Anhalt, o Conseil des arts et des lettres du Quebéc (CALQ), e conta com algumas colaborações e apoios pontuais segundo cada projeto e/ou residente. – Cf. HERNÁNDEZ MUÑOZ, A. Manifesta e Vila Sul - diásporas, deslocamentos e migrações através de eventos e programas de arte contemporânea. in: MODOS. Revista de História da Arte. Campinas, v.4, n.1, p.36-51, jan. 2020. Disponível em: https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/mod/article/view/4534 - acesso em jun.2020.
  94. A Mobilidade Cultural da SECULT se dirige ao desenvolvimento e inserção nacional e internacional do setor cultural do Estado, fomentando a circulação de artistas e propostas culturais, inclusive de artes visuais. Pelo menos desde 2016, estimula a renovação da cena cultural local, a aproximação e fortalecimento de laços culturais com outros estados e países, e a criação de oportunidades de negócios e de participação no mercado internacional, mediante a promoção de exportação de bens e serviços culturais. - Cf. SECULT - Mobilidade Cultural. Disponível em: http://www.cultura.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=34 – acesso em jun.2020.
  95. Tiago Sant’Ana. In: Prêmio PIPA, 2018. Disponível em: https://www.premiopipa.com/artistas/tiago-santana/ e https://tiagosantanaarte.com/ - todos os links acessos em jun.2020.
  96. Em termos quantitativos, o Fluxos do Atlântico Sul compreendeu uma convocatória pública, seis encontros diversos, cinco oficinas, uma exposição em duas instituições e três rodas de conversas e projeção de filmes. As atividades, realizadas entre junho de 2019 e fevereiro de 2020, envolveram 14 artistas, 17 interlocutores e curadores, 2 colaboradores e, além dos dois acervos, as parcerias com três instâncias internacionais: Flipelô (Feria Literária Internacional do Pelourinho), Programa Vila Sul e Bienal Internacional de Arte de Dacar 2020. Tendo como ponto de partida a inexistência de recursos financeiros e contando apenas com a boa vontade institucional, o projeto constitui um ponto de inflexão nas práticas locais de produção artística através da articulação de diversas instâncias que não envolvem custos, mas que podem ser muito propícias para a potencialização de energias produtivas. Dito de outro modo, em alguns projetos não são os recursos financeiros que possibilitam a produção de sentidos e sim a qualidade dos agentes envolvidos no processo, ou seja, artistas, curadores, acervos, colaboradores e público. O Fluxos do Atlântico Sul mostra que o próprio meio artístico e seus componentes podem ser capazes de retroalimentar-se para sobreviver às adversidades que o golpeiam. – Cf. https://intervaloforumdearte.wordpress.com/ – acesso em jun.2020.
  97. PARAÍSO, Juarez. A obra de Juarez Paraíso. Salvador: Idea, 2006; MIDLEJ, Dilson. Juarez Paraiso. In: Dicionário Manuel Querino, 2014. Disponível em: http://www.dicionario.belasartes.ufba.br/wp/?verbete=juarez-paraiso&letra=&key=juarez&onde=tudo; OLIVEIRA, Daniel. Juarez Paraíso: "A arte pode aliviar a carga animalesca do ser humano". In: A Tarde/Muito, 08/01/2019. Disponível em: https://atarde.uol.com.br/muito/noticias/2024691-juarez-paraiso-a-arte-pode-aliviar-a-carga-animalesca-do-ser-humano – todos os links acessos em jun.2020.
  98. Grupo de Interferência Ambiental – GIA. Disponivel em: http://giabahia.blogspot.com/ - acesso em jun.2020.
  99. Nenhum desses museus tem homepage atualmente, o que é um indicativo da decadência das gestões de cada instituição e da falta de uma política estruturante mais ampla por parte da SECULT. Durante a pandemia de 2020, quando museus e instituições do mundo todo buscaram manter e ampliar seus públicos com diversas atividades on-line, inclusive com disponibilização de acervos e acesso a conteúdo de modo remoto, na Bahia as principais alçadas das artes visuais ficaram invisíveis e inacessíveis ao público.
  100. A Região Nordeste é formada pelos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe. O IBRAM publicou em 2011 o Guia dos Museus Brasileiros elaborado com informações coletadas durante os cinco anos de atividades do Cadastro Nacional de Museus iniciado em 2006. Supostamente foi uma primeira sistematização de dados que deveria se complementar com a plataforma Museus do Brasil/Museusbr, criada em 2017 como sistema nacional de identificação de museus e mapeamento colaborativo, gestão e compartilhamento de informações sobre os museus brasileiros. Entretanto, como há discrepâncias de informações entre as duas fontes (guia e plataforma) foi necessário conferir e compilar ambos levantamentos para as sínteses apresentadas aqui. – Cf. Guia dos Museus Brasileiros/Instituto Brasileiro de Museus. Brasilia/IBRAM, 2011. Disponível em: www.museus.gov.br – acesso em jun.2019, e Plataforma Museusbr. Disponivel em: www.museus.cultura.gov.br – acessso em jun.2019.
  101. Da estrutura pública de espaços físicos, a SECULT conta com 41 equipamentos e espaços culturais diversos que constituem uma rede de acolhimento e promoção de eventos de artes visuais em todo o estado. Em Salvador se concentram 26 desses e pelo interior se distribuem 11 centros de cultura (nas cidades de Lauro de Freitas, Feira de Santana, Alagoinhas, Juazeiro, Lençóis, Guanambi, Vitoria da Conquista, Porto Seguro, Itabuna, Jequié, Valença, Mutuípe), 2 teatros (Cine-Teatro de Lauro de Freitas e Teatro Dona Canô de Santo Amaro) e 2 museus (Parque Histórico Castro Alves em Cabaceiras do Paraguaçu e Museu do Recôncavo Wanderley Pinho em Candeias, que está fechado desde 2000). – Cf. SECULT/Espaços Culturais. Disponível em: http://www.cultura.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=68 – acesso em jun.2020.
  102. MENDONÇA, Tatiana. “O ocaso do museu”. In: A Tarde/Muito, 04/12/2017. Disponível em: https://atarde.uol.com.br/muito/noticias/1917836-o-ocaso-do-museu - acesso em jun.2020.
  103. Desde 1992 até 2015, a FUNCEB realizou anualmente os Salões Regionais de Artes Visuais da Bahia. Com a criação da SECULT e a definição de uma política de incentivos em função de editais públicos, desde 2007 os Salões foram repensados em seu formato que era limitado à exibição e premiação. Então, em paralelo às exposições realizadas nos centros de cultura do interior do Estado, começaram a ser oferecidos cursos e ateliês de formação profissional, palestras e rodas de discussão, e publicados catálogos bianuais com textos críticos e reflexivos, correspondentes às edições 2007/2008, 2009/2010, 2011/2012 e 2013/2014 (todos on-line no site da FUNCEB). Nas últimas edições, de modo alternado, ano a ano foram apresentados Salões em três cidades do interior com uma mostra dos premiados articulada com eventos do MAM/BA e Solar Ferrão de Salvador. Por conta da alternância das cidades sedes, entre 2007 e 2014 os Salões garantiram uma regularidade de panorama contemporâneo baiano. Essa iniciativa estimulou uma produção expressiva em locais que, em sua maioria, careciam então (ou carecem até hoje) de instâncias de discussão e/ou de formação artística. – Cf. Catálogos dos Salões Regionais das edições 2007 a 2014. Disponíveis em: http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=4952 – acesso em jun.2020.
  104. A Bienal do Recôncavo, realizada pelo Centro Cultural Dannemann desde 1991 em São Fêlix, em suas doze edições até 2014, foi um evento relevante para as artes visuais do Nordeste. Começou como um evento regional, que ampliava o raio de alcance e difusão dos Salões Regionais promovendo a participação de artistas na escala do Nordeste, e foi ampliando sua interlocução com instâncias internacionais como a Bienal de Havana em Cuba e a Academia de Brera na Itália, possibilitando intercâmbios e residências de artistas premiados no exterior. – Cf. Catálogos de todas as edições da Bienal do Recôncavo, publicados pelo Centro Cultural Dannemann (sem versão digital).
  105. Em 1988, o então diretor do MAM/BA Chico Liberato promoveu o Salão Baiano de Artes Plásticas que teve pelo menos duas edições de alcance restrito. A partir da gestão de Heitor Reis, o formato foi ampliado como Salão Nacional mudando de nome ao longo de suas edições (1ª e 2ª Salão MAM/BAhia de Artes Plásticas; 3ª e 4ª Salão MAM/BAhia; da 5ª em diante Salão da Bahia). O evento, realizado de 1994 a 2008 com 15 edições, por muito tempo foi a única convocatória aberta a todo o país com financiamento público estadual. Teve importante contribuição na reestruturação do circuito das artes visuais da Bahia e na sua interlocução nacional, principalmente com o circuito de São Paulo e Rio de Janeiro, cidades que concentravam (e concentram) maior visibilidade e atividade mercadológica de artes visuais. Na escala local, o Salão foi também um mecanismo de formação de acervo a partir da premiação e aquisição das melhores obras segundo os juris de cada edição. Porém, apenas na última edição de 2008 o Salão teve um projeto educativo próprio, uma agenda de debates, mesas-redondas e encontros envolvendo especialistas, artistas e público. Também por primeira vez, além dos prêmios de aquisição, teve residências artísticas (duas internacionais e uma nacional) exclusivamente para artistas baianos. O Salão foi extinto pelo Decreto nº 11.899 de 17 de dezembro de 2009 que retomou a Bienal da Bahia. – Cf. Catálogos de todas as edições do Salão da Bahia, publicados pelo MAM/BA (sem versão digital).
  106. O Circuito das Artes foi uma mostra de arte contemporânea, em pequenos formatos, a partir de uma convocatória aberta aos artistas residentes na Bahia. A mostra anual teve nove edições de 2006 a 2016, ocupando diversas galerias e espaços institucionais entre os bairros do Campo Grande, Graça e Vitoria em Salvador. O Circuito estimulou a aquisição de obras a preços convidativos para colecionadores e serviu de estímulo para novos apreciadores de arte contemporânea. A participação crescente dos artistas e o potencial integrador do evento resultaram em uma proposta de itinerância realizada de 2013 a 2015, o projeto Triangulações - talvez o principal desdobramento do Circuito das Artes em sua potência de interlocução regional e nacional. Com mostras em Salvador, Recife, Brasília, Maceió, Belém, Goiânia e Fortaleza, nas quais participaram reconhecidos curadores brasileiros, o Triangulações possibilitou um mosaico de realidades regionais do âmbito artístico do Distrito Federal, Goiânia, Ceará, Pará, Alagoas e Pernambuco que alargou a reflexão sobre nosso meio na Bahia. Não há catálogos.
  107. O Portas Abertas foi um edital de seleção de exposições para a Galeria do Conselho de Cultura (desativada desde 2015) e de intervenções em artes visuais para os espaços culturais da SECULT, isto é, nos 12 centros do interior do Estado e nos 5 espaços de Salvador. Não há catálogos.
  108. A Bienal da Bahia teve sua 1ª edição em 1966 e uma 2ª edição em 1968 que foi abruptamente fechada pelo Regime Militar no Brasil (1964-1985). A partir da extinção do Salão do MAM/BA, o Decreto nº 11.899 de 17 de dezembro de 2009 retomou o evento, sob novo formato, como Bienal Internacional de Artes Visuais da Bahia atrelado à direção do MAM/BA e com o objetivo de expor e propiciar a reflexão sobre a produção cultural das artes visuais contemporâneas. Entretanto, apenas em 2014 foi realizada a 3ª edição sob o projeto “É tudo Nordeste?” e, até o momento deste texto, não há qualquer previsão de uma 4ª edição por parte das alçadas pertinentes. Sobre a retomada da Bienal da Bahia, cf. MUÑOZ, Alejandra Hernández. "Bienal da Bahia: um resgate necessário". In: A Tarde - Caderno 2, p.3. Salvador: 05nov.2011. Também publicado in: Manual do Professor - 3ª Bienal da Bahia. Salvador, set.2014. p.15-18. As diversas publicações da 3ª Bienal da Bahia estão disponíveis em: https://issuu.com/bienaldabahia - acesso em jun.2020. Finalmente, sobre a incerteza da 4ª edição, cf. MENDONÇA, Tatiana. Cadê a Bienal? In: A Tarde - Muito, 21/11/2016. Disponível em: https://atarde.uol.com.br/muito/noticias/1817760-cade-a-bienal - acesso em jun.2020.
  109. O Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger foi instituído pelo decreto-lei nº 8.360 em 2002 e alterado pelo decreto-lei nº 9.296 em 2005 e visa incentivar e divulgar trabalhos fotográficos contemporâneos que tenham se destacado no cenário nacional. Os catálogos das sete edições realizadas até 2019 não estão disponibilizados em meio digital pela FUNCEB. – Cf. http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=4953. Em 2016, ante a interrupção do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger, surgiu o movimento Carta das Laranjeiras organizado por artistas visuais e fotógrafos de Salvador a partir do documento homônimo encaminhado à SECULT, contra o desmonte das políticas culturais no Estado da Bahia e pela volta do referido prêmio da FUNCEB. – Cf. https://www.facebook.com/Pr%C3%AAmio-Pierre-Verger-844117382357011/?fref=ts e https://issuu.com/coqueiro/docs/cat__logo_100000_carta_das_laranjei - todos os links acessos em jun.2020.
  110. http://www.belasartes.ufba.br/2019/05/ix-mostra-de-performance/ - acesso em jun.2020.
  111. Depoimento de Marepe em dezembro de 2008 na celebração dos 130 anos da EBA/UFBA onde estudou artes plásticas. Ver também: DOS ANJOS, Moacir. Longe ou perto demais para saber do que se trata / Marepe. In: Critica. Rio de Janeiro: Automatica, 2010. p.183-197. Marepe. In: Galeria Luisa Strina. Disponível em: https://www.galerialuisastrina.com.br/artistas/marepe/ - acesso em jun.2020.
  112. CARVALHO, Mário César. “Prazeres & Lucros: A arte da provocação”. In: Revista da Folha, 16/04/2007. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2007/maisdinheiro3/rf1604200707.shtml - acesso em jun.2020
  113. FONSECA, Raphael. Desaguar no Rio Sururu – Marepe. 14/05/2019. Disponível em: https://raphaelfonseca.net/Desaguar-no-Rio-Sururu - acesso em jun.2020.
  114. As galerias que dispõem de hompage são: https://paulodarzegaleria.com.br/; https://www.provadoartista.com.br/; http://www.robertoalbangaleria.com.br/2017/; http://www.penacalgaleria.com.br/; https://www.zecafernandes.com/sobre; https://rvculturaearte.com/ - todos os links acessos em jun.2020.
  115. A autora participou da pesquisa da revista seLecT realizada através de questionário eletrônico. – Cf. “Levantamento mostra que mais de 50% dos participantes não têm contrato de trabalho”. In: seLecT, 29/04/2020. Disponível em: https://www.select.art.br/pesquisa-select-trabalhadores-da-arte-2/ - acesso em jun.2020.
  116. A pesquisa é uma iniciativa de Representação da Unesco no Brasil, Universidade de São Paulo Sesc - Serviço Social do Comércio, Fórum dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura, secretarias de Cultura de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Paraná, Pernambuco e Rio Grande do Sul, além da Fundação José Augusto (Rio Grande do Norte) e Fundação de Cultura e Arte Aperipê (Sergipe). O levantamento ainda está em fase de coleta de informações. – Cf. Pesquisa de Percepção dos Impactos da Covid-19 nos Setores Cultural e Criativo do Brasil / Resultados preliminares – Bahia. Disponível em: https://datastudio.google.com/u/0/reporting/3d438fbf-8475-46c6-b913-ad19c2c8658c/page/4c7WB – acesso em jul.2020.
  117. A partir do acompanhamento permanente e atuante na cena baiana contemporânea, a amostra desta análise foi construída pela autora considerando artistas em atuação aferida pela participação regular em eventos nos últimos dez anos, compreendendo nomes consolidados e nomes emergentes que obtiveram premiação e/ou reconhecimento institucional, e levando em conta diferentes faixas etárias, gênero e procedência no Estado.
  118. O acervo do MAM/BA foi parcialmente publicado (200 obras) em 2003 com patrocínio da Petrobras e com a totalidade da coleção até 2007 na publicação patrocinada pelo Banco Safra. - Cf. Museu de Arte Moderna da Bahia. Textos: Heitor Reis, Antonio Risério e Denise Mattar. Fotos: Mario Cravo Neto e Marcio Lima. São Paulo: Editora Gráficos Burti, 2002. ISBN 85-89153-01-0. Museu de Arte Moderna da Bahia. Textos: Solange Farkas, Mara Gama e Dilson Midlej. São Paulo: Banco Safra, 2008.
  119. Na Galeria ACBEU, entre 1997 e 2003, foram realizadas 115 exposições (66 individuais e 49 coletivas). Em 2003 o acervo já contava 233 obras, a maioria produzida nos anos 1990 em pintura e técnicas bidimensionais. Entre 2003 e 2015, foram realizadas 130 exposições (56 individuais e 74 coletivas) enquanto o acervo ganhou mais 80 obras – das quais 82% bidimensionais (38% fotografia, 18% desenho, 13% gravura, 12% pintura, 1% video) e 18% tridimensionais (4% escultura e 14% objetos). – Fonte: Relatórios anuais da Galeria ACBEU consultados em 2017 disponibilizados pela Coordenadora Nara Pinho.
  120. É importante assinalar que a Galeria ACBEU surgiu a partir da consolidação de uma prática institucional anterior à existência concreta do espaço no endereço da Avenida Sete de Setembro 1883, no Corredor da Vitória em Salvador. Há notícias de uma primeira exposição de gravuras ocorrida à época de fundação da casa no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; também da antiga sede de São Raimundo onde Mário Cravo e Carlos Bastos, dentre outros artistas, fizeram exposições. Portanto, apesar dos poucos e esparsos registros, podemos reconhecer uma fase pré-Galeria constituída por exposições e atividades de artes visuais que teriam não apenas conduzido à demanda espacial própria como, possivelmente, alavancado as primeiras doações de obras. As documentações mais antigas do acervo datam já do segundo momento, a partir da fundação da Galeria na sede da Vitória, entre 1974 e 1976. - Cf. Catálogo Work in progress (da exposição “Acervo ACBEU – 75 anos: uma trajetória de inovação e incentivo à cultura”, Galeria ACBEU, 22jun. a 27ago.2016). Salvador: ACBEU, 2016; Catálogo Acervo ACBEU de Artes Plásticas. Salvador: ACBEU, 2003.
  121. O processo de catalogação e divulgação do acervo da EBA/UFBA, embora de modo lento, está em andamento. – Cf. http://www.belasartes.ufba.br/acervo/ - acesso em jun.2020.
  122. Embora com acervo parcialmente disponibilizado, o histórico do Museu Regional de Arte pode ser conhecido em: http://www.mra.uefs.br/ - acesso em jun.2020.
  123. Conforme levantamento apresentado no Encontro Nordeste de Fotografia em 2016, há 30 acervos em Salvador e 5 no interior da Bahia: Lençóis, Ilhéus, Iaçu, Rio de Contas e Feira de Santana. Do total de 35 coleções, pelo menos 10 são de alçada pública. – Fonte: Dados do Estado da Bahia 2016, disponibilizados por Isabel Gouvêa, presidente da Rede de Produtores de Fotografia (REDE).
  124. Fábio Magalhães. In: Prêmio PIPA, 2015. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/fabio-magalhaes/; In: Galeria Paulo Darzé. Disponível em: https://paulodarzegaleria.com.br/artistas/fabio-magalhaes/; https://fabiomagalhaes.com.br/ - todos os links acessos em jun.2020.
  125. Segundo o último informe de ArtePrice 2019, “representando 68% do faturamento dos leilões de Arte Contemporânea, dos 44% dos lotes vendidos [no mundo], a pintura ainda é de longe o meio de expressão mais popular no mercado de Arte Contemporânea e domina claramente o mercado de alta gama (resultados de 7 ou 8 dígitos). Em 2018/2019, dos 284 resultados acima do limite de um milhão de dólares, 244 eram pinturas. Esses resultados de 7 ou 8 dígitos representavam apenas 0,8% do número de pinturas; a grande maioria das pinturas contemporâneas é relativamente acessível, com 74% de troca de mãos por menos de US $ 5.000”. – Cf. The Contemporary Art Market report 2019. Disponivel em: https://es.artprice.com/artprice-reports/the-contemporary-art-market-report-2019 - acesso em jun.2020.
  126. Musa Michelle Mattiuzzi foi indicada ao Prêmio Pipa 2017 que tem como base a votação popular pela internet. Desde 2010, o PIPA divulga a arte contemporânea do Brasil como contrapartida da prospecção para um fundo de investimentos em arte. Na votação online do concurso, Michelle estava em primeiro lugar com ampla vantagem sobre o segundo indicado. Mas, às vésperas da premiação, sofreu uma virada brusca no número de votos quando grupos de direita se organizaram para atacar a performer nas redes sociais e realizar mutirões a favor do mineiro Jorge Luiz Fonseca, que acabou vencendo. A organização do certame desconversou sobre as ações explícitas de racismo e misoginia e não cancelou a votação. – Cf. Musa Michelle Mattiuzzi. In: Prêmio PIPA, 2017. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/artistas/michelle-mattiuzzi/ - acesso em jun.2020.
  127. Sobre os eventos ver: https://fiacbahia.com.br/; https://www.filte.com.br/; http://www.sesc.com.br/portal/site/palcogiratorio/2018/Inicio - todos os links acessos em jun.2020
  128. https://casadaphotographia.com/ - acesso em jun.2020.
  129. REZENDE, Eron. “Coletivos culturais ocupam centro de Salvador”. In: A Tarde, Muito, 02/05/2016. Disponível em: https://atarde.uol.com.br/muito/noticias/1767083-coletivos-culturais-ocupam-centro-de-salvador - acesso em jun.2020.
  130. Ver mais detalhes em: http://www.andreamay.com.br/p/about.html; http://visioponto.blogspot.com.br/; http://projetocollab.blogspot.com.br/; https://projetonoiseinvade.blogspot.com/ - todos os links acessos em jun.2020.
  131. Flávia Bonfim. In: RV Cultura e Arte. Disponível em: https://rvculturaearte.com/Flavia-Bomfim -acesso em jun.2020.
  132. Marcos Zacariades. In: Pena Cal Galeria de Arte. Disponível em: http://www.penacalgaleria.com.br/artista-inter/39 e http://www.marcoszacariades.com.br/ - todos os links acessos em jun.2020.
  133. https://museudomato.wordpress.com/blog/
  134. Publicações e atividades realizadas pelo Programa de Incentivo à Crtica das Artes da FUNCEB disponível em: http://www.fundacaocultural.ba.gov.br/criticadeartes/2012/ - acesso em jun.2020.
  135. Caetano Dias. In: Prêmio PIPA, 2011 e 2015. Disponível em: https://www.premiopipa.com/pag/artistas/caetano-dias/; In: Galeria Paulo Darzé. Disponível em: http://paulodarzegaleria.com.br/artistas/caetano-dias/; In: Associação Cultural Videobrasil / FF>>dossier 041, mar.2009. Disponível em: http://site.videobrasil.org.br/dossier/dossier/900564; https://caetanodias.wordpress.com - todos os links acessos em jun.2020.
  136. A instalação “Lágrimas de São Pedro” foi montada 16 vezes no Brasil: nas galerias da Caixa Cultural de Salvadr/BA, Brasilia/DF, Curitiba/PR, Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP, nos SESC de Vila Mariana, Araraquara e Ribeirão Preto (SP), no Centro Cultural Correios em Juiz de Fora/MG e Recife/PE, e nos SESI de Itapetininga, Bauru, Rio Claro e Campinas (SP), além do Ecomuseu de Itaipú/PR. Na Alemanha foi montada na Luminalle Frankfurt. – Cf. CAMPOS, Marcelo. Escultura no Brasil. Salvador: Ed. Caramurê, 2016; Vinicius S/A. In: Dasartes, 31/01/2019. Disponível em: https://dasartes.com.br/materias/vinicius-sa/; In: Galeria Paulo Darzé. Disponível em: http://paulodarzegaleria.com.br/artistas/vinicius-s-a/ - todos os links acessos em jun.2020.
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